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domingo, 14 de junho de 2020

Há gente que consegue ser muito desagradável!

Das piores coisas que nos podem acontecer – pelo menos a mim! – é, por algum motivo estar a queixar-me de qualquer coisa ouvida ou sentida e haver logo quem venha triunfalmente dizer «Ah, comigo não!!!»

Tem presente quem é professor e por aqui passar aquelas reuniões de conselho de turma em que se está a analisar o comportamento e o aproveitamento dos alunos e alguém, com a maior sinceridade, se queixa do aluno tal que se comporta mal nas suas aulas, ou que não tem interesse pelas matérias ou por qualquer outra razão e vem outro professor, todo prazenteiro, armado em bom, elogiar o mesmo aluno que até se porta muito bem nas suas aulas e que até é muito interessado e muito querido... Até pode ser verdade, mas constatá-lo de imediato e em determinado tom é muito desagradável para quem apresenta o problema.

Na vida do dia-a-dia frequentemente acontece o mesmo. Por vezes, até em tom de desabafo, uma pessoa tem a fraqueza de se lamentar seja lá pelo que for e logo o interlocutor se gaba exatamente do contrário ou – o que também sucede muito – arranca com uma lição moralizante para cima de quem já está em baixo. Muito mau! Para se ouvir uma reprimenda ou arrostar com a grande felicidade do outro, quando se vai à espera de algum consolo, mais vale ficar calado e sofrer sozinho.

Há gente que consegue ser muito desagradável!

Razão tinha o nosso Fernando Pessoa quando dizia: «Fazer o menor número de confidências possível. É melhor não fazeres nenhuma, mas se fizeres algumas, fá-las falsas ou imprecisas.»





terça-feira, 7 de abril de 2020

Da efemeridade da vida

Floriu ontem, certamente para me desejar os parabéns, a primeira rosa do jardim.

Linda, amarela e com picos - como convém aqui ao blog...




Hoje, pobrezinha, está já desfolhada e à beira da morte.




Como não recordar o poeta?


As rosas amo dos jardins de Adónis,
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
        Que em o dia em que nascem,
        Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o Sol, e acabam
        Antes que Apolo deixe
        O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
        Que há noite antes e após
        O pouco que duramos.

11-7-1914
Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa


«A vida é o ai que mal soa...» (João de Deus)

terça-feira, 31 de março de 2020

Chove






Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego…

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece…

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente…

Fernando Pessoa

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Pessoa nasceu num 13 de Junho

Foi no dia 13 de junho de 1888 que, no Largo de São Carlos em Lisboa, nasceu o poeta Fernando Pessoa Há precisamente 131 anos.




Não obstante o seu valor poético e inovador de enorme figura das Letras da primeira metade do século XX, não viveu uma vida feliz. 

A angústia existencial, a nostalgia de outros tempos mais felizes, a dor que lhe causava o seu pensar multifacetado estão patentes em muitos dos seus poemas enquanto Pessoa  pessoa, como em Álvaro de Campos, o seu alter-ego, como em Bernardo Soares, o seu semi heterónimo.

E porque o momento, por cá, também não é dos mais felizes, a minha homenagem deste ano ao grande poeta de Orpheu, fica-se por aqui:


Desperto de sonhar-te

Desperto de sonhar-te
Quando inda a noite é funda,
E um céu estelar faz parte
Do silêncio que inunda.
Perdi poder amar-te
E a treva me circunda.

Talvez que relembrasse,
Sonhando-te, outro ser,
E aquilo que sonhasse
Fosse tornar a ter.
Mas despertei, e faz-se
Claro em meu quarto a ver.

Insónia de perder-te!
Quem foste já não sei.
Pela janela verte
Cada astro a sua lei.
Como, sem sonhar ter-te?...
Porque não dormirei?

(1932)

Fernando Pessoa, in  Pessoa Inédito (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993.

sábado, 1 de junho de 2019

Para colorir o Dia da Criança

A cidade de Leiria está geminada com a cidade japonesa de Tokushima faz este ano 50 anos.

Este ano, a Câmara Municipal lançou um concurso de desenhos de crianças de ambas as cidades para celebrar o Dia da Cidade de Leiria que acontece a 22 de Maio.

É parte desse colorido que deixo hoje aqui para homenagear a criatividade de crianças que participaram.





O painel principal que "mistura" as duas cidades.


















(...)
«Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças» (...)

(F. Pessoa)

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Da efemeridade da vida

A rosinha (da minha roseira brava) estava em botão quando a vi de manhã.



Pelo meio do dia toda ela se abria em cor.




E, ao fim da tarde, dava já sinais de morrer em breve.



Então lembrei-me das rosas dos jardins de Adónis de Ricardo Reis «que em o dia em que nascem, em esse dia morrem».

E trouxe-o aqui para refletirmos...



As rosas amo dos jardins de Adónis,
Essas volucres 1 amo, Lídia, rosas,
        Que em o dia em que nascem,
        Em esse dia morrem.

A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o Sol, e acabam
        Antes que Apolo deixe
        O seu curso visível.

Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
        Que há noite antes e após
        O pouco que duramos.

1.  efémeras


11-7-1914

(Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1946)


terça-feira, 5 de junho de 2018

Flores para alegrar o ambiente

No Dia do Ambiente, flores para alegrar ... o ambiente.


















«Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.»

Ricardo Reis

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Até já

Sem tempo para parar - muito trabalho, alguma preocupação, bastante falta de imaginação, alguma culpa assumida por não estar convosco como merecem e outras coisas mais fazem-me sentir assim:

«O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.» (...)

(Fernando Pessoa)

Por isso, sinto que devo dizer-vos um breve 



sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Caeiro tinha razão...

Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.

Ambos existem; cada um como é.

(Alberto Caeiro)


Senão vejam se as minhas rosinhas não estão lindas mesmo num dia de chuva...














Tenham um fim de semana florido!



quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Boca de romã perfeita


Boca de romã perfeita
Quando a abres p’ra comer,
Que feitiço é que me espreita
Quando ris só de me ver?


F. Pessoa





segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Do Jornal de Letras

Gosto muito de ler o Jornal de Letras, embora não compre todos os seus números. Compro os que tratam temas que me interessam, normalmente  literatura, educação, boas entrevistas a escritores, textos de Guilherme de Oliveira Martins, de Manuel Halpern, recensões críticas de livros recentes.

Há mais de um mês que não comprava nenhum (de referir que se trata de uma publicação bimensal) Por isso decidi-me a comprar o desta quinzena apesar de falar mais dos filmes portugueses que pretendem retratar a crise económica dos últimos anos - temas que me são pouco interessantes.



Mas devo afirmar que se mais não aparecer da sua leitura, valeu apenas por duas razões:

  • a entrevista à escritora Filomena Marona Beja que anuncia o seu novo romance «Avenida do Príncipe Perfeito» (se nunca leram nada dela, é bom que comecem a fazê-lo)
  • uma frase inédita de Fernando Pessoa, retirada do livro O Teatro Estático que reproduz a obra do poeta relacionada com o teatro, e que diz só isto:

        "Não sei se isto é tristeza ou alegria, tão vaga e misteriosa é a suavidade doentia que sinto." 

O meu encantamento pela frase vem do facto de me ter remetido para aquele último terceto do soneto de Camões «Busque amor novas artes, novo engenho» que li no meu 5º ano do liceu (atual 9º) e que nunca mais esqueci e que diz: 



Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.


terça-feira, 25 de julho de 2017

Summer Holiday



Não resisto! Todos os anos pelo Verão me vem à lembrança e ao "trauteio" a alegria jovem e provocante desta musiquinha dos nossos inquietantes sixties jovialmente interpretada por Cliff Richard acompanhado pelos Shadows. 

Os meus amigos - rapaziada da minha idade - bem se lembra dela e de outras que pertenceram à banda sonora do filme «Mocidade em Férias».

Não é a primeira vez que a passo aqui, mas é isso: não resisto!!

E... deixa cá uma saudade dos doces anos adolescentes!!

Não há como me levar a mal esta minha  "nostalgia da adolescência"... 

Também Fernando Pessoa - e Álvaro de Campos e Bernardo Soares - escreveram tantos e tão belos textos estando-lhes subjacente uma profunda «nostalgia de infância» e ninguém lhe leva a mal por isso...

Enjoy your Summer holiday ! (que é como quem diz:)

Boas férias!!

terça-feira, 27 de junho de 2017

O vale das hortas

O vale das hortas verdes no centro rural de S. Pedro de Muel por trás do belo Largo fronteiro ao areal, de que ainda me lembro nos anos 70 cheio de hortinhas de verduras das que agora se chamam biológicas, tinha uma lavadouro daqueles com pedras para bater a roupa e água corrente. 

Mercê da modernização dos espaços, o vale das hortas deu lugar a uma belo parque para passear, ler, descansar, apanhar o fresco, com um espaço para as crianças esticarem os braços e as pernas e, ao fundo, lá está o lavadouro para lembrar o tempo das lavadeiras. 








O lavadouro foi revestido no seu interior com painéis de azulejos com pequenos trechos de poemas de Afonso Lopes Vieira, o eterno apaixonado de S. Pedro.








A propósito das lavadeiras, Fernando Pessoa escreveu assim:

«Lavadeira a bater roupa
Na pedra que está na água,
Achas a minha mágoa pouca?
É muito tudo o que é mágoa.»


E assim:

«A lavadeira no tanque
Bate roupa em pedra bem.
Canta porque canta e é triste
Porque canta porque existe;
Por isso é alegre também.

Ora se eu alguma vez
Pudesse fazer nos versos
O que a essa roupa ela fez,
Eu perderia talvez
Os meus destinos diversos.

Há uma grande unidade
Em, sem pensar nem razão,
E até cantando a metade,
Bater roupa em realidade. . .
Quem me lava o coração?»


Mas como calar aqui a poesia de Vieira se ela se respira no ar de S. Pedro?


NO TRONCO DUM PINHEIRO DA FLORESTA

A infinita frase dos pinhaes
cantou embaladora à minha infância,
e ficou em minha alma a ressonância
destas religiosas catedraes…

Em cada inverno as árvores doridas
fogem do mundo, deixam-no sozinho;
só estas, sempre fielmente erguidas,
mantêm no mesmo gesto igual carinho.

Verdes amigos certos para a gente,
têm a constância na adversidade,
dão a saude e ensinam a bondade,
— a Bondade: justiça sorridente.

(in O Pão e as Rosas,)


Porém, com poesia ou apesar dela, os miúdos divertiram-se por ali.








sábado, 24 de junho de 2017

São João

A nossa amiga blogger ematejoca lançou-me o repto na minha publicação do dia de Santo António de saber de um poeta nascido no dia de São João.

A minha "investigação" foi muito superficial, por isso não encontrei nenhum nome dos que me agradam.

Voltou a aparecer-me a poesia de Pessoa que, por ser dos que me agradam muito, mesmo muito, deixo-o aqui  acompanhado de Caeiro.


Noite de S. João

Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"


Do longo poema São João do Pessoa ortónimo, transcrevo um excerto (de uma parte menos agressiva...) 


(...) Es um rapaz ainda menino
Que tem por missão boa,
Por missão sorridente e socegada
Ter ao collo um cordeiro pequenino.

Lá o que esse cordeiro significa
Não tem cheiro
Para o povo, que tem a alma rica
Da emoção que não conhece.
Para elle o cordeiro é um cordeiro,
E o menino sorri e a vida esquece.




O resto são fogueiras
E os saltos dados a gritar
Com um medo exaggerado
Feito tudo de maneira
A mostrar
O riso, as pernas e o agrado.
E quente e anonyma a aragem,
Tudo é juventude e viço
Num arraial multicolor e vasto.
Bonito serviço
Como homenagem
A quem, ainda com cabeça, foi um casto!

(…)

(ortografia anterior ao acordo ortográfico de 1945)

Para ler o poema completo clique aqui.


quarta-feira, 14 de junho de 2017

Fernando Pessoa e o Santo António

Foi exatamente no dia de Santo António que Fernando Pessoa nasceu. Em 13 de Junho de 1888. Há 129 anos.


E, sensível como era, o poeta não ficou indiferente a esse facto. Escreveu mesmo um enorme poema de que deixo aqui alguns excertos.


«Nasci exactamente no teu dia —
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir...
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!

Santo António, és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,
Católico, apostólico e romano.


(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João...
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)

Adiante ... Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.

Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera...
(…)

Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não concertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o Diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.
(…)

(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa? ...
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo! O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.
(…)

Sê sempre assim, nosso pagão encanto,
Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Porque demónio
É que foram pregar contigo em santo?


O poema completo fica aqui