(Do poeta sintrense M. S. Lourenço, pai do Prémio Pessoa 2016, meu vizinho durante anos e que nunca conheci...)
A Primeira Lua de
Inverno
I
Repousa em redor a pequena vila.
Às luzes que cruzam a rua
Juntam-se lanternas de um fiacre.
Poluídos para alguns os frutos do
dia,
Deixam o mercado agora ermo,
Sem uvas nem girassóis.
Ouve-se música através dos muros,
No jardim alguém tenta calar o
apelo
De um amor recusado, ainda em
chaga,
Mas na cascata a água
precipita-se,
Fresca, num jorro rápido.
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(Fonte dos Pisões) |
II
Acabou o Sol & o sino da
tarde leva
Os deuses, um a um, a um passado
provisórios,
Donde irão emergir para o grande
cisma
Do Inverno, o primeiro sopro do
qual
Já se ouve subir os píncaros da
serra.
Para a deusa branca chegou o fim
do seu enigma,
A sua ruína coroa agora as ruínas
do castelo:
Aqui morrem os deuses & as
borboletas.
Rejeitados olhando apenas,
Recíproco, um brilho no vazio.
M.S. Lourenço (1936 – 2009)
(O Caminho dos Pisões)
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(Foto de Pedro Macieira) |