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quinta-feira, 23 de abril de 2020

Para (sor)rir...

No Dia Internacional do Livro - dois livros de monta! E muito sentido de humor!!!  



Fiquem bem!

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Lobo Antunes na Pléiade

Fiquei feliz quando, esta manhã, ouvi a notícia de que António Lobo Antunes – o nosso melhor escritor vivo (digo eu) – vai ter a sua obra editada pela Biblioteca Pléiade incluída na coleção que desde 1931 reúne a obra de uma selecionada lista de grandes autores mundiais.

De referir que o único autor português que até hoje teve a sua obra publicada por aquela Biblioteca de referência foi o poeta Fernando Pessoa, em 2001.

O escritor afirma que este “é o maior reconhecimento que algum escritor pode ter". A escolha da Pléiade é dedicada pelo escritor "aos meus amigos, aos meus leitores e ao meu irmão José Cardoso Pires, que esteja onde estiver estará muito feliz". (daqui)




Parabéns ao escolhido pelo seu talento, pela sua entrega, pelo seu valor!

E para falar de Lobo Antunes, chamo aqui o poeta Manuel Alegre que escreveu assim:

«António Lobo Antunes é um dos que sabe, como o poeta René Char, que certas guerras não acabam nunca. Devemos-lhe as páginas que sobre ela escreveu. Mas devemos-lhe sobretudo a revolução literária em que ele trouxe para a escrita a continuação, as consequências, o rasto e o rosto dessa guerra cá dentro. Está nas docas, nos contentores. E nas personagens que trazem dos arrabaldes para o centro uma fala nova. cada uma delas é à sua maneira o regresso das caravelas. Não só os que partiram, mas os que nunca mais terão oportunidade de o fazer.

Do Esplendor de Portugal ao Manual dos Inquisidores ou ao Sôbolos Rios Que Vão às vezes eu não sei se é o António que escreve ou um coro que fala por ele naquela estranha forma de partitura em que se vão transformando os seus romances. Como uma sinfonia de muitas vozes. Dizem alguns que não há história. São os que não percebem que pela pena do António todas as vozes estão a contar a nossa História, ainda que por vezes pareça uma história dos subúrbios que são afinal os arredores da História. Sinais, ecos, rastos de um império e de uma guerra que acabou e não acaba. Se repararmos bem, nós estamos nessas frases, somos essa paródia, falamos nessas falas. E somos esse texto.»

Manuel Alegre, in “Uma outra memória”, 2016



quinta-feira, 19 de julho de 2018

O livro da minha vida

Não gosto de usar o superlativo relativo de superioridade. Conscientemente, raramente o uso.

Eximo-me sempre que posso de responder quando me perguntam por exemplo «qual foi o filme de que mais gostaste?», ou o livro, ou seja o que for. É que num dia posso lembrar-me de um filme, ou livro, ou música de que gostei muito e noutra altura, lembrar-me de outro(s). Tudo depende das circunstâncias e da(s) memória(s).

Aqui há dias, a nossa amiga Rosa dos Ventos - lembram-se? - desafiou-me para publicar durante sete dias no facebook capas de livros que li e que por algum motivo, me marcaram.

Atendendo a quem me lançou o desafio, acedi e lá fui lançando os títulos e as capas dos livros de que me fui lembrando terem feito as minhas delícias.

Hoje foi o sétimo e último dia de publicações para o qual guardei o livro que eu considero ser o livro da minha vida: O Monte dos Vendavais de Emily Brontë. Li-o na minha juventude em português e adorei, vi mais do que uma versão em filme e depois escolhi-o para analisar do ponto de vista linguístico na última cadeira da minha licenciatura, que se chamava Seminário e que funcionava como preparação para a tese. Aí tive de o ler e reler na versão original - The Wuthering Heights - que é, naturalmente, ainda mais poderosa, mais avassaladora.



Será que os meus amigos serão capazes de escolher um livro que tenha sido o livro das vossas vidas?

Vamos ver. Ficamos à espera...

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Dia de ir às livrarias

A ironizar quando ainda estava na escola, costumo dizer que a sexta-feira de manhã é a minha manhã livre...

É o dia de ir às compras, ao talho, à fruta, ao super, de ir ver as lojas ao shopping, de ir espreitar as livraras. Que são três! Tantas!

Há sempre um ou outro livro que teima em "agarrar-se-me" às mãos. E depois há tantos que eu gostaria de trazer mas que não posso! Pois quando os leria? (e como os pagaria?!...)

E aí lembrei-me deste textinho maravilhoso do ainda mais maravilhoso Almada...




segunda-feira, 23 de abril de 2018

O Elogio do Livro


«Um livro é feito de uma árvore. É um conjunto de partes lisas e flexíveis (que ainda se chamam folhas) impressas em carateres de pigmentação escura. Dá-se uma vista de olhos e ouve-se a voz de outra pessoa – talvez alguém que já tenha morrido há milhares de anos. Através dos milénios, o autor está a falar, com clareza e em silêncio, dentro da nossa cabeça, diretamente para nós. A escrita foi talvez a maior das invenções humanas, ligando as pessoas, cidadãos de épocas distantes que nunca se chegaram a conhecer. Os livros quebram as cadeias do tempo, provam que os seres humanos são capazes de exercer magia.»

(Carl Sagan, in Comos, 1980)




«Livros não mudam o mundo,
quem muda o mundo são as pessoas.
Os livros só mudam as pessoas.»

(Mário Quintana)




quarta-feira, 4 de abril de 2018

Da Literatura Infantil

Celebrou-se no passado dia 2 o Dia Internacional da Literatura Infantil - em justa homenagem a Hans Christian Andersen, autor dinamarquês que escreveu tão belos contos de fadas e que nasceu no dia 2 de abril de 1805.

Para contribuir - embora fora de horas - para a festa do Livro Infantil, lembrei-me de deixar aqui algumas imagens de uma exposição de livros de histórias para crianças em modelo pop-up que tive a sorte de ver há algum tempo na Biblioteca Nacional. 

A  exposição tinha o engraçado título de «Livros a Saltar». Vamos ver alguns.




























Faz-se de tudo para atrair as crianças para os livros!

domingo, 7 de maio de 2017

Texto politicamente pouco correto

É como do dia da mãe e o dia do pai e da tia e do sobrinho – nesses dias são palavras bonitas, flores, bolos e chocolates; são poemas, fotos antigas, lágrimas de amor e de saudade e outras hipocrisias (eu avisei que ia ser pouco correto!)

Os livros e as leituras e a poesia e ler em geral são também conceitos e artefactos que apenas são heroicizados nos dias de. Depois … oblivion!

A Livraria Arquivo (que eu não me canso de aqui mencionar) bem como a Biblioteca Municipal fazem de tudo para trazerem à cidade escritores de nome e de renome. Desde Mário de Carvalho até Eduardo Lourenço, de Maria Teresa Horta até Mega Ferreira e a Teolinda Gersão, de Lobo Antunes a Mário Cláudio e a Teresa Rita Lopes e outros muitos. Os últimos que fui ouvir foram mesmo Pedro Mexia e, ontem, Gonçalo M. Tavares. As salas, quer da Arquivo, quer da Biblioteca são de mediana dimensão e, mais ou menos, enchem. Os que vamos assistir – e eu não sou por de mais assídua! – somos quase sempre os mesmos: já nos conhecemos, ou já nos conhecíamos, sei lá!

Mas, o que mais me espanta e dói é ver que, de três grandes escolas secundárias e mais quatro grandes EB2/3 que agregam uma miríade de escolas do 1º ciclo e do pré-escolar – isto sem falar nos colégios religiosos que são dois e grandes – não se encontra um professor(a)! Os que lá vão estão já aposentados e somos quase sempre os mesmos. Nem imaginam como lamento! E não me venham com a desculpa da falta de tempo, dos muitos trabalhos burocráticos e outros porque eu sei do que falo. Preguiça? Indiferença? Arrogância ou simplesmente medo?

Os professores – e que me desculpem as exceções, que as há e boas, mas poucas – sentem-se muito senhores da sua sabedoria; fizeram o seu cursinho, entraram na(s) sua(s) escolinha(s) e pronto! não precisam de mais nada! Nem de ler (mais), nem de estudar (mais), nem de se informar (mais), nem de ir ouvir quem sabe mais do que eles! Pequeninos na sua pretensa grandeza. Naquela grandeza que lhes vem dos manuais com as perguntas todas, com as respostas todas, com as planificações todas das quais não arredam pé nem por decreto! Por isso recusaram ser avaliados.

Hoje, assisti a mais um espetáculo deplorável. Numa destas efemérides de Março/Abril centradas no livro, a Livraria Arquivo homenageou largamente a escritora de literatura juvenil Ana Pessoa, especialmente pela sua última obra Mary John, e convidou-a a vir a Leiria. Ora a jovem escritora mora e trabalha como tradutora em Bruxelas pelo que teve de pôr férias para cá vir e calhou ser hoje o dia da sua presença por cá.

A apresentação e entrevista estiveram a cargo de uma professora bibliotecária de um dos Agrupamentos de Escolas da cidade que se fez acompanhar de quatro alunos de uma turma do 9º ano, curiosamente três rapazes e apenas uma rapariga, que leram e exploraram o livro e prepararam uma excelente entrevista. Tudo bem, não vos parece?

Pois pasmem, meus amigos! Dos pais dos alunos, apenas os de um estiveram presentes. Para se deslocarem à livraria que está situada no centro da cidade, vivendo eles nos arredores, teve a professora bibliotecária de os ir buscar e levar. Dos professores dos alunos, apenas a professora da opção esteve presente; nem a Diretora de Turma, nem mais nenhum dos professores da turma. Da direção da escola, ninguém. Do Departamento de Línguas – ai as leituras, ai os livros, ai os alunos não leem! – ninguém! Das outras escolas todas, ainda menos. Não é verdadeiramente arrepiante?

Ah, porque era domingo! Porque estava um dia de verão! Porque havia a Feira de Maio! Ah, porque veio a TVI e transmitiu em direto! Ah! Que bons somos em desculpas!!

Por isso não vamos votar, por isso não intervimos, por isso embiocamos em nós próprios … porque estava a chover, porque havia o Sporting-Benfica, porque era dia de praia, porque os políticos são todos iguais, porque, porque, porque…

O filósofo José Gil, que sabe muito disto e não politicamente incorreto como eu, chama-nos «o país da não-inscrição» e acrescenta e bem que isso «é possível porque as consciências vivem no nevoeiro.» (O Medo de Existir, 2005,p. 18)

Na montra da Arquivo

domingo, 23 de abril de 2017

A imagem diz tudo...

A imagem diz tudo...




... e a música também!







Celebremos os livros porque

"os livros são objetos transcendentes"...


quinta-feira, 20 de abril de 2017

«O Tesouro»



Este livro foi escrito pelo poeta/escritor Manuel António Pina por encomenda da Associação 25 de Abril para a celebração do 20º aniversário da Revolução.

Sobre o livro, o autor disse o seguinte numa entrevista que deu numa escola: «E um dia, a comissão que estava a organizar os 20 anos do 25 de Abril… Já havia jovens da vossa idade que não sabiam o que era o 25 de Abril e a comissão convidou-me para fazer isso, numa sexta-feira. Não sei se sou capaz, disse, mas vou tentar explicar aos mais jovens o que foi o 25 de Abril, que foi um dia memorável, foi uma experiência… Valeu a pena viver só para viver aquele dia. Disseram-me que era para segunda-feira e era sexta… E o que saiu foi aquilo.  A minha ideia e a minha preocupação a fazer esse livro era explicar a jovens que nasceram em liberdade o que era a falta de liberdade… No livro, diz lá assim: “A liberdade é como o ar que respiramos”… Nós nem nos damos conta de que respiramos, respiramos e pronto, mas quando nos falta o ar é um sufoco. E a liberdade é uma coisa parecida… vocês nem se dão conta de que são livres, mas quando perdemos a liberdade é um sufoco enorme. E depois queria tentar, através de histórias verdadeiras e de pequenos pormenores, explicar como não haver liberdade é completamente absurdo, não é natural. A razão não consegue alcançar como eram proibidas coisas como, para jovens como vocês, as raparigas não poderem andar nas mesmas escolas do que os rapazes, tinham de estar separadas. A minha mulher foi impedida de ir às aulas e uma colega dela expulsa porque foi de calças para a escola. E a amiga dela foi expulsa porque persistiu…» (daqui)

Foi este livro que hoje comprei para oferecer aos meus netos no próximo dia 25.

Oxalá gostem!


terça-feira, 8 de novembro de 2016

Os Direitos do Blogger




Deu-me para isto, podia ter-me dado para pior…

Influenciada pelos Direitos do Leitor do Pennac (ali em cima) ;
Porque redigi tantos regulamentos lá para a “minha” escola;
E depois de ter ouvido tantas e tão diversas opiniões sobre os blogs no nosso último encontro;

Deu-me para apontar

Os Direitos do Blogger.

Todo o blogger tem direito a:

  1. Gerir o seu blog de acordo com a sua vontade e maneira de ser sem disso ter de sentir forçado a prestar contas a nenhum dos seus leitores;
  2. Fazer publicações as vezes que entender ou sentir necessidade, versando os assuntos que lhe aprouverem;
  3. Responder sempre ou apenas quando achar relevante, ou mesmo nunca responder aos comentários às suas publicações;
  4. Moderar ou mesmo impossibilitar a realização de comentários às suas publicações, (mesmo que isso possa traduzir-se em desinteresse por ser visitado);
  5. Impedir ou permitir, sem que isso o contrarie, que copiem livremente textos ou imagens por si publicados;
  6. Visitar blogs de seguidores, ou outros, quando assim o entender, sem se sentir forçado a uma espécie de fidelização;
  7. Comentar ou não comentar as publicações em blogs que visita;
  8. Não ser questionado sobre as suas decisões, comentários noutros blogs (desde que obedeçam às regras básicas da boa educação) bem como sobre as suas ausências;
  9. Não se sentir pressionado pelo princípio “se não me visitas, não te visito”, “se não me comentas, não te comento”;
  10. Deixar de ser blogger quando assim o entender.


(Ah! E mais um: «Todo o blogger tem o direito de fazer exatamente o contrário do que aqui fica definido…»)  Eh eh eh…

sábado, 23 de abril de 2016

Abril Dias Mil

Abril, Dias (de) Mil!! Nem dos deixa respirar este mês de Abril! É o dia das mentiras, da saúde, dos moinhos, do livro, da literatura infantil, da dança e sei lá do que mais!! (até é o mês do meu dia...)

Ontem nem tive tempo de vir aqui celebrar a Terra e hoje já tenho de celebrar o Livro e Shakespeare que faz hoje 400 que morreu. É muito stress...

Um velho conhecido e colega dizia-me ontem: «Para quando o Dia do Nada?! Vou propor que se passe a celebrar do Dia de Nada!» E tem razão. E nesse dia poderíamos passar o tempo a fazer... nada. Talvez a dormir, ou a "abocanar" como diz outra velha amiga e colega...

Entretanto, enquanto esse dia não vem, aqui fica o meu tributo à Terra naquela que é, para mim, uma das mais belas canções de amor pela natureza.





E quanto a livros, que tal passar por Óbidos e ficar no «The Literary Man Hotel»?




Eles estiveram lá e gostaram...




terça-feira, 29 de março de 2016

Vendas pelo telefone



Aborrece-me que tentem vender-me produtos e/ou serviços pelo telefone. E, infelizmente, está sempre a acontecer. Aborrece-me por três ordens de razões (como dizia o Ângelo Correia…): Primeiro porque se eu quiser comprar, informo-me, pergunto, vou à procura. Segundo, porque os putativos vendedores têm de ler aquele arrazoado todo que lhes encomendam e depois tornam-se supinamente maçadores chegando a mostrar-se agressivos. E terceiro porque sei que se trata de assalariados de call centres que têm de alcançar objetivos definidos de forma desmedida pelos empregadores e eu encho-me de “pena” e não sou capaz de ser rude com eles ao ponto de responder mal ou de desligar o telefone.

Hoje, porém, consegui irritar a “senhora” do Círculo de Leitores. Cá em casa associámo-nos ao CL quando nos casámos, ainda antes do 25 de Abril, tendo retomado a figura de associados nos anos 80 depois da desorganização do Círculo que aconteceu à época da Revolução. É por isso, pelos laços criados pelo tempo, que ainda nos mantemos ligados àquela editora mesmo que já não nos apeteça muito comprar-lhes livros. Temos uma óptima relação com o assistente que conhecemos há anos e ele já conhece bem os nossos gostos e não gostos.

De vez em quando, liga-nos uma senhora da editora como que a avaliar o trabalho do assistente e aproveita sempre para tentar vender mais uma coleção.

Foi o que aconteceu hoje. A dita senhora ligou, perguntou como ia o nosso contacto com o assistente afirmando à partida que já sabia que ia bem como de costume e depois perguntou-me que género de leituras eu preferia: «romance, cultura geral…» Como não se trata de uma call centre girl, tratei de ironizar: «cultura geral não existe… gosto de romance, de poesia de autores portugueses…» 

Então a senhora muda de estratégia e diz-me que o CL está a comemorar mais um aniversário pelo que resolveu oferecer um grande desconto na coleção Rainhas de Portugal, mas apenas para as pessoas sorteadas e eu tinha sido uma delas!! [Admirável memória a minha!! Ato contínuo lembrei-me que esta senhora já tentara vender-me as “Rainhas” noutro telefonema!...] Que a coleção era de excelente qualidade e até tinha sido apresentada pelo Professor Marcelo Rebelo de Sousa, não sei se sabe – dizia a senhora. «Pois, de facto, não gosto muito desse senhor, não costumava ouvi-lo.» - respondi sobriamente. Aí, a senhora ficou furibunda e disse: «Não estamos aqui para saber se a senhora gosta ou não gosta do Professor Marcelo!» «Claro! Mas eu não costumava ouvi-lo e, como já conversei com o meu assistente, não tenho vontade de fazer mais coleções» - respondi cortesmente… «Então não está interessada nesta oferta, pois não?!» - quase vociferou a senhora… «Não, muito obrigada.» - respondi jovialmente…

Deus do céu! Mas esta gente pensa que somos todos uma cambada de burros


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Livros e autores

(daqui)


Tanto livro bom a sair e não conseguir ler tudo! [faz lembrar o louco verso de Campos «Quero sentir tudo de todas as maneiras»]. Não se trata de falta de tempo. É que, mesmo que conseguisse passar todo o tempo a ler – o que não seria possível e ainda bem – não daria para ler tudo o que eu acho que deveria ler!

Nas livrarias – em algumas – há livros que parece que se me agarram às mãos, mas não há tempo, nem espaço, nem dinheiro para tanto material de leitura. E depois há os jornais e as revistas de livros e leituras que não param de nos informar, de nos dizer o que há mais para ler. Tanta poesia boa. Tanto romance de grandes autores nossos a serem reeditados e que ainda não foram lidos. Tantos estudos literários interessantes para conhecer!

Na rubrica Maisartes do DN de sábado o jornalista João Céu Silva dá notícia do Livro Viagem a Itália 1786-1788 de Goethe com prefácio e tradução de João Barrento, nome que, de alguma forma me é próximo e não apenas pelo lançamento da obra da misteriosa Maria Gabriela Llansol ou pela fundação do Espaço Llansol em Sintra, mas muito especialmente porque foi meu professor na Faculdade. Mau professor, diga-se, porque pouco ou nada consegui aprender com as suas aulas de literatura norte-americana. Conhecendo o seu trajeto de estudos literários, percebi que se dedicou mais profundamente à literatura alemã, pelo que acredito que ter dado aulas de literatura norte-americana nos primórdios da sua carreira possa ter sido uma necessidade mais do que um gosto ou um prazer.

O curso de Germânicas, nos idos de 60, numa época em que o centro do conhecimento ainda era a cultura francesa, não era o mais bem lecionado ou o mais conseguido da Faculdade de Letras de Lisboa, se bem que fosse já o mais concorrido, o mais procurado pelos alunos. Os professores catedráticos de grande nível pertenciam ao Departamento de Românicas, enquanto o Departamento de Germânicas tinha apenas um professor catedrático que… enfim… Valia-nos o facto de termos algumas cadeiras comuns em que podíamos usufruir de algum bom ensino, de algum encantamento.

De facto, a nossa passagem pela Faculdade, pelo menos naquele tempo, tinha mais de encantamento do que propriamente de absorção de conhecimentos. Pelo menos para mim foi. Vinda de um Liceu opressor como eram os Liceus de Lisboa naquela época, a passagem pela Faculdade foi uma libertação, uma aprendizagem social e pessoal, uma abertura de vistas apesar da situação fascizante e o ambiente pidesco que se vivia: no ano da crise académica de 1969 estava eu a terminar o 3º ano.

Mas aquele foi o tempo em que eu tive o contacto possível com a «transcendência» … É que tive professores como Vitorino Nemésio, Lindley Cintra, Monteiro Grilo, ou seja, o poeta Tomaz Kim, o Padre Manuel Antunes; tive assistentes como António Machado Pires, Ivette Centeno e Teolinda Gersão, todos em início de carreira; cruzei-me nos corredores com o grande (e super vaidoso…) David Mourão-Ferreira, com os Prado Coelho pai e filho, com José Barata Moura, além de que tive colegas como Nuno Júdice e Luís Miguel Cintra. Foi ou não foi um encantamento?


terça-feira, 18 de agosto de 2015

Leituras de Verão

(daqui)

Foi hábito que me ficou de há anos.

No tempo em que trabalhava (muito!) na e para a “minha” escola, naqueles anos loucos (mas completos!) da direção, tirava apenas duas semanas de férias no Verão, para ir para a praia – que não me imagino a passar um ano sem ter uns bons dias de praia – e aproveitava para ler os livros que pudesse. Nada melhor que «fazer as férias do lagarto» deitada ao sol/à sombra a ler!

Este ano a «produção» foi bem profícua!

Terminei o livro «Meninas» de Maria Teresa Horta – que vai merecer um texto à parte, de tão bem escrito, de tão poético, de tão violento!

Emprestaram-me «Quando Lisboa tremeu» de Domingos Amaral em que entrei com agrado por se tratar de um romance histórico. São quase 500 páginas mais de romance do que de histórico. Mas lê-se bem e rápido – daquela escrita torrencial, com grande profusão de diálogos (não sei como há imaginação para tanto!) numa linguagem simples e corrida que por vezes não consegue evitar um ou outro erro de pontuação e um ou outro lapso de ortografia – e diverte, entretém.

No mesmo «pacote» de empréstimo, vinha «O Retrato da Mãe de Hitler», do mesmo autor, que pretende ser a continuação de «Enquanto Salazar dormia», que li há anos e até achei bom, mas que mais não é senão mais um daqueles best-sellers vulgares, longos e chatos, à volta de uma história de amor do tempo da 2ª Guerra contada em intermináveis flashbacks (analepses, em português). Nada de espacial.

«O Verão Quente» - também de Domingos Amaral (juro que não tenho percentagem nas compras!...) – é bem melhor em termos históricos: versa a época do PREC, no pós 25 de Abril entrelaçada por uma história do tipo policial que acelera no leitor a vontade de chegar ao final do livro. Bem melhor que o anterior, se bem que o autor exagere na forma como aborda o sexo – e não se pense que estou aqui armada em pudica… - algo excessivo e, muitas vezes, desadequado. Mas gostei. Tenho para mim que muito do que é dito sobre os acontecimentos de Abril – e muito é dito – saíram diretamente da boca do Professor Freitas do Amaral, pai do autor.

Para distrair de Domingos do Amaral, li, pelo meio, o excelente livro «O Retorno», de Dulce Maria Cardoso, este sim, um verdadeiro romance histórico, com muito mais de histórico do que de romance, muito bem escrito, que retrata a penosa época do regresso forçado das pessoas que viviam e tinham as suas vidas estabelecidas nas ex-colónias e que se viram, de um momento para o outro, transferidas para uma terra desconhecida, quase inóspita – embora tenha sido feito o (im)possível para absorver todos esses concidadãos – muitas vezes com pouco mais do que a roupa que traziam no corpo e numa malinha. De leitura (quase) obrigatória!

Ah! E ainda consegui ler uma antologia de (bons) textos (quase poéticos) de António Tabucchi, recentemente editada pela D. Quixote e que comprei porque inclui também o breve romance «Os três últimos Dias de Fernando Pessoa» escrito em 1995. Deu-me logo vontade de reler «O Ano da Morte de Ricardo Reis», o livro de Saramago de que mais gostei!

Hei de fazê-lo!

segunda-feira, 1 de junho de 2015

No Dia das Crianças

Para celebrar este Dia das Crianças, este ano trago umas sugestões de leituras para e sobre crianças que podem, de alguma forma, ser interessantes para quem por aqui passar.

Primeiro, não posso deixar de referir o livrinho que a nossa amiga poeta Lídia Borges lançou há meio ano e que teve a gentileza de mo oferecer para os meus pequeninos – O Mistério dos Sonhos Roubados – que é um convite aos mais jovens para aproveitarem as delícias da leitura.


Começa assim:

«Chovia. Chovia sempre! Uma chuva miudinha, pingabirrenta que obrigava o Rui a ficar dentro de casa. Ora, ora! Assim as férias não prestavam para nada!

Já estava farto de jogar no computador e de ver televisão. Metido no quarto, riscava com o dedo os vidros embaciados da janela, enquanto se perdia nas lembranças das últimas férias de verão. Divertira-se à grande com o primo Francisco que mora numa cidade, lá para o Algarve. Deitou-se na cama preguiçosamente a recordar esses dias passados na praia entre mergulhos, gelados, risadas e alegrias ensolaradas.

- Quem me dera estar agora com o Francisco! – desabafou em voz baixa.

De repente, a cortar o silêncio do quarto, como que por artes mágicas, ouviu-se uma voz que sussurrava:

- Ei… Ei…. Olha para aqui!

O Rui levantou-se de um pulo, muito assustado.

- Não tenhas medo. Sou eu, aqui, na prateleira de cima…»


Outra leitura interessante é O Senhor Pina de Álvaro Magalhães que é uma enternecedora homenagem que o autor faz ao poeta, jornalista, escritor Manuel António Pina desaparecido há dois anos. 

Começa assim:

«O senhor Pina queria escrever uma história para a Ana e para a Sara, que fosse diferente e tão divertida que pusesse as palavras na brincadeira. E, já agora, que não fizesse muito sentido, ou que fizesse sentido de outra maneira.

Era terça-feira, que não era o melhor dia para começar esse género de história, talvez de escrever poesia, mas nunca se sabia. Por isso, ele espreitou para a rua pela janela do escritório e viu um rapazinho a fazer o pino no meio da relva do jardim. Depois, veio outro e fez o mesmo e a seguir um terceiro, que também tentou, mas desequilibrou-se e caiu no meio de um canteiro.

O senhor Pina pôs-se então a pensar num país onde as pessoas andassem todas de pernas para o ar. Era, talvez, uma boa ideia para a tal história, apesar de ser uma terça-feira. Como pensaria uma pessoa de pernas para o ar? Não o mesmo que pensaria se estivesse de pernas para baixo. Com toda a gente a pensar como toda a gente, ninguém pensava nada diferente.»

A minha terceira sugestão, de crianças tem apenas o título – Meninas, de Maria Teresa Horta, uma série de contos de alguma forma ligados entre si cujas protagonistas são todas meninas quase todas negligenciadas, quando não abandonadas e maltratadas, que se entregam à imaginação, à magia ou à leitura salvadoras.

"Meninas que são ela, mas que também são outras, inventadas ou recriadas, mas sempre reflexo do que se tem feito ao longo dos séculos a quem nasce mulher."



(Sobre este grande pedaço de crua prosa poética falarei quando acabar de o ler.)



quinta-feira, 23 de abril de 2015

Igreja virou livraria

Já que hoje é dia de celebrar os livros, vamos fazê-lo em Óbidos.

Havia uma igreja - dizem que dos tempos de D. Sancho I - que estava abandonada (coisa única neste retangulozinho à beira-mar plantado). Então alguém se lembrou de a recuperar, usando fundos europeus, e de a transformar em livraria. Foi inaugurada há dois anos e tem o nome de «Ler Devagar».


Igreja de Santiago



















Mas em Óbidos nem só de igrejas vivem os livros...  Vimos outra livraria cheiinha, cheiinha de livros num mercado de produtos biológicos. Um espanto!!


















Na igreja, no mercado, na taberna, na feira da Ladra, seja onde for, comprem-se livros! 

Leia-se!

domingo, 14 de setembro de 2014

António Mega Ferreira


Fui ouvi-lo ontem ao fim da tarde à Biblioteca Municipal aonde se deslocou para fazer a apresentação do seu último livro «Viagem pela Literatura Europeia» que decorre de uma série de palestras que El Corte Inglês o convidou a fazer no passado inverno. (Já vai fazer a terceira série de palestras…)

Essa viagem é feita a partir de dez (porque, explicou, tudo para ele tem a ver com o número dez) obras de referência da literatura europeia e por si escolhidas. A primeira jornada e a da Odisseia, aurora da civilização e a última é a do Livro do Desassossego, o grande poema de Lisboa, no seu entender, passando pelo D. Quixote, o Werther de Goethe, as Ligações Perigosas de Laclos, século XVIII, Ilusões Perdidas de Balzac, Guerra e Paz, naturalmente, A Ilha do Tesouro, Em busca do tempo perdido, Proust, claro, e A Montanha Mágica, a maravilha de Thomas Mann.

A escolha recaiu sobre estas narrativas – Mega Ferreira escolheu a narrativa, deixando de fora a poesia e o teatro – mas poderia ter recaído sobre outras. Lamentou não ter incluído A Divina Comédia, mas não teve condições para a reler atentamente e estudar profundamente para isso, como lamentou não ter incluído Shakespeare – The Tempest – mas, disse, para estudar Shakespeare precisa-se de anos de estudo…

Conhecia, como conhecemos muitos de nós, o seu mirabolante percurso de vida com todas as coisas que foi e que já fez. Conhecia alguns dos seus livros de ensaios, romances, antologias, estudo sobre Pessoa, o seu gosto pelo erotismo na literatura, etc. mas nunca o tinha ouvido ao vivo. Um espanto!

De facto, o meu conhecimento de Mega Ferreira remonta ao nosso tempo de Faculdade. Posso dizer, como aliás lhe disse ontem, que éramos companheiros de comboio. Apanhávamos o comboio das 7.04 para Lisboa para podermos estar na Faculdade, eu em Letras e ele em Direito, a tempo das aulas das nove. Eu apanhava o comboio em Sintra e sentava-me sempre no compartimento do fundo para poder ler e estudar sossegada e ele entrava no Algueirão e sentava-se na minha frente, sempre muito sério, muito contido – como éramos quase todos naquele tempo dos idos de 60 – e lia e estudava também. Nunca trocámos uma palavra, mas eu conhecia alguns segredos do seu coração… Foi também mais por isso que eu teimei em ir vê-lo ontem.

Mas o homem – como eu, aliás, com as devidas distâncias, naturalmente – nada tem a ver com o que era nesses tempos de juventude. Falou todo o tempo com uma jovialidade, um à vontade e um conhecimento das coisas da literatura que foi de uma pessoa sair de queixo caído! É uma daquelas pessoas que parece que leu os livros todos e conhece alguns de que quase ninguém ouviu falar – passe o exagero… e depois com uma facilidade comunicativa extraordinária da forma mais simples que é a grande qualidade dos grandes sabedores.

Das muitas coisas que disse e que gostei de ouvir, vou deixar aqui apenas algumas frases soltas: 

«Sou um humanista: gosto da Natureza descrita pelo poeta [e aqui, naturalmente, referiu Alberto Caeiro] pelo romancista, pelo pintor, pelo músico…»

«Desejo e prazer é a minha relação com a leitura

«A leitura literária é uma leitura de fôlego e não de corrida.»

«Não vale a pena obrigar os miúdos a ler – isso pode ter o efeito contrário. Se eles tiverem de gostar de ler, a seu tempo isso acontecerá. Ler, como muitas outras coisas na vida, é uma inclinação. Não vale a pena forçar

«Fiz o liceu no Pedro Nunes, um liceu de referência. Quando entrei, em 1959, havia em Portugal 14 mil alunos inscritos nos liceus. Em 40 anos conseguimos chegar aos 170 mil! Claro que o nível teve de baixar. Mas se me perguntarem se eu prefiro o tempo em que andei no liceu ou o actual, claro que prefiro o actual!»

E muitas, muitas outras coisas deliciosas que pode ser que transcreva para aqui noutra oportunidade….