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segunda-feira, 15 de junho de 2020

Sobre a pandemia

[O artigo é todo muito bom, mas um pouco longo. Por isso trago aqui os parágrafos que me pareceram mais fortes. – É que gosto mesmo muito do sociólogo Boaventura Sousa Santos!]

 (…)

A sociedade global não está em guerra defensiva ante o vírus. (…)  não penso que a metáfora da guerra nos ajude a compreender a condição do nosso tempo. Mas se há guerra, então faz mais sentido imaginar que quem se está a defender é a natureza. O novo coronavírus é um emissário que só insidiosa e violentamente impõe a sua missão de ser recebido pelos poderes do mundo. E a sua mensagem é clara: um “Basta!” dito na única linguagem em que aprendemos a temer a natureza, a linguagem dos perigos que não podem transformar-se em riscos seguráveis.

É hoje consensual que a recorrência das pandemias está ligada aos modelos de economia que dominaram nos últimos séculos. Estes modelos provocaram a desestabilização fatal dos ciclos vitais de regeneração da natureza, e, portanto, de toda a vida que compõe o planeta e de que a vida humana é uma ínfima fração.

A poluição atmosférica, o aquecimento global, os acontecimentos meteorológicos extremos e a iminente catástrofe ecológica são as manifestações mais evidentes dessa desestabilização. O Basta! é um grito cujos decibéis se medem pelo número de mortos. (…)

A natureza e a humanidade são contemporâneas e complementares. A natureza somos nós vistos do outro lado da dicotomia. E, dessa perspetiva, considerar a natureza como totalmente disponível e consumível e empenhar-se na exploração sem limite dos recursos naturais foi um processo histórico de autodestruição. (…)

(Palavras do sociólogo Boaventura Sousa Santos, in Jornal de Letras, 3 de junho de 2020)




quinta-feira, 30 de abril de 2020

Soneto de Maio





Suavemente Maio se insinua
Por entre os véus de Abril, o mês cruel
E lava o ar de anil, alegra a rua
Alumbra os astros e aproxima o céu.

Até a lua, a casta e branca lua
Esquecido o pudor, baixa o dossel
E em seu leito de plumas fica nua
A destilar seu luminoso mel.

Raia a aurora tão tímida e tão frágil
Que através do seu corpo transparente
Dir-se-ia poder-se ver o rosto

Carregado de inveja e de presságio
Dos irmãos Junho e Julho, friamente
Preparando as catástrofes de Agosto...

Vínicius de Moraes

(Poema escrito para a realidade do Hemisfério Sul)



sábado, 4 de abril de 2020

Da purificação




O sociólogo Boaventura de Sousa Santos escreveu um excelente texto no Jornal de Letras de 11 a 24 de março intitulado «Ensaio contra a purificação».

E diz ele: «A distinção entre o puro e o impuro parece ser uma constante de todas as culturas e de todos os tempos. (…) O puro é, em geral, concebido como o estado ideal, superior, tanto no domínio do profano como no domínio do sagrado, enquanto o impuro é concebido como o estado inferior ou a inclinação normal ou vulgar. (…)

O que designamos por cultura ocidental, cuja origem se atribui convencionalmente, sobretudo desde meados do século XIX, à Grécia antiga, segue dominantemente a ideia da separação absoluta entre o puro e o impuro. (…) todas as versões [filosóficas] convergem na ideia de que a purificação é essencial para o estabelecimento da ordem. A purificação permite diferenciar e hierarquizar entre o superior e o inferior, entre o normal e o excessivo, entre o governante e o governado, entre o que pertence e o que não pertence. (…)

O colonialismo histórico foi o campo privilegiado para a consolidação deste senso comum. Os conquistadores e os colonizadores depararam-se com um mundo novo (para eles), tão vasto e tão diferente que a magnitude das diferenças exigia um exercício contínuo de purificação. Os povos originários eram definitivamente inferiores, primitivos, selvagens, em suma, impuros. A sua purificação exigia uma separação particularmente violenta que podia ser exercida por extermínio ou desidentificação via evangelização e, mais tarde, educação. (…) Este senso comum foi um instrumento tão eficaz na violenta dominação colonial, do extermínio à evangelização e à escravatura, da ocupação territorial à expropriação e saque das riquezas naturais dos povos colonizados.

Esse senso comum prevalece até hoje, permanece vivo e está entre nós em múltiplas formas: racismo, extrema concentração de terra, expulsão violenta de camponeses e povos indígenas dos seus territórios, exploração sem precedentes dos recursos naturais, extermínio migratório do Mediterrâneo à fronteira sul dos EUA, persistência e mesmo incremento de trabalho escravo, zonas de sacrifício onde populações descartáveis são envenenadas pela poluição causada pelos complexos industriais, colonialismo tóxico quando as periferias pobres do sul global são convertidas em depósitos do lixo, muitas vezes tóxico, produzido no Norte global (afinal, a impureza é normal entre os impuros, lixo com lixo). (…)

A purificação é sempre a imposição da ordem contra um caos perigoso a ponto e a destruir ou desacreditar; a purificação por separação foi a mãe de todos os despotismos modernos.

Se em vez da conceção da natureza como uma entidade desprovida de dignidade vivente e inteiramente ao dispor dos humanos fosse adotada a conceção espinosista da natureza como principio vital, centro da vida da qual dependemos, certamente a respeitaríamos como a respeitaram sempre os povos originários. E se isso sucedesse, talvez não estivéssemos hoje mergulhados numa situação de catástrofe ecológica. (…)»

……..

E a mim, ninguém me tira da cabeça que – mesmo que tenha sido maldosamente encomendado a um qualquer laboratório chinês ou norte-americano – este Vírus que ora se abateu sobre o mundo (como se estivéssemos a viver dentro de um asfixiante filme de ficção científica) mais não é que um processo de purificação da Natureza contra nós, humanos, que estávamos/estamos a destruí-la.


domingo, 12 de maio de 2019

Dia do silêncio

Dizem-me que passou há dias o Dia do Silêncio. Parece-me que foi a 7 deste mês e celebra-se com o objetivo de chamar a atenção para os efeitos da poluição sonora. 

Acho bem!

Mas eu que sou mais poesia (o Herman dizia que era mais bolos... e eu também, mas enfim...) procurei e achei lindos poemas sobre o silêncio: Pessoa, David Mourão-Ferreira, Eugénio de Andrade, Ramos Rosa e outros. Mas escolhi um de um poeta brasileiro - Manoel de Barros (1916-2014) que diz assim:

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.


(Jardins da Gulbenkian)

terça-feira, 17 de julho de 2018

A minha trepadeira roxa

O colégio onde fiz a minha terceira classe nos idos de 50 lá em Algés (Colégio Gil Eanes) era uma daquelas lindas moradias à antiga portuguesa com a parede principal toda coberta por uma trepadeira roxa que fazia, já naqueles tempos, os meus encantos. Pela cor e pelo xaile com que parecia aconchegar a casa.

Há uns anos, chegou a moda das buganvílias e aí redescobri a trepadeira do meu velho colégio. (Uma amiga nossa plantou algumas buganvílias em volta da piscina da sua bela casa nova e quando as crianças corriam e se atiravam para dentro de água salpicando todo o relvado em redor, ela gritava desesperada: «Ai, as minhas buganvílias!» Ainda hoje – as crianças são já adultas e mães de outras crianças – brincamos com o grito da minha amiga «Ai, as minhas buganvílias!»… (que já não existem…)

Depois de me reformar do trabalho na escola, comecei a dar mais atenção ao meu já conhecido nano-mini-micro jardim e, quando encontrei uma, comprei uma pequenina trepadeira roxa da cor da do meu colégio de Algés.

Trouxe-a num pequenino vaso e mudei-a para um vaso grande onde ela se foi fazendo adulta.





Dois anos depois transplantei-a para o tal nano-mini-micro jardim à frente da minha casa, junto à entrada e aí a boa da trepadeira roxa trepou e pôs-se linda!






O inverno de há dois anos teve uns dias de temperatura baixas de mais até mesmo aqui para Leiria com grandes camadas de geada que secaram completamente a minha trepadeira roxa.

Posso dizer que o desgosto que tive foi parecido com o que sempre sinto e passo de cada vez que me morre um gato.

Cortei-lhe os ramos secos e ficou apenas o pequeno tronco central para não a arrancar de vez e também na esperança de que ela conseguisse rebentar na primavera.

Passaram mais duas primaveras e nem sinal de um rebentinho sequer. Lamentava a morte da minha trepadeira quase de cada vez que entrava em casa.

Não sei se por causa das chuvas que caíram em quantidade este ano, começámos um dia a ver um raminho verde a crescer naquele tronco seco e outro e outro, e aí está ela a deitar florzinhas pequeninas mas roxas, lindas e a rejuvenescer de dia para dia.







Que maravilha é a Natureza!

domingo, 20 de maio de 2018

Bucolismo à beira rio

Novo passeio até às Fontes, onde nasce o "formoso rio Lys". Mas enquanto no passado mês de março a água brotava em força, com estas amenidades de primavera bem azul, a nascente estava seca e a água rebentava um pouco mais à frente por debaixo das margens. Muito lindo.







































Muito bucólico, não vos parece?

Não admira que Rodrigues Lobo, que por qui poetou, tivesse escrito aquelas éclogas e pastorais tão bucólicas...


sábado, 21 de abril de 2018

Dia da Terra

Mostrando a força e a beleza do nosso Planeta - Terra!

Cuidemos dela, porque não há outra igual...


domingo, 15 de outubro de 2017

O pior dia do ano!

Não me lembro de calor tão intenso, tão sufocante como o que se fez sentir aqui em Leiria ontem e hoje. Não se trata apenas dos 35 ou 36 graus. O problema é o vento quente e a ausência de humidade.

Hoje as televisões não pararam de anunciar que foi o pior dia do ano em termos de incêndios, com tantos fogos a brotarem por todo lado no norte e no centro. Têm mostrado as zonas mais sacrificadas de Monção bem como Penacova, Lousã, Cambra, Arganil, Sertã.

Ao fim da tarde foi a vez de a mata nacional aqui de Leiria pegar fogo. A zona de S. Pedro de Muel, Vieira, e Pedrogão praia estão em fogo. Vê-se aqui de Leiria. Não há comunicações por telemóvel, mas temos internet. As televisões nada dizem.

Deixo aqui o texto emocionado do meu amigo e colega Luís Lobo, que vinha de praia para Leiria, bem como algumas fotografias suas que editou no facebook.

«Destroçado.

O "meu" pinhal, aquele pinhal verdejante, exuberante em beleza e secretismo, uma jóia do nosso litoral, intocável há anos... Arde agora pela mão criminosa e psicopata do homem. Eu pude testemunhar a evolução. Saí de Leiria com um fogo no horizonte, quando cheguei à Marinha Grande já se distinguiam dois. Passei a estrada do pinhal pela Garcia e quando cheguei ao farol de S. Pedro, já eram 3 fogos. À medida que passavam os minutos e ia fotografando, ardiam novos pontos para norte. O vento soprava quente e veloz de sul. 33º no ar e um cheiro a fumo descia à terra. Bombeiros e polícia num corrupio. Trânsito imediatamente proibido. Pelas estradas do pinhal era impossível circular. Às 19h00 deixavam já circular por Pataias, única fuga possível. Quando regressava a casa, deixei um horizonte a arder nas minhas costas.

Deixo-vos as imagens implacáveis desta tragédia duma natureza que eu tanto amo e faz parte de mim...»













Outras imagens do fogo, visto de um subúrbio de Leiria:






Em Monte Real:



Mau de mais!! Não há bombeiros que cheguem. As televisões nada dizem. Incendiários? Sei lá...

Medo. Angústia. Revolta.

sábado, 14 de outubro de 2017

Que grande seca!

Nos inícios de 70, vi ao longe as ruínas da aldeia que foi submersa pela barragem de Vilarinho de Furnas, no Gerês, que muito me impressionaram. 

Não sei que efeito tem em mim o desaparecimento de construções humanas por alagamento ou para edificação de outras mais modernas que me deixa um pouco entristecida.

Desta vez, aconteceu o contrário: a seca e as temperaturas elevadas que se têm feito sentir por todo o país, mas mais fortemente no interior e no Alentejo, têm reduzido drasticamente a capacidade das barragens. 

É o que está a acontecer na barragem do Pêgo do Altar, perto de Alcácer do Sal, inaugurada em 1949. De tal forma tem baixado o nível das águas que ficou a descoberto uma antiga ponte construída há 200 anos sobre o rio Mourinho e que ligava as povoações de Santa Susana e São Cristóvão.

Não é a primeira vez que a ponte se deixa ver. Já em 1995 a ponte ficou à mostra devido a uma seca semelhante à que se está a viver. 




E eu que não gosto nada do tempo chuvoso, dou comigo a ansiar por chuva...

domingo, 18 de junho de 2017

Profundo pesar

“É triste pensar que a natureza fala e que o género humano não a ouve.” (Victor Hugo)




"Não é a Terra que é frágil. Nós é que somos frágeis. A natureza tem resistido a catástrofes muito piores do que as que produzimos. Nada do que fazemos destruirá a natureza. Mas podemos facilmente destruir-nos. (James Lovelock, ambientalista)




“Se por amor às florestas um homem caminha por elas metade do dia, corre o risco de ser considerado um vagabundo. Mas se usa seu tempo para especular, ceifando a mata e tornando a terra careca antes do que deveria, ele é visto como um cidadão industrioso e empreendedor.”  (Henry David Thoreau)





“A natureza tem uma estrutura feminina: não sabe se defender mas sabe se vingar como ninguém.” (Marina da Silva)




“Nesses tempos de céus de cinzas e chumbos, nós precisamos de árvores desesperadamente verdes.” (Mário Quintana)




“Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro.” (Provérbio indígena)




Simplesmente trágico. A minha solidariedade, a minha compaixão, todo o meu pensamento e carinho estão com aquelas pessoas que estão a passar por este enorme provação e naqueles lugares que tantas vezes visitei no cumprimento da minha atividade. 



sábado, 1 de abril de 2017

Quinta de Santo António

Hoje trago-vos imagens de um espaço muito bonito aqui no mais lindo dos arredores da cidade - as Cortes, local onde nasce o "fermoso rio Lis".




























Banhada pelo rio.







Os azulejos









E o melhor de todos... um barómetro com pelo de porco...