domingo, 31 de outubro de 2010

Happy Hallowe'en!


(in Google)


Esconjuro de bruja (para mis amigos...)

"¡Ojos de sapo, patas de rana,
que tengas suerte toda la semana!

¡Alas de murciélago , cola de lombriz,
que hoy y siempre seas muy feliz!

¡Muelas de hipopótamo, cuernos de dragón,
que nunca nadie hiera tu corazón!

¡Dientes de culebra, huesos de chucho,
NUNCA olvides que te quiero mucho!

¡Uñas de gato, plumas de gallina,
que siempre te lleves bien con la vecina!

CONJURO:

Escobita, escobita,
que cada año me ponga más bonita.

Sapo, sapito,
que este año mevaya mejorcito.

Caldero, calderito,
que me abunde el dinerito..."





sábado, 30 de outubro de 2010

Terra de Pinhal e Mar


Não será vasto este pedaço de país, das serranias verdejantes de Sicó aos areias do Osso da Baleia, dos cimos pedregosos e áridos de Aire e Candeeiros à penedia escalavrada de Moel; não será vasto, até, quando medido desde os poços neveiros de Castanheira de Pêra até aos campos de vinhedos e pomares do Bombarral.

Vasto não será, por certo, que de bem maior território e mais largas imensidões podem ufanar-se outros que , a Norte e a Sul, no litoral rente ao mar ou nas bandas do interior quase raiano, compõem este recanto da Europa que dá por nome Portugal. Por escasso que seja, porém, o distrito de Leiria e sua região, faz da variedade a sua riqueza, a sua identidade, a sua magia.

Experimentemos olhá-lo de longe (ou de relance, tanto dá), como se possível fora diluir na contemplação as fronteiras e no olhar esbater as distâncias, pequenas sejam elas.

Detenhamos a vista nos recantos acolhedores por onde ribeiras serpenteiam, a norte, a sulcar de brilho escondido pinhais e bosques vários, os montes ali ao lado, enquanto patamares e socalcos multiplicam miradouros a cada passo. Balança-se-nos a visão entre casebres e solares acastelados, com memórias de anos por contar. Guardião da memória, ali está Santiago, da Guarda chamado, e sua réstia de ameias, vigilantes, ainda, sobre o longe, como quem mantém, séculos volvidos, uma missão a cumprir; ali estão os cumes de Castanheira de Pêra, a espreitar, pressurosos, sobre vales e regatos.

Guardiã da memória será, também, a sombra do Marquês, acolhida às estreitas ruas que, em Pombal, cidade de seu nome, seu termo e sua morada, ao aconchego do velho castelo se acolhem. E com elas (e com ele) farrapos de passado, que em cada aldeia nos espreita, da Redinha a Litém.

Ou essa outra sombra que povoa de façanhas e lendas o fio da lembrança, a de D. Fuas Roupinho, a pairar, ainda, entre as muralhas de Porto de Mós e o casario da velha vila, ou lá no alto do Sítio, a espreitar, o areal da Nazaré, a pata gravada para sempre na rocha da lenda. (...)

Olhemos o pinhal, sim, esse verde ondeado de vento até ao ventre do mar, enlaçado, quase nos areais de S. Pedro, das Paredes, da Polvoeira. De um e outra (de pinheiro e de areia) se construiu a magia incessante e polícroma do vidro por terras se Marinha Grande, semente de uma outra história, às vezes de suor, às vezes de lágrimas, às vezes de luta enfeitiçada, tão travessa quanto madrasta.

Sosseguemos os passos, se sossego há aí, cidade adentro: agora, nas ruas estreitas de Leiria, que rescendem, ainda a Eça, a Rodrigues Lobo, a Lopes Vieira, à beira da Sé ou do Castelo; logo depois, em Alcobaça, à sombra de paredes carcomidas de anos, que respiram amores impossíveis e cantos de morte e desejo, resguardados nas pedras tumulares de Pedro e Inês; a seguir, no remanso das Caldas da Rainha, alfobre de artistas do barro, estância de pintores, ateliê de arquitectos, fiel depositária de todos eles e seus sonhos e devaneios. (...)

Repousaremos, porventura, em Óbidos, ao abrigo das muralhas, a contemplar o sol quando declina e se desvanece, lento e suave, sobre a lagoa, na antevisão do mar que se adivinha, teimosos na Foz do Arelho. Óbidos, esse burgo guardião-mor destas terras; guardião do tempo, guardião da memória, guardião das águas, de terras, de rostos, de colinas. E de templos, que em cada esquina da vila muralhada nos surpreendem o passo afadigado da procura.

(Carlos A. André, in “Terra de Pinhal e de Mar”)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Lamento por uma política perdida




Mesmo correndo o risco de me "caírem em cima" das formas  mais inverosímeis - não há grande probabilidades de isso acontecer porque não sou muito conhecida no meio - não resisto a copiar para aqui a crónica de hoje do jornalista Ferreira Fernandes no Diário de Notícias. Gosto imenso de o ler diariamente sobre os assuntos mais díspares e, que me desculpem os que assim não pensam, mas tem um olhar crítico (quase) sempre certeiro sobre as questões que aborda.

Não venho aqui fazer a apologia da anterior ministra da Educação (que, de facto, falhou muito), embora eu tenha sido das poucas pessoas que sempre a admirou pela sua verticalidade e pela certeza do que queria fazer (por oposição à actual ministra que, de sorriso fácil e com pouco dentro da cabeça, não sabe o que quer nem o que se há-de fazer). A questão é que o PS quebrou a coluna para acabar por dar razão aos professores com o objectivo de ganhar as eleições e, semi-ganhando-as apenas, não conseguiu nada nem para os professores, nem para si próprio, nem para o país.

Foi pena!

E diz o Ferreira Fernandes:

Na semana em que Sócrates foi reeleito, perguntaram-me na SIC pelas medidas que ele devia tomar. Fiquei-me por uma só e, mesmo essa, óbvia. Era como aconselhar Álvaro Siza quando desenhou a pala da Expo: "Arquitecto, faça-a de maneira que ela não caia." Disse eu naquele debate da SIC: "Sócrates devia manter a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues." Grande espanto, no debate... Não sendo uma águia em análise política, uma coisa eu tinha por certa do primeiro mandato de Sócrates. Num sector prioritário, a Educação, tentou-se que os seus trabalhadores seguissem a mais elementar das normas profissionais: subir na carreira só por mérito. Maria de Lurdes Rodrigues (MLR) fora a cara dessa revolução (e aqui está uma definição de Portugal: revolução, por cá, é tentar que aconteça a um professor o mesmo que ao merceeiro que eu escolho para me fornecer e aos astronautas seleccionados pela NASA - ser examinado). Mas a ministra foi muito contestada e tinha de ser chutada no novo Governo. Daí o espanto pela minha proposta, no debate da SIC. E, de facto, MLR foi despedida. À custa da popularidade perdeu-se uma ministra com política certa. Hoje, as sondagens são desastrosas para o PS. Isso é o problema do PS. O problema de Portugal é que, com o receio de chegar mais cedo a essa impopularidade, o PS não nos garantiu como herança aquela política certa.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O (des)acordo


"O vale de lágrimas que cultivamos para nos enlevar aparece, entretanto, ponteado de rebentos súbitos de humor, de desbragamento. Como uma veia a salvaguardar-nos o outro lado de resignação.

O pícaro, a pilhéria, a maledicência, a insensatez, o delírio, fizeram-se-nos, com efeito, contrapontos irrecusáveis." (Fernando Dacosta, in "Máscaras de Salazar")

Apesar do nosso temperamento sorumbático e masoquista, conseguimos sempre inventar a piada, a pilhéria, o desbragamento...





quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Crónica de uma (re)candidatura anunciada




Conforme “arautizado” (passe o neologismo), o dr. Cavaco lá veio anunciar a sua (re)candidatura. Todo solenidades, todo formalidades. Todo contenção. Que sente que o país ainda precisa dele, que vai gastar metade do orçamento disponível para a sua campanha, que tem experiência, que tem credibilidade, etc. etc.

Com tantos predicados e com tantos conhecimentos de Economia, não se percebe como não conseguiu prever e atalhar a crise que, por acaso e para relembrar às pessoas até é mundial! Evidentemente que o Presidente da República não governa. Quem governa ou desgoverna são os governos. Então para que precisamos de um tecnocrata na Presidência? O “buraco” em que nos encontramos é recorrente na nossa História. Bem vistas as coisas já vem do final dos Descobrimentos, do tempo do D. Sebastião. Mas este “buraco” começou a ser cavado nos finais dos anos 80 quando o dr. Cavaco era Primeiro Ministro.

Não sou capaz de perceber como pessoas inteligentes e vividas, com experiência de vida fora deste “jardim à beira-mar plantado” como são o Dr. João Lobo Antunes e a Maestrina Joana Carneiro (filha do melhor Ministro da Educação que tivemos no pós-25 de Abril) conseguem ser apoiantes incondicionais deste presidente de estatura esfíngica, sem o dom da palavra, sem perfil cultural de nenhuma ordem.

Entendo, porém, que com estas características, com estes discursos tristonhos e sem rasgo, o povo se reveja nele. Diz Fernando Dacosta referindo-se ao povo português no excelente livro “Máscaras de Salazar” que “Pela tristeza atingimos a paz interior, nossa forma de felicidade, de alegria; daí cultivarmos o saudosismo, o romantismo, o messianismo, o fatalismo. Lavamo-nos no choro, deleitamo-nos na desgraça, adiamo-nos na espera.” E é esta tristeza, este dramatismo, este pessimismo, esta resignação compulsiva que nos faz aceitar tudo, até um presidente sorumbático, rígido, que mal sabe sorrir e que acredita que pode ser o paizinho, o salvador da Pátria.

Abençoada crise na qual nos revolvemos com deleite e que está sempre na ponta da língua de todo e qualquer comentador, jornalista ou analista para que ninguém abstraia dela. Faz o nosso género, acalenta-nos a dor e faz-nos esperar por um messias pintado de tímido, de não sofisticado, de honesto, de raiz popular subido a pulso, de ungido de Deus, como o povo gosta e que o vem tirar da desgraça.

É assim que se apresenta o "novo" candidato.

domingo, 24 de outubro de 2010

Boa semana!


Amanhã vou ser operada. Vão tirar-me mais uma coisa aqui de dentro que está a dar uns probleminhas. Nada de grave. Mas como vai ser mais uma anestesia geral, nunca se sabe... Então deixo aqui um pequeno filme que recebi de um amigo com umas sugestões de como ter uma vida (mais ou menos) feliz.

Boa semana!

sábado, 23 de outubro de 2010

Lisboa



(Terreiro do Paço - Cais das Colunas)


"Logo a abrir, apareces-me pousada sobre o Tejo como uma cidade de navegar. Não me admiro: sempre que me sinto em alturas de abranger o mundo, no pico dum miradouro ou sentado numa nuvem, vejo-te em cidade-nave, barca com ruas e jardins por dentro, e até a brisa que corre me sabe a sal. Há ondas de mar aberto desenhadas nas tuas calçadas; há âncoras, há sereias. O convés, em praça larga com uma rosa-dos-ventos bordada no empedrado, tem a comandá-lo duas colunas saídas das águas que fazem guarda de honra à partida para os oceanos. Ladeiam a proa ou figuram como tal, é a ideia que me dão; um pouco atrás, está um rei-menino montado num cavalo verde a olhar, por entre elas, para o outro lado da Terra e a seus pés vêem-se nomes de navegadores e datas de descobrimentos anotados a basalto no terreiro batido pelo sol. Em frente é o rio que corre para os meridianos do paraíso. O tal Tejo de que falam os cronistas enlouquecidos, povoando-o de tritões a cavalo de golfinhos."

In “Lisboa Livro de Bordo”
José Cardoso Pires , 1998



sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Abertos ao domingo à tarde





Já tinha visto num título do jornal logo de manhã e depois, quando lá cheguei para as compras da semana, estava anunciado por todos os lados: “Este domingo estamos abertos à tarde.” Entretanto, recebi uma mensagem no telemóvel a dizer: “Este domingo aproveite 10% de desconto em cartão em todo os produtos.” Manobras do marketing!

E, quando cheguei à caixa para pagar as compras, disse à empregada em tom de alguma cumplicidade: “Então lá vos obrigaram a trabalhar ao domingo à tarde...” Com a civilidade que é apanágio dos empregados daquela grande superfície (agora diz-se colaboradores, mas eu não gosto desta nova denominação para os trabalhadores por conta de outrém) a senhora abriu os olhos em ar de grande espanto e admiração e, delicadamente, respondeu-me: “Sabe que é a primeira pessoa que nos diz isso?... É que toda a gente concorda com esta nova medida...”

Contam-se pelos dedos as vezes que fui ao supermercado aos domingos e agora, aos domingo à tarde, ainda menos. É a minha forma de reagir contra. Posso parecer antiquada, mas se houvesse muita gente a pensar assim, podia ser que houvesse mais consideração pelos funcionários dos supermercados. Claro que eles têm na mesma os seus dias de folga, mas é ao domingo que os filhos estão também em casa e eu continuo a advogar que as famílias continuam a precisar de ter os seus tempos comuns de natural convívio, descanso, diversão, aprendizagem, discussão de assuntos, refeições em conjunto, toda uma miríade de procedimentos que fazem a diferença na preparação para a educação e para a cidadania dos mais novos.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Roseira brava

Vejam a roseira brava que encontrei nos campos do Gerês.
Que é que terá a ver com a autora deste blog?...




quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dissimulação




Sabe quem viu o programa do passado domingo do professor Marcelo Rebelo de Sousa (eu não gosto muito de ver programas de opinion makers partidários porque são ainda mais tendenciosos que grande parte dos jornalistas) como este, de olhos brilhantes, anunciou a recandidatura do dr. Cavaco à Presidência da República.

Apesar de considerar o professor Marcelo o mais demagógico de todos os comentadores que já passaram pela televisão, tenho-o por pessoa de grande inteligência e de enorme eloquência, grandes de mais para se reduzir à figura de arauto da desgraça que é podermos vir a ter o mesmo presidente por mais cinco anos. Melhor fora, apesar de tudo, que ele viesse anunciar, de olhos brilhantes, a sua própria candidatura. Não estando contudo próximo das minhas preferências políticas, confesso que me veria mais bem representada pelo professor do que por este presidente que se recandidata.

Mas a questão não é essa. A questão que se me põe é a da hipocrisia do dr. Cavaco de andar a “fazer-se caro” e a pretender mostrar que a sua recandidatura não é o mais importante para o país no momento actual e a deixar entender que é coisa que não lhe interessa nem o preocupa e que torna e que deixa...

Entretanto lá anda, dissimuladamente, em campanha pelo país fora, país que, afectado ainda pelas reminiscências salazaristas, continua a arrebanhar criancinhas das escolas que, inocentes e de bandeirinha na mão, cantam o hino ao senhor presidente... E, depois disso, quer ainda mostrar-se tão desprendido, tão desinteressado que chega ao ponto de encomendar o anúncio do seu desejo.

Semelhante dissimulação faz lembrar a de Salazar: “A minha política é o trabalho” dizia o ditador que ficou conhecido pelo seu silêncio, pela sua invisibilidade. E, no entanto, entrava diariamente pelas casas, pelas vidas, pelo pensamento de todo e de cada um dos portugueses e fê-lo, com consequências irreparáveis, por quase 50 anos. O máximo da dissimulação!

Felizmente para nós, o dr. Cavaco não tem a estatura política nem a inteligência brilhante que tinha Salazar.


terça-feira, 19 de outubro de 2010

A União Europeia


Retrato da família europeia


Não é preciso dizer mais nada, pois não?

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

As datas


As datas têm muita importância para mim. Todos as manhãs, ao pensar em que dia estamos, a minha memória automaticamente vasculha as minhas lembranças e me diz: “Faz hoje anos que...” ou: “Hoje faz anos esta ou aquela pessoa.” É assim. Não faço esforço.

Hoje, por exemplo, faria anos o meu pai. 91 e um anos se fosse vivo. Mas, infelizmente, já quase passou mais tempo morto que passou vivo. Era um minhoto muito alegre e muito inteligente. Um autodidacta. Um aventureiro. O pai dele, que era uma pessoa importante do governo da terra, morreu logo após os quarenta anos e deixou a minha avó viúva, com cinco filhos pequenos e sem qualquer reforma que os sustentasse – que naquele tempo a crise era contínua para grande, grandíssima parte da população e não havia pensões de coisa nenhuma. Assim, aos treze anos, o meu pai meteu-se no comboio para Lisboa, à aventura, sem dizer nada à mãe. Trabalhou nisto e naquilo, em tudo o que conseguiu; aprendeu inglês, francês e algumas frases de alemão com os refugiados da Segunda Guerra. Matriculou-se na Escola Comercial Veiga Beirão que frequentou apenas até ao 4º ano (actual 8º) tendo então sido expulso por estar conotado com o “reviralho”.

Um apaixonado por música especialmente música americana dos anos 40, juntou uma colecção de discos (daqueles muito pesados, de 78 rotações por minuto) que tocava num gramofone. Cantava e assobiava muito bem e sabia de cor imensas árias das óperas mais famosas. Parece-me que já aqui disse que o meu gosto musical nasceu a partir das preferências musicais do meu pai, do que ele cantava e do que ele escolhia para ouvir na rádio.


Quando comecei a ter os meus próprios gostos musicais, ele comprava-me os discos que eu lhe pedia e até o meu primeiro gira-discos foi montado por ele a partir de peças de outros gira-discos mais antigos. É escusado dizer, mas não é de mais lembrar que, nos anos 50/60, não havia a oferta de artefactos e maquinaria que há agora, nem o dinheiro que há agora, apesar de gritarmos e das televisões nos gritarem diariamente a crise aos ouvidos e aos olhos.

O primeiro LP que tive dos Beatles foi o meu pai que mo trouxe da Venezuela com algumas músicas que ainda não se tinham ouvido por cá – foi de gritos! E, das muitas vezes que se deslocava a Madrid, sempre me trazia singles de música inglesa (a minha favorita à época) que ele comprava “a olho”. Dizia ele que chegava às discotecas – chamavam-se assim as lojas onde se vendiam os discos – e pedia “o disco mais barulhento” ou “o último” editado.

O Álbum Branco dos Beatles foi o primeiro álbum duplo posto à venda em Lisboa. (Que saudades das atraentes e completíssimas discotecas da Rua do Carmo – a Sassetti e a Valentim de Carvalho!) Era caro e, por isso, nem pedi lá em casa que mo comprassem.

(O meu tem o n.º 482332...)

Pelo Carnaval de 1969, por altura de um “assalto” que alguns colegas meus da Faculdade fizeram lá a nossa casa em Sintra,  recebi o desejado Álbum Branco, numerado, e com uma dedicatória que pretendia brincar com as línguas que ele sabia (e que eu estudava, porque estava no meu 3º ano de Germânicas) e que dizia assim:

“Sintrorum, fünfundzwanzig February, 1969

Ich habe lost my pinha al regalar questo disco to my filha. Pá ... si.... ência

Auf ... io de azeite.

For Posteritá.”

Morreu uns dias depois, de ataque cardíaco provocado pelo tremor de terra que assolou Lisboa e arredores em 28 de Fevereiro de 69.

domingo, 17 de outubro de 2010

O "ranking" das escolas



Esta semana, uma vez mais os jornais vieram divulgar o malfadado “ranking” das escolas. E chamo-lhe malfadado porque não gosto mesmo nada destes “rankings” e “benchmarkings” e outras desajeitadas e americanizadas comparações empresariais que entraram recentemente na direcção, gestão e avaliação das organizações escolares. Por muito que os tecnicistas organizacionais queiram e defendam, a escola não é uma empresa. Ponto.

E então, dizia eu que não gosto nada destas tabelas de escolas tendo em conta os resultados dos alunos. Primeiro porque metem no “mesmo saco” ensino público e ensino privado e depois porque classificam e desclassificam escolas premiando ou anulando todo o trabalho que se desenvolve em cada uma delas.

As dez melhores escolas deste ano de 2010 (com dos anos anteriores, claro!) são todas elas colégios. O que leva, de imediato, os pais e o público em geral a pensar que é nos colégios que se ensina bem e onde os professores trabalham mais. É, de facto, muito injusta uma conclusão destas. No ensino privado, os alunos são escolhidos à partida: primeiro têm de ter recursos para pagarem as mensalidades e, para além disso, muitos colégios, nomeadamente os de orientação religiosa, escolhem os alunos pelas profissões dos pais. Naturalmente que os filhos de pais licenciados e/ou abastados têm mais probabilidades de serem bons alunos que os que o não são – salvo raras e honrosas excepções – porque têm todo o tipo de recursos disponíveis. Mas se, por qualquer motivo, os “filhos d’algo” não conseguem corresponder à expectativas do colégio, de imediato são convidados a sair – para a escola pública, claro! que tem o dever de os receber. Alunos portadores de deficiência, mesmo sendo “filhos d’algo” não têm entrada nesses colégios porque têm direito por lei a muitos apoios que ficam naturalmente caros à direcção do colégio e, por outro lado, comprometem os resultados do colégio. Etc. Etc.

As escolas públicas têm a obrigação de admitir na sua população escolar todo o tipo de alunos, incluindo os que são “expulsos” dos colégios, os mais velhos, os retidos em vários anos de escolaridade, os portadores de deficiência e de perturbações psicológicas e sociais, filhos de famílias organizadas, desorganizadas, crianças institucionalizadas, crianças em risco, crianças em abandono, eu sei lá! Está na Constituição e assim tem de ser feito porque todos têm direito à educação. E muito bem! O que não podemos é exigir a estas crianças que tenham os mesmos resultados que os meninos seleccionados e normalizados que frequentam os colégios! Estamos ou não de acordo?

Se apresentassem uma seriação de colégios e outra de escolas públicas seriam menos injustos. E mesmo assim, continuaria a ser injusta a comparação. Isto porque não podemos comparar a população estudantil das escolas do centro das cidades – as chamadas escolas urbanas – com a das escolas do interior do país, do Alentejo profundo ou do Nordeste Transmontano, por exemplo. Não admira, portanto, que escolas como a Infanta D. Maria de Coimbra, ou a Rodrigues Lobo aqui de Leiria estejam “bem classificadas” já que recebem a população estudantil do centro das cidades e vão reprovando (enquanto não estão sujeitas à escolaridade obrigatória) os alunos que não correspondem ao “tipo liceal”.

Depois entrevistam os directores dessas escolas “in” que falam de estratégias e projectos ditos inovadores que dão como responsáveis pelo sucesso dourado dos seus estabelecimentos de ensino. Gostava, sinceramente gostava, de os ver aplicar essas estratégias e projectos aos alunos todos e não apenas aos eleitos, para ver se davam fruto.
Regras bem definidas, acompanhamento de proximidade aos alunos e pais, trabalho de equipa feito entre os professores. Esta é a chave do sucesso da Escola Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra” – diz a directora. Em quantas escolas se praticam estes procedimentos e em quantas o sucesso é muito menor?

Para além de tudo o que aqui deixo dito (e muito mais haveria para dizer) custa-me muito ver as tabelas das “dez piores”. Lamento pelos alunos, pelos professores e pelos directores dessas escolas. Pelo muito trabalho que, de certeza, lá é feito.

É que estas conclusões jornalísticas são cegas. Não decorrem de uma análise séria das condições de trabalho, dos recursos, dos condicionalismos sócio-familiares e psicológicos, do envolvimento sócio-cultural das escolas e de muitos, muitos mais factores de extrema importância.


sábado, 16 de outubro de 2010

PEC III


Na sequência do meu texto de ontem e para mostrar que, apesar de tudo,  temos sentido de humor, deixo aqui uma imagem da entrega do IRS em 2011.





sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Os cortes no abono de família



Naturalmente que as medidas de austeridade aprovadas pelo Conselho de Ministros para redução da despesa pública são altamente questionáveis e discutíveis e, especialmente, vão custar-nos muito a todos se a proposta do Orçamento de Estado for aprovado.

O aumento do IVA, o aumento nos preços dos medicamentos, os cortes em muitos benefícios fiscais e sociais vão cair sobre todos nós como granizo forte em dia de Verão, especialmente na desgraçada da dita classe média (baixa) que já passa tão mal.

Os funcionários públicos vão continuar a ver as suas benesses e os seus vencimentos cortados, as suas carreiras (a continuarem) congeladas e as suas progressões de mérito paradas. Tudo isto que lhes vem acontecendo desde há já alguns anos parece um fadário, parece o pagamento com juros pelos aumentos inusitados, pela criação exagerada de serviços e de admissões, bem como pelos benefícios que lhes caíram no regaço no tempo em que o dr. Cavaco Silva foi Primeiro Ministro.

Tudo isto vai criar um cenário de enorme descontentamento, de desespero para muitas famílias e de terríveis convulsões sociais. A revolta virá, e muito bem, do facto de vermos que são, uma vez mais os pobres e os mais ou menos remediados que vão pagar a crise.

Porém, a medida que acho mais indecente, mais abjecta e com a qual ninguém se deveria conformar, é o corte nos abonos de família. Num país em que a natalidade todo os anos decresce, em que a pirâmide demográfica está completamente invertida; num país onde muitos autarcas já oferecem um prémio pecuniário aos casais que têm filhos, acho, no mínimo obsceno, forçar as famílias a fazerem prova dos seus rendimentos para verem se têm direito ou não ao abono de família.

Quando muito, se me dissessem que iam retirar este benefício às crianças cujos pais auferissem três ou quatro mil euros mensais, enfim! Agora retirarem o abono a uma família cujos pais auferem 600 euros mensais é escandaloso! (Além de que, também gostava de ver os políticos a (sobre)viverem com um vencimento de 600 euros! Mas isto é outra cantiga!).


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Implorando à virgem...


Alguém me diz o que é que o neófito do PSD estava a implorar às divindades, ainda por cima em dia de forte culto em Fátima?

(Fotografia publicada no DN de 12 de Outubro)


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A "minha" D. Dinis


(Antigo Lyceu de Rodrigues Lobo
primeiras instalações da Escola Preparatória D. Dinis)

Há 36 anos, feitos no passado dia 9 deste mês, apresentei-me, como professora agregada de Inglês (chamavam-se assim os professores que eram colocados no ano a seguir ao estágio em que ainda não podiam concorrer a efectivos) na então chamada Escola Preparatória D. Dinis, que estava sediada no belíssimo edifício do antigo Lyceu de Rodrigues Lobo, ali mesmo no centro da cidade de Leiria. No ano seguinte, fiquei efectiva numa das duas vagas do meu grupo, tendo sido a primeira professora efectiva de Inglês na escola. E desde então para cá, até ao dia da minha aposentação no passado mês de Março, nunca mais deixei de pertencer àquela escola.

Entendem agora por que me refiro sempre a ela como “a minha escola”. Ela fez, sem dúvida, parte integrante da minha vida e, posso afirmar, com toda a sinceridade, que foi um dos motivos principais (a seguir às minhas filhas que já nasceram por cá) da minha fixação a esta terra que eu nunca considerei como minha.

Porém, se aquela escola fez parte da minha vida, posso dizer, sem qualquer ponta de demagogia, que também fiz parte integrante da sua vida. De facto, no segundo ano de ali me encontrar a leccionar (História – por decisão do chefe da secretária...) fui convidada para integrar o grupo de professores da extraordinária Reforma Veiga Simão e no terceiro ano, em 1977, fui convidada para vice-presidente do Conselho Directivo Desde então até ao passado mês de Março, nunca mais deixei de me perfilar para desempenhar qualquer actividade, qualquer cargo, qualquer função que fosse necessária para aquela escola. Posso orgulhar-me de ter pertencido ao Conselho Pedagógico da escola durante 23 anos, muitos dos quais como presidente. De registar que, até à criação da Assembleia (Dec. Lei 115-A/1998) que acabou por desembocar na triste invenção do Conselho Geral (Dec. Lei 75/2008), o Conselho Pedagógico era o órgão decisório das escolas. Por outro lado, não posso nunca esquecer aquele dia, em 82, que entrei no gabinete do Conselho Directivo e estava o presidente demissionário a contactar um colega qualquer de Porto de Mós, que nem pertencia à escola e nem efectivo era!, para vir dirigir a nossa escola porque a inspecção já tinha vindo cá duas ou três vezes, sem sucesso, fazer diligências para eleger um presidente. Perante aquele telefonema fiquei envergonhada e disse timidamente: “Se é para vir um provisório qualquer tomar conta da escola, então estou cá eu, sei lá!” E foi assim que, por oferta e com apenas trinta e poucos anos, me tornei presidente do Conselho Directivo de uma escola com mil e muitos alunos e com a responsabilidade de mudarmos para as novas instalações.
Curiosamente, voltou a acontecer mais vezes que, por não haver mais ninguém interessado nem disponível, voltei a desempenhar esse cargo uma e outra e outra vez. Trabalhei sempre com todo o afã e todo o entusiasmo possível em cada cargo, em cada tarefa, trabalho esse que nunca me pesou. O meu lema foi sempre: “Se é preciso fazer-se, faz-se!” E tive sempre muitos colegas que me acompanharam, com o mesmo espírito de missão, no desempenho e no desenvolvimento do prestígio e do bom nome da D. Dinis – que granjeámos.

Repito: tudo o que fiz foi apenas o trabalho pelo qual me pagaram e fi-lo de vontade e sem esperar salamaleques. Mas, depois de tudo isto e de mais muitas coisas, receber do principal órgão de direcção da escola (praticamente o mesmo órgão que me preteriu perante um candidato que nem metade do meu currículo nem da minha experiência possui) uma brevíssima carta de cinco linhas a “manifestar o reconhecimento” pelo trabalho desenvolvido, achei, no mínimo ... triste.


terça-feira, 12 de outubro de 2010

Vilarinho da Furna



Andávamos a passear por lá num dia de Setembro numa volta grande que fizemos pelo Minho nas férias de 74. A barragem apareceu-nos depois da curva da estrada, imensa, fria e cinzenta. E, lá do outro lado do rio, alargado por força do paredão da barragem, via-se um conjunto de paredes de pedra e de telhados sem telhas que, solitários e silenciosos, imergiam das águas paradas. Foi o encantamento! Sabiamos que havia uma aldeia que fora inundada quando construíram a barragem, mas vê-la ali, na nossa frente, despida, abandonada, imersa num silêncio que parecia gritar-nos: “Olhem! Ainda estamos aqui! Ainda existimos!” foi de mais. A aldeia – fora uma aldeia comunitária de cerca de 250 habitantes a quem deram uma ninharia pelas suas casas e haveres e que tiveram de se mudar para aldeias e cidades vizinhas – tinha sido alagada em 71, tinha passado muito pouco tempo e tudo parecia ainda muito vivo, muito presente. Aquelas imagens nunca mais me saíram da cabeça. Informação escrita sobre o assunto só mais tarde, nos anos 80 por Manuel Azevedo Antunes, professor e sociólogo, filho da terra, uma das últimas pessoas a andar por lá antes da grande inundação.


Este fim-de-semana voltámos lá, mas não deu para (re)ver ruínas míticas. Mas deu para vermos e visitarmos o Museu Etnológico de Vilarinho da Furna no Parque Natural da Peneda-Gerês onde pudemos ver uma impressionante exposição de fotografias e de mobiliário e utensílios da velha aldeia.

Deixo aqui algumas fotografias (peço desculpa pela evidência nas minhas fotos dos focos luminosos sobre as fotografias expostas nas paredes) e o sítio da net onde encontrei mais informação sobre Vilarinho: http://www.serra-do-geres.com/












(O quarto com a  arca do enxoval)



(O berço)


(A lareira)


(O forno com o capote de palha à esquerda)


(A arca do pão)


(O tear)


(O arado)


(Utensílios vários)


(Um capote de palha)


(Brinquedos)


(Mais brinquedos)


E, a finalizar, o poema que Miguel Torga escreveu sobre a morte de Vilarinho da Furna.

Requiem


Viam a luz nas palhas de um curral,
Criavam-se na serra a guardar gado.
À rabiça do arado,
A perseguir a sombra nas lavras,
aprendiam a ler
O alfabeto do suor honrado.
Até que se cansavam
De tudo o que sabiam,
E, gratos, recebiam
Sete palmos de paz num cemitério
E visitas e flores no dia de finados.
Mas, de repente, um muro de cimento
Interrompeu o canto
De um rio que corria
Nos ouvidos de todos.
E um Letes de silêncio represado
Cobre de esquecimento
Esse mundo sagrado
Onde a vida era um rito demorado
E a morte um segundo nascimento.

Miguel Torga
Barragem de Vilarinho da Furna
18 de Julho de 1976

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tontura


(Poema visual de E. M. de Melo e Castro)

Será esta a imagem deste povo, deste país, no momento actual?


domingo, 10 de outubro de 2010

Aniversário de Casamento






Ganhámos das filhas a oferta de uma estadia numa Pousada de Portugal para irmos comemorar o nosso 39º aniversário de casamento (?!) e escolhemos ir (re)visitar a Pousada da São Bento da Porta Aberta no Gerês. Tínhamos passado lá em 74 e lembro-me que fiquei absolutamente rendida à vista que da esplanada da pousada se estendia sobre o  rio Cávado que, apesar de sinuoso naquela fatia de água, segue como que parado até se ie encontrar com mar ali junto a Esposende.







No dia em que fomos para cima, o tempo estava absolutamente miserável, com muita chuva, muito vento e ameaça laranja de temporal. Mas como contávamos com o burguês conforto da pousada, nem por isso nos passou pela cabeça desistirmos da escapadinha.





O Minho está belíssimo em tons de amarelo, castanho e vermelho e a serra regorgita em cascatas que se desprendem das alturas correndo pelos montes em fios de água nuns sítios, em grandes cachões que se ouvem à distância noutros.


(Ribeira da Freixa)


(Rio Arado)


(Rio Homem)


(Outra cascata na Mata de Albergaria)



(Cores de Outono no Parque  Peneda-Gerês)


(Fetos "com cabelos ruivos")