sábado, 30 de dezembro de 2017

Paradoxo

Chamo-lhe paradoxo porque não quero parecer mal educada. Mas na época de ser bom, parece que ainda custa mais saber disto:


Notícia 1

A filha do ex presidente de Angola é a primeira mulher bilionária africana (1000 milhões de dólares).

Notícia 2

A UNICEF precisa de 4 milhões de dólares para salvar as crianças angolanas subnutridas.




quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Dia de enorme pressão

A informação era de que se tratava de uma intervenção delicada e demorada. Marcada para logo de manhã.

O telefone retinia de chamadas e mensagens a querer saber, a desejar tudo a correr bem, se precisares de alguma coisa, é só dizeres… Só simpatias, só sinais de amizade, de grande amizade.

O médico há de dizer-te alguma coisa – avisou-me ele.  Mas a tarde alongou-se sem que tivesse concentração para me ocupar com coisa alguma. O telefone tocava «então já se sabe alguma coisa?»

 Às cinco da tarde, «vamos contactar o hospital», mas que não, que ainda estava no bloco. Nem a garrafa de gás butano conseguimos que se ligasse ao aquecedor daquela divisão. (Será que as coisas inanimadas absorvem a nossa inquietação? Lembrei o dia da primeira eleição de Soares para Presidente contra Freitas do Amaral que tinha a vitória como certa – para grande raiva minha – e tudo correu mal nesta casa, até a máquina de lavar roupa recusou trabalhar – e sem avaria!)

Lá para as seis e meia, «já saiu do bloco, mas ainda não subiu. Vou ligar ao recobro.» «Não, esses casos vão para a medicina intensiva. Vou ligar.» Obrigada, obrigada, obrigada a todas tão amáveis, com vozes tão frescas apesar do trabalho pesado que têm sobre si…

«Sim, ele está cá. Mora cá em Leiria? Estou a perguntar porque a visita é só das sete às sete e meia.»

Que sim, que podia ir mesmo que chegasse um pouco atrasada… Obrigada, outra vez.

Lá estava ele, o meu companheiro de vida em todas as horas boas e más, ligado a não sei quantas máquinas num espaço amplo, daqueles que fazem lembrar os filmes, com mais três ou quatro outros vigiados por médicos e enfermeiras. Sereno, profundamente adormecido, entubado. Esquecido da vida.

Foram seis horas de operação. Correu como se previa, sem surpresas. O resto, logo se vê. Disse o médico.

Depois foi informar os amigos de volta, enviar mensagens, receber mais telefonemas. Ouvir mais palavras de conforto.

Estou muito cansada. A pressão foi muita. Que notícias teremos amanhã? Trata-se de um órgão muito delicado.




quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Lembrando a nossa epopeia

Sei que a época dourada da nossa História durou apenas uma dinastia - a segunda - e pouco mais de 60 anos - o tempo das descobertas. Mas não há como não relembrá-la e homenagear aquele povo corajoso e louco que "inventou o mar".

Impossível que me foi encontrar aquela canção cujo refrão diz e repete mais ou menos isto: «quem inventou o mar, sem naufragar, sem naufragar...» e de que tanto gosto, deixo os «Sete Mares» em dois momentos, se bem que pela mesma banda.

Recordemos.







terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Provérbio Chinês

É difícil apanhar um gato negro num compartimento escuro, sobretudo quando ele não está lá.



Bom restinho de 2017!


sábado, 23 de dezembro de 2017

A Véspera de Natal

Ó da casa, nobre gente,
escutai e batei palmas;
vai nascer o Deus Menino,
redentor das nossas almas.

Esta noite é noite cheia,
não é noite de dormir:
das onze p’rà meia-noite
uma Virgem vai parir.

A véspera de Natal
é a noite preciosa:
nasce o Rei Celestial
do ventre da Gloriosa.

Eu hei-de ir ter ao Presépio,
assentar-me num cantinho
para ver o Deus Menino,
a nascer tão pobrezinho.


(Popular, S. João da Pesqueira)




quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Para quem gosta do Inverno

Belo, branco e frio, chegou o Inverno! 


No seu movimento de translação em redor do Sol, o nosso planeta Terra dá origem às estações do ano. Hoje aconteceu o solstício de Inverno aqui no hemisfério Norte introduzindo a estação branca.



De bater o dente...



O Google, na sua imensa arte e imaginação, celebrou o solstício deste inverno assim: 




E eu trago desenhos alusivos às festas pagãs (com as suas fadas e bruxas) e às crenças e lendas sobre as quais a Igreja Católica construiu as suas próprias festas e mitos.















Yule = Natal pagão
Tenham um bom Yule!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Je ne regrette rien

Uma das melhores vozes da canção francesa - digo eu. 

Foi em 19 de Dezembro de 1915 que nasceu em Paris - fez ontem 102 anos.

Em jeito de homenagem, deixo aqui  a melhor das suas canções - digo eu...   

Se não concordarem comigo, é só dizer. Não fico zangada...




terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O Caixadòculos

Hoje fui surpreendida por um texto da escritora Cristina Carvalho (filha de Rómulo de Carvalho) na sua página do facebook, que dizia assim:

" Ó patriazinha iletrada, que sabes tu de mim?" - Alexandre O'Neill

«Em 19 de Dezembro de 1924 nasceu ALEXANDRE O'NEILL - poeta surrealista, um dos fundadores do Movimento Surrealista Português. Foi, também, publicitário. Imaginou frases incríveis, de uma agudeza e espírito totais, frases que ficaram para sempre, como esta bem conhecida "Há mar e mar, há ir e voltar".

Mas a sua inteligência era imensa, provocadora, irónica. Personalidade atentíssima, vibrou e fez vibrar as cabeças inquietas, as veias mais escondidas dos portugueses que, nesse tempo em que ele viveu, viviam soterrados na mais indigente impossibilidade de expansão cultural.

Portugal e o "meio", sempre cultíssimo e muito sério, muito benzeduras e panos quentes, muito original e intransponível; Portugal, essa geográfica península, senhora bem comportada difícil de se levantar da poltrona, esse pequeno recorte de terra que olha de revés para quem passa por detrás da cortina de cassa do vidro de um qualquer oceano, esse oceano e respectivas gaivotas que os poetas que frequentam os supermercados desta vida exaltam a torto e a direito, olhando pouco para dentro; esse Portugal esquelético e amargurado reverberando fados de goela aberta por todas as vielas dignas de tal nome, não lhe deu a mão. Teve medo dele.

Se fosse hoje, talvez fosse diferente, mas em plenos anos 80 do século XX, a coisa ainda era muito complicada.

Digo eu que nunca me esqueci de ti, ó Alexandre.

Nem hoje, nem nunca. Sendo este - nunca - relativo, claro! É só até eu desaparecer!»

…………………………………………………………


Fui procurar o poema cujo verso lhe inicia o texto e é o que deixo aqui a lembrar que faz hoje 93 anos que nascia, em Lisboa, o grande e esquecido poeta Alexandre O’Neill.

Caixadòculos

- Patriazinha iletrada, que sabes tu de mim?
- Que és o esticalarica que se vê.

- Público em geral, acaso o meu nome…
- Vai mas é vender banha de cobra!

- Lisboa, meu berço, tu que me conheces…
- Este é dos que fala sozinho na rua…

- Campdòrique, então, não dizes nada?
- Ai tão silvatávares que ele vem hoje!

- Rua do Jasmim, anda, diz que sim!
- É o do terceiro, nunca tem dinheiro…

- Ó Gaspar Simões, conte-lhes Você…
- Dos dois ou três nomes que o surrealismo…

- Ah, já agora sim, fazem-me justiça!

- Olha o caixadòculos todo satisfeito
a ler as notícias…

(Alexandre O’Neill, Feira Cabisbaixa, 1965)




segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

«Thank God It's Christmas»


Relembrando os meus queridos Queen e a espetacular voz de Freddie Mercury, deixo hoje, aqui, o meu primeiro voto de Bom Natal para todos vós!





Oh my love we've had our share of tears
Oh my friend we've had our hopes and fears
Oh my friends it's been a long hard year
But now it's Christmas
Yes it's Christmas
Thank God it's Christmas



The moon and stars seem awful cold and bright
Let's hope the snow will make this Christmas right
My friend the world will share this special night
Because it's Christmas
Yes it's Christmas
Thank God it's Christmas
For one night

Thank God it's Christmas yeah
Thank God it's Christmas
Thank God it's Christmas
Can it be Christmas?
Let it be Christmas
Ev'ry day

Oh my love we've lived in troubled days
Oh my friend we have the strangest ways
All my friends on this one day of days
Thank God it's Christmas
Yes it's Christmas
Thank God it's Christmas
For one day


Thank God it's christmas
Yes it's Christmas
Thank God it's Christmas
Oooh yeah
Thank God it's Christmas
Yes yes yes yes it's Christmas
Thank God it's Christmas
For one day


A very merry Christmas to you all!
Oh meu amor nós tivemos as nossas tristezas
Oh meu amigo tivemos as nossas esperanças e medos
Oh meus amigos foi um ano longo e difícil
Mas agora é Natal
Sim é Natal
Obrigado Deus, é Natal

A lua e as estrelas parecem terrivelmente frias e brilhantes
Vamos esperar que a neve faça este Natal verdadeiro
Meu amigo o mundo partilhará essa noite especial
Porque é Natal
Sim é Natal
Obrigado Deus, é Natal
Por uma noite

Obrigado Deus, é Natal, sim
Obrigado Deus, é Natal
Obrigado Deus, é Natal
Pode ser Natal?
Deixe ser Natal
Todos os dias

Oh meu amor nós vivemos uns dias confusos
Oh meu amigo nós andámos pelos caminhos mais estranhos
Meus amigos este é o dia dos dias!
Obrigado Deus, é Natal
Sim, é Natal
Obrigado Deus, é Natal
Por um dia

Obrigado Deus, é Natal
Sim, é Natal
Obrigado Deus, é Natal
Oh sim
Obrigado Deus, é Natal
Sim sim sim sim, é Natal
Obrigado Deus, é Natal
Por um dia

Um Natal muito feliz para todos vós!

domingo, 17 de dezembro de 2017

Violência contra as mulheres? Culpa delas!

«Ele avança a morder-se o lábio, e da estalada ela esquiva-se, sentiu de que lado vinha, outra vez o jogo que sabemos como se joga, mas com a outra mão ele agarra-lhe o cabelo, e como vem quase a correr, consegue desequilibra-la, a puxá-la pela nuca, para o lado e para baixo e depois para o lado outra vez, e é incrível a rapidez de um corpo enlouquecido a atacar e a de um corpo aterrorizado a defender, ambos capazes de tudo, e com isto estão na cozinha

- Como é que vai ser então, como é que vai ser minha puta

Ela procura tapar a cara com as mãos, está com as mãos na cara desde o início, porque conhece o jogo, porque não quer ver, nem é tanto pela sova que vem aí outra vez, tapa os olhos e quase tenta cantar baixinho, tapa os olhos porque não quer ver a sua vida outra vez outra vez outra vez.

Mas só consegue proteger a cara com as mãos nas primeiras três pancadas contra o frigorífico.

Depois as mãos soltam-se, devagar, na ponta dos braços caídos ao longo do tronco, porque a quinta e a sexta vez que lhe atira a têmpora contra o frigorífico ela já não está bem ali.

E não disse nada, não vai dizer nada, sabe muito bem a táctica do jogo, mas é dentro de casa, porque ele vem a arrastá-la pelos cabelos da nuca para fora da porta, para as escadas do prédio, pelos degraus abaixo»

(«O Pianista de Hotel»; Rodrigo Guedes de Carvalho; D. Quixote; Lisboa; 2017, pp 97-98)

Este é um breve trecho de um romance (que ando a ler, se bem que sem grande entusiasmo porque, a páginas cento e tal, ainda não encontrei o fio condutor) mas podia muito bem tratar-se do testemunho de uma qualquer mulher deste nosso encantador país.

Mas – e aqui devo escrever um MAS com letras bem grandes – MAS teria de tratar-se de uma mulher sem instrução, provinciana, das berças, com a educação do tempo das nossas bisavós, ou burrinha de todo, demente talvez.

Não, meus caros amigos, não estou a ironizar e muito menos a duvidar dos muitos testemunhos das muitas mulheres que são agredidas e violentadas e até mortas pelos homens! Estou tão-somente a ir ao encontro da leitura que os juízes e JUÍZAS da “nossa” praça fazem dos casos que se lhes apresentam.

Que saibamos, já são dois os casos em que o homem agressor é ilibado de culpas pela “justiça” dado as respetivas mulheres serem consideradas “modernas, esclarecidas, destemidas e independentes pelo que têm a obrigação de se protegerem e aos respetivos filhos”. Palavras de juíz(a)! Isto sem esquecer o anterior caso do inexorável juiz Neto de Moura & Cª.


Ora nesta ordem de ideias, meus caros amigos homens, ficam – aqueles que assim o entenderem e que tenham mulheres modernas, destemidas e independentes – livres e à vontade para lhes carregar sempre que vos apetecer, mordê-las, cuspir-lhes, atirá-las ao chão ou pela janela fora, parti-las, matá-las e aos filhos! A responsabilidade não vos vai ser atribuída! Elas é que – algumas bêbadas, outras umas desarrumadas, outras umas devassas, umas putas – logo após a primeira bofetada, têm a obrigação de sair de casa, nem que seja para debaixo da ponte, para se porem a salvo da vossa abençoada força de macho latino protegido pela lei da Bíblia e da Justiça portuguesa!




sábado, 16 de dezembro de 2017

Passem bem...


... e tenham um bom fim de semana!




sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Procuro




Adenda: também se recebem cabritos.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Brahams no Barbeiro

Recebi de uma amiga e sorri e gostei. Com o magistral Charlie Chaplin. Com a vigorosa Dança Húngara nº 5 de Brahams de que aprendi a gostar, entre muitas outras, cedo na minha vida com os discos (alguns ainda de 78 rotações) que comprava em segunda mão na Feira de S. Pedro. 

Apreciem a mímica e a coordenação com a música.
Depois, se tiverem paciência, apreciem peça tocada por uma grande orquestra, que é uma maravilha. 
E depois, se conseguirem, imaginem o trambolhão que eu dei a pretender dançá-la numa aula de bailado naqueles bons belos tempos...








quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

O Conquistador

Foi por acaso (sou grande entusiasta dos acasos) que me veio ter às mãos a recente edição do livro «O Conquistador» que o escritor Almeida Faria lançou em 1990.

Deste autor sabia quase apenas que escrevera «Rumor Branco» quando tinha ainda 19 anos (1962) que, quando saiu, fora uma enorme pedrada no charco da nossa literatura, imediatamente adotado por Vergílio Ferreira (o que não era fácil…)

Este pequeno romance – chamar-lhe-ia novela até! – tem o seu encanto e a sua magia. É um verdadeiro pícaro: sonhador, divertido, imaginoso. Trata-se das aventuras de um rapaz que nasce na zona do Cabo da Roca, no dia do mês em que o rei D. Sebastião nascera, quatro séculos exatos depois do nascimento do rei virgem. Também se vai chamar Sebastião, o pai e a mãe também se chamavam respetivamente João e Joana e também tem seis dedos num dos pés.  Só que… ao contrário de D. Sebastião, este é um libertino, doido por mulheres.

O encanto de que falo acima vem da história da novela, da forma como nos é contada e das singularidades de muitas das personagens que fazem a ação evoluir, nomeadamente a avó Catarina.
A magia vem do ambiente em que se passa, desde a chegada do protagonista até à sua última aparição – a Serra de Sintra em todo o seu feitiço. De facto, Sebastião nasce e vive toda a sua infância e adolescência na casa do Farol, conhece e percorre as praias da Adraga, da Ursa, das Maçãs, toda a costa e todas as veredas da serra como ninguém, acabando por se recolher na Peninha.

As descrições são sublimes e de uma imagética exata e poética que, de imediato, nos lançam no meio das neblinas de Sintra.

«Vindas do mar, [no dia do seu nascimento] lufadas de névoa avançavam em direção à serra, como um exército desordenado recuando em debandada. Este espetáculo criou nos presentes, e ignoro se em meu pai, a convicção de que não seria casual a coincidência de el-rei e eu termos vindo ao mundo a vinte de janeiro, dia do santo do mesmo nome. Quando cresci e percebi que algo se esperava de mim, preferi, por instinto, fingir que não era nada comigo. Só muito mais tarde comecei a interrogar-me, como agora, quando olho aqui de cima, da Peninha, este mar hoje coberto de tiras de neblina.» (…)

«A nevoaça veio de manhã esvoaçando rente ao mar e agarra-se agora às rochas da costa, à orla das praias e ao cimo da serra donde não se dispõe a largar. O céu limpo e as temperaturas altas, anunciadas pela rádio, devem referir-se a outro país. Aqui, neste isolamento, envolto nesta espécie de manto de bruma encharcado em água, é inverno cerrado, embora haja sol a meia dúzia de quilómetros. Sintra é assim: um microcosmo e um microclima. Mas a bruma não me incomoda nada, condiz com a minha clausura e o meu cansaço.»

Foram descrições como estas que me devolveram a imagem das húmidas brumas que se esvaíam pelas encostas da serra e encantaram os primórdios da minha vida.

E que eram assim…
















(fotografias da página do facebook de Emília Reis)

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

domingo, 10 de dezembro de 2017

Notícias do Sousa da Ribeira do Puorto

Não sei se deram conta, mas o nosso queridíssimo amigo Rui da Fonte tem andado a entreter-nos com uns contos malandros passados lá no Puorto, carago, e bem à moda do Puorto, carago, com um sujeitinho chamado Sousa, da Ribeira do Puorto.

Ora o nosso amigo Sousa, que é muito malandrão e tem a escola toda, esteve há dias em Lisboa onde se foi encontrar com um colega, sabe-se lá para quê. 

Iam os dois a passear pela praia a combinar não sei o quê, quando um deles dá um pontapé numa pedra - ou assim lhe pareceu. De facto, tratava-se de uma lâmpada mágica da qual saiu um génio que se lhes dirigiu desta forma:




- Como prémio de me terem libertado de mil anos de prisão, cada um de vós tem direito a pedir-me aquilo que quiser.

O lisboeta, cheio de pressa, disse todo fanfarrão:

- Eu quero que seja construído um muro em redor de Lisboa, impedindo a entrada dos fulanos do Norte. Não precisamos de aguentar esses gajos nem outros menos capacitados do que nós...

- O seu desejo é uma ordem, meu amo...ZÁS... E o muro já está construído...

Logo, logo  o génio dirigiu-se ao Sousa perguntando-lhe qual era o seu desejo.

Então o Sousa, que, como já ficou dito, é muito malandrão, perguntou:

- Oube lá, ó morcõn, o muro que construíste é sólido?

 - Nada neste mundo o pode destruir, meu amo!

- E é mais alto que tuodos os edifícios em Lisboua?

- É mais alto que os edifícios mais altos de toda a Lisboa - garantiu o génio.

- Tem políticos? - pergunta o Sousa, muito maroto.

- Todos os grandes lá vivem, meu amo!

- Tá benhe! Atón einche d'água até beinhe ao ciminho...


sábado, 9 de dezembro de 2017

Não gaste seu tempo sem conta...

Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero fazer conta, e não há tempo.

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta!

Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo...


Soneto, obra-prima do trocadilho, escrito no século XVII, por António Fonseca Soares.

Frei António das Chagas, de seu nome António da Fonseca Soares, também conhecido por Padre António da Fonseca, (Vidigueira, 25 de Junho de 1631 – Varatojo - Torres Vedras, 20 de Outubro de 1682)




sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Caeiro tinha razão...

Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.

Ambos existem; cada um como é.

(Alberto Caeiro)


Senão vejam se as minhas rosinhas não estão lindas mesmo num dia de chuva...














Tenham um fim de semana florido!



quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Johnny Hallyday (1943-2017)

Do tempo dos idos de 60, do rock, do twist, da bela música francesa - como não recordar aqui?

Uma das "minhas canções" (daquelas que os "meus" Diamantes também cantavam e nós dançávamos, dançávamos... muito apaixonados...) «Toi qui regrette» (1961) Tão bonita!




Mais um dos "nossos" que parte
Que descanse em paz!

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Estilo Polémica

Sabemos o quanto nos agrada uma boa polémica. Para tomarmos partido, para teimarmos defendendo o nosso ponto de vista, para nos irritarmos com o parceiro, etc. etc.

A polémica que hoje aqui trago é uma polemicazinha, até porque não deve ser conhecida do público em geral. Por isso lhe chamei «estilo polémica»; se fosse a malta nova diria «tipo polémica». Enfim.

Então houve um concurso de literatura que decorreu no Brasil que foi o «Prémio Oceanos» (antigo Prémio Telecom de Literatura de Língua Portuguesa) de que tive notícia em meados de outubro num tímido retangulozinho do jornal que informava que, da lista de 51 semifinalistas de autores, tinham sido escolhidos dez finalistas dos quais quatro eram portugueses, a saber: Ana Margarida de Carvalho, Ana Teresa Pereira, Hélder Moura Pereira e Maria Teresa Horta. Apesar do meu encantamento pela poeta Maria Teresa Horta e a sua obra de arte «As Luzes de Leonor», comecei imediatamente a “torcer” pela Ana Margarida de Carvalho de quem li os dois romances verdadeiramente alucinantes no passado verão. Confesso que dos seis finalistas brasileiros nada sei, “desculpe ignorância de macaco” – estou citando Jô Soares no seu extraordinário programa «Planeta dos Homens» dos incríveis anos 70/80.

Na semana passada li que a escritora Maria Teresa Horta repudiava o 4º lugar ex-aequo que lhe tinha sido atribuído juntamente com o escritor Bernardo Carvalho, bem como o respetivo prémio pecuniário (cerca de quatro mil euros). Numa carta endereçada ao júri, Maria Teresa Horta afirma: "Faço-o por respeito pela Literatura, por respeito pelas minhas leitoras e os meus leitores, e sobretudo pelo respeito que devo a mim própria e à minha já longa obra (…). Assim sendo, caros senhores, sois livres de dar a aplicação que vos aprouver aos 15 mil reais que me caberiam, não fosse esta inultrapassável questão que se me coloca e dá pelo nome de dignidade".

Entretanto, na sua página do facebook, a prestigiada crítica de literatura, a professora doutora Maria Alzira Seixo, no seu estilo frontal de sempre, escrevia que os dois portugueses que faziam parte do júri, o crítico literário António Guerreiro e a poetisa Ana Mafalda Leite, tinham sido alunos dela, fracos alunos, que estiveram quase para reprovar e que não entendia como pessoas dessas eram convidadas para integrarem júris de concursos literários.

Só depois li que a vencedora do prémio tinha sido Ana Teresa Pereira – de quem nunca ouvira falar – com o romance Karen. Fiquei também a saber que a autora premiada, nada e criada na Madeira, já não é uma jovem (nasceu em 1958) e publica desde 1989, sendo-lhe conhecidas cerca e duas dezenas de obras.

«Nos últimos dezoito anos, Ana Teresa Pereira construiu uma das obras mais coerentes e sólidas da ficção nacional. De facto, sem que quase déssemos por isso, os mais de vinte romances que publicou, oscilando entre os fairy tales, o fantástico, o policial e o western, não necessariamente por esta ordem, fizeram do seu nome uma referência incontornável.» Eduardo Pitta; Público.

Ignorância minha (outra vez…) Que diria de mim a Professora Maria Alzira Seixo? Não lhe passei pelas aulas lá em Letras porque ela estava mais dedicada às Românicas… 

De qualquer modo, sei que tenho de ler o tal romance Karen.


(Ana Teresa Pereira)