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terça-feira, 12 de maio de 2020

A caminho de Fátima

Na falta de quem nos descreva hoje os caminhos para Fátima vazios de peregrinos, ficam aqui uns fragmentos da excelente descrição saramaguiana. Vale a pena ler.

[Era o 12 de Maio de 1936. O Dr. Ricardo Reis resolve ir a Fátima «por curiosidade» - diz ele a Lídia. O certo é que ia ver se encontrava Marcenda.]

«Na estação de Fátima o comboio despejou-se. Houve empurrões de peregrinos a quem já dera no rosto o perfume do sagrado, clamores de famílias subitamente divididas, o largo fronteiro parecia um arraial militar em preparativos de combate. A maior parte destas pessoas farão a pé a caminhada de vinte quilómetros até à Cova de Iria, outras correm para as bichas das camionetas de carreira, são as de perna trôpega e fôlego curto, que neste esforço acabam de estafar-se. O céu está limpo, o sol está forte e quente. Ricardo Reis foi à procura de um lugar onde pudesse almoçar. Não faltavam ambulantes a vender regueifas, queijadas, cavacas das Caldas, figos secos, bilhas de água, frutas da época, e colares de pinhões, e amendoins, e tremoços, mas de restaurantes nem um que merecesse tal nome, casas de pasto poucas e a deitar por fora, tabernas onde nem entrar se pode, precisará de muita paciência antes que alcance garfo, faca e prato cheio. (…)´

Uma camioneta buzinava roucamente a chamar para os últimos lugares, Ricardo Reis deu uma corrida, conseguiu atingir o assento, alçando a perna por cima dos cestos e dos atados de esteiras e mantas, excessivo esforço para quem está em processo de digestão e afracado do calor. Sacolejando muito, a camioneta arrancou, levantando nuvens de poeira da castigada estrada de macadame. O motorista buzinava sem descanso para afastar os grupos de peregrinos para as bermas, fazia molinetes com o volante para evitar as covas da estrada, e de três em três minutos, cuspia fragosamente pela janela aberta. O caminho era um formigueiro de gente, uma longa coluna de pedestres mas também carroças e carros de bois, cada um com seu andamento, algumas vezes passava roncando um automóvel de luxo com chauffeur fardado. (…)

A maior parte desta gente vai descalça, algumas levam guarda-chuvas abertos para se defenderem do sol, são pessoas delicadas da cabeça, que também as há no povo, sujeitas a esvaimentos e delíquios. (…)  as mulheres transportam à cabeça cestos de comida, uma que outra dá de mamar ao filho enquanto vai caminhando. (…) com o calor, os rostos ficam negros, mas as mulheres não tiram os lenços da cabeça, nem os homens despem as jaquetas, os casacões de pano grosso, não se desafogam as blusas, não se desapertam os colarinhos, este povo ainda tem na memória inconsciente os costumes do deserto, continua a acreditar que o que defende do frio defende do calor, por isso se cobre todo como se se escondesse.

Este é o lugar. A camioneta para, o escape dá os últimos estoiros, ferve o radiador como um caldeirão no inferno, enquanto os passageiros descem. (…) Ricardo Reis junta-se ao fluxo dos peregrinos. (…)

É um mar de gente. Ao redor da grande esplanada côncava vêem-se centenas de toldos de lona, debaixo deles acampam milhares de pessoas, há panelas ao lume, cães a guardar os haveres, crianças que choram, moscas que tudo aproveitam. Ricardo Reis circula por entre os toldos, fascinado por este pátio dos milagres que no tamanho parece uma cidade, isto é, um acampamento de ciganos, nem faltam as carroças e as mulas, e os burros cobertos de mataduras para consolo dos moscardos. (…)

(José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1985)








domingo, 16 de dezembro de 2018

Ite missa est...

Deus e os meus amigos sabem bem que não sigo os ritos católicos, nem religiosos em geral. Só que, de vez em quando, há aquelas obrigações familiares e sociais a que é preciso corresponder.

Foi o caso de hoje. Partiu desta vida a última dos ascendentes da família próxima do meu marido. Uma tia, viúva do tio irmão da minha sogra, a última matriarca da família, com 93 anos de uma vida cheia de altos e baixos – como as de todos nós que descemos a este paraíso terreal – e que, pelo menos na minha perspetiva, era um doce de senhora que, especialmente nos últimos anos de vida, depois de ficar sozinha, se tornou ainda mais doce.

Os filhos, nossos primos, portanto, decidiram-se por uma despedida religiosa e nós lá fomos acompanhar aquela nossa tia tão recetiva e compreensiva nos seus últimos momentos aqui connosco.

Entrou o celebrante, um jovem de hábito branco e até aí tudo bem. O pior foi quando abriu a boca: nem o nome da senhora conseguiu dizer direito: (senhora Maria Glória, dizia ele). Isto depois de falar várias vezes no marido da defunta, não percebendo, quem não fosse da família, se ele era vivo ou morto. Utilizou (mal quanto a mim, claro!) a parábola das dez virgens sensatas e das dez virgens descuidadas que foi tão maltratada que deixou o Senhor um bocado malvisto…

Entoava bem, mas quando falava, a voz não tinha força nem projeção e tropeçava no meio das frases. Uma lição mal preparada, cogitava eu, professora dos quatro costados… A única coisa que lhe saiu bem foi rezar o Pai-Nosso, até porque todos os rezaram em coro…
Quando eu pensava que ia continuar para missa por alma, o jovem pediu a colaboração de alguém para levar a cruz e terminou dizendo: «agora façam duas filas atrás e sigam atrás da cruz».

Pensei cá comigo: «Ai, Graça Maria, que está cada vez mais crítica; tu que nem segues estes ritos senão esporadicamente…» Mas depois lembrei-me do “meu” Padre Abílio, lá de Sintra, de quando eu ia ao “santo sacrifício da saída da missa”, que sabia como portar-se como um verdadeiro celebrante (missas em latim, naturalmente!) voz projetada e língua afiada para os adolescentes tontos feito eu quando lá aparecíamos… Que diferença!

Não fui apenas, porém, eu a notar o desconcerto do jovem pároco: havia quem rolasse os olhos de espanto. E até ouvi alguém dizer que o jovem não era padre, era apenas missionário.

Fosse o que fosse, prestou um mau serviço à Igreja. Além de que a nossa tia (Maria da) Glória merecia melhor…




segunda-feira, 2 de julho de 2018

Sejamos agradáveis


Sabe quem me conhece e quem já me vai conhecendo por aqui que não sou frequentadora de missas. Não interessa estar aqui e agora a esgrimir as razões que me levam a ter este comportamento.

Hoje, por força das circunstâncias, assisti à missa de corpo presente de uma velha senhora professora do “liceu” de Leiria que fazia o favor de ser minha amiga, figura grada da cidade e de quem, também por força de não sei que circunstâncias, vou ser a seguidora na direção de uma Academia Sénior.

A missa foi celebrada por um padre franciscano, coadjuvado por um jovem frei, o que, já por si, a tornou diferente das institucionais missas – entenda-se por isso o que se entender. Mais dinâmica, mais natural, mais alegre (apesar da circunstância) mais coloquial, enfim. (paradoxalmente, nem queiram saber as saudades que eu tenho de uma missa em latim…)

Mas, no meio dos habituais rituais das missas, das orações estereotipadas e do continuado senta-e-levanta a que os frequentadores tão bem obedecem – e que eu ordeira e educadamente imito – hoje gostei e aprendi mais uma lição: quando o celebrante disse que Deus gosta que sejamos agradáveis para Ele e uns para os outros.

Tocou-me fundo esta ideia de que devemos esforçar-nos por sermos agradáveis uns para os outros. A noção de agradar aos outros entra bem na minha ideia dos grandes pilares da nossa dádiva, da nossa abertura ao outro: a compaixão e a generosidade. Compaixão que não é sinónimo de «pena»; generosidade que não é sinónimo de «ser bonzinho».

Sejamos, pois, agradáveis uns para os outros – o que não é sinónimo de mostrar «boas maneiras».





sexta-feira, 8 de junho de 2018

O Templo Ecuménico Universalista





O Templo Ecuménico Universalista, em Miranda do Corvo, é uma peça que se integra num conjunto mais vasto de realizações da Fundação ADFP: Parque Biológico da Serra da Lousã - Espaço da Mente - Templo Ecuménico Universalista.

Inaugurado no dia 11 de Setembro de 2016 - passados quinze anos sobre os atentados de 2001 -  é um equipamento que procura ser uma peça dinâmica e significativa na criação de pontes entre as religiões e na difusão de uma cultura de paz promovendo valores fundamentais da humanidade e das religiões, como a Verdade, a Bondade e a Moral.

É um monumento dedicado à Paz que homenageia as vítimas dos fundamentalismos e da intolerância religiosa.


No interior da pirâmide, que tem a altura de 13,40 m que corresponde à dimensão do Templo de Salomão, encontra-se o Observatório das Religiões que disponibiliza ao visitante factos, dados cronológicos e informação sobre a história e evolução das 15 visões religiosas mais significativas.






Os sete caminhos da vida - os sete pecados mortais
 







Hinduísmo

Budismo


Celtas

 Endovélico, deus dos Lusitanos



Galileu

Maçonaria

O Labirinto dos Templários





A visita ao Templo completa-se com a visita ao Eco Museu e ao lindíssimo Parque Biológico da Serra da Lousã.

O passeio pode ainda ser entremeado com um almoço no ...




quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Hoje digo uma pequena prece ...

Sabe quem me conhece bem que não sou pessoa de rezas ou de comportamentos próprios da religião, seja ela qual for. Mas não é por isso que me considero menos humana, menos sensível ou estou menos pronta para a ajuda, o apoio, a compaixão pelo meu próximo.

Neste luto emaranhado de ódio e más-vontades que se está a viver no país, mas de muito sofrimento para tantos,  e no meio de toda a angústia que me aperta o coração e a garganta, lembrei-me de uma «pequena prece» que a Aretha Franklin diz tão bem.

Por todos e para todos - e no dia de aniversário do nascimento do meu pai, que faria hoje 98 anos se a morte não o tivesse surpreendido aos seus breves 49 - uma pequena prece - A Little Prayer for you!




sábado, 13 de maio de 2017

Che Papa!

Que não acredito na história dos pastorinhos - é uma verdade. Que não acredito em aparições, nem em visões - é igualmente uma verdade. Que não acredito no milagre dos ditos pastorinhos - é também uma grande verdade. E que estranho bastante a dita canonização - ah isso é que é uma grande verdade! 

Mas que este Papa é uma personagem espantosa de alegria, de simpatia e de luz - isso é que ninguém pode negar!












Che Papa!!


Che Papa e che presidente!! 




Che Papa e che vescovo!! 

O Bispo de Leiria não conseguiu tirar aquele sorriso de orelha a orelha durante todo o tempo em que o Papa esteve em Fátima!!


(fotos retirada do facebook)

sexta-feira, 12 de maio de 2017

sexta-feira, 25 de março de 2016

Gethsemane ou no Monte das Oliveiras

Desde os idos de 70 que para mim não há Semana Santa sem o Jesus Christ Superstar. Por isso aqui fica mais um dos poderosos quadros daquele fabuloso musical, no qual o Cristo questiona o seu Deus, o seu Pai (?) sobre o benefício da sua morte. 

«Why should I die (porque tenho eu de morrer?) - pergunta ele. E termina num desespero, quase numa ameaça ao seu Deus, o seu Pai (?), dizendo:

Nail me to your cross and break me
Bleed me, beat me
Kill me, take me now

Before I change my mind

(Prega-me na tua cruz e quebra-me
Fere-me, bate-me
Mata-me, leva-me já
Antes que eu mude de ideias)


Muito bom! Vale a pena recordar.




sábado, 26 de dezembro de 2015

Ainda o espírito natalício...














Pronto! Cá continuo eu a «dar música» aos meus amigos.... Espero bem que gostem.

E, já agora, digam-me: acreditam em anjos?!... 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Apesar da chuva






(fotos de Francisco Mendes)

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Os caracóis do Reguengo

Há uma povoação muito bonita aqui no pequenino concelho da Batalha que tem uma tradição muito original que hoje me lembrei de trazer aqui: no início do mês de outubro realizam-se as festas de Nossa Senhora do Fetal durante as quais se organiza a procissão das velas que acompanha o andar da Senhora. 

A originalidade é que o percurso da procissão que se faz entre a capela e a Igreja é todo iluminado por lamparinas feitas de cascas de caracóis. É um espetáculo maravilhoso que atrai muita gente ao evento.

Vale a pena ver.


   


terça-feira, 13 de maio de 2014

Paradoxo

Trago, desde garota, comigo na memória o meu encanto pelas músicas de tributo a Maria, a mãe de Deus. E, hoje, que se celebra o seu dia, quero deixar aqui essas músicas que sempre achei tão belas e que, de certo modo, deixaram uma marca de alguma religiosidade em mim.

Não sei qual delas conheci primeiro por isso vou deixá-las aqui sem qualquer ordem de preferência.

Vamos lá ver quais são as vossas preferências...











E... poderá alguém algo panteísta e amoral sentir-se de alguma forma atraído pelo culto mariano?


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A Senhora da Lapa


No nosso passeio à Beira Alta, subimos a Serra da Lapa, no concelho de Sernancelhe, onde, a uma altitude de 900 metros, com um tempo cinzento, chuvoso e com um frio de cortar a pele das orelhas, nos deparámos, no meio de algumas casas de pedra, daquelas bem típicas das terras quase transmontanas, com o Santuário da Senhora da Lapa.


A capela
A Capela e o Santuário à direita

Segundo reza a lenda, em 1498, uma pastorinha chamada Joana, muda de nascença, da freguesia e lugar de Quintela, andando a guardar o gado de seus pais, lembrou-se um dia de entrar ali na gruta e encontrou a santa imagem que meteu na cesta onde guardava as maçarocas e a merenda. A imagem era de pequena dimensão, mas muito formosa. E a pastorinha guardou-a e enfeitava-a como podia e sabia, com as mais lindas flores que topava nos campos ou no monte. Ao voltar a casa, no fim do dia, cuidava da roupa da imagem. As ovelhas, apesar de fartas e nédias, eram apresentadas quase sempre nos mesmos lugares, o que motivou acusações por parte de outrem à mãe de Joana. Tudo isto e as teimosias da filha a fizeram enervar e, sem mais, tirou-lhe a imagem, que teve por uma vulgar boneca, e atirou-a ao lume.

A menina, transida de pavor, gritou; “Minha Mãe! É Nossa Senhora! Ai! Que fez?”. A fala começou a prender irreversivelmente a mocinha pastora e a mãe ficou com o braço paralisado, transe de que se curou com a oração de ambas.

A imagem foi levada para a Lapa, sob a orientação do percurso por Joana e todos a acompanharam. Porém, tal não terá sucedido sem que antes o cura de Quintela houvesse tentado a entronização da veneranda imagem no interior da Igreja Paroquial, donde a mesma imagem desaparecia de modo insólito.



A capela de Nossa Senhora da Lapa foi construída já no século XVII pelos jesuítas, mas o culto é muito anterior, havendo quem o remeta para o século X, quando as investidas dos mouros fizeram com que a população cristã tenha escondido uma imagem da Virgem numa gruta ou "lapa". Mas histórias, lendas e milagres são o que não falta neste santuário com muitos ex-votos e com uma curiosa passagem entre rochas por onde só se consegue esgueirar quem não cometeu pecados graves. 












A Senhora da Lapa, em Portugal e Santiago de Compostela, na Espanha, chegaram a ser, em tempos, os dois Santuários mais importantes da Península Ibérica.

Presépio da Escola Machado Castro situado perto da Gruta

Em volta do santuário cresceu uma pequena povoação que anda hoje tem alguma expressão, quanto mais não seja para receber os peregrinos e os turistas que ali se deslocam.











 



Representação da lenda da pastora Joana



segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Procissão na minha rua




A minha rua é apenas uma afluente da rua principal do sítio – subúrbio de Leiria que nem aldeia é – onde moramos há muitos anos. Isto vem ao caso para falar da festa do Bairro das Almoínhas que se realiza sempre no primeiro fim de semana de outubro e cuja procissão de Nossa Senhora vem, desde sempre e sem falhar, lá do Bairro, pela Estrada da Estação para entrar na minha rua, a tal afluente, no fundo da qual pára tudo – padre, andor e fieis acompanhantes – para procederem a uma pequena celebração, uma vigília, ou como lhe queiram chamar.


A minha pouca, pouquíssima, mínima educação religiosa não chega para perceber porque é que a procissão vem de lá de longe passar por esta rua e não pela rua principal, mas dá para entender o zelo, o carinho e o divertimento até, com que grande parte das moradoras aqui da rua adornam, dias antes e ano após ano, as casas, as suas e as outras – como é o caso da minha – para receber a visita da Senhora.










E, pelas nove da noite, de sábado, o cortejo chega então à nossa rua, com a Senhora num pequeno andor atapetado de flores brancas, a voz do padre rezando ouve-se através da aparelhagem sonora e o corredor de fieis segue, cantando e rezando, animado pelas velas acesas que empunham cheios de fé.



A minha neta Elisa, que veio com os pais e com o pequenino Eduardo jantar cá a casa, encantou-se com a ornamentação da rua sem perceber do que se tratava e ficou entusiasmadíssima com a perspetiva de assistir ao vivo e a cores a uma coisa que não fazia ideia nenhuma do que se tratava.

O facto é que eu que não vou a missas, reprovei três anos na catequese por faltas, fiz apenas a primeira comunhão tarde e a más horas – já tinha onze anos! – não casei na Igreja (para grande escândalo da minha mãe) nem batizei as filhas (para ainda maior tristeza da minha mãe) dei comigo a ver passar a procissão com a Elisa no colo e, de vela em punho, lá segui o ajuntamento com a neta pela mão até ao fim da rua...