sábado, 10 de abril de 2010

O drama da morte do pequeno Leandro



Rio Tua


A morte do pequeno Leandro que frequentava o 6º ano numa escola EB 2,3 em Mirandela, já deu para se escreverem notícias e notícias e para se fazerem comentários e mais comentários. Nem imagino a dor daqueles pais de cada vez que há mais uma “entidade” que decide publicar as brilhantes conclusões a que chegou!



Realmente trata-se de um caso algo trágico – uma criança desaparece num rio e está vinte e tal dias sem que o seu corpo apareça. Entretanto, colegas e familiares afirmam que, na escola, o aluno era vítima de violência por parte de alguns colegas. Os pais declaram mesmo que já tinham participado essa situação ao conselho executivo que não terá agido em conformidade.



Foi bullying!- diz a comunicação social – e o Leandro, desesperado, cansado de ser agredido, fugiu da escola e foi atirar-se ao rio! Não! Nesta escola não disso! “Todos batem em todos” – afirma uma professora.



Mas, afinal foi uma brincadeira que correu mal: o Leandro despiu a roupa que dobrou direitinha e colocou sobre uma pedra. Pretendia ir tomar um banho e voltar, mas correu mal – dizem outros.



Quem é responsável? Precisamos de um culpado. É necessário e urgente assacar as culpas a alguém! E aí, entra a Direcção Regional de Educação e mais a Inspecção Geral que doutamente – aliás como sempre – após uns inquéritos ou a partir de umas actas, como gostam de fazer as suas investigações – garantem que não houve violência continuada. Aí a escola fica ilibada!



E então, uma destas manhãs, ouvi, no noticiário da manhã, o maior disparate de todos: afinal a responsabilidade é da Câmara Municipal! E porquê? Porque o assistente operacional que estava de serviço ao portão da escola e que terá deixado sair o Leandro sem ele ter licença para o fazer era daqueles funcionários contratados pelas Câmaras Municipais mas que desempenham funções nas escolas!



Doeu-me o coração pelo assistente operacional! Tem de ser o “elo mais fraco” a acarretar com as culpas? Não há família, professores, psicólogos que tenham dado conta dos possíveis nós que se fizeram na cabeça daquele (como de muitos) pré-adolescente? Não há sociedade a culpabilizar! Há o assistente operacional que estava de guarda ao portão da escola que deixou o aluno fugir...



Os senhores da Direcção Regional de Educação e da Inspecção Geral e de outras instituições que tal, hão-de experimentar estar de guarda-portão numa escola à hora de almoço, por exemplo, para ver se são capazes de “estancar” na corrente de alunos que têm autorização para saírem, um ou outro aluno que está impedido de sair da escola. E mesmo sem ser na hora da avalanche: se um aluno sair a correr portão fora, será que o assistente tem de ir a correr atrás do aluno? Hão-de experimentar!



Mas os verdadeiros motivos e os verdadeiros responsáveis pela morte do Leandro – como de muitos Leandros a haver – esses hão-de ficar para sempre desconhecidos.




3 comentários:

  1. Como eu compreendo a dor destes pais!
    Terão que viver para o resto da vida com esta ausência para sempre...
    Quanto a culpas creio ser muito difícil chegar a uma conclusão e o que me admira é que num país onde todas as averiguações são tão lentas tenham chegado tão depressa ao pobre do funcionário do portão...
    Dizes bem!
    Só quem não conhece as entradas e saídas de uma escola a determinadas horas é que poderá culpar o elo mais fraco!

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  2. Se o Leandro estiver, de algum modo, a assitir a tudo, vai concluir: "Estão a ver?!... Eu não tinha hipótese! Neste país, como noutros, só os fortes podem estar várias vezes no local errado à hora errada. Esses batem e acabou-se! Os mais fracos aguentam ou desistem. Queixa? Denúncia? Coragem? Supervisão? Acompanhamento? Apoio? Está tudo no dicionário e em belas leis. Não tinha hipótese, acreditem! Não tinha hipótese! E depois de mim, vai ficar tudo na mesma! Coitado do porteiro! Sem querer, o que eu lhe fui arranjar! Nunca me bateu!!!... Curioso... pensando bem... não me consta que algum porteiro de algum estádio alguma vez tenha sido expulso por deixar entrar alguém ou alguma coisa que não devia!... Aquilo parece que na hora H é tudo ao monte... dizem! Impossível controlar... dizem!... Mas eu de futebol percebo pouco. Não tive tempo! E de quem não aprendeu a estar e conviver, como sabem, ainda percebo menos!... Não tinha hipótese!..."

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  3. Aquele pensamento do Leandro, imaginado pelo Luís, no comentário anterior, é interessante! Efectivamente teria sido esse o pensamento do menino Leandro... Pobre menino, pobres meninos que como ele sofrem, sofreram ou sofrerão estas injustiças, pobre porteiro...
    Porém, acredito que desta vez, a culpa pela morte do Leandro vai mesmo "morrer solteira".
    Malvados os garotos que lhe provocaram aquele desespero!
    Malvados os garotos que também,pelo seu comportamento, influenciaram o suicídio do professor de Música na outra escola.
    Não me venham falar que "as crianças são sempre boazinhas” que "as criancinhas são o melhor do mundo"! Infelizmente os miúdos, quando querem, podem ser perversos!

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