sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Votos de Fim de Ano



E ela pensa que quando todas as sirenes
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
- Ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo:
- Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
- O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…


(Mário Quintana)







quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Hitchcock e o Pai Natal...

Não fazia o Pai Natal tão amante dos filmes de Hitchcock... mas a vida é cheia de surpresas, não é verdade?

E os meus amigos viram alguns filmes deste grande mestre do cinema americano? Eu cá vi todos os que passaram pelos cinemas perto de mim. Por exemplo, «A Janela Indiscreta» (Rear Window) até o gravei da televisão e vi-o vezes sem conta. E Marnie? E Psycho, com o lindíssimo Tony Perkins? E Rebeca? E O Ladrão de Casaca? Topázio, Sob o Signo de Capricórnio e outros mais com artistas tão bons: Grace Kelly; Ingrid Bergman, Rock Hudson...

Quem se lembra?



quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Ainda o Ulisses

E lá fui eu, sem falta, à Bertrand porque recebi uma mensagem que anunciava livros a cinco euros e com descontos até 50% para os dias 26 e 27. Cheguei lá, ontem de manhã, e o maior desconto que vi foram os habituais 10% de desconto em cartão em todos os livros. Eu li bem! Era nos dias a seguir ao dia de Natal e não era só online…

Zanguei-me. Detesto que me/nos enganem. Por isso nem perguntei a nenhuma das pouco simpáticas “colaboradoras” (agora diz-se “colaboradoras”, nada de empregadas e menos ainda funcionárias… politicamente incorrecto, discriminatório, vexante e assim… Tretas!) que por lá se movem.

Ora ainda bem! Até porque tenho montes de livros que ainda não li – e nem sei se chego a ler. Enfim.




Se já terminei o Ulisses? Claro que não! Mas não me preocupo nada. O autor demorou sete anos a escrevê-lo por isso eu tenho ainda muito tempo pela frente para o terminar…

Não há o problema de perder a sequência da ação porque se trata de um longuíssimo texto em forma fragmentária. Não é o tempo que marca a evolução da narrativa, mas o espaço: cada rua, cada beco, cada novo bar ou taverna visitados por Bloom e Dedalus têm a sua própria pequena narrativa com as suas próprias personagens, por isso não se perde o fio à meada, até porque não há meada. Os elementos estruturantes são as personagens principais: Leopold Bloom e Stephan Dedalus que fazem o seu périplo pela cidade de Dublin durante um dia apenas – dezoito horas para ser exata – o dia 16 de junho de 1904. Uma imagem irónica da Odisseia de Homero na qual Ulisses deixa a sua mulher Penélope (aqui redesenhada por Molly, a mulher de Bloom) durante dezoito anos para fazer o seu périplo pelo Mar Mediterrâneo.

Há, no Ulisses de Joyce, fragmentos verdadeiramente poéticos como é o caso por exemplo, da longuíssima e quase enciclopédica referência a Shakespeare - «ele era um lorde da língua…» - e à sua obra, em que o autor nos dá toda a sua visão do que é a arte, a sabedoria eterna, o conhecimento grego. E, embora alcandore Shakespeare ao expoente máximo da literatura, não deixa de fazer passar um ténue ciúme. «Os nossos jovens bardos irlandeses têm de criar ainda uma figura que o mundo coloque ao lado do Hamlet do saxão Shakespeare…»     

Esta rivalidade entre a Irlanda e a Inglaterra aliás está patente ao longo da obra «… referente aos recursos naturais da Irlanda (…) que ele descreveu na sua prolixa dissertação como o país mais rico sem qualquer excepção à face da terra de Deus, muitíssimo superior a Inglaterra, com carvão em vastas quantidades…»

Grandes reflexões sobre a mulher e a maternidade, as inúmeras maternidades que as mulheres têm de sofrer, bem como as grandes evoluções da medicina no campo da maternidade. Se pensarmos que estas reflexões foram escritas no início dos inícios do século XX, veja-se o avanço da mente do narrador (ou terei de dizer “autor”), um judeu e maçon e dos países do Norte da Europa.

Há outros fragmentos, porém, que são quase incompreensíveis de longos e chatos, com uma linguagem muito peculiar e referências culturais que, pelo a mim, me passam muito ao lado.

Tanto a dizer acerca do Ulisses de Joyce! Hei de voltar…

De enaltecer a qualidade do texto reescrito em português pelo excelente tradutor Jorge Vaz de Carvalho. Não lhe deve ter sido nada fácil, mas está muito bem conseguido.

(A propósito e na esteira do Ulisses de Joyce, não posso deixar de referir «Uma Viagem à Índia» de Gonçalo M. Tavares, uma narrativa igualmente estonteante e estilhaçante ancorada em Os Lusíadas, também em X Cantos.

Hei-de “trazê-la” aqui.)

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Quando um homem quiser

Tu que dormes à noite na calçada do relento
numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
és meu irmão, amigo, és meu irmão

E tu que dormes só o pesadelo do ciúme
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão

Natal é em Dezembro
mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser
Natal é quando nasce
uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto
que há no ventre da mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu irmão, amigo, és meu irmão


(Ary dos Santos) 


(daqui)


segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Ironia do destino

Por uma forte ironia do destino, o autor de uma das mais emblemáticas canções modernas de Natal, George Michael, partiu - dizem que serenamente - no próprio dia de Natal. 

Jovem de mais para partir, digo eu. Só que o coração não avisa, nem nos desperta antes de partirmos...











(Para saber mais, ver em   https://pt.wikipedia.org/wiki/George_Michael   

http://www.jn.pt/artes/interior/morreu-o-cantor-george-michael-5571564.html  )


domingo, 25 de dezembro de 2016

A anedota deste Natal



O meu neto mais novo, que já vai fazer seis anos, ainda acredita mesmo no Pai Natal. Escreveu-lhe uma carta a pedir não sei que brinquedos e andou a anunciar a toda a família os pedidos todos, um dos quais era um Transformer – seja isso lá o que for… - e queixava-se amargamente que não tinha um Transformer, como se fosse o único miúdo à face da Terra que não tivesse uma geringonça dessas (passe o termo…)

Claro que aqui a avozinha foi logo à procura do dito – whatever that might be… - e toca de comprar um (de dois que restavam).

Ontem à noite, quando o ganapo viu o dito Transformer, (que é horrível, só vos digo!) ficou em transe! Mas vira-se para os pais e diz aflito:

«Então e agora se o Pai Natal deixa outro Transformer lá em nossa casa?!»

Os pais riram-se e o primo, do alto da sua sabedoria de oito anos acabados de fazer, mas com a dúvida ainda a rolar-lhe no branco dos olhos, disse para nós quase em surdina:

«O Pai Natal não existe…»

Mas já o outro, com aquele toque pragmático de um verdadeiro aquariano, encolhia os ombros, dizendo:

«Não faz mal! Fico com dois!...»






sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Presépio

Nunca é de mais desejar Boas Festas aos amigos - virtuais e os outro. Por isso, em véspera de Consoada, e já com muitos afazeres em casa, aqui vos deixo, com todo o carinho e com votos de Amor e Paz, o presépio de Leiria que, este ano, foi moldado por gente habilidosa, algumas das quais minhas ex-colegas.

É um presépio muito original, já que conta com os monumentos mais conhecidos da cidade. Espero que gostem.





(O Castelo)

(A Capela da Nossa Senhora da Encarnação)


(A Fonte Grande)


(O Banco de Portugal)


(O Rio)

Feliz Natal!!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

A Primeira Lua de Inverno

(Do poeta sintrense M. S. Lourenço, pai do Prémio Pessoa 2016, meu vizinho durante anos e que nunca conheci...)


A Primeira Lua de Inverno
I

Repousa em redor a pequena vila.
Às luzes que cruzam a rua
Juntam-se lanternas de um fiacre.
Poluídos para alguns os frutos do dia,
Deixam o mercado agora ermo,
Sem uvas nem girassóis.
Ouve-se música através dos muros,
No jardim alguém tenta calar o apelo
De um amor recusado, ainda em chaga,
Mas na cascata a água precipita-se,
Fresca, num jorro rápido.

(Fonte dos Pisões)


II

Acabou o Sol & o sino da tarde leva
Os deuses, um a um, a um passado provisórios,
Donde irão emergir para o grande cisma
Do Inverno, o primeiro sopro do qual
Já se ouve subir os píncaros da serra.
Para a deusa branca chegou o fim do seu enigma,
A sua ruína coroa agora as ruínas do castelo:
Aqui morrem os deuses & as borboletas.
Rejeitados olhando apenas,
Recíproco, um brilho no vazio.


M.S. Lourenço (1936 – 2009) 

(O Caminho dos Pisões)



(Foto de Pedro Macieira)


terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O avesso de um Natal Branco...

Este vídeo está farto de girar por aí. Mas lembrei-me dele agora que muitos de nós - a começar por mim - que vivemos num país com um clima de fazer inveja aos melhores, desejam ardentemente passar um Natal Branco...

Que maravilha o primeiro nevão!! Tudo branquinho e assim... O pior é quando já se vai no sexto ou no sétimo nevão com montes de neve à porta, sem poder sair.... e assim....

(re)vejam que é de morrer a rir....




segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Um presente de Natal muito especial

Um presente de Natal muito especial para os meus amigos:

Vozes em fundo de magia...

domingo, 18 de dezembro de 2016

Concertos de Natal

Ontem foi dia de assistir a concertos de Natal "familiares": 

  • dos 70 anos do Orfeão de Leiria,  no Mosteiro da Batalha e em que a minha neta já participou;
  • e, à noite, o concerto de Natal aqui na "minha" freguesia, pela Filarmónica de São Tiago de Marrazes com o coro de uma freguesia vizinha dirigidos pelo maestro Paulo Clemente, meu camarada autárquico. 


De enaltecer o trabalho das Escolas de Música de Leiria - que já são muitas e de grande qualidade - dos seus professores e dirigentes, bem como o interesse das famílias que tanto se esforçam para que as suas crianças aprendam música. Ainda há poucos anos nada disto era possível.

Quem disse que o 25 de Abril não trouxe nada de bom?!

Neste belíssimo cenário (que as famílias encheram até lá atrás):







E ali está ela: a segunda da esquerda; á espera de atura...






À noite, foi assim:





Tivemos a Glória de Vivaldi e a Missa Brevis de Jacob de Haan e também cânticos de Natal.

Uma vez mais a gratidão do público que encheu a Igreja a esta prenda graciosa que nos «encheu o sapatinho»...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Dreaming of a White Christmas

Um Natal Branco? 
Só nos resta sonhar... Ouvir a dupla famosa a cantar...
Ou então ver as imagens que recebi da minha amiga Susie de Picton, Ontario, Canadá.
Lindas!










Feliz Natal !!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Manifestação contra a ceia de Natal

Carregadinhos de razão!! Eu apoio a sua reivindicação!!


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

«Adeus, até amanhã»


Sei pouco, muito pouco, da literatura norte-americana da actualidade, por isso, quando acontece aparecer-me um romance de autor norte-americano que, por qualquer motivo me atraia, decido-me a lê-lo.

Foi o caso. A Bertrand costuma ter uns títulos escolhidos com desconto de 50% em cima do balcão da caixa e, de vez em quando, trago um ou outro comigo. Já trouxe «Orlando» de Virginia Woolf – que é um espanto de beleza e de magia – e este, «Adeus, até amanhã», de William Maxwell, autor para mim até agora desconhecido. Uma short novel, 140 páginas, que se lêem com agrado.

O narrador relembra e conta um crime que aconteceu era ele criança na cidade de Lincoln, Illinois, há mais de 50 anos, no início dos anos vinte do século passado. Não tem nada a ver com um policial: o crime é-nos contado logo no primeiro capítulo, que quase funciona como prólogo, passando o narrador a falar da sua solitária infância, da casa onde viveu com o pai e com os irmãos, da morte prematura e inesperada de sua mãe que o marca indelevelmente, e de um amigo muito especial, muito íntimo.

E é essa sua narrativa da sua infância e adolescência que entronca no crime passional que acontece no seio de duas famílias vizinhas e amigas devido aos amores e desamores entre os casais. O centro do enredo é exatamente a amizade que existe entre o narrador e o filho do autor do crime, Cletus, que é brutalmente cortada quando este é levado por sua mãe para longe, depois de abandonar o marido e a casa.

A descrição dos sentimentos da cada uma das personagens, seja dos miúdos, seja de cada um dos elementos dos casais desfeitos pelas tristes circunstâncias que sobre eles se abateram, é de uma profundidade, de um calor humano, mas também de uma tal naturalidade que, sem sombra de pieguice, nos deixa, por vezes, um nó na garganta.

Novela psicológica, de amor e de amizade mas também de culpa, muito nos diz acerca da realidade vivida no início do século XX, numa pequena cidade do interior dos Estados Unidos, da relativa autonomia das mulheres, das relações de trabalho, até do grau cultural.

Escrita em 1980, esta novela tem muito de autobiográfico se atentarmos no facto de Lincoln ter sido a cidade natal de William Maxwell (1908 – 2000) e também no facto de, tal como aconteceu à mãe do narrador, a mãe do autor ter morrido vítima da pneumónica, ou gripe espanhola, tinha ele dez anos.

A tradução para português esteve a cargo de Miguel Castro Caldas, jovem escritor da actualidade, mas nem por isso a escrita flui como fluem os pensamentos e os sentimentos do narrador. E depois, a páginas sessenta e tal, apareceu-me um «defenderia-o» e…

Sabem agora porque é que eu prefiro ler livros de autores portugueses (conceituados!)?

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Coisas feias!

Hoje só me apetece dizer coisas feias.
Verbalizar pensamentos negros: «eu nunca fiz nada que batesse certo!»
Dizer coisas feias!

Mas aqui não dá. Sou uma senhora...

Tenho uma amiga e ex-colega, menina de boas famílias e de boa educação que, quando lhe apetecia dizer "coisas feias", chegava ao pé de mim e dizia: CFM! CFM! E depois ríamo-nos muito (e nós já entradas nos cinquenta...)

Mas, como sou uma senhora, vou parafrasear aquela menina já mãe de filhos adultos, irmã do meio, patinho algo feio, que, quando os irmãos a faziam zangar e recorria à mãe para a sua queixinha mimada, esta dizia-lhe: «Chama-lhes nomes!!». E ela, queixinho trémulo, virava-se para os safados dos irmãos e gritava: «Nomes!!»

Assim vou fazer eu: «Coisas feias!! Coisas feias!! Coisas feias!!



segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Você tem a letra feia?

Você tem a letra feia? Pois não se aborreça que vai ter uma boa notícia!

Eu é que fiquei um bocado mais triste porque até tenho uma letra muito certinha...





domingo, 11 de dezembro de 2016

Tenho uma grande constipação...

Não é a primeira vez que me socorro do meu querido Álvaro de Campos para dizer que estou com uma enorme constipação… É que não há outro poema que a defina tão bem e seu estou farta de espirrar e de tossir «até à metafísica»…
 Há três dias e não vai lá nem com «verdade» nem com «aspirina»…


«Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.»

14-3-1931, Álvaro de Campos


Hoje foi o meu marido que ficou de igual modo com uma grande constipação, mas o poema para a sua constipação é mais este…


"Pachos na testa, terço na mão
Uma botija, chá de limão
Zaragatoas, vinho com mel
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher
Ai Lurdes, Lurdes, que vou morrer
Mede-me a febre, olha-me a goela
Cala os miúdos, fecha a janela
Não quero canja, nem a salada
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada
Se tu sonhasses, como me sinto
Já vejo a morte, nunca te minto
Já vejo o inferno, chamas diabos
Anjos estranhos, cornos e rabos
Vejo os demónios, nas suas danças
Tigres sem listras, bodes de tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes, que foi aquilo!
Não é a chuva, no meu postigo
Ai Lurdes, Lurdes, fica comigo
Não é o vento, a cirandar
Nem são as vozes, que vêm do mar
Não é o pingo de uma torneira
Põe-me a santinha, à cabeceira
Compõe-me a colcha, fala ao prior
Pousa o Jesus, no cobertor
Chama o doutor, passa a chamada
Ai Lurdes, Lurdes, nem dás por nada
Faz-me tisanas, e pão-de-ló
Não te levantes, que fico só
Aqui sozinho a apodrecer
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer."

António Lobo Antunes

in Letrinhas de Cantigas (canções) 2002



sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Est-ce que tu le sais?

Ouvi ontem esta canção como música de fundo de uma qualquer filme ou série de um canal do cabo e riu-se-me a alma...

Aos anos não a ouvia! Conheci-a primeiro pela voz dos Chats Sauvages, nos inícios de 60. Ainda tenho o disco em vinil. O que a ouvi e a dancei!

Só mais tarde soube que era uma versão da canção What'd I say, de Ray Charles,1959. 
Uma maravilha!! 

Se puderem, oiçam ambas.

Depois ainda deixo a versão Sylvie Vartan  (fulaninha detestável - pensava eu nos 60...) por ser mais sexy... Pode ser que os meus amigos gostem...

Depois dêem as vossas opiniões, pode ser? 













Bom fim de semana!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Dia da Mãe

Naqueles tristes e pobres tempos de 50/60, praticamente não havia «Dias de». O Dia do Pai era apenas uma pálida referência; o Dia da Árvore passou a existir muito depois da nossa abertura ao mundo em 74; havia o Dia da Restauração eivado de um nacionalismo que nos era inculcado pela Mocidade Portuguesa e pouco mais.

 O Dia da Mãe era o mais importante de todos e era celebrado a 8 de Dezembro (com maiúscula apesar de nada ter a opor ao Novo Acordo Ortográfico…) porque era o dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal. Nesse tempo nada do que pudesse servir para submeter o povo à Igreja era deixado ao acaso. Por isso 8 de Dezembro, data de grande significado para a Igreja porque se celebra «a vida e a virtude de Virgem Maria, mãe de Jesus, concebida sem marca do pecado original», correspondia ao Dia da Mãe já que as mães deviam ser “castas e virtuosas” (e servis…) 




Fosse como fosse, e apesar da nossa fraca ligação às coisas da Igreja lá em casa, eu prezava esse Dia da Mãe e, até ao fim da curta vida de minha mãe, celebrei-o nela e com ela. Mesmo depois de a dita Igreja mudar a data para inícios de Maio não sei bem por que razão,

Hoje, lembrei-me de tudo isso e, naturalmente lembrei-me de minha mãe (como todos os dias acontece, claro!) Num agitado sentimento de “clausura” que tanto me assalta e tantos conflitos causa dentro da minha pobre mente, veio-me uma imagem longínqua do início da minha infância.

Todas as mães fazem tudo pelos filhos e minha mãe nisso não foi em nada exceção. Tendo eu vingado após alguns dolorosos abortos espontâneos e no final de um parto em que meu pai foi posto perante a possibilidade de ter de escolher entre mim e ela (naturalmente que ele decidiria por ela!) fui criada com todos os cuidados que estavam ao alcance de uma família média (?) média-baixa dos finais de 40. E foi assim que, teria eu os meus três anos talvez, e metendo-se na cabeça de minha mãe que “a menina” precisava de tomar ares do campo, transportou-nos para passarmos uma temporada numa casa que alugou em Santa Iria da Azoia. Só que a temporada cedo terminou porque aqui a menina andava muito bem enquanto a passeavam pelos campos e pelo meio dos moinhos de vento, mas assim que se via fechada em casa, berrava que nem uma desesperada e logo, logo tiveram de me trazer de regresso a Algés… 

Outros episódios de «clausura» aconteceram – e vão acontecendo – comigo ao longo dos tempos e, tenho para mim, que nada tem a ver com o facto de sair ou não sair de casa. Trata-se de um «pânico» de me sentir longe das minhas companhias mais próximas, sozinha comigo própria, numa «clausura» dentro de mim própria difícil de explicar e de resolver.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O humor de Fidel

Não sou das indefetíveis de Fidel. Nunca fui e não é por ter morrido que, como muito boa gente tem feito, vou passar a “cantar-lhe loas”. Nunca fui fixada nos ícones ou nos movimentos revolucionários dos anos 60/70 e, para mim, ditador é ditador seja de esquerda ou de direita. Também por isso não enfileirei nunca atrás dos Dylans ou dos Cohens. Feitios…

Mas achei graça a esta história que corre pelas redes e mais ainda à fotografia que está cheia de sensualidade, músculo e de ironia. 

Por isso trago-as para aqui:



Conta-se que, na década de 70, quando Gina Lollobrigida foi a Cuba para entrevistar o "Comandante", seduzido pela beleza dela, Fidel Castro lhe terá prometido:

- Peça o que quiser, que eu providenciarei...

Ela imediatamente sugeriu:

- Abra as fronteiras! Deixe ir embora quem quiser!

O Barbudo arregalou os olhos:


- Ah sua marota!!!! Você quer é ficar sozinha comigo aqui na ilha…



terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Crónicas com Fundo de Guerra

Esta minha nova atividade de acompanhar alunos do secundário no estudo do Português tem-me trazido uma movimentação intelectual que me agrada muito. Tenho voltado análise literária, actualizei-me na gramática que (estupidamente) sofreu alterações incompreensíveis ao nível da morfologia e da sintaxe e tenho feito leituras que nem me passavam pela cabeça.

Esta semana tive de ler «Crónicas com Fundo de Guerra» de Pepetela que bastante me agradou. Trata-se de um conjunto de 31 crónicas das noventa que o autor angolano escreveu entre 1992 e 1995 para serem publicadas no jornal Público.

Embora escritas no tempo da guerra civil de Angola, que se prolongou desde pouco depois da independência em 1975 até 2002, a intenção do autor não foi transmitir episódios de guerra – até porque se destinavam ao público português – mas abordar e dar a conhecer a vida do dia-a-dia nas cidades nomeadamente de Luanda e de Benguela, tratando assuntos culturais, históricos, políticos e económicos do seu país.

Apenas algumas crónicas referem a guerra, “no entanto a guerra estava presente”. Por exemplo, a segunda crónica, «Kianda dos nossos sonhos» inicia-se com a frase angustiante «Esta guerra que vai desfazendo o país, perante a indiferença internacional, tem consequências insuspeitáveis à primeira vista.» E mais nada sobre o flagelo da guerra. A crónica desenvolve-se de forma bastante poética em redor da palavra Kianda que é um ser mítico que mora nas águas, uma espécie de sereia.

De referir as belas crónicas que encerram algumas das suas recordações da infância passada em Benguela, a Cidade das Acácias Rubras, (oh como esta imagem poética me faz lembrar com saudade o blog «acácia rubra» da nossa amiga Laura Abrantes!) passadas na sociedade colonial dos anos 1950. São recordações dos hábitos de criança, dos amigos, das brincadeiras mais comuns, das travessuras, das disputas dos grupos de garotos rivais, do medo da polícia, dos animais.

A primeira crónica é exatamente «O bacalhau do Natal» em que o autor considera que “entre aquilo que Portugal deixou neste país africano podemos destacar o hábito de se comer bacalhau na noite de Natal, sem precisar se pensar que isso seja habito de reduzida elite urbana”. E relata como, após o final da guerra civil, quando faltava de tudo no país, o governo decidiu importar quantidades de bacalhau para os angolanos festejarem o Natal “à portuguesa”.



Lêem-se com muito agrado até porque trata uma realidade que nos diz muito, numa linguagem corrente, serena e bem-disposta, cheia de referências culturais e históricas universais e também de índole pessoal. De facto, o autor lança o seu olhar arguto e crítico sobre Angola, seja a do passado, seja a do presente não sem lhe juntar uma boa ponta de ironia.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Música para animar a semana

Uma canção otimista para animar a vossa/nossa semana.

Hang on! Don't let yourself go... (que é como quem diz «Aguenta-te! Não te deixes ir abaixo.»)


When your day is long
And the night
The night is yours alone
When you're sure you've had enough
Of this life
Well hang on
Don't let yourself go
'Cause everybody cries
And everybody hurts sometimes
                      (...)

Boa semana!

sábado, 3 de dezembro de 2016

E agora, José?

O meu Zezito fez hoje oito anos. Oito! E houve festa em casa com muitos meninas e algumas meninas (poucas... Daqui por uns anos será ao contrário, sei lá...)

Uma festa tradicional, "à antiga" e a preceito...





















«E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?»

Agora, que a vida te seja leve, amiga e a jeito, meu querido!