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domingo, 11 de novembro de 2018

Dia da Papoila

No dia do centenário do Armistício da Grande Guerra, volto a trazer aqui o poema que o soldado canadiano John Mcrae escreveu em plena guerra., pouco antes de ser morto.


IN FLANDERS FIELDS

In Flanders fields the poppies blow
Between the crosses, row on row,
That mark our place; and in the sky
The larks, still bravely singing, fly
Scarce heard amid the guns below.

We are the Dead. Short days ago
We lived, felt dawn, saw sunset glow,
Loved, and were loved, and now we lie
In Flanders fields.

Take up our quarrel with the foe:
To you from failing hands we throw
The torch; be yours to hold it high.
If ye break faith with us who die
We shall not sleep, though poppies grow
In Flanders fields.


(John Mcrae, em 3 de maio de 1915)
NOS CAMPOS DA FLANDRES

Nos campos da Flandres
as papoilas florescem entre as cruzes
que em fileiras e mais fileiras assinalam
nosso lugar; no céu as cotovias voam
e continuam a cantar heroicamente,
e mal se ouve o seu canto entre os tiros cá em baixo.

Somos os mortos... Ainda há poucos dias, vivos,
ah! nós amávamos, nós éramos amados;
sentíamos a aurora e víamos o poente
a rebrilhar, e agora eis-nos todos deitados
nos campos da Flandres.

Continuai a lutar contra o nosso inimigo;
 a nossa mão vacilante atira-vos o archote:
mantende-o no alto. Que, se a nossa fé trairdes,
nós, que morremos, não poderemos dormir,
ainda mesmo que floresçam as papoilas
nos campos da Flandres.





segunda-feira, 9 de abril de 2018

A Batalha de La Lys: um relato



A Batalha de La Lys, travada no Sul da Flandres em 9 de Abril de 1918, constitui o momento mais traumático da acidentada participação portuguesa na Primeira Grande Guerra.

Esta batalha insere-se na investida que a Alemanha desencadeou na Primavera desse ano com o objetivo de quebrar a resistência dos Aliados e acabar rapidamente com a guerra, buscando alcançar a vitória antes que os contingentes norte-americanos, que desembarcavam em França a um ritmo crescente, tomassem parte no conflito.

O novo poder instalado na Rússia, saído da Revolução de Outubro, logo em Novembro assinara um cessar-fogo e em 3 de Março de 1918 firmara a paz separada com os Impérios Centrais. O exército alemão agora com uma só frente de luta na Europa, a ocidental, volta-se para a Flandres e decide a chamada "Operação Georgette” para retomar a cidade de Ipres e abrir caminho até Calais e Boulogne. É nesta operação que se enquadra o combate da planície do Lys. As forças militares em presença são, de um lado, a 2.ª Divisão do Corpo Expedicionário Português comandada pelo general Gomes da Costa e as Divisões 40ª e 55ª do Reino Unido, e, do outro lado, o 6.° Exército alemão, com oito divisões em primeira linha, outras quatro em apoio e mais sete em reserva.

A batalha começa às 4,15h com um bombardeamento alemão maciço sobre as trincheiras, sobre as primeiras e segundas linhas de infantaria. O comando português foi colhido de surpresa e levou algum tempo a perceber que não se tratava de mais um raid. As comunicações ficaram todas cortadas desde as 4,30h, quer as ligações telefónicas, quer o telégrafo. A batalha transformou-se numa série de combates locais de iniciativa dos oficiais subalternos.

Sem comunicações, logo desde o início cada unidade ficou entregue a si própria sem qualquer direção do comando e ficaram também comprometidas as transmissões entre a infantaria e a artilharia que a apoiava. Durante horas de bombardeamento pesado, a artilharia germânica conseguiu varrer as linhas de abastecimento e as posições da artilharia, e destruir completamente todas as fortificações da linha de defesa em frente ao setor português.

 Às 7h, as primeiras linhas de infantaria portuguesa eram "uma massa de escombros, de terra, de revestimentos despedaçados, amalgamados com os cadáveres das guarnições!"

Pelas 7,50h, os soldados alemães, a coberto da sua barragem de artilharia e do nevoeiro, saltam os parapeitos das trincheiras, atravessam a terra de ninguém, e atacam diretamente as posições defendidas pelos restos dos Batalhões de Infantaria, que os recebem à baioneta até serem completamente avassalados pela enorme superioridade numérica contrária, que avança em ondas sucessivas.

Uma hora depois, a Divisão Britânica começa a retirar, deixando o flanco português desprotegido a norte. Às 9,30h, as forças alemãs atacam as linhas de separação entre as congéneres portuguesas e inglesas em ambos os lados. Às 10,30h, os Britânicos da 55ª Divisão, a sul, avisam que também vão recuar e estabelecer posições defensivas. Assim, as divisões em que os flancos da Divisão portuguesa se apoiavam "retiravam para formarem flanco defensivo, deixando aberturas por onde o inimigo penetrou com mais facilidade".

A partir desta hora começa a desorganização de muitas unidades, completamente destroçadas, com os soldados errando desgarrados depois de abandonarem os seus postos.

Muitos são mortos e feridos, e milhares são feitos prisioneiros. As hostes portuguesas e britânicas não conseguiram aguentar o embate e cederam perante uma avalanche que chegou a ser na proporção de dez para um.

Cerca de 400 portugueses morreram nessa batalha e mais de sete mil portugueses terminaram a guerra em campos de prisioneiros alemães, onde enfrentaram condições de vida muito complicadas.

O seu desenlace feriu profundamente a alma nacional, chegando a falar-se de um novo Alcácer-Quibir.

(Texto adaptado de “Batalha de La Lys: um relato pessoal” recolhido e tratado por Guilhermina Mota. Trabalho completo em:


(Prisioneiros portugueses)

sábado, 3 de setembro de 2016

Muito bom!

É assim que classifico o filme de Ivo M Ferreira baseado no livro «Cartas da Guerra» que reúne as cartas que o escritor António Lobo Antunes escreveu à mulher Maria José, o seu «querido amor» quando serviu em Angola, na inefável guerra colonial, nos anos de 1971-73.

Um belíssimo retrato da guerra em Angola. Retrato a branco e preto da platitude da paisagem com as suas belezas selvagens e únicas, dos horrores de uma guerra fratricida, do clima de desespero, de solidão de quase abandono das nossas tropas – pouco mais que crianças.

Não obstante as cenas violentas e sangrentas, as crises de desespero dos homens, de ansiedade levadas ao extremo, das indescritíveis saudades de casa, tudo é tratado com a maior “naturalidade”, como se tudo aquilo fosse normal e expectável. Mas sem ponta de «lamechice», o que começa a ser novidade entre nós.

Muito bem feito. Muito bem filmado. Muito bem representado. (Não éramos mais que dez pessoas na sala de cinema, mas quando o filme chegou ao fim, ficámos todos pregados nas cadeiras e não se ouvia um único som.) Bate fundo nas nossas almas este tema. E foi ainda há muito pouco tempo.

Vale a pena ir ver.


De referir que o ator que veste a pele de Lobo Antunes é lindo de morrer…




terça-feira, 22 de março de 2016

domingo, 3 de agosto de 2014

A Guerra

O Padre António Vieira descreveu-a assim:  

«É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta.
É a guerra aquela tempestade terrestre que leva os campos, as casas, as vilas, as cidades, os castelos, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades, em que não há mal algum que ou não se padeça ou não se tema, nem bem que seja próprio e seguro (...)»

Que diria o grande senhor da língua portuguesa se, por uma qualquer ironia do tempo, pudesse assistir à dizimação vingativa que Israel está a levar a cabo na faixa de Gaza?


(Imagem retirada do facebook)



segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O Dia da Lembrança



À 11ª hora do 11º dia do 11º mês de 1918, a paz voltou à frente ocidental. O Armistício assinalava o fim da I Grande Guerra. De então para cá, os países de língua inglesa celebram o dia 11 de Novembro como o Remembrance Day lembrando-se dos mortos caídos em combate nas duas Guerras Mundiais, usando uma papoila de feltro na lapela.

Tudo começou com o poema In Flanders Fields escrito pelo major canadiano John McCrae, no qual evocava os campos de batalha da frente ocidental.


In Flanders Fields
In Flanders fields the poppies blow
Between the crosses, row on row,
That mark our place; and in the sky
The larks, still bravely singing, fly
Scarce heard amid the guns below.

We are the Dead. Short days ago
We lived, felt dawn, saw sunset glow,
Loved and were loved, and now we lie
In Flanders fields.

Take up our quarrel with the foe:
To you from failing hands we throw
The torch; be yours to hold it high.
If ye break faith with us who die
We shall not sleep, though poppies grow
In Flanders fields.

 by John McCrae, May 1915


Esta é a história de como a papoila vermelha campestre passou a ser o símbolo da Lembrança reconhecido internacionalmente.

Associada às papoilas que floriram na primavera de 1915 nos campos de batalha da Bélgica e da França, esta flor vermelho vivo tornou-se sinónimo da grande perda de vidas na guerra.



A forma como a papoila vermelha da Flandres se tornou o símbolo moderno da Lembrança foi inspiração de uma mulher americana, a Senhora Moina Michael que trabalhava na organização YMCA Overseas War Secretaries em Nova York onde tomou conhecimento do poema escrito por John McCrae. Nesse momento ela prometeu “guardar a lembrança” e fez votos de usar sempre uma papoila vermelha como sinal da lembrança. Passaria a ser um emblema para “guaradar a lembrança daqueles que morreram”.


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Consternação

Grande consternação, uma indizível revolta, uma imensa dor foi o que senti ao ouvir, logo de manhã – e assim continuei ao longo do dia – as notícias que referiam que seria perto de um milhão o número de crianças sírias que já atravessaram sozinhas a fronteira do seu país (75% das quais com idades inferiores aos onze anos) refugiando-se noutros países, enquanto outros dois milhões permanecem deslocados dentro do seu país.

É de ficar em lágrimas só de supor o sofrimento atroz destas crianças que perderam o seu abrigo, os pais, os familiares, todo e qualquer tipo de bem-estar, de conforto físico, social, psicológico, passando toda a espécie de privações.

Ato contínuo vêm-nos à mente os nossos do coração e imaginá-los em situação idêntica e parte-se-nos o coração!

Foi citado António Guterres – o alto-comissário da ONU para os refugiados – que terá manifestado a sua preocupação com o facto, tendo mesmo afirmado que é uma enorme vergonha, um enorme fracasso do mundo ocidental.

E eu que sempre considerei António Guterres um homem de bem, de uma imensa sensibilidade (e inteligência) e detentor de muitos dos valores cristãos, fiquei a pensar quanto sofrimento deve ele próprio guardar no coração face à impossibilidade de dar uma resposta, pelo menos, razoável a mais esta brutal calamidade.