terça-feira, 31 de março de 2015

(Re)lembrando os Beatles

Simpaticamente recebi hoje uma gravação de «If I fell in love with you» tocada pelos «meus» Diamantes. 

Faz tempo que não a ouvia no seu original que é tão fresca e luminosa. Querem avaliar com os vossos próprios sentidos?




Só que no início da primavera e em vésperas de a temperatura subir a valores de verão, apetece é relembrar  «Here comes the sun» também porque tem tantas belas imagens do meu preferido dos Fab Four - o George Harrison!

Aproveitemos então o sol que aí vem!




segunda-feira, 30 de março de 2015

A Hora H

Encantou-me o texto de SérgioFigueiredo (gosto muito de o ler às segundas-feiras) hoje no DN sobre a morte do poeta Herberto Hélder. Da mesma forma que o encantou a ele a crónica que Pedro Santos Guerreiro sobre o assunto escreveu no Expresso do passado sábado.

Não vou aqui falar sobre o poeta nem sobre o seu desaparecimento primeiro porque sei pouco acerca da sua poesia e depois porque qualquer dos meus citados o fez já bem por de mais.

O que me encantou mesmo foi a humildade com que aceitou que o texto de Santos Guerreiro lhe banalizara o seu projeto de escrita sobre Herberto Hélder.

Mas do que gostei mesmo, mesmo foi a acusação que o autor faz, de dedo em riste, aos “intelectuais” da praça quando diz:

«Outros exercícios intelectuais enojam-me. A soberba. A arrogante apropriação do poeta, da obra, do homem que nem os queria por perto. Mas sobretudo pela falta de exemplo. Escritores revoltados? Só se for com a vidinha que levam.

No centenário de Orpheu, Herberto morreu. Mas é a vanguarda cultural que, em tempos de crise, há muito desapareceu. Sem combate. Sem sequer "dar uma bofetada no gosto público", como Almada Negreiros, recorrendo a Maiakovski, definiu o grupo a que Pessoa, Sá Carneiro, Amadeo, Santa Rita e ele mesmo pertencia. Cem anos passaram e os intelectuais portugueses estão calados. É o mais dramático dos falecimentos: não estão mortos, estão calados.

A Geração de Orpheu agitou as águas, era subversiva, deliberadamente escandalosa, ameaçava as convenções sociais e incomodava a burguesia do princípio do século XX. É cruel e trágica a causa mais nobre da elite amorfa, apática, medíocre e desistente dos nossos tempos.

Herberto apenas queria que o deixassem em paz. Ignorava o sistema, que era a melhor forma de o subverter. Aqueles que agora o evocam, pretensos indignados, simplesmente tudo fazem para continuar a ser parte dele

(sublinhados meus)


(Principais figuras da geração Orpheu)


domingo, 29 de março de 2015

As cores do pinhal

Que surpresa ver o pinhal vestido de amarelo! Parece-me que nunca me tinha aparecido com este viço todo! 

Lindo de mais - parece-me. Não é o mesmo que ver ao vivo, mas dêem uma espreitadela.
















E depois as dunas - impassíveis, intocáveis.






E o mar. Soberano. Eterno. A lembrar-se de D. Dinis...







sábado, 28 de março de 2015

Padam Padam




Acordei um dia destes a com esta toada na cabeça. Sou assim com a música. Tenho dias que me levanto com uma melodia na lembrança e ando o dia todo a trauteá-la. E agora, que estou a ficar um bocado «fora de prazo» (que é como quem diz, velha…) assomam-se-me à mente canções muito antigas daquelas que aprendi a cantarolar com o meu pai, minhoto bem alegre e conhecedor de boa música que andava sempre a assobiar – hábitos dos anos 40/50…

Antes de haver televisão (os primeiros ensaios de televisão em Portugal aconteceram em 1957 e nós só tivemos um aparelho em casa lá para 59/60 quando já estávamos em Sintra) quando ainda vivia em Algés com a minha avó, os serões eram curtos e enfadonhos: ouvíamos rádio, os meus avós liam o jornal e eu via revistas ou brincava com bonecas de papel de vestir ou com a minha colecção de pratas dos chocolates que alisava e coloria na braseira. Lembro-me de ouvir o repetitivo tique-taque do relógio de corda até serem horas de ir dormir.

(daqui)

(daqui)

No verão porém, as noites eram bem diferentes: depois do jantar e da cozinha arrumada, a minha avó e eu descíamos a Avenida até à Alameda onde se situavam as esplanadas. No Pavilhão Verde havia uma orquestra que tocava música de baile e um cantor que cantava com uma voz melodiosa e  quente Padam, Padam, Padam... Outras vezes cantava:

Dominó, Dominó!
Em amor assim te têm chamado
Dominó, Dominó!
Porque sempre te tens ocultado…

E as senhoras, de saias rodadas até meio da perna, dançavam de cara encostada aos seus pares e nós assistíamos de longe sentadas num banco de jardim ao divertimento de uma classe a que não pertencíamos – que nesse tempo a separação entre as classes era muito acentuada. De regresso, subíamos a avenida e se o Milho Rei – uma pequena pastelaria que cheirava a figos secos – ainda estivesse de porta aberta, comíamos um merengue e seguíamos até casa.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Que é como quem diz obrigada!


Vê como floresce
pontualmente
a magnólia
adivinhando na minha sede
a urgência da cor.

Respiro
a seda rósea das suas pétalas
e é de ti que me embriago
desfio o vento nos dedos
para tecer à pressa
primaveras.

E passeio nelas
de mão dada
com a tua sombra
até que a magnólia
perca a derradeira pétala
no frio escuro do chão
lembrando-me
que ainda é Inverno.

(Lídia Borges, 2011)

Em jeito de agradecimento à nossa boa amiga e poeta do Searas de Versos que recebe um mimo (e bem precisa dos nossos mimos) e retribui com dois ou três… 

Beijos floridos, Lídia!

quinta-feira, 26 de março de 2015

Eat chocolate!

Dia do chocolate?! Dia do chocolate?! Agora até temos o dia do chocolate!!

Hummmmm, mas pelo menos este é um dia bem doce!







quarta-feira, 25 de março de 2015

Os cofres cheios



Muito se tem dito e escrito acerca desta (e de outras) bacorada(s) que a ministra (esta sim) sinistra lançou boca fora para os jotinhas do partido, mas ninguém de uma forma (quase) literária como só BB sabe fazê-lo! A crónica chama-se «O Insulto» e vale a pena lê-la.

É sempre um prazer lê-lo! Só lamento que tenha de ser naquele jornaleco de baixo nível.

«Num conclave do PSD, Passos Coelho apareceu na defesa da ministra Maria Luís, a qual, dias antes, trémula de orgulho, afirmara, à puridade, que o Governo tinha os cofres cheios de dinheiro.

E Passos, muito feliz, acrescentou: ao contrário do que sucedia com o Governo anterior. Como o têm dito economistas de todas as cores, a verdade não é esta, e a teoria da bancarrota só faz sentido para quem é mentiroso, e usa o imbróglio como lança para alcançar ou permanecer no mando.

Infelizmente, este Governo, com as práticas demonstradas ao longo de quatro anos pavorosos, repletos de escândalos, de confrontos com a própria noção de república, tem sido, é, o maior aborto democrático e o mais grave insulto a todos nós. (...)

Talvez estejamos no turbilhão de uma profunda mudança, cujas conveniências escapam ao modelo de humanismo no qual, mal ou bem, temos vivido.

Inclino-me a admitir o facto. Mas também não conjecturo um grupo de serventuários tão inepto e iletrado como este a servir essa transformação.

Se o faz, desobedecendo ou ignorando as leis da convivência social e da cordialidade mais rudimentares, dá como resultado a frase execranda de Maria Luís e o apoio despudorado de Pedro Passos Coelho.

Portugal estrebucha na miséria, com fome, sem esperança e sem norte, e aqueles dois bolçam em nós o critério do cofre cheio, como no tempo do Salazar.

Com, entre outras, uma diferença: o Salazar era um conhecedor da língua, por frequentador diurno e nocturno do Padre Vieira, e aqueles que tais nem sabem quem este foi.

A pátria está dividida, mas o desvio de vida e de consciência acabará, talvez mais cedo do que se pensa, e o episódio Passos Coelho e os seus, não serão mais do que isso mesmo: um episódio. Nefasto, bem entendido, mas episódio, circunscrito a um tempo em que a mentira vicejou."

(Baptista-Bastos, in CM, 25/03/2015)

terça-feira, 24 de março de 2015

Crónica de um casamento não anunciado

Imagine-se que, depois de muitas datas (des)marcadas, uns amigos nos convidam (quase nos convocam) para irmos passar o dia a Lisboa. «Esperem-nos na esplanada do café tal» e juntam fotografia da dita esplanada, «e deixem o carro no parque tal que é o mais barato para lá ficar o dia todo.» 

Aí vamos nós com roupas práticas e sapatos de andar para palmilhar Lisboa e mais as suas maravilhas.

Lá chegados e cumpridas as indicações, iniciamos a nossa caminhada até, inesperadamente, nos encontrarmos com um outro casal desconhecido de nós e tão às cegas quanto nós. Aí, em plena rua movimentada, é-nos entregue um envelope com um «convite especial» que dizia assim:

«Hoje aconteceu um fenómeno natural, denominado pela física de eclipse solar.
Mas algo mais está prestes a acontecer.
Aqui, agora, vai começar o que já era de prever.
Do tamanho do mundo um grande abraço. N.M.»

Entendi logo, até porque vi que estávamos à porta da Conservatória do Registo Civil, porém a jovem com quem nos tínhamos acabado de encontrar (que afinal era a irmã da nossa amiga) continuava muito confusa. Até porque devia ter apanhado um avião para Bruxelas e… não apanhou.  

Foi um casamento por demais informal: os nossos amigos – os noivos – a irmã (que devia ter embarcado para Bruxelas)  e o cunhado da noiva, nós dois e uma jovem conservadora que, não sei se por influências astronómicas – estávamos na Sala Luar – à sua maneira entrou na informalidade do ato que nem teve alianças!



Os enigmas continuaram o dia fora. «Agora vamos para Chão de Loureiro!» Pés a caminho, Lisboa abaixo, com aquela meteorologia tépida que fazia jus ao primeiro dia de Primavera.









Encontro com os pais dos noivos também eles convidados para um daqueles almoços habituais. Mas porquê «estes senhores» – nós! – num almoço daqueles?  Explicações dos noivos e recriação dramatizada do casamento, agora com alianças… Beijos e abraços, gargalhadas, grande emoção por parte da mãe do noivo (ai as mães de homens!... umas mimalhas…)

Despedida dos pais e novo enigma: levados pela noiva colina abaixo, colina acima até um local por de mais aprazível sobranceiro ao rio. Aí chegavam outros amigos que se perguntavam o que estavam ali a fazer. E uma vez mais: «quem são estes senhores?» (que ninguém conhecia – nós!)




Receção ao fim da tarde em Alfama para amigos especiais e respectiva narrativa do sucedido. Fim de tarde quase hollywoodesco com o Tejo por cenário.


















Jantar sem surpresas para os amigos que quiseram juntar-se – e quase todos quiseram! – no Bairro Alto.







Chegada a Leiria às três da manhã. Que dia!!


segunda-feira, 23 de março de 2015

O candidato

Como se não bastasse tudo o resto que continua a (des)acontecer por esse país abaixo e por esse país acima e em S. Bento e em Belém e até em Évora, vem agora o Henrique Neto - sempre em bicos de pés - candidatar-se a presidente da República!!

Mau de mais!!





domingo, 22 de março de 2015

Dia do eclipse

Na passada sexta-feira, aí pelas 9.30, foi visível um eclipse do sol e, mesmo por entre as nuvens, eu ainda consegui vê-lo com esta configuração. (A fotografia não é minha, claro! Foi retirada da net.)




Um eclipse do sol explica-se deste modo:




E deveria ter sido esta a explicação que o capitão deveria ter dado aos seus subordinados lá no quartel para evitar confusões destas.

O CAPITÃO AO 1º SARGENTO:

Amanhã haverá eclipse de sol, o que não acontece todos os dias. Mande formar a Companhia às 7 horas, em uniforme de instrução.
Poderão assim todos observar o fenómeno e darei as explicações. Se chover, nada se poderá ver e os homens formarão no alojamento, para chamada.

O 1º SARGENTO AO 2º SARGENTO:

Por ordem do Senhor Capitão, haverá eclipse de sol amanhã, o que não acontece todos os dias.
O Capitão dará as explicações às 7 horas em uniforme de passeio. Se chover não haverá lá fora a chamada, o eclipse será no alojamento.

O 2º SARGENTO AO CABO:

Amanhã às 7 horas, vem ao quartel um eclipse de sol, em uniforme de passeio.
O capitão dará no alojamento as explicações, se não chover, o que não acontece todos os dias.

O CABO AOS SOLDADOS:

ATENÇÃO! Amanhã às 7 horas, o capitão vai fazer um eclipse do sol com uniforme de passeio e dará as informações.
Vocês deverão entrar formados no alojamento, o que não acontece todos os dias. Caso chova, não haverá chamada.

ENTRE OS SOLDADOS:

O cabo disse que amanhã o sol, em uniforme de passeio, vai fazer um eclipse para o Capitão, que não lhe pedirá explicações. A coisa é capaz de dar uma encrenca dessas que acontecem todos os dias. Deus queira que chova!...



sábado, 21 de março de 2015

A poesia vai acabar (?)

Manuel António Pina disse que...

«A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?»    E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
— Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? —»

(Manuel António Pina, in Poesia, Saudades da Prosa)



E Sophia já tinha dito:

«A bela e pura palavra Poesia
Tanto pelos caminhos se arrastou 
Que alta noite a encontrei perdida
Num bordel onde um morto a assassinou.»

E acrescentou:

«Ó Poesia sonhei que fosses tudo
E eis-me na orla vã abandonada
Uma por uma as ondas sem defeito
Quebram o seu colo azul de espuma
E é como se um poema fosse nada.»

(Sophia de Mello Breyner, in Mar Novo)

Será que a Poesia vai acabar?

quinta-feira, 19 de março de 2015

Pai bacana

Que miúdo não gostaria de ter um pai assim?

Ah! Ah! Ah!




Pais, tenham um bom dia!!

quarta-feira, 18 de março de 2015

O PET

Não, não se trata de falarmos de animais de estimação! É mesmo daquela invenção do ministro (C)rato: o Preliminary English Test (PET) que os alunos do 9º ano vão, pelo segundo ano consecutivo, ter obrigatoriamente de realizar e que, por acaso, não tem nada a ver nem com os conteúdos programáticos do inglês do 3º ciclo nem com o estilo de testes escritos a que os alunos estão acostumados. Os resultados não contam para a nota final dos alunos e se quiserem ficar com um qualquer certificado de Cambridge para encaixilharem e exibir numa parede da sala, terão de pagar 25 euros.




Não serve para nada a não ser para trazer mais sobrecarga de trabalho para os professores, constituindo mais uma forma de os achincalhar. Os professores corretores são sujeitos a uma formação (para a qual foram dispensados das aulas, ficando os alunos prejudicados) dada pelos professores ingleses e a prova oral é realizada pelos professores ingleses. Além disso agora, de Cambridge, vêm uns livrinhos para os alunos comprarem (não sei se serão os professores a venderem-nos...) e poderem praticar, certamente nas aulas de inglês, o tipo de exercícios que vão sair no dito exame...  (uma palhaçada, digo eu!)

Numa crónica do JN muito bem escrita por Francisco Teixeira, este diz a certa altura: «Nuno Crato manda que seja uma empresa privada planetária, de marca Cambridge, a regular e certificar o ensino do Inglês na escola pública portuguesa, para o que não só lhe paga o que um contrato, sem concurso, decidiu, mas, mais ainda, para o que disponibiliza os professores do ensino público de inglês, funcionários públicos, como base operacional e científico-pedagógica do instrumento de regulação privada. Tudo isto é ficção hollywoodesca, como vê. Só num mundo de ficção excelentíssima o ensino público seria regulado e certificado por uma empresa privada que, para tal, usaria os recursos do próprio ensino público a certificar, fazendo-se pagar por essa suposta regulação e certificação.»

A propósito lembrei-me de uma anedota muito antiga, do tempo em que andava no liceu (e não tinha de fazer esta espécie de exame de Cambridge) à qual achei muita piada à época. Era assim: 

«Um promotor da Coca-cola queria à viva força que o Papa autorizasse que os padres, no fim de cada missa, dissessem “Bebam Coca-Cola!” E, com esse intento, dirigiu-se ao Vaticano e pediu uma audiência ao Papa. Foi recebido pelo secretário de Sua Santidade que o demoveu de semelhante pedido afirmando que isso nunca lhe seria permitido. Sem entender os motivos da recusa, o homem saiu do gabinete do secretário muito desgosto e, chegando cá fora, teve o seguinte desabafo: “Quanto é que o gajo da Fiat terá pago para os padres todos dizerem nas missas fiat voluntas tuas?!»

É o mesmo que eu penso: quanto é que a Cambridge terá pago ao ministério do (C)rato para fazer baixar este decreto?

E concluo: é mau de mais!!!

terça-feira, 17 de março de 2015

Tome qualquer coisa verde

É tradição dos países de língua inglesa celebrar o Dia de São Patrício, padroeiro da Irlanda. As pessoas celebram o trevo da sorte e vêm para as ruas vestidas de verde. A minha amiga SK, canadiana, enviou-me um mail dizendo "Have something green!"

E é esse desejo que vos deixo hoje aqui: «Tomem algo verde!» como por exemplo:








Comam algo verde!









E, já agora, uma provocaçãozinha: 

Viva o Sporting!!!!


segunda-feira, 16 de março de 2015

A «Intentona das Caldas»

16 de Março de 1974

«Já tinha acabado tudo. Sabia-se que a coluna fizera meia volta e regressara às Caldas a poucos quilómetros da chegada a Lisboa.

- Mas que raio de barracada foi esta? – interpelava [Ruben Rodrigues].

Expliquei-lhe o que podia no momento. A perplexidade persistia.

- Mas como pôde a malta alinhar nisso? Tava-se mesmo a ver que dava raia!» (…)

«São dez horas quando a coluna motorizada, regressada às Caldas, entra os portões do RI 5, que logo se fecham. Com o comandante, o 2º comandante e os três majores da unidade neutralizados, Monge e Casanova tomam conta da situação, assumindo até final, com extraordinária dignidade, pesadas responsabilidades.

Cerca das onze horas, o brigadeiro Pedro Serrano, 2º comandante da Região Militar de Tomar, ordena o corte da luz, da água e dos telefones à unidade. Pelas doze horas, forças do RI 7 e do RAL 4, de Leiria, do RI 15 de Tomar, da EPC de Santarém (em Chaimites) e da brigada móvel da PSP (então estacionada na Marinha Grande para repressão de uma greve de operários da indústria vidreira) sitiam o quartel. Monge e Casanova ordenam que não se faça um único disparo. Aquela é uma guerra de ideias e não de armas, que irmãos não lutem contra irmãos. Perto das catorze horas, com o quartel cercado, Pedro Serrano, em pé dentro do jipe, ordena à porta das armas da unidade rendição, concedendo para tal um prazo de quinze minutos. Monge e Casanova respondem que só entregam o RI 5 e o portão a Costa Gomes e Spínola. Mas é uma bravata final. Reconhecem que não há qualquer hipótese. Reunindo os oficiais da unidade decidem-se pela rendição. Sabem que a intentona e a sua missão de sacrifício não serão vãs. À opinião pública nacional e internacional chegará uma vez mais a informação de que em Portugal o Exército se agita e que os jovens oficiais causticados pela guerra colonial não partilham da fidelidade canina dos generais jarretas e corruptos ao Governo.»


(A coluna das Caldas - foto daqui)


À noite, no telejornal foi lida uma nota do Governo:

(…) «O Governo tinha conhecimento de que se preparava um movimento de características e finalidades mal definidas, e fácil foi verificar que as tentativas realizadas por alguns elementos para sublevar outras unidades não tinham tido êxito.

Para interceptar a marcha da coluna vinda das Caldas, foram imediatamente colocadas à entrada de Lisboa forças de Artilharia 1, de Cavalaria 7 e da GNR.

Ao chegar perto do local onde estas forças estavam dispostas e verificando que na cidade não tinha qualquer apoio, a coluna rebelde inverteu a marcha e regressou ao quartel das Caldas da Rainha, que foi imediatamente cercado por unidades da Região Militar de Tomar.

Após terem recebido a intimação para se entregarem, os oficiais insubordinados renderam-se sem resistência, tendo imediatamente o quartel sido ocupado pelas forças fiéis, e restabelecendo-se logo o comando legítimo.

Reina a ordem em todo o País.» (in «Alvorada em Abril» O. S. Carvalho, 1977)





(Não sabiam que esta ordem reinaria em todo o País apenas por mais quarenta dias.)


domingo, 15 de março de 2015

Superstições

Não temos a culpa. Somos modelados sem que nos demos conta desde a mais tenra idade e vão ser esses arquétipos que nos vão marcar indelevelmente para o resto da vida. Por muito que os combatamos.

A avó com quem fui criada na infância, sem se dar conta, modelou-me à sua imagem e muito do que sou, como sou e em que creio tem a ver com ela. Dela – e também de minha mãe – herdei algumas crenças daquelas que, simbolicamente, eram passadas às mulheres e a muitos homens naquele tempo obscuro do Portugal de 40/50. Era, porém, de ideias bem arejadas a minha avó espanhola e até a minha mãe – foi o que valeu!

Nunca suportei ouvir cães a uivar – uma das crenças de miúda – porque sempre ouvi dizer que era sinal de morte próxima. Havia um cão grande na quinta de uma família inglesa fronteira à casa onde vivíamos em Sintra, Brownie, chamava-se e fazia os nossos encantos de bonito e majestoso que era! Na véspera de meu pai morrer repentinamente, toda a tarde o bom do Brownie uivou e toda a tarde estivemos, sem qualquer êxito, a mandá-lo calar.

Mais profunda se tornou em mim a aversão aos uivos dos cães.

(possível imagem do Brownie)

Foi, toda a semana, um exagero de uivos da cadela dos vizinhos da frente que encontraram eco noutros cães da rua. Várias vezes estremeci de vago susto tentando, ato contínuo, afastar da cabeça maus pensamentos.

Hoje aconteceu. Uma vizinha aqui da rua, na sua habitual pressa de uma vida feita de corre-corre, não respeitou a barreira que as cancelas baixas impunham aos automóveis, quis atravessar a linha antes do comboio – que passa ali ao fundo da minha rua – e foi mortalmente colhida por ele. Apesar de ronceiro, apesar de anunciado, apesar de alguns outros terem sofrido antes igual sorte.

São uns fofos, mas não suporto ouvi-los a uivar!