sexta-feira, 31 de maio de 2013

Ai a letra P!

Portugal. País paradisíaco porém povoado parcialmente por pessoas pérfidas. País portentoso, pilhado para prover o prazer de poucos privilegiados. Pobre povo pisado, possuído, pervertido, planeando poder partir para patamares posteriores, porém permanecendo prisioneiro de processos paralisantes, putrefactos e pirrónicos.

Presos a partidos políticos, a promessas de prosperidade, a premissas de progresso, permitimos que a peçonha permaneça pairando, putrificando, perpetuando a pena pesada passada pelos principais planeadores da pantomina. Pululam os parasitas, pindéricos, prostitutos, pavões, pisoteando os princípios primordiais para poderem predominar principescamente perante a populaça.

Percorremos passo a passo paisagens preenchidas de pesadelo, pensando o porquê de penarmos para preenchermos percentagens, provermos programas ou princípios pecuniários. O pânico pulsa, o povo padece, os políticos pululam.

Políticos? Pressionem-lhes as partes pudibundas! Políticos? Ponham-lhes pinças nos polegares! Políticos? Pendurem-nos pelo pescoço! Políticos? Partam-lhes os pés! Políticos? Prendam-lhes os pulsos! Políticos? Pobres das progenitoras que permitiram que pusessem os pés no planeta! Políticos? Párias paridos pela peidola!

Perpetuamente pertença do povo,
Pobre Perfumado 

 [EsPero Piamente não Poder vir a ser Processada por causa do Pequeno Palhaço do P lá do toPo...]

quinta-feira, 30 de maio de 2013

The Great Gatsby


Com grande alarde venho aqui, a este diário – sempre adorei diários! – registar que ontem fui ao cinema!
Aí pelos meus treze anos comecei a assinalar os momentos importantes dos meus dias numa pequena agenda de que o meu pai não precisou e aí passei a apontar também quando ia ao cinema, o nome do filme, dos artistas principais e – riam-se que eu não me importo! – se davam beijos apaixonados…  Mas enquanto nesse tempo ia ao cinema pelo menos duas vezes por mês ao cinema porque os meus pais, moradores apaixonados pela Lisboa dos anos 40/50, adoravam ir ao cinema, atualmente, por preguiça, por inércia ou simplesmente porque não sinto o apelo da magia lisboeta para sair para eventos, vou muito pouco ao cinema. 

Pois ontem obriguei-me a ir ver O Grande Gatsby. Por duas razões: primeiro porque foi uma das obras que tive de ler na Faculdade quando nos idos de 60 fiz a muito mal lecionada Literatura Norte Americana e depois porque tenho um grande encanto pelo glamour dos loucos anos 20 do século passado.

Avisada embora pelo barómetro dos críticos dos jornais, que nem sempre levo em grande conta, que não lhe atribuiu mais do que uma estrela em cinco, vim contudo de lá um bom bocado dececionada. A história é uma excelente história, ou não tivesse sido escrita por um autor como Fitzgerald mas o filme nada lhe acrescenta. Tal como o autor, o protagonista da obra tem um estilo de vida altamente luxuoso e gastador no tempo louco do charleston, do jazz, dos automóveis de corrida, dos recém-nascidos aviões, mas parece-me que o filme exagera na loucura, no movimento, no barulho com nenhum outro objetivo que não seja o de atrair público daquele dos baldes de pipocas e litradas de coca-cola. Apesar do excelente visual do DiCaprio e do narizinho supra bem feito da protagonista, apesar da elegância dos vestidos das mulheres, apesar da riqueza sumptuosa dos palácios onde moram os protagonistas e das hordas de criados à disposição a todas as horas e das cenas de libertinagem do pós I Guerra Mundial e das vicissitudes de uma América a viver em plena Lei Seca, apesar das apetecíveis paisagens e dos efeitos visuais ativadores de uma beleza natural ainda mais fascinante, a figura do narrador, Nick Carraway, que acaba por escrever a história do grande Gatsby é desenhada da forma mais hesitante, mais pasmada, mais irresoluta, logo ele que, não sendo a personagem principal, seria quem podia fazer girar toda a ação de modo a mostrar de facto a grandeza de Gatsby, a criar o élan que daria à história a força necessária que evitasse que o filme acabasse por viver apenas do envolvimento, da imagem, das circunstâncias, do acessório. 




(Aqui para nós que ninguém nos ouve, levei toda a segunda parte do filme a chamar-lhe … António José Seguro…)

quarta-feira, 29 de maio de 2013

(C)ratices




Hoje acordei a ouvir dizer que nunca como agora Portugal teve tantos projetos e estudos de investigação científica premiados internacionalmente.

E eu pus-me a pensar: deve ser resultado direto e imediato da aplicação do malfadado método de ensino chamado de “eduquês”, invenção – ou teria sido mesmo descoberta científica naturalmente decorrente do mais que rigoroso método experimental e depois mundialmente reconhecido e aceite? – do atual ministro (C)rato e que tanto maravilhou grande parte dos meus colegas professores elitistas (?) à época zangados com a avaliação do desempenho a que, ao contrário dos restantes funcionários públicos e privados, mostraram ser alérgicos, avessos, direi mesmo, oblíquos. Muito menos provável seria ter algo a ver com o mal-amado Programa das Novas Oportunidades que também tanto incomodou os elitistas – ou serão apenas pseudo elitistas? Ou serão mesmo só provincianos? – deste país.

E aí – não são só as palavras que são como as cerejas, os pensamentos também são! – lembrei-me de um belíssimo artigo do pedagogo Professor Manuel Rangel subordinado ao tema «A obsessãopelos exames» que termina com a seguinte reflexão/queixa: «Vai levar-nos muito tempo a refazer tudo o que o Nuno Crato está a desfazer!»
 

terça-feira, 28 de maio de 2013

Um normal casal de idosos

Hoje seria dia de vir aqui homenagear o grande poeta e escritor moçambicano Mia Couto por ter sido agraciado com o Prémio Camões. Isso está a ser feito - e muito bem - em vários blogs que já visitei hoje e que são decerto mais sérios que este meu pequeno e modesto espaço.

Mas o facto é que recebi por mail este diálogo do casal presidencial que é tão rico de ideias e vem tão em cima do acontecimento que não resisto, nem devo adiar o momento de o passar aqui para conhecimento geral.

Não deixem de ler! Vale a pena!



Maria - Oh Aníbal, já leste os jornais?
Aníbal - Li.
Maria - Leste a entrevista ao Sousa Tavares?
Aníbal - Oh Maria, o Sousa Tavares já morreu.
Maria - O filho…!
Aníbal - Mas o nosso filho deu uma entrevista?
Maria - Não! O filho do Sousa Tavares que morreu.
Aníbal - Morreu o filho do Sousa Tavares???? Temos que mandar flores.
Maria - Oh Aníbal, Vê se me entendes: O Miguel Sousa Tavares, filho do Sousa Tavares que morreu, deu uma entrevista!!!
Aníbal - Ah!!! Aquele que é jornalista!!
Maria - Sim e advogado.
Aníbal - Nunca gostei de advogados… e muito menos de jornalistas. Desse Sousa Tavares não se aproveita nada!
Maria - Sim ok! Foi esse que deu a entrevista.
Aníbal - É interessante a Entrevista?
Maria - Então tu não leste?
Aníbal- Ando aqui às voltas com jornal que deve ser de ontem.
Maria - Qual jornal?
Aníbal - O Tal e Qual.
Maria - Mas esse jornal fechou há uma série de anos…
Aníbal - Foi? Bem que me estava a parecer estranho o Joaquim Letra estar tão bem conservado…
Maria - Não há paciência Aníbal! Presta atenção. O Sousa Tavares chamou-te palhaço!
Aníbal - Foi? Que mal-educado.
Maria - É só isso que tens para dizer? Não vais fazer nada?
Aníbal - Vou! Tenho o número de casa do pai. Vou dizer-lhe para ver se põe o filho na ordem….
Maria - Mas o Sousa Tavares já morreu.
Aníbal – Mau! Mau! Então como é que deu a entrevista?
Maria - Oh meu Deus para o que estava guardada…
Aníbal - Não precisas de te chatear. Se não conseguimos falar com o pai, falamos com a mãe… Conhece-la?
Maria - Oh Aníbal desce à terra. A mãe morreu há montes de anos!
Aníbal - Não estava a falar da tua mãe!
Maria - Nem eu! Estava a falar da mãe do Sousa Tavares, da Sophia de Mello Breyner.
Aníbal - Sim. Essa mesmo! Temos o número?
Maria - Oh Aníbal, a mulher morreu!!! Percebes?
Aníbal - Mais flores? Não temos dinheiro para isto…
Maria - Esquece!
Aníbal - Então e um tio dele?
Maria - Um tio???? Qual tio?
Aníbal - Por exemplo, aquele que é actor! O Sr. Contente!
Maria - O Nicolau Breyner?
Aníbal - Esse mesmo. Temos o número dele?
Maria - Mas por alma de quem é que vais ligar ao Nicolau Breyner?
Aníbal - Para lhe fazer queixa do sobrinho.
Maria - Mas o Sousa Tavares não é sobrinho do Nicolau Breyner? De onde te saiu essa ideia?
Aníbal - Tem o apelido da mãe, mas foste tu que falaste nele…
Maria - Pois! Tu também tens o mesmo apelido da Ivone Silva e ela não era tua tia, pois não?
Aníbal - Quem é essa? Não estou a ver.
Maria - Não estás ver e não vai ver porque também já morreu.
Aníbal - Mas o que é que se passa hoje? É só mortos!
Maria - E eu devo ir a seguir…
Aníbal - Não digas isso. É pecado.
Maria - Pecado é ter que te aturar meu Palhaço. Ooops!!! Esquece a entrevista!


É preciso rir (mesmo que seja para chorar)! Fiquem bem!

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A injeção



Tenho andado toda avariada do esqueleto. E não é de agora. Quando vivia em Sintra com aquele clima que só quem lá mora conhece bem, passava tão mal que fui das pessoas que, com menos de vinte anos, cheguei a ter sessões de fisioterapia nos idos de 60, em Alcoitão. Ganhei algumas torções na coluna que me davam dores incríveis pelos meus 16, 17, 20 anos.

Mais tarde, já a viver em Leiria, aí pelos meus trintas e ainda toda elegante e a usar 34 de saia, fui fazer uma radiografia à coluna a um radiologista bem conhecido aqui da praça, que ao ver os resultados, me disse: «Ó minha senhora! A senhora é muito mais direita por fora do que é por dentro!» Grandes gargalhadas, claro!

Mas, como não sou muito de me queixar – como dizia o controverso ditador e puritano Crommwell: «Ó Deus, livra-me das dores morais que com as físicas posso eu!» - fui fazendo a minha vida autocarro acima, autocarro abaixo e calcorreando tudo quanto era caminho e lá me aguentei.

Estes dois últimos anos, porém, o estado do esqueleto tem-me dado cabo da paciência e, na sexta-feira, a minha médica acabou por prescrever-me um tratamento de força que passava também por levar uma injeção logo naquela noite. Só que na farmácia não podiam dar-ma e tive de esperar pelo sábado de manhã para me dirigir ao Centro de Saúde para finalmente levar a injeção. 

De referir que há muitos anos não levo injeções e as últimas que levei foram-me admiravelmente dadas por um enfermeiro aqui da terra que vinha a casa dos doentes. Além disso, não tenho grandes razões para pessoalmente me sentir muito satisfeita com o meu Centro de Saúde, se bem que funcione bem melhor que muitos outros de que me falam.

Ora cheguei junto da rececionista, minha conhecida, que, com um ar muito simpático, me pediu as indicações de tratamento da médica. Que eu, naturalmente, não tinha. Depois, sempre amavel, perguntou se a injeção tinha sido receitada lá no Centro. E não tinha sido. «Então não pode levar a injeção!» E mais sorrisinhos anódinos. Mas nada de explicar-me o que era necessário. De tal forma que uma outra utente atrás de mim, pragmática, me lembrou: «Não tem aí a receita? Também serve!» Mas naturalmente que a receita tinha ficado na farmácia. Sim, que ao contrário do que a sorridente funcionária pensou – que eu duvido que seja capaz de pensar! – eu não tinha roubado a injeção por aí nem tão pouco me dirigi ali para levar uma injeção num quadro de dependência ou de adição de droga. Tudo isto e muito mais me passou pela cabeça naqueles instantes em que a senhora rececionista de um Centro de Saúde que eu frequento há anos e que me conhece bem, com aquele sorriso estático pregado na cara me repetia sem me explicar os procedimentos e como se fosse ela a própria diretora do Centro, que não, que assim não podia levar a injeção!

Enfureci-me! Creiam que me enfureci e, porque não foi a primeira nem a segunda vez que fui “vítima” da inoperância de funcionários daquele Centro, vociferei. Vociferei mesmo! «Vamos a outro sítio! Eu também não gosto nada de vir aqui!» e saí porta fora esbaforida.

Fui a um centro médico de atendimento permanente onde sou associada há anos e onde não me conhecem de nenhum lado a não ser pela ficha, e logo a rececionista me mandou esperar pelo enfermeiro. Esse, sim, no cumprimento estrito das suas funções e com o conhecimento das suas obrigações profissionais, fez-me as perguntas necessárias a que eu respondi respeitosamente, deu-me as informações que eu não tinha obrigação de saber e resolveu-me o problema: deu-me a injeção!

Agora vejam a arrogância que permanece inculcada nas pessoas que estão à frente dos serviços públicos! Porque não são os sorrisos que apagam a arrogância! Nem a mal digerida «assertividade», americanada de que ouvem falar nas horinhas de formação que recebem. Vem do tempo do Salazar em que os rostos das repartições públicas e das secretarias das escolas e dos (poucos) hospitais e dos correios eram fechados, mal-encarados e deseducados porque não havia a noção de serviço público. Tudo era um enorme favor que se fazia ao povo. E, inexplicavelmente, 40 anos volvidos, com os banhos de democracia e de formação (?) que têm levado, os funcionários públicos ainda não interiorizaram a noção de serviço público!

Podem fazer muitos sorrisinhos e esgares de compreensão que mais não servem senão para esconderem o pequenino exercício do poder de que não abdicam e a arrogância da sua própria e não assumida inoperância!