sábado, 3 de abril de 2010

Escola para pais?

Tenho recebido de alguns colegas mensagens tão bonitas e tão sentidas que não posso deixar de comentar! De facto a sua generosidade, nesta altura em que me afasto da escola em que trabalhei por trinta e seis anos, é agradável; receber as belas palavras que me têm dirigido alguns dos meus pares com quem partilhei espaço, tempo, alunos, ministério, vida, alegrias e tristezas é mais do que alguma vez pude esperar.
Porém, em todos eles que me cumprimentam pela decisão da minha saída, sinto uma certa pena de não poderem vir também. Que está a acontecer connosco que ainda há tão pouco tempo nos dirigíamos alegres e motivados para o nosso trabalho e agora queremos abandonar o que sempre fizemos com tanto afinco e , posso dizer, até com prazer?
Uma colega/amiga escrevia-me há pouco que só não vem embora como eu porque seria altamente prejudicada em termos de vencimento. Que tem uma turma de alunos de 7º ano que lhe dizem na aula que espere um bocadinho porque estão a acabar de ouvir uma música muito gira; outras que limam paulatinamente as unhas durante a aula, outros que conversam alto e bom som de um canto da sala para o outro...
Como não há-de ela ter vontade de virar as costas e vir embora?
Poderemos culpar o ministério, o estatuto do alunos, o estilo de liderança que se pratica na escola - eu sei lá o que mais! Mas o que temos de culpar é esta sociedade em que grande parte dos pais não sabe (nem quer aprender a) educar os jovens, dar-lhes regras, estabelecer balizas aos seus comportamentos.
Escolas para pais? É discutível. Havemos de falar nisso proximamente.

9 comentários:

  1. Sabes que já deixei a escola há uns tempos, depois de 38 anos de serviço e deixei-a quando estava em carne viva...
    Foi um alívio para mim, depois senti-lhe a falta mas só de ouvir, ler e saber como está a Escola que tanto amei, acho que já não aguentava mesmo!
    Fizeste tudo o que podias e ainda foste para além disso.
    "Tudo vale a pena se a alma não é pequena!"
    E a tua, seguramente, não o é!
    Agora para a frente é que é o caminho!

    Abraço amigo

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  2. Agora é que tu vais começar a fazer aquilo de que tanto gostas e andava lá no fundo à espera de tempo: ESCREVER!!!
    FORÇA! TUDO cá para fora. (Que chatice... disseste que ias falar de tanta coisa e não vais falar de fotografia!!! Imperdoável!!!!!!!! Hahahaha. Eu até sei que gostas!)
    Beijos

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  3. Obrigada, querida Rosa dos Ventos, pelas tuas palavras. São mesmo de amiga. Também amei a escola aquela escola onde estive quase 36 anos e de onde saí quase abruptamente. Mas, de facto, a escola está muuuuuuuito diferente do que era ainda há pouco tempo.

    Para o meu amigo Luís Lobo, o meu agradecimento pela visita e pelas palavras e, quanto a fotografias, ainda só não apareceram só porque ainda não sei transpô-las para aqui...

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  4. Parabéns pelo blog, Graça! É uma boa maneira de ocupar algum do tempo que existe agora de sobra (julgo eu...).
    É verdade, sim! Os alunos estão muito difíceis de entender, de motivar para o estudo,... e, por vezes, sentimo-nos todos desanimados perante as suas atitudes. Não sei se deveremos culpar os pais que não os sabem orientar (nem a eles próprios, muitas vezes, se orientam quanto mais aos filhos). Porém, terão alguma culpa no cartório. Os tempos trouxeram grandes mudanças para a sociedade, as solicitações são muitas e talvez mais interessantes para os jovens do que há uns anos atrás; a escola não lhes dá o prazer imediato exigido e serve estou certa, na maioria dos casos para brincarem, conviver com os amigos e pouco mais. Na realidade, tudo isso é preciso! Falta-lhe é saber consumir em equilíbrio tudo o que a vida lhe proporciona.
    Mas, nem tudo é mau neles!
    Muitas vezes fico parva com a sua generosidade e simpatia, como há uns tempos observei numa aula de substituição: uma miúda estava a fazer um bloco com meia dúzia de folhas pequeninas, que tinha recortado em forma de coração e prendido com um agrafo. Disse-lhe que era bonito o bloquinho feito por ela, com uma forma tão amorosa. De imediato estendeu-mo e disse: « Se gosta, pode ficar com ele!». Respondi que gostava mas era ela quem devia ficar com ele. Insistiu e que depois faria outro se quisesse. Assim, aceitei e até fiquei emocionada pela atitude da cachopa. Ainda hoje o guardo como se fosse uma relíquia. A miúda não deve ter ligado nenhuma e nem sonha a alegria que me deu. Não esperava aquilo! Muitas vezes também somos agradavelmente surpreendidos...
    E são estas pequenas (grandes) coisas que nos vão incentivando a fazer melhor por eles.
    E, quem sabe, certamente por isso a "hotte" lá vai andando, ainda não explodiu... como o Luís Lobo montes de vezes me diz que um dia vai acontecer... Ah, ah...

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  5. São essas pequeninas surpresas e esses pequeninos gestos que nos derretem o coração e apagam as decepções que apanhamos com outros alunos menos "virados para nós", quem sabe, mais marcados pela indiferença e nos leva para a aula seguinte com a mesma determinção e a mesma força.
    Obrigada pela tua história.
    Graça

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  6. Não há dúvida, Graça! São "insignificâncias" dessas ou desse género de episódios, quer da parte das crianças, quer dos adultos que nos fazem andar para a frente com entusiasmo. Uma palavra, um sorriso sincero, um acto simples, na hora certa (ou mesmo sem hora certa) fazem milagres! É pena que todos andemos em correrias contra o tempo (não sei para quê! nem sempre fazemos melhor por esse facto...) e não nos lembremos disso... de como é tão fácil fazer alguém feliz e nós próprios sorrirmos mais vezes. Nós humanos somos demasiado egoístas e distraídos, infelizmente. Temos muito a aprender!
    Um dia de Páscoa feliz!
    E até um dia destes!

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  7. Querida Margarida! Que grande surpresa estes teus comentários! Falamos mais agora que o fizemos em tantos anos na escola! Temos mesmo muito a aprender!

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  8. Tem muita actualidade este artigo!
    De facto muita coisa deveria mudar no ensino em Portugal. Os pais e encarregados de educação, na sua maioria, estão desligados do que se passa com os seus educandos na escola e quando são confrontados pelos directores de turma com situações criadas, muitas vezes acreditam mais nos seus filhos do que nos professores. Enquanto DT tenho verificado isso.
    A autoridade do professor deveria ser reforçada e os pais deveriam ser penalizados pelo não cumprimento das suas obrigações.
    António

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  9. Tens toda a razão, amigo António! A autoridade dos professores deveria ser reforçada. Mas ao que assistimos é ao reforço cada vez maior da autoridade dos pais sobre a escola. Basta ler a actual legislação. Basta ler com atenção o "bom" do Decreto-lei n.º 75/200, cujo promeiro objectivo é "reforçar a participação das famílias na direcção estratégica dos estabelecimentos de ensino". E tudo isto os professores aceitam de boca calada por desconhecimento ou por inércia ou por receio, sei lá! com o "beneplácito régio" dos nossos sindicatos que actualmente fazem de tudo para agradar à senhora ministra em funções, sabe-se lá porquê. É que ela sorri muito e exibe umas écharpes muito discretas... é o dicreto charme da burguesia...

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