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segunda-feira, 1 de junho de 2020

Obituário


Há 130 anos, em 1 de junho de 1890, Camilo suicida-se com um tiro na cabeça, ao perceber que está cego e sem cura.





(Surripiado do facebook do meu amigo Alfredo Barroso)

domingo, 24 de maio de 2020

Maria Velho da Costa




A escritora portuguesa Maria Velho da Costa, Prémio Camões em 2002, morreu ontem, repentinamente, aos 81 anos.

Nascida em Lisboa, em 1938, Maria Velho da Costa faria 82 anos no próximo dia 26 de junho.

Considerada uma das vozes renovadoras da literatura portuguesa desde a década de 1960, Maria Velho da Costa é autora de conto, teatro, mas sobretudo do romance tendo obras como "Maina Mendes" (1969), "Casas Pardas" (1977) e "Myra" (2008).

Maria Velho da Costa foi  ainda uma das coautoras, juntamente com Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno, de "Novas Cartas Portuguesas" (1972), uma obra literária que denunciava a repressão e a censura do regime do Estado Novo, que exaltava a condição feminina e a liberdade de valores para as mulheres, e que valeu às três autoras um processo judicial, suspenso depois da revolução de 25 de Abril de 1974.

As três Marias

Em singela homenagem, deixo aqui o seu emblemático e bem conhecido poema Revolução e Mulheres.


Elas fizeram greves de braços caídos.
Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta.
Elas gritaram à vizinha que era fascista.
Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas.
Elas vieram para a rua de encarnado.
Elas foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água.
Elas gritaram muito.
Elas encheram as ruas de cravos.
Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes.
Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua.
Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo.
Elas ouviram falar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas.
Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra.
Elas choraram de verem o pai a guerrear com o filho.
Elas tiveram medo e foram e não foram.
Elas aprenderam a mexer nos livros de contas e nas alfaias das herdades abandonadas.
Elas dobraram em quatro um papel que levava dentro uma cruzinha laboriosa.
Elas sentaram-se a falar à roda de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões.
Elas levantaram o braço nas grandes assembleias.
Elas costuraram bandeiras e bordaram a fio amarelo pequenas foices e martelos.
Elas disseram à mãe, segure-me aí os cachopos, senhora, que a gente vai de camioneta a Lisboa dizer-lhes como é.
Elas vieram dos arrabaldes com o fogão à cabeça ocupar uma parte de casa fechada.
Elas estenderam roupa a cantar, com as armas que temos na mão.
Elas diziam tu às pessoas com estudos e aos outros homens.
Elas iam e não sabiam para onde, mas que iam.
Elas acendem o lume.
Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado.
São elas que acordam pela manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas.

(In Cravo, Dom Quixote, 1976) 


quinta-feira, 16 de abril de 2020

O novo naufrágio de Sepúlveda, com gato e gaivota

Morreu, vítima desta maldita peste, o escritor chileno Luís Sepúlveda, (1949-2020) autor de vários livros, mais conhecido por cá como o autor de «História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar» que é de leitura obrigatória para os alunos do 7º ou do 8º ano.

Poderia dizer aqui muitas coisas sobre o infeliz escritor, mas vou transcrever parte de um lindo e ternurento texto que o meu amigo Amadeu Homem, também escritor e professor universitário deixou no facebook(informei-o do roubo...)

Numa espécie de inter-texto que faz com o naufrágio do Sepúlveda da nossa «História Trágico-Marítima» de Bernardo Gomes de Brito, do século XVIII, tem por título «O novo naufrágio de Sepúlveda, com gato e gaivota» e insere-se num conjunto de textos que ele vai escrevendo quase diariamente subordinados ao tema «Crónicas da Peste Mansa».

E diz assim:


«A peste mansa requisitou o Sepúlveda e levou-o. Não lhe consentiu, sequer, mais uma pequena narrativa sobre bichos, beirais, voos rasantes e de médio porte, madrugadas vermelhas, planuras, cheiros de mar alto. Limitou-se a colocá-lo no rol dos finados e talvez lhe tenha dito, com voz de sargento-ajudante: - Embora, já à minha frente. Ala, que se faz tarde.

A minha apresentação ao Sepúlveda fez-se no dia em que me foi dado conhecer o gatarrão compassivo, no momento em que fui apresentado a uma gaivota menina e desajeitada que nascera sem saber voar. O resto da história é conhecida, pelo que seria uma tautologia voltar a resumi-la aqui. (…)

Mas esse tal Sepúlveda tinha descoberto uma gaivota-bébé, uma implume ave desvalida, que ainda não tinha feito a aprendizagem de voar. Seguidamente, Sepúlveda tinha topado dentro de si com um gatarrão opinioso, que iria ensinar a pequena gaivota a voar. Ficava entre uma coisa e outra a chama da cumplicidade. Depois viria o tempo de uma gaivota de curiosa asa dizer um "até breve" ao tal gato, agora comovido, e convicto de que não estava a escutar um "até breve" mas antes um definitivo "adeus".

Bem vistas as coisas, são sempre estas as balizas de todas as aprendizagens, mesmo as afetivas. Ficamos no tempo curto do "até breve" e despedimos a alma e o coração desenganado quando nos vemos forçados a dizer "adeus".

A verdade é que este Sepúlveda, escritor de bom quilate e andarilho de melhor músculo, calcorreou o vasto mundo que o foi aplaudindo no tempo em que eu fui assentando as sapatilhas por areias de desvairadas praias interiores. Numa dessas últimas praias aprendi eu a gostar de gatos, a ronronar por pitanças enlatadas e a roçar a pelagem por permissivas notas de crédito alimentar.

Quando chegou a peste mansa, foi noticiado que Sepúlveda andara pelas "Correntes de Escrita" , na Póvoa do Varzim. Nessa altura já eu lera a história do gato pomposo e da gaivota frágil. (…)

"Olha" , pensei para comigo " o Sepúlveda está por terras do Eça, o tal que dissera ter sido 'um pobre homem da Póvoa de Varzim" . (…)

A informação televisiva  veio tornar-me ciente de que Sepúlveda talvez já estivesse infetado quando andarilhou por terras de Eça. Pensei : "O tipo não é propriamente um Matusalém. Irá safar-se " e deixei de pensar nele.

Um dia, inesperadamente, vieram dizer-me que Sepúlveda falecera num hospital de Oviedo. A peste mansa liquidara-o mansamente, como quem não quer a coisa. Relembrei ter pensado, para me pacificar, que tal tipo iria escapar, por não ter exatamente a idade de Matusalém. (…)

"Lá se foi, lá se foi" e debrucei-me no meu pequeno varandim, onde, suponho, declarei uma vez mais "olha, lá se foi o Sepúlveda". 

Julguei ter avistado uma gaivota tresmalhada, vinda do "mar da palha", que fica ali mesmo à mão. Mas não o poderei dizer ajuramentadamente. Digo, isso sim, que não vislumbrei na calçada nem um só gato, nem um.»





Adeus, Luís Sepúlveda, até um dia!

domingo, 29 de março de 2020

Morreu Mécia de Sena (1920-2020)

Foto de Mécia, por Fernando Lemos (1949).
Na Califórnia, onde vivia, morreu,ontem, dia 28, Mécia de Sena (1920-2020), viúva de Jorge de Sena e mãe dos seus nove filhos.


Organizadora incansável (e rigorosa) da obra do marido, Mécia de Sena era irmã do crítico literário e historiador da literatura Óscar Lopes.

Mécia tinha feito cem anos no passado dia 16.

(do blog do escritor Eduardo Pitta)


O Diário de Notícias desenvolve a notícia, dando relevo à sua extraordinária obra, que passou essencialmente por organizar, tratar e fazer publicar a imensa obra de seu marido, o escritor Jorge de Sena.

(Para ler mais: https://www.dn.pt/cultura/morreu-mecia-de-sena-escritora-e-guardia-do-para-sempre-que-a-ligou-a-jorge-de-sena-12001038.html    )


Jorge de Sena e Mécia de Sena em Londres

https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/15504.pdf

quarta-feira, 31 de julho de 2019

Ausência

Mais uma imagem que me deixa tão triste! De momentos tão alegres... (Porto, Abril de 2016)

Em quatro meses (que faz hoje) partiram ambos. Hoje tem sido um dia difícil - à medida que o tempo se esvai, a falta e a saudade parecem aumentar.

De facto, um dia difícil, hoje.




segunda-feira, 29 de julho de 2019

Partiu o Rui da Fonte

Ele era o nosso traço de união,
O nosso decano,
O promotor dos nossos alegres encontros,
O nosso mestre em enigmas e desafios...
Um amigo daqueles que não esperam retorno,
Um querido,
Um simpático,
Um Senhor.

Partiu hoje o Rui da Fonte - ironicamente no dia do seu aniversário - o que faz com que fiquemos todos mais tristes, mais sós.

Recordo-lhe o sorriso ameno, simpático, maroto, compreensivo que aqui deixo para memória.







Até sempre, Rui Amigo! Fica em paz!

sábado, 6 de julho de 2019

Partiu João Gilberto, o pai da bossa nova

Morreu, aos 88 anos, o cantor, compositor e músico que,  nos idos de 50/60,  lançou a bossa nova.

Presença e voz serenas que tão bem transmitem o pulsar de uma música bela e igualmente serena.

Para o relembrar e homenagear, aqui fica o «Desafinado» - que era coisa que ele não era...




segunda-feira, 3 de junho de 2019

Agustina (1922 - 2019)


Infelizmente morta há anos de mais para a escrita, a imensa escritora Agustina Bessa-Luís deixou-nos hoje fisicamente, aos 96 anos.

Figura controversa desde sempre, sobre ela escrevia Sophia de Mello Breyner na sua correspondência com Jorge de Sena:

[Paris, Março de 1961]

(…) Fui para Florença com a Agustina Bessa-Luís que era a delegada portuguesa [ao Congresso COMES – Comissão Europeia de Escritores] (…) Vim para Lisboa pensando que se tratava dum congresso apenas literário. Vim encontrar um congresso político, praticamente exclusivamente político, anti-fascista. (…) O Congresso era anti-fascista – coisa com que concordo, mas os métodos usados foram fascistas, mal-educados e policiais. (…)

 Criaram à volta de Agustina um clima de suspeição e inquisição. E isto foi-me dito por uma pessoa de direita e de carácter: Disseram-me que eu a devia abandonar pois o facto de eu andar com ela me comprometeria. Como você sabe, eu não sou capaz de abandonar nenhuma pessoa que está só e que é injustamente acusada e perseguida na sua liberdade. (…)

Quanto à atitude política de Agustina penso poder garantir que ela não é nem salazarista nem fascista. Considera o nosso governo criminoso mas considera também inoportuno afirmá-lo no estrangeiro. Pensa também que a COMES deve defender a liberdade do escritor mas sem espírito partidário.

A minha atitude política é diferente da de Agustina, como você sabe, mas penso que a atitude dela deve ser respeitada porque acredito na liberdade. Acho que não se pode criar em nome do anti-fascismo um novo fascismo. (…)

Hoje no caminho em Montpellier fomos abordados por um jornalista espanhol que nos fez um interrogatório habilíssimo e cerrado ora dizendo bem do Salazar e do Franco, ora dizendo mal – foi muito estranho. Admirei a extrema inteligência com que a Agustina conseguiu não responder a nada. Fiquei com a impressão que éramos seguidos. Tenho quase medo de que não me deixem entrar em Portugal. (…)
……………………………

Esquecida da coterie literária depois da Revolução pelas suas escolhas políticas encostadas à chamada direita, tem visto ultimamente a sua imensa obra literária reeditada. 

De referir ainda a completíssima biografia da romancista modernista e neo-romântica (como diz Eduardo Lourenço) «O Poço e a Estrada» da autoria da escritora Isabel Rio Novo.


Agustina, Sophia e Eugénio de Andrade (1958)

sábado, 23 de fevereiro de 2019

José Afonso (1929 -1987)

Faz já 32 anos que tão cedo partiu. Tinha apenas 57 anos. Vale bem a pena recordá-lo pela voz, pelas músicas que compôs, pelas letras que escreveu e que musicou, pela luta que empreendeu ao longo da vida!





quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

«Tenho uma saudade braba»


Passam já 41 anos (fez ontem) sobre a partida do grande senhor da Letras e da Língua e Cultura Portuguesas, meu querido Professor, Vitorino Nemésio. 

Não esqueço nunca a sua erudição, a sua imensa sabedoria, a sua terna sensibilidade nas aulas e nas provas orais a que tínhamos de nos sujeitar obrigatoriamente...

Deixo aqui a minha «saudade braba» do professor e desses tempos de juventude.


Tenho uma saudade tão braba
Da ilha onde já não moro,
Que em velho só bebo a baba
Do pouco pranto que choro.

Os meus parentes, com dó,
Bem que me querem levar,
Mas talvez que nem meu pó
Mereça a Deus lá ficar.

Enfim, só Nosso Senhor
Há-de decidir se posso
Morrer lá com esta dor,
A meio de um Padre Nosso.

Quando se diz «Seja feita»
Eu sentirei na garganta
A mão da Morte, direita
A este peito, que ainda canta.

Vitorino Nemésio, in "Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga"



Obra de V. Nemésio
(foto de Adélio Amaro)

domingo, 16 de dezembro de 2018

Ite missa est...

Deus e os meus amigos sabem bem que não sigo os ritos católicos, nem religiosos em geral. Só que, de vez em quando, há aquelas obrigações familiares e sociais a que é preciso corresponder.

Foi o caso de hoje. Partiu desta vida a última dos ascendentes da família próxima do meu marido. Uma tia, viúva do tio irmão da minha sogra, a última matriarca da família, com 93 anos de uma vida cheia de altos e baixos – como as de todos nós que descemos a este paraíso terreal – e que, pelo menos na minha perspetiva, era um doce de senhora que, especialmente nos últimos anos de vida, depois de ficar sozinha, se tornou ainda mais doce.

Os filhos, nossos primos, portanto, decidiram-se por uma despedida religiosa e nós lá fomos acompanhar aquela nossa tia tão recetiva e compreensiva nos seus últimos momentos aqui connosco.

Entrou o celebrante, um jovem de hábito branco e até aí tudo bem. O pior foi quando abriu a boca: nem o nome da senhora conseguiu dizer direito: (senhora Maria Glória, dizia ele). Isto depois de falar várias vezes no marido da defunta, não percebendo, quem não fosse da família, se ele era vivo ou morto. Utilizou (mal quanto a mim, claro!) a parábola das dez virgens sensatas e das dez virgens descuidadas que foi tão maltratada que deixou o Senhor um bocado malvisto…

Entoava bem, mas quando falava, a voz não tinha força nem projeção e tropeçava no meio das frases. Uma lição mal preparada, cogitava eu, professora dos quatro costados… A única coisa que lhe saiu bem foi rezar o Pai-Nosso, até porque todos os rezaram em coro…
Quando eu pensava que ia continuar para missa por alma, o jovem pediu a colaboração de alguém para levar a cruz e terminou dizendo: «agora façam duas filas atrás e sigam atrás da cruz».

Pensei cá comigo: «Ai, Graça Maria, que está cada vez mais crítica; tu que nem segues estes ritos senão esporadicamente…» Mas depois lembrei-me do “meu” Padre Abílio, lá de Sintra, de quando eu ia ao “santo sacrifício da saída da missa”, que sabia como portar-se como um verdadeiro celebrante (missas em latim, naturalmente!) voz projetada e língua afiada para os adolescentes tontos feito eu quando lá aparecíamos… Que diferença!

Não fui apenas, porém, eu a notar o desconcerto do jovem pároco: havia quem rolasse os olhos de espanto. E até ouvi alguém dizer que o jovem não era padre, era apenas missionário.

Fosse o que fosse, prestou um mau serviço à Igreja. Além de que a nossa tia (Maria da) Glória merecia melhor…




sábado, 3 de novembro de 2018

A vida é o ai que mal soa...

Li o mail esta manhã: "o nosso amigo Carlos Oliveira, (do sempre interveniente blog Crónicas do Rochedo,) morreu na passada 2ª feira. Foi cremado."

Triste de mais. Triste de mais. Apesar daquela sua despedida algo desassombrada em 6 de setembro último, apesar de se estar já à espera, a realidade bate sempre forte e crua.

Não sei se acredito naquela frase de conveniência que se diz: «Descanse em paz.» Mas que descanse em paz se for caso disso.

E, como sempre, é a poesia que me vem de imediato à ideia. E evoco aqui João de Deus.

«A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa.

(...) 

A vida o vento a levou.»




Até um dia, Carlos!



terça-feira, 9 de outubro de 2018

Charles Aznavour (1924-2018)

Na verdade o século XX está a deixar-nos dia a dia... No passado dia 1, foi a vez de Charles Aznavour nos deixar também.

Ficam as suas belas canções. Fica esta voz inconfundível...



sábado, 6 de outubro de 2018

Montserrat Caballé (1933 - 2018)




Morreu a Diva!

Duas vozes extraordinárias
que, infelizmente, não se encontram já 
entre nós...



quinta-feira, 16 de agosto de 2018

In memoriam

Não me canso de repetir a frase que li de um amigo meu: «O século XX está a deixar-nos.»

E de lágrimas nos olhos.

Hoje foi a vez da cantora soul Aretha Franklin (1944-2018)

Resta-nos recordar a sua atribulada vida (aqui)

E dizer uma pequenina oração com ela, por ela e para ela.

Descansa em paz!




quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Celeste Rodrigues (1923-2018)

Morreu hoje, aos 95 anos, a cantadeira de fado Celeste Rodrigues.

A Celeste Rodrigues de que me lembro é a dos anos 50 quando passava na rádio esta cançãozinha (irónica, dizia o meu pai, referindo-se à queda de um hidroavião da carreira comercial que fazia a ligação entre o Funchal e Lisboa) que se chamava «Olha a Mala».

A canção era divertida e fazia as minhas delícias de miúda pequena, lá em Algés.

A Celeste cantava e bem, mas era irmã da Amália, que por essa altura já não era a menina que vendia limões por ali até Alcântara, mas antes uma fadista bem aceite em Lisboa.

Dizia-se lá por casa (a minha mãe e os meus avós maternos viveram em Algés desde os anos 30) que a carreira da Celeste ficou muito comprometida ao longo dos tempos pelo percurso, pela "aura" da irmã. (dito de outra forma: diziam eles que Amália não deixava que a irmã cantasse...)


Como não sou fã do fado, deixo aqui a cançãozinha da minha infância e um medley de canções populares que deixa transparecer a voz límpida e também poderosa de Celeste Rodrigues.

Paz à sua alma!










segunda-feira, 2 de julho de 2018

Sejamos agradáveis


Sabe quem me conhece e quem já me vai conhecendo por aqui que não sou frequentadora de missas. Não interessa estar aqui e agora a esgrimir as razões que me levam a ter este comportamento.

Hoje, por força das circunstâncias, assisti à missa de corpo presente de uma velha senhora professora do “liceu” de Leiria que fazia o favor de ser minha amiga, figura grada da cidade e de quem, também por força de não sei que circunstâncias, vou ser a seguidora na direção de uma Academia Sénior.

A missa foi celebrada por um padre franciscano, coadjuvado por um jovem frei, o que, já por si, a tornou diferente das institucionais missas – entenda-se por isso o que se entender. Mais dinâmica, mais natural, mais alegre (apesar da circunstância) mais coloquial, enfim. (paradoxalmente, nem queiram saber as saudades que eu tenho de uma missa em latim…)

Mas, no meio dos habituais rituais das missas, das orações estereotipadas e do continuado senta-e-levanta a que os frequentadores tão bem obedecem – e que eu ordeira e educadamente imito – hoje gostei e aprendi mais uma lição: quando o celebrante disse que Deus gosta que sejamos agradáveis para Ele e uns para os outros.

Tocou-me fundo esta ideia de que devemos esforçar-nos por sermos agradáveis uns para os outros. A noção de agradar aos outros entra bem na minha ideia dos grandes pilares da nossa dádiva, da nossa abertura ao outro: a compaixão e a generosidade. Compaixão que não é sinónimo de «pena»; generosidade que não é sinónimo de «ser bonzinho».

Sejamos, pois, agradáveis uns para os outros – o que não é sinónimo de mostrar «boas maneiras».





terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Morreu Natália Nunes



Sua filha escreveu hoje de manhã na sua página do facebook:

AOS AMIGOS: A MINHA MÃE MORREU HOJE

Sua filha é a escritora Cristina Carvalho. Natália Nunes foi a mulher do professor e cientista Rómulo de Carvalho, o poeta António Gedeão que nos deixou em fevereiro de 1997.

Natália Nunes (1921 – 2018) ela própria escritora – algo desconhecida e muito esquecida.  

«Ninguém conhece esta escritora, tradutora, ensaísta. Alguns conhecerão vagamente. É assim a vida.» - Escrevia sua filha, Cristina Carvalho, em 18 de novembro último, dia em que sua mãe fez 96 anos.



De forma muito sintética e desassombrada, mas muito completa, o escritor Eduardo Pitta escreveu hoje no  seu blog o que eu aqui transcrevo:

«Natália Nunes morreu hoje. Tinha 96 anos. Romancista, memorialista, dramaturga, ensaísta e tradutora, Natália Nunes estreou-se em 1952, com o livro de memórias Horas Vivas. Próxima do existencialismo, destacaria da sua vasta obra ficcional Autobiografia de uma Mulher Romântica (1955), Regresso ao Caos (1960), Assembleia de Mulheres (1965), O Caso de Zulmira L. (1967), A Nuvem (1970), Da Natureza das Coisas (1985), As Velhas Senhoras e Outros Contos (1992) e Vénus Turbulenta (1997). A peça de teatro Cabeça de Abóbora (1970) é uma farsa demolidora da burocracia dos Estados totalitários. Na área do ensaio, As Batalhas Que Nós Perdemos (1973) colige estudos sobre Augusto Abelaira, Cardoso Pires e Raul Brandão. Um extenso ensaio sobre Finisterra, de Carlos de Oliveira, foi publicado em 1997: A Ressurreição das Florestas. Num tempo em que o feminismo não era uma profissão, Natália Nunes antecipou-se ao seu tempo, defendendo com desassombro a real emancipação das mulheres. Não o fez em comícios: a Obra responde por si.

Depois de traduzir Dostoievski, Tolstoi, Simonov e Elsa Triolet, Natália Nunes conseguiu a proeza de, em pleno salazarismo, traduzir La Bâtarde, o livro maldito de Violette Leduc, que assim chegou de forma admirável à língua portuguesa. Em 1945 casou com o cientista, pedagogo e professor Rómulo de Carvalho, mais conhecido pelo pseudónimo de António Gedeão. Durante quarenta anos, Natália Nunes colaborou com regularidade nos títulos mais relevantes da imprensa. Foi conservadora da Torre do Tombo (1957-68) e fez parte da última direcção da Sociedade Portuguesa de Escritores, extinta pelo Estado Novo em Maio de 1965. É mãe da escritora Cristina Carvalho.»




domingo, 7 de janeiro de 2018

Quem se lembra da «Poupée de cire»?

Ganhou o festival da canção da Eurovisão no ano de 1965 com a canção «Poupée de cire, poupée de son». France Gal, uma jovem menina de 18 anos à época.

Morreu hoje, vítima de cancro. Vamos recordá-la?




quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

A Guida Maria

Fiz a minha 4ª classe num Externato privado na Parede – de que já não me lembro o nome – no ano letivo de 1957/58. A minha mãe dava lá aulas aos alunos da 2ª classe, turma onde tinha uma aluna que se chamava Guida Maria. Muito bonita, muito vivaça, muito alegre e divertida, com um olho azul muito expressivo, mas nem por isso muito boa aluna porque faltava muito às aulas para ir aos ensaios e para decorar os papeis das peças em que representava. Teria os seus sete/oito anos.




O colégio era frequentado por meninos e meninas “de família” por isso a Diretora, a Srª D. Maria Alice, minha professora, tinha certos cuidados na organização do colégio, nos serviços que prestava e nos eventos que realizava.

Lembro, com especial ternura, a festa de final de ano em que se representou uma peça de teatro muito completa e muito abrangente. O enredo era muito simples: uma avó fazia 82 anos e lamentava-se, sozinha, em palco, porque nenhum dos seus netos a visitava nesse dia. Depois, aos poucos, eles iam aparecendo e cada um trazia consigo um grupo que dançava ou cantava para a avó. As danças, os cantares e os poemas declamados cobriam quase todas as províncias de Portugal. Lembro-me que se dançaram o vira do Minho e da Nazaré, o corridinho do Algarve, o bailinho da Madeira e até o fandango sapateado do Ribatejo (que foi ensaiado pelo motorista do colégio que era ribatejano). Também houve bailado clássico e belas canções pelo coral.

Eu fui escolhida para representar a avó, de cabelo empoado e longo vestido e xaile negros e a minha primeira fala, ao abrir do pano, era: «82 anos… Como o tempo passa!» Depois, lá me lamentava por estar sozinha e ninguém se lembrar de mim naquele dia e aí aparecia a pequena Guida Maria, minha neta. Então desenrolava-se a peça, sendo nós duas as “responsáveis” pela chegada dos restantes netos com os seus grupos de animação da festa da avó.

Os nossos “ensaiadores” foram, nada mais, nada menos do que o ator Luís Cerqueira, pai da Guida Maria, e um cunhado daquele, tio da Guida, o Senhor Vaquinhas que era encenador.



A peça foi representada no antigo Casino do Estoril.



No final da representação, o pai e o tio da Guida Maria pediram à minha mãe que me deixasse seguir a carreira do teatro que eles me encaminhariam.

A minha mãe não deixou. (A sua grande aspiração era que a filha tirasse um curso superior e “fosse alguém”… )

Fui acompanhando à distância e a espaços a carreira da minha famosa colega até que ontem fui tristemente surpreendida pela notícia da sua morte.

Lamento que tenha partido com tanto ainda para dar.