Sei bem que alguns dos amigos que
aqui passam não gostam muito que comente sobre questões político-partidárias.
Atendendo, porém, a que este é um blog do estilo «web-log», à maneira dos “diários de bordo” e porque a comunicação
social hoje acreditada no nosso país teima em mostrar diariamente e minuto a
minuto como os portugueses são mal tratados pelas instâncias governamentais – coisa que não acontecia no tempo do governo
anterior! – não resisti a transcrever este texto que li hoje na página do facebook do meu amigo Carlos Esperança e que é, de facto, um verdadeiro hino
à ironia…
Saudades do governo de
Passos Coelho e Paulo Portas
Naquele tempo, que Cavaco Silva
desejou esticar, corriam rios de mel, e só não havia virgens à espera das
vítimas porque era outra a devoção em Belém e S. Bento.
As matas eram então
incombustíveis, à prova de pirómanos, as urgências dos hospitais aguardavam
doentes para quebrarem o tédio aos enfermeiros e médicos, a banca estava
capitalizada e sem créditos malparados, o emprego era pleno e os portugueses
viviam felizes com a sobretaxa do IRS e divertidos com os orçamentos de Estado
à espera dos retificativos.
Os vírus não matavam, o sarampo
não era epidémico e a bastonária dos enfermeiros não se oporia à vacina
obrigatória aos seus membros, para exercerem a profissão no Estado, se acaso
ocorresse ao governo a prudência e o bom senso a ela.
As pessoas podiam andar
deprimidas, mas as vacas dos Açores sorriam com a presença do casal
presidencial, e as cagarras das ilhas Selvagens acolheram ruidosamente a visita
do PR, preocupadas com a ausência da prótese conjugal.
O país vivia feliz, espoliado dos
feriados identitários, 1.º de Dezembro e 5 de Outubro, e até o cardeal andava
sossegado com o fim dos feriados que a Igreja impôs à República e a intimidade
dos cônjuges recasados, sem precisão de apoiar manifestações de colégios
privados onde a sua Igreja lucra mais do que com o negócio das almas.
Então, até os carrilhões de Mafra
se seguravam às torres de onde ameaçam agora soltar-se, com a força com que o
senhor D. João V se agarrava à madre Paula, em Odivelas, e ao ouro do Brasil
para enviar ao Papa e obter dele o irónico e caro epíteto, Fidelíssimo.
A imprensa de reverência vivia em
harmonia com o poder, designando a incompetência do PM por coragem e por
institucional a cumplicidade entusiasta do PR.
Ditosos tempos! Os cravos de
Abril tinham sido exonerados das lapelas do PR e do PM e o ordenamento jurídico
era uma incómoda referência da Constituição que juraram, a ilustrar o adágio:
«quem mais jura, mais mente».