E porque passam hoje, 13 de setembro, 133 anos sobre o
nascimento do grande autor de O
Malhadinhas, deixo aqui o excerto de um texto de Baptista-Bastos sobre o grande Homem
que foi Aquilino.
«Para Aquilino Ribeiro, a questão
essencial do homem sempre foi a
questão da liberdade. E a relação do grande escritor com Portugal teve em constante
cuidado a ausência dessa dimensão e a exigência de um compromisso moral em
combater essa ausência. E, também, na defesa da razão, na crença no progresso e
no poder da palavra. A obra vasta, poderosa e singular do autor de A Casa grande de Romarigães constitui o
mais fascinante quadro poliédrico da realidade portuguesa. Na História, nas
fontes medievais, nas ficções, nos ensaios, nas polémicas ele procurou uma
espécie de «modernidade» sem deslocação temporal que identificasse a passagem
do catecismo religioso para as diversas outras formas de autoritarismo
concebido como a mais atroz forma de atraso.
É um momento sem par na cultura
portuguesa, em que a ética do empenhamento se associa à estética funcional do
trabalho literário. A vastíssima galeria d personagens aquilinianas é uma
avaliação do que somos e do que fomos. E o que impõe a distinção desta obra a
todas as outras, suas contemporâneas ou precedentes, é a poderosa persuasão de
cada um seguir a sua consciência e de não desistir de conquistar a sua própria
liberdade. (…)
O grande autor desta
biografia-crítica [O Galante Século XVIII
– Textos do Cavaleiro de Oliveira] passou a vida a correr riscos, a afrontar
os poderes, a denunciar a mentira, a fustigar a hipocrisia. Desprezava os
escreventes de vários matizes que desonravam a Imprensa e a literatura. Quando foi
imperioso, colocou de lado a pena e empunhou o trabuco. (…) As relações de
domínio tão bem expressas por Aquilino, podem ajudar-nos a refletir acerca da
natureza do poder e da tendência do poder (qualquer que ele seja) para o
autoritarismo. É preciso, pois, não temer o tirano. É preciso protestar contra
a servidão. É preciso resistir: resistir é uma forma superior de sobrevivência,
e sobreviver é permanecer enfrentar as contínuas tentativas de degradação da
condição humana.
Aquilino Ribeiro ensinou-nos a
liberdade.»
Baptista-Bastos, Julho 2008