terça-feira, 28 de agosto de 2018

Do ambiente (e da ignorância em geral)

(Pode parecer brincadeira, mas nós ouvimo-lo em primeira mão…)

Sabemos que este mar do sotavento vive em comunhão de facto com o belo sapal, pantanal, viveiro de diversas espécies da fauna e flora que é a Ria Formosa. Por isso não é de estranhar que, assim que entramos nele, tépido e sereno, sejamos assediados por uma massa de pequenos e doces limos que nos acariciam como pequeninos elfos com luvinhas de veludo verde.

Sabemos, de igual modo, como se tem feito (e bem) publicidade de choque sobre as quantidades colossais de plástico que andam à deriva pelos oceanos, fruto da nossa deseducação ambiental que é preciso combater de todas as formas (a senhora Cristas, por exemplo, começou por ir limpar a praia de Cascais, sei lá!...)

Ora um destes dias, quando nos preparávamos para desfrutar da “piscina” que é este mar da Manta Rota (nada de começarem com piadas… agora já não estamos sujeitos a maus encontros…) uma jovem, que se encontrava ali mesmo à beira-mar cheia de dúvidas sobre se iria ao banho, dizia para o companheiro de nariz enrugado e com ar enojado:

- O mar está cheio de plástico…






(imagens da Ria Formosa retiradas da net)

domingo, 26 de agosto de 2018

Aviso ao mulherio que ainda vai de férias!

Não se distraiam! 
Vejam lá se não vão fazer esta figura!!!...



sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Sindicato? Que sindicato?

A jovem que me atendeu no balcão do pão foi a mesma que me atendeu na charcutaria. Tão mal-humorada! Não indelicada, mas de cara tão fechada (diria “com umas trombas!”, mas o respeito por ela não mo permite) um ar tão aborrecido! Entende-se – deve ser um daqueles trabalhos temporários que explodem para o ar no verão, especialmente no Algarve.

Sabemos como os jovens são explorados, violentamente explorados nos empregos e não apenas a nível da restauração ou dos supermercados, mas também os jovens engenheiros, os jovens escriturários, os jovens advogados, os jovens economistas, os jovens… Explorados de facto porque a procura é inferior à oferta, porque não há quem os defenda, mas especialmente os “nossos” empregadores são meros patrões(zecos), muito longe que estão, com raras exceções, de serem verdadeiros empresários.

Quando cheguei à caixa para pagar as compras, a joven(zinha) deitava lume pelos olhos e vociferava para a colega da caixa ao lado «adoro estas cenas! Quantas horas mais tens de dar? Das nove às sete não lhe chega…» etc. etc.

O cliente que estava atrás de mim entrou na conversa, que eram realmente muitas horas seguidas e “sempre a bombar”. Aí a joven(zinha) rebentou: «e não temos ordem de ir à casa de banho, nem de parar para beber água, só na casa de banho é que não temos câmaras de vigilância, o almoço é na cave no meio das mercadorias e a correr, não temos direito a receber horas extraordinárias,,, e interrompeu-se porque a senhora que estava a ser atendida já se tinha enganado no código do multibanco.

Quando começou a atender-me, eu apenas lhe disse: «Sindicato, minha querida, sindicato!» E ela, rápida: «Que sindicato?!»

De facto, que sindicato? Sindicatos, agora, só mesmo o das enfermeiras com aquela senhora bem escavacada que grita GREVE! GREVE! Enquanto aumenta o seu ordenadito lá no partido. Sindicatos só mesmo os dos médicos que vêm às televisões apregoar pelo SNS que, pela calada, ajudam a enterrar. Sindicatos só mesmo aquele, inefável, dos professores a gritar GREVE! GREVE! Vamos destituir o ministério como da outra vez…

E eu, tão tonta, de repente, a sentir-me no tempo em que ainda acreditava no Pai Natal e na Fenprof-pré-Mário. Eu a sentir-me orgulhosa por a minha mãe, anos 60, ser professora em colégios e ser sindicalizada… Tão parva! A falar à joven(zinha) em sindicatos…

De facto, agora, que sindicatos? Apenas os do setor público. Os do setor privado não podem, não têm força para regatearem nas televisões a queda de ministros, a queda de governos.

E os trabalhadores do privado, temporários, a recibos verdes, a prazo, se refilam e falam no sindicato, vão para a rua ou para onde os patrões(zinhos) os quiserem mandar…




terça-feira, 21 de agosto de 2018

Finalmente praia!

Depois de um ano complicado e já sem esperança de cá chegarmos, «Algarve, here we come!»




Hoje esteve assim...



... e agora é pormos o corpinho de molho...



Bom restinho de Agosto!

sábado, 18 de agosto de 2018

Quem não tem cão...

... treina gatos... o que não há ser fácil. É que sabemos bem que os gatos (e as mulheres...) só fazem o que querem...

Vale a pena ver!



Bom fim de semana!

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

In memoriam

Não me canso de repetir a frase que li de um amigo meu: «O século XX está a deixar-nos.»

E de lágrimas nos olhos.

Hoje foi a vez da cantora soul Aretha Franklin (1944-2018)

Resta-nos recordar a sua atribulada vida (aqui)

E dizer uma pequenina oração com ela, por ela e para ela.

Descansa em paz!




terça-feira, 14 de agosto de 2018

Ode ao Futebol



Agora que (infelizmente) os campeonatos estão de volta com os respetivos resumos, relatos, transmissões, comentários de comentadeiros musculados e tudo, parece-me bem, deixar aqui uns versos engraçados do desenhador, ilustrador, caricaturista e também poeta quase desconhecido  António Fernando dos Santos - o Tóssan.


“Retângulo verde, meio de sombra meio de sol
Vinte e dois em cuecas jogando futebol
Correndo, saltando, ziguezagueando ao som dum apito
Um homem magrito, também em cuecas
E mais dois carecas com uma bandeira
De cá para lá, de lá para cá
Bola ao centro, bola fora.
Fora o árbitro!
E a multidão, lá do peão
Gritava, berrava, gesticulava
E a bola coitada, rolava no verde
Rolava no pé, de cabeça em cabeça
A bola não perde, um minuto sequer
Zumbindo no ar como um besoiro,
Toda redonda, toda bonita
Vestida de coiro.
O árbitro corre, o árbitro apita
O público grita
Gooooolllllooooo!
Bola nas redes
Laranjadas, pirolitos,
Asneiras, palavrões
Damas frenéticas, gordas esqueléticas
esganiçadas aos gritos.
Todos à uma, todos ao um
Ao árbitro roubam o apito
Entra a guarda, entra a polícia
Os cavalos a correr, os senhores a esconder
Uma cabeça aqui, um pé acolá
Ancas, coxas, pernas, pé,
Cabeças no chão, cabeças de cavalo,
Cavalos sem cabeça, com os pés no ar
Fez-se em montão multidão.
E uma dama excitada, que era casada
Com um marinheiro distraído,
No meio da bancada que estava à cunha,
Tirou-lhe um olho, com a própria unha!
À unha, à unha!
Ânimos ao alto!
E no fim,
perdeu-se o campeonato!”

Tossan  (1918-1991)


Tóssan

domingo, 12 de agosto de 2018

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Alquimia

Por vezes acontecem coisas que não têm explicação.

Ontem, estava eu de saída do átrio da escola (a minha) quando entraram duas senhoras com uma menina, linda, mestiça, olhos oblíquos, amendoados, sorriso encantador – lembrava as bonecas do Sião – para saberem que escola a menina iria frequentar. Perguntei à menina se já ia para o 1º ano. Disse que sim e logo começou a mostrar-me e a contar-me as aventuras do seu unicórnio pinypon que trazia consigo. Entrei numa conversa com ela como se toda a minha vida tivesse tratado com os unicórnios pinypon – assim de adulto para adulto, como sempre fiz com os miúdos. E diz ela, muito entendida: «Tu davas uma boa professora!»… Uma das senhoras, que ouviu a “sentença” e que talvez me conhecesse, disse-lhe: «Anda, filha, que esta senhora já aturou muitos meninos!»

Mais espantoso ainda foi logo de seguida, de caminho para a cidade, no largo fronteiro à Câmara Municipal, vem uma menina mais pequena do que a outra seguida de longe pelo pai e, sem mais, me entrega um pequeno malmequer recém apanhado de um dos canteiros e diz: «Toma, é para ti.»

Perante inesperadas situações destas, de uma ingenuidade tão doce, uma pessoa fica sem palavras.

Senti-me ungida…




quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Ode ao Gato

Dizem que hoje é o Dia do Gato. Sabia do dia 17 de fevereiro, mas se o facebook  diz que é hoje, é porque é hoje.

Para mim, todos os dias são dias dos gatos, por isso, pouca diferença me faz. Procurei e encontrei este belo poema que dedico aos gatos e a todos os amantes de gatos.

Ode ao Gato

Tu e eu temos de permeio
a rebeldia que desassossega,
a matéria compulsiva dos sentidos.
Que ninguém nos dome,
que ninguém tente
reduzir-nos ao silêncio branco da cinza,
pois nós temos fôlegos largos
de vento e de névoa
para de novo nos erguermos
e, sobre o desconsolo dos escombros,
formarmos o salto
que leva à glória ou à morte,
conforme a harmonia dos astros
e a regra elementar do destino.

José Jorge Letria, in "Animália Odes aos Bichos"






domingo, 5 de agosto de 2018

Onde se estava bem era em Coz

Faz tempo que andamos para lá ir dentro. Já o tínhamos visto de fora, em ruínas. Que pena! Pois fomos mesmo "escolher" o primeiro dia da onda de calor para irmos visitar a Igreja, que foi o que restou do Mosteiro de Santa Maria de Coz, cuja construção remonta, dizem, ao século XIII, para abrigar as senhoras devotas que por ali se juntaram para auxiliar os frades de Cister do Mosteiro de Alcobaça, em tarefas caseiras. Dizem-nos que as senhoras vinham discretamente lavar as roupas dos frades ao rio de Coz, senhoras viúvas e sós que queriam levar uma reservada vida religiosa.

A ordem destas monjas de clausura foi reconhecida pela Ordem de Cister no século XVI, sendo a partir de então que o convento recebe melhoramentos condignos, nomeadamente a construção da Igreja cuja riqueza em azulejo e talha dourada contrasta com a severidade da construção inicial.

Aquando da expulsão das ordens religiosas na primeira metade do século XIX, as monjas retiraram-se para o Convento de Odivelas e as instalações de Coz foram vendidas, tendo sido destruída grande parte das dependências em que as monjas viviam. Resta parte de um dormitório, que ainda está vedado ao público, e a sumptuosa Igreja.

Entra-se para a Igreja por um átrio interior que dá acesso ao convento e ainda sentimos o fresco - diria frio, se estivéssemos em dias de um verão normal e diria gelo, se estivéssemos no inverno - que as monjas teriam de suportar... (Devo dizer que foi bastante agradável, visto que cá fora o calor era já insuportável...)

Passemos às imagens.




Entrada pela portinha castanha


Ruínas




As traseiras do Mosteiro, ao lado do rio de Coz

O rio de Coz

A lindíssima grade em madeira
onde as mojas contactavam com o público


O altar-mor, barroco, em talha dourada

A Sagrada Família: Jesus apresentado como uma criança crescida
o que raramente acontece.







O teto da Igreja todo em madeira pintada


As paredes em azulejo do século XVII



Um quadro da pintora Josefa de Óbidos

O riquíssimo consistório

Porta manuelina no consistório


A sacristia cujas paredes estão revestidas por
azulejos representado a vida de São Bernardo




Um fresco que restou das instalações medievais do convento
e que mostra como as monjas se vestiam naquela época.

É, de facto, um monumento que merece ma visita atenta. (mas não no inverno...

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Há um sentido de pertença


(Fotografia de Emília Reis)


"há um sentido de pertença
uma voz solta e subterrânea
subtis pegadas no caminho
que nos devolvem os lugares
aonde se regressa sempre"

Helder Magalhães, in Caderno, 2018


quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Celeste Rodrigues (1923-2018)

Morreu hoje, aos 95 anos, a cantadeira de fado Celeste Rodrigues.

A Celeste Rodrigues de que me lembro é a dos anos 50 quando passava na rádio esta cançãozinha (irónica, dizia o meu pai, referindo-se à queda de um hidroavião da carreira comercial que fazia a ligação entre o Funchal e Lisboa) que se chamava «Olha a Mala».

A canção era divertida e fazia as minhas delícias de miúda pequena, lá em Algés.

A Celeste cantava e bem, mas era irmã da Amália, que por essa altura já não era a menina que vendia limões por ali até Alcântara, mas antes uma fadista bem aceite em Lisboa.

Dizia-se lá por casa (a minha mãe e os meus avós maternos viveram em Algés desde os anos 30) que a carreira da Celeste ficou muito comprometida ao longo dos tempos pelo percurso, pela "aura" da irmã. (dito de outra forma: diziam eles que Amália não deixava que a irmã cantasse...)


Como não sou fã do fado, deixo aqui a cançãozinha da minha infância e um medley de canções populares que deixa transparecer a voz límpida e também poderosa de Celeste Rodrigues.

Paz à sua alma!