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quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Que fácil é criminalizar os pobres!


As notícias nos nossos telejornais (de todos os canais televisivos) são repetidas à exaustão. São dadas de manhã, repetidas à hora do almoço com as mesmas entrevistas e os mesmos comentários ipsis verbis, depois são-nos servidas requentadas e com sorrisinhos marotos e piscadelas de olho à hora do jantar. E se formos aos canais de notícias, temos de “levar com elas” de hora a hora. Nomeadamente as que pretendem denegrir o atual governo.

Foram os fogos, depois as boas das golas contra fumos (e não contrafogos, como eles quiseram muito fazer crer), seguidamente vieram as greves dos motoristas de matérias perigosas com o inefável Pardal e com os avisos supra alarmistas de que o país ia parar, que íamos ficar trancados em casa ou no Algarve, sem combustível para fazer andar os carros e, para cúmulo, a morrer de fome, porque iam faltar os alimentos nos supermercados.

Agora temos o triste caso das meninas gémeas de 10 anos que viviam e condições sub-humanas numa garagem, sem sequer terem ainda ido à escola. Horrível!

 Mas mau de mais é também estarem sempre a mostrar o local onde aquela família habita como mau de mais é também estarem sempre a repetir aquela miséria e a “entrevistarem” aqueles pobres pais.

Por esta altura, se houver alguém que leia este meu texto, já deve estar com vontade de me “pegar fogo” por estar a tratar aquelas pessoas por “pobres pais” sem os apodar de criminosos. Mas passo a explicar-me: quantas pessoas vivem no nosso país abaixo ou mesmo no limiar da pobreza? Que condições de vida têm? Que instrução/educação têm para se organizarem? Que grau de cidadania os assiste para saberem e conseguirem fazer as coisas direitinhas? Mas isso não interessa nada! O chamado ministério público já vai criminaliza-los, impede-os de contactarem as pobres crianças e pronto – ficamos todos com as nossas conscienciazinhas burguesas acalmadas…

Então e as meninas não tinham sido já sinalizadas em 2013 pela CPCJ? E de novo dois ou três anos depois? E os pais (pobres de dinheiro, de espírito, de educação, de apoio de toda a ordem) vão à escola matricular as crianças e são impedidos de o fazer porque não tinham mais nada senão a cédula de nascimento? Então e quem está à frente das escolas não tem o dever e a obrigação de denunciar esses casos abstrusos à polícia e aos tribunais a fim de serem regularizados?

Então e para que servem as CPCJ?! Faço-me esta pergunta há anos desde que, por inerência de funções, me vi forçada a participar nas reuniões multidisciplinares de um desses organismos! Ah, não temos pessoal! Ah não temos competências! Ah… não têm vontade, força nem sentido de cidadania! – gritei a alguns dos elementos que me contactavam na direção da “minha escola” quando tinham de tratar (ou não…) casos de alunos nossos.

E não se criminaliza aquela CPCJ que ignorou ou nada fez pelas miúdas?! Não! Criminalizam-se os pais que são pobres de tudo, de dinheiro, de comida, de instrução, de conhecimento e é mais fácil!

Que nojo!




sábado, 9 de fevereiro de 2019

Ai estes nossos magistrados!


Que muitos dos juízes e dos magistrados da nossa praça têm um enorme défice de competência e de formação pessoal não é novidade para ninguém!

Têm dado provas disso às dezenas: no que toca aos políticos então têm sido de uma parcialidade discricionária assustadora e quanto ao binómio homem – mulher, isso então nem é bom pensar! Basta referirmos o hediondo caso do juiz Neto de Moura…

Muito por isso, vamos em início de fevereiro e já foram dez – DEZ – as mulheres assassinadas pelos companheiros ou ex-companheiros.

Este caso do homem do Seixal que assassinou a sogra e a filhita de dois anos é mais um e dos mais horrendos!

Mais doloroso é sabermos que a ex-companheira apresentara queixa na Polícia que, depois de ter feito a sua investigação, se pronunciou como sendo um caso muito grave e deu estatuto de vítima à mulher e à menina.  Só que,  quando o processo chega ao Ministério Público, não sei que magistrado, formado não sei em que escolas e em que família, considerou o caso pouco grave a acabou por arquivá-lo!

Os agressores que perpetram os crimes não deveriam sequer ser considerados pessoas já que carregam toda a espécie de falhas e frustrações psíquicas, comportamentais, sociais e sei lá que mais e, se se deixarem viver, são – ou deveriam ser – judicialmente punidos. Mas estes senhores magistrados não deveriam ser seriamente responsabilizados por, por inépcia ou desmazelo ou seja lá por que for, permitirem que estes crimes aconteçam?!

Vi hoje num telejornal que o MP, no ano de 2018, arquivou 21 mil queixas de violência doméstica!

Assim, bem podemos contar com muitos mais assassinatos de mulheres…




sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Isto da Black Friday...


Sabe bem quem já me vai conhecendo que não me incomodam nada nem beliscam a minha noção de identidade nacional as «importações» de hábitos culturais como atualmente acontecem nomeadamente aqueles que nos invadem vindos dos países anglo-saxónicos.

Foi o caso do Hallowe’en e do Dia de São Valentim de que tanto acusam os professores de Inglês (touchée…) Antes disso tinha-se «importado» o Pai Natal no seu vistoso fato vermelho da Coca-Cola montado no seu belíssimo trenó puxado por pares de renas do Polo Norte…

(Isto para não falarmos da constante «importação» de termos e expressões inglesas que vão enxameando a nossa belíssima lexicologia sem que os abespinhados defensores da ortografia anterior a 1990 disso façam o mínimo caso!)

Agora temos de aguentar a interminável torrente dos afamados (mas enfezados) descontos da Black Friday…

Faz parte das minhas rotinas ir ao shopping à sexta-feira de manhã para dar uma volta pelas lojas e fazer as compras da semana. Hoje calhou-me a tal da Black Friday. Os descontos andavam na casa dos 20% - sei que, até ao Natal, hão de aparecer descontos muito mais vantajosos, mas o shopping estava cheio e as pessoas parecia que andavam maluquinhas...




sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Sindicato? Que sindicato?

A jovem que me atendeu no balcão do pão foi a mesma que me atendeu na charcutaria. Tão mal-humorada! Não indelicada, mas de cara tão fechada (diria “com umas trombas!”, mas o respeito por ela não mo permite) um ar tão aborrecido! Entende-se – deve ser um daqueles trabalhos temporários que explodem para o ar no verão, especialmente no Algarve.

Sabemos como os jovens são explorados, violentamente explorados nos empregos e não apenas a nível da restauração ou dos supermercados, mas também os jovens engenheiros, os jovens escriturários, os jovens advogados, os jovens economistas, os jovens… Explorados de facto porque a procura é inferior à oferta, porque não há quem os defenda, mas especialmente os “nossos” empregadores são meros patrões(zecos), muito longe que estão, com raras exceções, de serem verdadeiros empresários.

Quando cheguei à caixa para pagar as compras, a joven(zinha) deitava lume pelos olhos e vociferava para a colega da caixa ao lado «adoro estas cenas! Quantas horas mais tens de dar? Das nove às sete não lhe chega…» etc. etc.

O cliente que estava atrás de mim entrou na conversa, que eram realmente muitas horas seguidas e “sempre a bombar”. Aí a joven(zinha) rebentou: «e não temos ordem de ir à casa de banho, nem de parar para beber água, só na casa de banho é que não temos câmaras de vigilância, o almoço é na cave no meio das mercadorias e a correr, não temos direito a receber horas extraordinárias,,, e interrompeu-se porque a senhora que estava a ser atendida já se tinha enganado no código do multibanco.

Quando começou a atender-me, eu apenas lhe disse: «Sindicato, minha querida, sindicato!» E ela, rápida: «Que sindicato?!»

De facto, que sindicato? Sindicatos, agora, só mesmo o das enfermeiras com aquela senhora bem escavacada que grita GREVE! GREVE! Enquanto aumenta o seu ordenadito lá no partido. Sindicatos só mesmo os dos médicos que vêm às televisões apregoar pelo SNS que, pela calada, ajudam a enterrar. Sindicatos só mesmo aquele, inefável, dos professores a gritar GREVE! GREVE! Vamos destituir o ministério como da outra vez…

E eu, tão tonta, de repente, a sentir-me no tempo em que ainda acreditava no Pai Natal e na Fenprof-pré-Mário. Eu a sentir-me orgulhosa por a minha mãe, anos 60, ser professora em colégios e ser sindicalizada… Tão parva! A falar à joven(zinha) em sindicatos…

De facto, agora, que sindicatos? Apenas os do setor público. Os do setor privado não podem, não têm força para regatearem nas televisões a queda de ministros, a queda de governos.

E os trabalhadores do privado, temporários, a recibos verdes, a prazo, se refilam e falam no sindicato, vão para a rua ou para onde os patrões(zinhos) os quiserem mandar…




quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Sinais dos tempos...

- Mãe, vou sair. Vou ao concerto do Justin Bieber.

- Diga, Matilde? Então, mas o concerto do menino não é só na sexta-feira?

- É, sim, mãe. Mas eu e a Benedita vamos acampar lá à porta estas duas noites.

- 'Tá parva? E o frio? E as aulas?

- A mãe sabe que o Justin é a minha vida e tenho de estar na fila da frente.

- Pronto, vá lá então, Tildinha.

- A mãe pode dar-me vinte euros para comer?

- 'Tá parva? Vinte euros? Vai andar a comer sandes de fiambre, não? Tome lá cinquenta.

- Obrigada. A mãe é a melhor.

- Avisou as professoras de que não ia às aulas?

- Sim. Avisei a diretora de turma.

- E ela?

- Disse que desde que a mãe e o pai continuassem a pagar o colégio, não queria saber.

- Pronto, ainda há professoras competentes. Então vá, depois peça ao seu pai para lhe pagar umas explicações.

- Não sai mais barato pagar pelas notas?

- Tem razão, que palermice. Que bom ver que a Matilde já sabe cuidar de si.






domingo, 25 de setembro de 2016

Leiria Sobre Rodas

Começou aqui há uns anos a com a adesão de Leiria ao movimento das Cidades Europeias sem Carros. O dia 22 de Setembro. Uma completa ironia porque os leirienses abominam andar a pé - a não ser agora com a moda das caminhadas - e, muito mais abominam utilizar os transportes públicos que, diga-se de passagem, nunca prestaram para nada aqui - exatamente por isso!

Quando Leiria aderiu a esse movimento europeu, a "minha" escola entrou de imediato ao desafio - aliás como sempre nesse tempo entrávamos em todos os projetos inovadores - e pusemos algumas turmas na rua com os professores a desenvolver atividades e a fazer visitas a pé.

Com o passar dos anos e dada a inércia desta gente, a moda da Cidade sem Carros esmoreceu e acabou por cair. Agora celebra-se mais a Semana Europeia da Mobilidade que faz um apelo muito mais gritante à vaidade dos leirienses.

Foi nesse âmbito que a edilidade entendeu realizar uma enorme exposição de automóveis, motas e bicicletas. Foi este fim de semana no Estádio (sempre há que lhe dar utilidade e movimento...)

Claro que estavam lá representadas todas as marcas de renome que fizeram questão de apresentar as suas máquinas últimos modelos. Mas não foram esses que me interessaram.
Gostei mais de ver os mais antigos, os mais emblemáticos.

Deixo-vos aqui uma pequenina amostra das centenas de veículos apresentados.










































(As emblemáticas Joaninhas... Imaginam o que era ir de Sintra a Minde nos anos 50
numa Joaninha?! Pois... Nem queiram saber...)










(O Anglia Fascination - o carro dos meus sonhos nos idos de 60...)


(Igual ao nosso primeiro carro, em inícios de 70)


(Igual ao nosso segundo carro mas em azul escuro, em meados de 70. Era LINDO!!)

E destas duas, qual escolhiam?...





terça-feira, 3 de maio de 2016

O chico espertismo à portuguesa

É das características desta nossa maneira de ser que mais me aborrece: o chico espertismo.

Havia pouca gente na fila única para as caixas do supermercado. A máquina chamou e as senhoras à minha frente dirigiram-se para as caixas anunciadas. Era a minha vez e esperava a indicação do número da caixa para pagar; atrás de mim apenas um jovem. Nisto chega uma senhora dona a bambolear um saquinho com uma única maçã, passa à nossa frente sem que tivessem indicado qualquer número de caixa e segue, nas calmas, pelo corredor das caixas escolhendo a que a despachasse mais depressa.

Por azar ou por sorte, a máquina indicou para mim o número da caixa na qual a senhora dona esperava ser atendida. O operador da caixa demorou-se ainda um pouco mais com a cliente que estava a despachar dando-me tempo para chegar junto da tal senhora dona. Em voz baixa e em tom sereno, disse-lhe: «Muito bonito o que a senhora fez. Gostei muito. Foi realmente um gesto muito decente…» A senhora dona fixou em mim os seus pequeninos olhos azuis com ar entre o irónico e o vitorioso e entregou ao operador da caixa o saquinho com a maçã para pagar.

Insuportáveis estes “nossos” traços de falta de educação, não vos parece?



quarta-feira, 14 de outubro de 2015

É assim que nós somos!

(Página de Diário, Quarta-feira, 28 de Julho de 1999)

«Não se lhe lê na cara nem no modo, bem ao contrário, mas o senhor Vargas é homem de meios. Com sussurros de admiração há quem diga que deve ser a pessoas mais rica da vila, talvez, mesmo do concelho.

Contava ele tempos atrás que começou a trabalhar aos doze anos como marçano e nunca mais parou. Sem festas nem divertimentos. Mesmo agora, a chegar aos setenta, não quer jornal nem televisão, nada o distrai tanto como depois da ceia conferir contas e recibos.

A sua fortuna começou com as camas de ferro. Os concorrentes não compreendiam que o seu preço fosse tão baixo, até que, tarde e más horas, descobriram que ele mandara a fábrica diminuir dez centímetros a todas as dimensões.

- Vendi milhares. Assim à vista ninguém dava conta da diferença, e aí estava o ganho.




Encontrei-o esta manhã, quando saía da esquadra da polícia, sombrio. Um rapazote seu empregado não resistiu à tentação e ontem roubou-lhe o Volvo, novinho em folha. Às tantas, talvez com o vinho, esbarrou-se com ele por uma ribanceira abaixo.

- O filho da puta nem um arranhão sofreu, mas o carro ficou sem conserto, vai para a sucata. E sabe o que lhe digo? A culpa nem é dele, deles, esses madraços que anda por aí à boa vida. A culpa é do governo! Hoje recebe-se sem trabalhar! Doem-te as costas, amiguinho? Aqui tens o subsídio. E assim é que o país vai por água abaixo!

Dou-lhe razão, mas em vez de o acalmar a minha concordância excita-o:

- Sabe o que era preciso? Era fazer como lá nas Arábias, e perdiam o vício! Roubaste? Mãozinha cortada!

Parado na borda do passeio, o senhor Vargas levanta o braço direito acima da cabeça, espalma a mão e, como se fosse um cutelo, «decepa» a outra pelo pulso.

Abano a cabeça que sim, e inesperadamente a cena tem um final burlesco. O senhor Lopes sai da loja de ferragens, caminha para o nosso lado, e ao ver o amigo com a mão sobre o pulso, pergunta contristado:

- Então, Vargas, esse reumatismo não passa?»


(In “Pó, Cinza e Recordações”, José Rentes de Carvalho, Quetzal, 2015)


domingo, 20 de julho de 2014

Comportamentos

Como é hábito dizer-se e apesar de fugir dos lugares comuns, “a tradição já não é o que era”. Apesar de ser míope de nascença, quase associal e de a minha acuidade auditiva estar a desgastar-se, não consigo deixar de dar conta dos comportamentos de alguns “companheiros de férias” especialmente enquanto se movem (ou não) dentro de água.

Não vou aqui deter-me a falar do que significava ir à piscina nos idos de 50 ou de 60 porque muitos dos meus simpáticos leitores, bem mais novos do que eu, poderiam pensar que eu estava a inventar. De facto, nesse tempo, grande parte para não dizer todos os divertimentos ou cuidados da saúde física e mental eram vistos como um luxo a que apenas a «casta superior» tinha acesso e não é preciso dizer mais nada.

Não há necessidade porém de remontar a meados do século passado para pensarmos em belos mergulhos, boas braçadas e até em alguns jogos e brincadeiras quando de uma ida à piscina se tratava. Claro que as piscinas, como tantas e tantas outras instalações ou serviços que ainda há pouco tempo eram um certo privilégio, agora – felizmente – se vulgarizaram, mas daí a serem usados como espaço de café…

Há dias, enquanto desfrutava da temperatura amena e calma da água e me refastelava boiando e nadando devagarinho, fui reparando:

  • Um grupo de “trintinhas”, do género metrossexuais, com mais um “cinquentão” a armar em “trintinha” discutiam vigorosamente a forma como faziam a barba «de baixo para cima»; «ai, eu não: é de cima para baixo e só no pescoço é que…»; «mas eu descobri uma máquina da marca Bic (ou não sei qual) que é muito suave»; «e eu comprei uma Wilkinson de que não gostei nada!» E assim estiveram e se mantiveram…
  • Outro grupo de “quarentinhas mais do que “trintinhas” do tipo «eu é que sei disto» debatia afanosamente os preços maravilhosamente baixos que tinham conseguido para comprarem os electrodomésticos com que tinham renovado as suas casas.
  • Uma jovem mamã, meio metida dentro de água, falava alegremente ao telemóvel (quando será que nascemos já com um telemóvel implantado para podermos estar sempre ligados?) enquanto uma adolescente já com idade de universitária se sentava em pose, barriga encolhidinha, à beira da piscina, pernas dentro de água, enquanto fazia uma “selfie” certamente para pôr no facebook, sei lá!
  • Por último, se bem que não em último, uma mãe de família que não se sentia muito à vontade fora de pé e para cima de quem o filho mais novo se atirou em força, berrou desajeitadamente, assustando o filho transgressor e a filha mais velha, o que atraiu o pai de família para dentro de água admoestando filho e mãe com a voz mais metálica que se possa imaginar que, atendendo à sua figura menos que mediana, não consegui entender onde ia buscar um tal nível de decibéis …

Comportamentos modernos, parece… Mas fazer de uma piscina destas espaço de café não dá...



sábado, 8 de junho de 2013

Histórias da minha rua



Esquecida – ou de todo néscia – de que as pessoas que contratamos para nos limparem a casa não são nossos inferiores, mas tão-somente outras pessoas a quem pagamos para fazerem nas nossas casas aquelas coisas que não temos tempo ou não gostamos de fazer, a enfermeirinha quarentinha, cheia de si e do cursinho que teve oportunidade de fazer porque os pais puderam pagar-lho, altaneira, disse para a senhora que ia lá a casa fazer-lhe as limpezas:

- Hoje quero que me limpe o quarto até ao último parafuso!

Ao fim da tarde queixou-se amargamente quando ao chegar a casa deu com a mobília do quarto toda desarmada, colchão ao alto, gavetas no chão, e um recado escrito que dizia: «Limpei tudo até ao último parafuso, mas depois não me deu tempo para montar tudo de novo. Passe bem!»

Imaginam a birra da enfermeirinha?! 


quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A crónica da semana


A crónica da semana:

Empobrecemos e embrutecemos
 
Esta semana, em Portugal, uma tempestade deixou sem eletricidade um milhão de casas. Dez dias depois, ainda havia aldeias à espera que a luz voltasse a brilhar nas lâmpadas. Porquê?

Esta semana, em Portugal, um choque entre dois comboios na Linha do Norte, a mais frequentada e a mais vigiada do País, contabilizou duas dezenas de feridos. O milagre das vidas incrivelmente poupadas, por entre os escombros das composições saídas dos carris, esconde a inquietação de um travão de emergência que não funcionou. Porquê?

Esta semana, em Portugal, uma associação de juízes e o Conselho Superior de Magistratura, a nata das natas na Justiça, vieram, sem pudor, em defesa pública da sentença de um colega que mandou retirar filhos a uma mãe. Sob a decisão pende ainda um recurso, em apreciação no Tribunal Constitucional. Houve, portanto, mais um ato de pressão sobre os senhores que trabalham no Palácio Raton. Porquê?

Esta semana, uma viatura da PSP que transportava, rápida, três detidos algemados atropelou um homem, por acaso pai do cantor Paulo Gonzo. O carro policial ia acelerado, sirene aos berros. Porquê?

Esta semana, em Portugal, um autocarro despistou-se na Sertã. Morreram 11 pessoas. Só havia alguns cintos de segurança. Porquê? As obras eternizadas no IC8 e os estragos do piso estão apontados como suspeitos para causas do acidente. Repito: porquê? 

Esta semana, um nevão pouco mais do que envergonhado deixou 30 mil crianças sem aulas no Norte de Portugal? Porquê?

E uma cidadã portuguesa, colocada entre a vida e a morte num hospital do Dubai, quis regressar a casa. O passaporte foi-lhe confiscado como meio de garantia de devolução de nove mil euros que o Estado adiantou em despesas de saúde e transporte. Porquê?

Olho para as notícias deste Portugal do século XXI e vejo um país de um século passado. Vejo um país onde a desgraça, a má sorte, a fatalidade, o destino, a pesporrência e o corporativismo modelam o empobrecimento geral.

É a pobreza que tira meios para defesa contra catástrofes naturais; é a pobreza que sacrifica manutenções básicas de máquinas essenciais; é a pobreza que leva a grandeza de espírito e o sentido de Estado a quem representa esse mesmo Estado; é a pobreza que cria ataques de frenesim autoritário; é a patética pobreza que poupa em cintos de segurança ou cancela obras a meio; é a pobreza que cria a mesquinhez e a avareza.

O País está a empobrecer, sim. Mas, mais do que isso, o País está a embrutecer. Porquê? Porquê!?

(Pedro Tadeu

DN 29/Jan/2013)