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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Try a little tenderness

Hoje, durante um dos banhos da manhã, ouvi a belíssima canção de Otis Redding Try a Little Tenderness numa versão tão bonita e tão harmoniosa na voz tão suave e também harmoniosa de Michael Bublé que me reenamorei dela. É que nesta versão "menos jazz" dá para reparar na letra que é de completo enamoramento.

Dado tratar-se de uma bela canção para ouvir numa bela tarde de Verão, a bebericar uma vodka-laranja ou um gin tónico bem fresco, deixo aqui ambas as versões, bem como a letra, para ver qual das duas preferem.

Esta, romântica e suave



 Ou esta, mais antiga, mais arranhada, mais arrebatada




E a letra, romântica mesmo, verdadeiro hino à forma de tratar a mulher de quem se gosta, e que diz assim 


oh she may be weary
them young girls they do get wearied
wearing that same old miniskirt dress
but when she gets weary
you try a little tenderness
oh man that
i know she’s waiting
just anticipating
the thing that you’ll never never possess
no no no
but while she there waiting
try just a little bit of tenderness
that’s all you got to do
now it might be a little bit sentimental no
but she has her greaves and care
but the soft words they are spoke so gentle
yeah yeah yeah
and it makes it easier to bear
oh she won’t regret it
no no
them young girls they don’t forget it
love is their whole happiness
yeah yeha yeah
but it’s all so easy
all you got to do is try
try a little tenderness
yeah
damn that hart (hard?)
all you got to do is know how to love her
you've got to
hold her
squeeze her
never leave her
now get to her
got got got to try a little tenderness
yeah yeah
lord have mercy now
all you got to do is take my advice
you've got to hold her
don't squeeze her
never leave her
you've got to hold her
and never
so you got to try a little tenderness


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Prémio PT de Literatura


O Prémio PT de Literatura 2010 foi atribuído ao poeta-cantor Chico Buarque de Hollanda pelo seu quarto romance “Leite Derramado” narrativa em primeira pessoa de um velho com mais de cem anos que, da sua cama de hospital, relata a história da sua vida e da sua família para quem quer ouvir, na assunção de que está a ditá-la para alguém que está a escrevê-la.

Já tinha lido, pela altura do Natal passado, este romance que achei extraordinariamente bem arquitectado e muitíssimo bem escrito. Trata-se de um romance protagonizado por um  verdadeiro anti-herói que quase destroi tudo quanto toca, desbaratando a imensa fortuna dos seus pais e avós pela sua preguiça, a sua inépcia, a sua falta de jeito.

Recomendo vivamente, não obstante ser bastante deprimente. Entretanto transcrevo uma das muitas passagens interessantes da narrativa.

«Eulálio Montenegro d’Assumpção, 16 de Junho de 1907, viúvo. Pai, Eulálio Ribas d’Assumpção, como aquele rua atrás da estação do metrô. Se bem que durante dois anos ele foi praça arborizada no centro da cidade, depois de os liberais tomarem o poder e trocarem seu nome pelo de um caudilho gaúcho. A senhora já deve ter lido que em 1930 os gaúchos invadiram a capital, amarraram seus cavalos no obelisco e jogaram nossas tradições no lixo. Tempos mais tarde um prefeito esclarecido reabilitou meu pai, dando o seu nome a um túnel. Mas vieram os militares e destituíram papai pela segunda vez, rebatizaram o túnel com o nome de um tenente que perdeu uma perna. Enfim, com o advento da democracia, um vereador ecologista não sei por que cargas-d’água conferiu a meu pai aquela rua sem saída. Meu avô também é uma travessa, lá para os lados das docas. E pelo meu lado materno, o Rio de Janeiro parece uma árvore genealógica, se duvidar mande um moleque comprar o mapa da cidade. Estes são meus dados pessoais, caso a senhora tenha interesse em atualizar o cadastro. O resto são bagatelas de que não me ocupo, aliás não pedi para estar aqui, quem me internou foi a minha filha. Convênio médico não é assunto meu, e se não estiver quite, por favor dirija-se à dona Maria Eulália. Para efeitos de contabilidade, quem paga minhas despesas é meu tataraneto, Eulálio d’Assumpção Palumba Neto. E se fizer questão de saber de onde procedem seus rendimentos, eu lhe afirmo que não tenho a menor ideia. Sou muito grato ao garotão, mas para ganhar milhões sem instrução alguma, deve ser artista de cinema ou coisa pior, pode escrever aí. Mas a senhora não escreve nada, a senhora abana a cabeça e me olha como se eu falasse disparates. As pessoas não se dão ao trabalho de escutar um velho, e é por isso que há tantos velhos embatucados por aí, o olhar perdido, numa espécie de país estrangeiro. Disparates quem fala é a minha filha que tem oitenta anos e olhe lá. O garotão viaja para não sei onde, anda com malas cheias de dinheiro, e ela diz, este sim é um legítimo Assumpção. Mas o dinheiro dos Assumpção sempre foi limpo, era dinheiro de quem não precisa de dinheiro. Saiba a senhora que ao ganhar do presidente Campos Sales a concessão do porto de Manaus, meu pai era um jovem político bem-conceituado, sua fortuna de família era antiga. Não sei se alguma vez lhe contei que meu bisavô foi feito barão por dom Pedro I, pagava altos tributos à Coroa pelo comércio de mão-de-obra de Moçambique.» (pág. 93-94)


segunda-feira, 14 de junho de 2010

João Aguiar



Não tive tempo de comentar e de lamentar a morte de João Aguiar, jornalista e escritor brilhante, no início deste mês, no dia 3, para ser mais exacta. Não posso nem quero, porém, deixar de me referir aqui a um dos meus escritores preferidos da actualidade. Fiquei deveras surpreendida pelo seu desaparecimento pois nem sabia que estava doente e até porque ainda era uma pessoa que se podia considerar nova.

Gosto muito de ler romances e as minhas escolhas recaem quase maioritariamente sobre os dos autores portugueses da actualidade. Pois se há tanta oferta e boa oferta por parte dos nossos autores por que razão hei-de ler traduções que nem sempre estão muito bem escritas em português? E João Aguiar era um dos meus favoritos. Descobri-o no início da década de 2000 com “A Voz dos Deuses” e “A Hora de Sertório” – belíssimos romances históricos em honra dos nossos heróis primitivos Viriato e Sertório. Depois deixei-me seduzir pela trilogia sobre os portugueses no passagem do milénio e sobre a preparação da passagem de Macau para a China, iniciada com “Os Comedores de Pérolas” a que se seguiu “O Dragão de Fumo” terminando com o supra bem escrito romance “A Catedral Verde”. Outro romance histórico maravilhoso sobre o tempo da ocupação da Península pelos Romanos – “Uma Deusa na Bruma” que li sofregamente e até li um livro de contos, “O Canto dos Fantasmas”, género que aprecio menos.

Não posso deixar de recordar as gargalhadas que dei com o divertido mas altamente crítico “Navegador Solitário” em que um jovem de 15 anos é levado pelo avô Aquilino (há muito falecido) a contar a sua vida e a sua relação com os outros, com a família, com a escola, com as namoradas, enfim, um diário muito original que recomendo vivamente.

Melhor ainda, sei lá, terá sido “O Diálogo das Compensadas” excelente crítica a toda a sociedade, onde os maiores valores são os valores materiais (emprego, carro, festas e boa vida) em detrimento do amor, da amizade, da partilha... e tudo isto passado numa ordem religiosa.s maiores valores são apenas os valores materiais, como o dinheiro, bom emprego, bom carro, boa vida, grandes

 Em 2008 publicou “O Priorado do Cifrão”, uma crítica muito bem feita aos romances de Don Brown e outros que têm tido uma procura mundial que é um verdadeiro exagero! Sinais dos tempos, enfim!

Teria ainda muitos mais momentos de boa literatura para criar para nossa delícia não fosse ter sido traído aos 66 anos por um cancro que lhe tolheu a pena.