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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Saudades de Manuel António Pina

Fez anos que partiu no dia 19 de outubro; faria anos (74) no passado dia 18 e eu nada disse, nada escrevi, nada aqui recordei. Mas é daquelas personalidades, daqueles escritores que deixa tanta saudade. Fazem-me falta as finas observações que fazia nas suas crónicas que publicava no JN e no DN. Os seus poemas ficaram e falarão por si e por ele, mas nem sempre são fáceis de lhes apreender o justo sentido.

Por isso hoje, que não faz anos de nada, mas apenas porque me lembrei dele, e sempre com saudade, deixo aqui uma das suas crónicas retirada da coletânea que a Assírio e Alvim publicou, depois da sua morte, com o título Crónica, Saudade da Literatura. Sintam-lhe e ironia.

Eterno retorno

"Começam a perceber-se as misteriosas razões que terão levado 2 159 742 portugueses a votar em Passos Coelho.

O eleitorado português tem sido repetidamente elogiado pela prudência e sensatez. Tirando a parte, humana, demasiado humana, da lisonja, resta o que é talvez fundamental, que os portugueses não gostam de surpresas e votam no que conhecem. E há que admirar a sua intuição: votando em Passos Coelho, o jovem desconhecido vindo do nada, que é como quem diz da JSD e de uns arrufos com a Dra. Ferreira Leite, votaram no mesmo de sempre, na incomensurável distância que, em política, vai do que se diz ao que se faz.

E, pedindo ajuda a O’Neill, o eleitorado «tinh’ rrazão»: disse Passos Coelho que era um disparate afirmar-se que que tributaria o subsídio de Natal e foi a primeira coisa que fez mal chegou ao Governo; que não mexeria nos impostos sobre o rendimento e idem aspas; que iria pôr o Estado em cura de emagrecimento e o «seu» Estado só tem engordado adjuntos, assessores, «especialistas» (e até «superadjuntos» e «superespecialistas»); agora foi de férias «para recuperar algum tempo do [seu] papel enquanto marido e pai» depois de ter anunciado que «o Governo não gozará férias» dada a necessidade de , «com rapidez», «traduzir os objectivos (…) que estão fixados em políticas concretas».

Estou em crer que o eleitor português típico, se tal coisa existe, nunca votaria num político imprevisível."

JN, 10/08/2011

(… enganou-se o nosso bom poeta e cronista. Esse “eleitor português típico” cuja existência ele até pôs em dúvida e que, de facto, não deve existir, voltou a votar no tal “político imprevisível” quatro anos mais tarde e depois de todas as “tarrafias” por que fez o tal eleitor típico - e os outros todos - passar… Mas a essa inexplicável incongruência do eleitor já o poeta foi poupado por um trágico revés da vida.)




quinta-feira, 20 de abril de 2017

«O Tesouro»



Este livro foi escrito pelo poeta/escritor Manuel António Pina por encomenda da Associação 25 de Abril para a celebração do 20º aniversário da Revolução.

Sobre o livro, o autor disse o seguinte numa entrevista que deu numa escola: «E um dia, a comissão que estava a organizar os 20 anos do 25 de Abril… Já havia jovens da vossa idade que não sabiam o que era o 25 de Abril e a comissão convidou-me para fazer isso, numa sexta-feira. Não sei se sou capaz, disse, mas vou tentar explicar aos mais jovens o que foi o 25 de Abril, que foi um dia memorável, foi uma experiência… Valeu a pena viver só para viver aquele dia. Disseram-me que era para segunda-feira e era sexta… E o que saiu foi aquilo.  A minha ideia e a minha preocupação a fazer esse livro era explicar a jovens que nasceram em liberdade o que era a falta de liberdade… No livro, diz lá assim: “A liberdade é como o ar que respiramos”… Nós nem nos damos conta de que respiramos, respiramos e pronto, mas quando nos falta o ar é um sufoco. E a liberdade é uma coisa parecida… vocês nem se dão conta de que são livres, mas quando perdemos a liberdade é um sufoco enorme. E depois queria tentar, através de histórias verdadeiras e de pequenos pormenores, explicar como não haver liberdade é completamente absurdo, não é natural. A razão não consegue alcançar como eram proibidas coisas como, para jovens como vocês, as raparigas não poderem andar nas mesmas escolas do que os rapazes, tinham de estar separadas. A minha mulher foi impedida de ir às aulas e uma colega dela expulsa porque foi de calças para a escola. E a amiga dela foi expulsa porque persistiu…» (daqui)

Foi este livro que hoje comprei para oferecer aos meus netos no próximo dia 25.

Oxalá gostem!


terça-feira, 20 de outubro de 2015

Dia Mundial do Poeta

No Dia mundial do Poeta, que se celebra hoje não cá no país, mas no Brasil, deixo aqui um poema do nosso saudoso Manuel António Pina.

A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?»    E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
— Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? —


Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo”



sábado, 21 de março de 2015

A poesia vai acabar (?)

Manuel António Pina disse que...

«A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?»    E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
— Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? —»

(Manuel António Pina, in Poesia, Saudades da Prosa)



E Sophia já tinha dito:

«A bela e pura palavra Poesia
Tanto pelos caminhos se arrastou 
Que alta noite a encontrei perdida
Num bordel onde um morto a assassinou.»

E acrescentou:

«Ó Poesia sonhei que fosses tudo
E eis-me na orla vã abandonada
Uma por uma as ondas sem defeito
Quebram o seu colo azul de espuma
E é como se um poema fosse nada.»

(Sophia de Mello Breyner, in Mar Novo)

Será que a Poesia vai acabar?

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Manuel António Pina


O escritor que adorava gatos, poeta discreto, prémio Camões, autor diário de crónicas «com saudade da literatura» no JN, completaria hoje 70 anos se não tivesse partido, também discretamente, há pouco mais de um ano. No Porto, onde vivia, a data foi assinalada de variadas formas: o Museu de Imprensa promoveu a leitura de dez dos seus poemas em sete locais que o autor frequentava nomeadamente a padaria Ribeiro, a belíssima Livraria Lello, o café Piolho, a estação de metro da Trindade, e os cafés Orfeuzinho e Convívio. Esta iniciativa foi acompanhada pelo lançamento de milhares de panfletos com poemas do poeta em diversos locais da cidade do Porto.

Em jeito de homenagem breve ao cronista que eu tanto apreciava, deixo aqui uma das muitas crónicas com que o jornalista/autor animou a última página de tantos e tantos exemplares do Jornal de Notícias. Podia ser uma qualquer outra, mas esta, além de falar de gato, parece-me tão atual!

Onde se fala de gatos e de homens

Os meus gatos dormem durante a maior parte do dia (e, obviamente, durante a noite toda). Suspeito que os gatos têm um segredo, que conhecem uma porta para um mundo coincidente e feliz, por onde só se passa sonhando. Um mundo criado como Deus terá criado o nosso humano mundo, à sua desmesurada imagem. Porque os que sonham são deuses criadores. Os gatos sonham dormindo, os homens sonham fazendo perguntas e procurando respostas.

Mas os meus gatos dormem e sonham porque não têm fome. Teriam, se precisassem de procurar comida, tempo para sonhar? Acontece talvez assim com os homens. Como se o espírito criador fosse, afinal, prisioneiro do estômago. Talvez, então, a mesquinhez de propósitos da nossa vida colectiva radique, como nos querem fazer crer, no défice, e talvez o cumprimento das normas do pacto de estabilidade seja o único sonho que nos é hoje permitido.

E, contudo, dir-se-ia (e isto é algo que escapa aos economistas) que é o sonho, mais do que a balança de pagamentos, que alimenta a vida, e que os povos, como os homens, precisam de mais do que de números. Os próprios números têm (os economistas não o sabem porque a sua ciência dos números é uma ciência de escravos) o poder desrazoável de, não apenas repetir, mas sonhar o mundo.

Há anos que somos governados por economistas e o resultado está à vista. Talvez seja chegada a altura de ser a política (e o sonho) a dirigir a economia e não a economia a dirigir a política. Jesus Cristo «não sabia nada de finanças, / nem consta que tivesse biblioteca», e o seu sonho, no entanto, continua a mover o mundo.

JN, 09/11/2005

sábado, 20 de outubro de 2012

In memoriam


Em homenagem ao Poeta Manuel António Pina que nos deixou ontem, aos 68 anos de uma vida centrada na beleza das palavras, e aos seus amados gatos, deixo aqui o poema - é este, podia ser um qualquer outro dos muitos da sua obra - Os gatos.

Há um deus único e secreto
em cada gato inconcreto
governando um mundo efémero
onde estamos de passagem

Um deus que nos hospeda
nos seus vastos aposentos
de nervos, ausências, pressentimentos,
e de longe nos observa

Somos intrusos, bárbaros amigáveis,
e compassivo deus
permite que o sirvamos
e a ilusão de que o tocamos

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Os tempos não vão bons para nós




Os tempos não vão bons para nós, os mortos.
Fala-se de mas nestes tempos (inclusive cala-se).
As palavras esmagam-se entre o silêncio
que as cerca e o silêncio que transporta.

É pelo hálito que te conheço      no entanto
o mesmo escultor modelou os teus ouvidos
e a minha voz, agora silenciosa porque nestes tempos
fala-se de mais são tempos de poucas palavras.

Falo contigo de mais assim me calo e porque
te pertence esta gramática assim te falta
e eis por que não temos nada a perder e por que é
cada vez mais pesada a paz dos cemitérios.

Manuel António Pina (1969)
In “Todas as Palavras”


(No dia em que foram dadas a conhecer as percentagens dos escalões do IRS e em que ficámos todos a saber como somos ricos!)
 

sexta-feira, 23 de março de 2012

Emigrem vocês!




Saltam os números a vermelho na primeira página do jornal: 150 000 emigraram no ano passado! Já são números que se aproximam dos registados nos anos 60 do século passado. Nesse tempo, os que se aventuravam a dar o “salto” chegavam aos países da Europa – coisa que o nosso não era – e, famintos de comer, de dinheiro, de civilização e de tudo o mais, aceitavam os trabalhos “sujos” e difíceis que os cidadãos desses países já não queriam realizar. Não é o caso atualmente. Felizmente. Não somos já um povo faminto de educação, de cultura, de civilização. As condições alteraram-se diametralmente. E mandam-nos emigrar! Mas será que há lugares disponíveis para todos esses novos emigrantes desenvolverem as funções para que se prepararam? 

O senhor primeiro-ministro acha que este país não é “para novos”. Mas “para velhos” também não será já que se vão deixando desgastar-se e morrer dados os retrocessos sociais a que se tem vindo a assistir.

Mas muito melhor do que eu, disse-o o escritor, poeta e cronista Manuel António Pina na angustiante mas excelente crónica que aqui deixo hoje.

 
Este país não é para jovens nem para velhos

«O primeiro-ministro instiga os jovens a emigrar, dizendo adeus ao país e àquilo que ele tem hoje para lhes oferecer: desemprego, precariedade, humilhação quotidiana, ao que o secretário de Estado da Juventude, um jovem da leva de boys que emigraram para o governo dotado de particular sentido de humor negro, chama a sua (dos jovens) «zona de conforto». Muitos dos que seguiram o conselho dormem agora, dizem jornais e TVs, nas estações de caminho-de-ferro da Suíça ou são pedintes e sem-abrigo em Inglaterra, e os mais felizardos arranjaram trabalho escravo na Alemanha e em França. De qualquer modo, o problema já não é do governo português. 

Os velhos são mais difíceis de exportar; é, principalmente, mais difícil convencê-los a deixarem-se exportar. A solução, para o país e o governo se verem livres também dos velhos, que só dão despesa, tinha necessariamente que ser mais imaginativa. 

Se o Governo fosse de comunistas, dar-lhes-ia a famosa injecção atrás da orelha. A solução final neoliberal é mais «humana»: deixá-los morrer (aos velhos pobres, porque os ricos podem comprar a vida) de morte por assim dizer natural, como a Dra. Manuela Ferreira Leite defendeu na TV que morressem os insuficientes renais com mais de 70 anos precisados de hemodiálise e sem meios para a pagar, já que a hemodiálise custa um dinheirão e ocupa médicos e enfermeiros pagos a peso de oiro com os descontos feitos à Dra. Ferreira Leite e ao Dr. Eduardo Catroga. 

Em duas semanas, 6100 pessoas, na sua maioria, segundo o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, idosos com mais de 75 anos, morreram em Portugal de frio e de gripe. O pneumologista Agostinho Marques, director da Faculdade de Medicina do Porto, tem poucas dúvidas quanto às razões do morticínio. Em declarações à Antena 1, apontou o facto de não só muitos idosos pobres não se terem vacinado como, por falta de meios (sobretudo atendendo aos brutais aumentos da electricidade e do gás), «não ligarem os aquecedores», acabando assim por sucumbir de frio. 

De facto, muitas das «poupanças» que o Dr. Paulo Macedo tem feito na saúde, do fecho de postos e unidades hospitalares aos aumentos das taxas moderadoras e aos obstáculos financeiros colocados ao transporte de doentes crónicos, atingem sobretudo doentes idosos sem recursos ou com pensões de miséria, muito em particular os que residem em regiões do interior do país onde os políticos só vão de quatro em quatro anos quando abre a caça ao voto. Tudo junto com as «poupanças» nas prestações sociais, não era difícil prever o destino que uma política de austeridade dirigida quase exclusivamente aos sectores mais vulneráveis da população reservaria aos idosos pobres. 

Vistas as coisas friamente e do ponto de vista da «economia de mercado» neoliberal dominante, para a qual a saúde é, como diz a Dra. Ferreira Leite, um direito de quem pode pagá-la, menos 6100 reformas ou rendimentos sociais de inserção são uma boa notícia para o défice do Dr. Vítor Gaspar. E, se o vírus da gripe continuar por aí ainda durante uns meses, a boa notícia será decerto substancialmente melhor.
Entretanto, para os de saúde mais resiliente, o Ministério da Segurança Social anunciou o milagre da multiplicação: mais dez mil camas em lares da terceira idade sem gastar um tostão com a construção de mais lares nem com mais quartos nos lares existentes, mas... mandando pôr outra cama nos quartos onde hoje já se amontoam três ou quatro idosos. 

Se este país não é para jovens nem para velhos, para quem é, afinal, este país?»




segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Fundamentalismos




Não resisto a um bom texto irónico. E é por isso que trago hoje aqui a excelente crónica de Manuel António Pina ditada na Notícias Magazine de ontem.  Que fique bem claro que não venho aqui defender que se fume – nunca fumei um cigarro na minha vida. Trata-se tão-somente de um excelente texto que põe a ridículo os fundamentalismos pacóvios que nos vão assolando (ou assombrando) e que a comunicação social faz questão de inculcar nas cabeças dos mais distraídos.

Os malefícios do tabaco (ParteII)

Vai por aí uma hipócrita discussão acerca da obrigatoriedade, ou não, de os titulares de cargos públicos revelarem a sua filiação em obediências diferentes da do interesse colectivo, em concreto, na Maçonaria (e porque não o Opus Dei e outros lobbies de que não se fala, não menos sigilosos e duvidosos do que a Maçonaria?; o cardeal-patriarca falou da Maçonaria mas esqueceu-se da «Obra»; em contrapartida, honra lhe seja feita, lembrou-se do Sporting…).

O Dr. Francisco George, o sempiterno director-geral da Saúde, tinha aqui uma ocasião privilegiada para apanhar boleia e colocar na agenda mediática também a obrigatoriedade de os titulares de cargos públicos incluírem nas suas declarações de interesses e obediências se são fumadores, pois que fumar – não seria difícil arranjar um qualquer perito que fosse à TV dizê-lo – é uma obediência ainda mais compulsiva do que andar de avental e penduricalhos coloridos.

Lá haveremos de chegar, aos titulares de cargos públicos e, depois, à generalidade dos cidadãos, de modo a criar aquilo que os ideólogos do fascismos higienista chama de «hostilidade social contra os fumadores». E já faltou menos para os pôr, juntamente com os maçons, de estrela amarela ao peito, agora que já os confinaram a ghettos recônditos de cafés, bares, restaurantes, pubs, discotecas, salas de jogos, escolas, empresas, teatros, cinemas, centros comerciais e sei lá que mais «ambientes públicos» e privados (será permitido fumar nas lojas maçónicas?).

A Parte II da Longa Marcha proibicionista do Dr. Francisco George é agora expurgar os fumadores também das imediações desses «ambientes públicos» (isto depois de, previamente, os expulsarem dos actuais ghettos). E, a seguir, parece que igualmente a proibição de fumar dentro dos automóveis. Não me admiraria se a coisa acabasse com o Dr. Francisco George a mandar-me a ASAE a casa para verificar se fumo quando vou ao quarto de banho. E se ponho sal a mais na comida, se consumo álcool, doces, gorduras, se tomo banho todos os dias, se faço exercício, se controlo regularmente o PSA…

A barragem de artilharia sobre a opinião pública já começou: «Basta estar uma pessoa do lado de fora, junto à porta de um bar, para aumentar a exposição ao fumo de quem está no interior», garante a coordenadora de um «estudo» pago pela Direcção-Geral da Saúde a uma «equipa de investigadores». A «equipa de investigadores» não dá pormenores sobre a orientação do vento nem as condições de pressão e temperatura à porta do tal bar, mas andou a snifar locais com zonas para fumadores verificando que «em mais de trinta por cento cheirava a tabaco em todo o estabelecimento» (a fumo de escapes decerto não cheirava nos estabelecimentos, nem «do lado de fora, junto à porta», se não os narizes dos investigadores teriam dado por isso; de modo que automóveis, motos e camiões poderão continuar a circular nas imediações desses «ambientes públicos»).

Posto tudo isto, concordo (eu, que sou fumador) que não se deve sujeitar quem não fuma ao fumo alheio, pelo mesmo elementar motivo que também eu tenho o direito de exigir ao Dr. Francisco George que me proteja (coisa para que está patentemente virado) da poluição dos escapes e do cheiro de água-de-colónia rasca em elevadores  demais «ambiente públicos».

Dizem os cruzados antitabagistas que um em cada quatro portugueses que morrem prematuramente (maçons incluídos, acho eu) morre «em parte devido ao tabaco». É capaz de ser «em parte» verdade. E os três portugueses restantes, que pelos vistos não fumam e também prematuramente? Poder-se-á concluir que não fumar é três vezes mais perigoso do que fumar?

Manuel António Pina