domingo, 25 de abril de 2010

Poema de Abril



(desenho de Clotilde Fava nos anos 80)

A farda dos homens
voltou a ser pele
(porque a vocação
de tudo o que é vivo
é voltar às fontes).
Foi este prodígio
do povo ultrajado
do povo banido
que trouxe das trevas
pedaços de sol.

Foi este o prodígio
de um dia de abril,
que fez das mordaças
bandeiras ao alto,
arrancou as grades,
libertou os pulsos,
e mostrou aos presos
que graças a eles
a farda dos homens
voltou a ser pele.

(Sidónio Muralha, in “Poemas de Abril”, 1974)


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