domingo, 30 de setembro de 2012

O empertigadinho

Eu não queria vir aqui “bater mais no ceguinho”, mas não me contenho! Especialmente porque já tudo foi dito e escrito nas redes sociais, nos telejornais, pelos comentadores das várias televisões sobre o caso.


Aquele empertigado, arrogante, impertinente (e todos os restantes adjetivos com que o apodaram, até bêbado) do senhor António Borges, o vendilhão do templo, o coveiro do país, que no tempo em que a senhora Ferreira Leite foi dirigente do PSD muitos apontavam como um excelente candidato para se lhe seguir – credo! como somos facilmente influenciados e enganados! – mandou mais uma das suas intrépidas bacoradas

Depois de ter dito que os portugueses ganhavam muito e que os salários tinham de ser reduzidos, depois de ter mandado o palpite de que a RTP1 deveria  ser vendida e a 2 deveria fechar, vem agora no seu tom gelado de robot e com o seu ar de morto-vivo dizer aos empresários portugueses que eles são uns verdadeiros “ignorantes” e “que não passavam no 1º ano da sua faculdade”. O presidente da associação dos empresários respondeu-lhe à letra afirmando e muito bem que o senhor também não reunia as competências necessárias para ser contratado por muitos dos empresários. 

Claro que descabido patrão do supermercado doce – e de certo modo também o papagaio falante do comentador dos domingos ao serão na TVI – já veio defender o senhor Borges e pôr-se do seu lado dizendo que ele foi apenas “infeliz” na sua forma de se exprimir porque quando pensamos nem sempre as palavras nos saem da melhor forma – decerto não passaria no 1º ano na minha faculdade por falta de facilidade de expressão! (digo eu) – e que o presidente da CIP não devia ter falado como falou porque se trata de um homem com um currículo daqueles que até já foi reitor da faculdade! (Que parolos somos!)

Mas a propósito desta nova polémica duas observações me vieram à mente: primeiro, alguém deveria perguntar ao senhor Borges se Passos Coelho teria hipótese de passar no 1º ano lá da faculdade dele, já para não falar no doutor ministro Relvas! Segundo, não sei porquê, mas ao ver a sua imagem cadavérica, branca e inexpressiva e a sua forma atónica de se movimentar, veio-me à ideia a canção “A Morte saiu à rua” de José Afonso.





sábado, 29 de setembro de 2012

Preparando a Manif

E, aos poucos, Lisboa preparou-se para a segunda concentração popular que reclama contra as (des)medidas deste governo que, apesar de democraticamente eleito, governa contra o povo que ignora completamente na invenção cega e fria dos seus jogos de economia puramente académicos.
























E acabou por ser assim

 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O 28 de Setembro



Tinham passado apenas uns breves meses desde a Revolução e as coisas já não estavam a correr bem para o Presidente da República, o General Spínola, conservador de mais para os militares do MFA.

 Aí a população civil e militar que ainda ansiava pelo regresso ao “24 de Abril” viu uma oportunidade de começar a fazer com que tudo andasse para trás e organizou – mesmo sem ainda haver redes sociais – uma manifestação silenciosa que deveria ter lugar no dia 28 de Setembro, sábado, em Lisboa. Foram distribuídos e afixados cartazes por toda a cidade e pelo resto do país que prontamente iam sendo retirados e destruídos pelos militares e pelos civis da chamada esquerda. A manifestação acabou por não se realizar porque o governo (de Vasco Gonçalves) e o MFA não autorizaram tendo sido montada pelo COPCON uma operação de vigilância apertada por toda a cidade com o objetivo de prenderem os organizadores da dita manifestação. Entrar e sair de Lisboa, bem como circular pela cidade era extremamente difícil porque havia forças militares e policiais por todo o lado.


Por essa altura já nós andávamos a tratar da nossa mudança para Leiria onde até já tínhamos casa alugada, mobilada e prontinha apenas à espera da minha colocação numa escola de cá. Porém, essa mudança estava a ser tão penosa para mim que todos os fins-de-semana íamos a casa da minha mãe em Sintra onde ficara ainda parte da nossa mobília de casamento, ritual que se prolongou por alguns anos… 


Ora uma dessas idas e vindas lá calhou naquele sábado 28 de Setembro, dia da manifestação de cuja importância e perigosidade quase nem tínhamos dado conta. A entrada em Lisboa foi demorada e, já não me lembro porquê, fomos pela Marginal para depois no Estoril cortarmos para Sintra. Demoras e mais demoras no trajeto e aí o meu jovem marido, do alto daquela inconsciência própria dos seus/nossos vinte e tal anos, fartinho que estava de cortes nas estradas, resolveu, da forma mais irrefletida, fazer uma louca inversão de marcha por cima dos dois traços contínuos da Marginal para experimentar outro caminho mais rápido.

Ato contínuo tínhamos dois carros de polícia atrás de nós com as sirenes a apitar. Foi um susto daqueles! Parámos o carro de imediato e lembro-me ainda hoje do que o polícia de cara muito fechada disse: «O senhor sabe o que fez?» Levámos uma reprimenda de todo o tamanho mesmo perante todas as justificações que o meu marido foi dando. E depois disso tivemos o carro todo revistado. Estou a ver o saco de viagem que trazíamos lá atrás com a nossa roupa e as nossas coisas de higiene e estou a ver o polícia a abrir-lhe o fecho, a meter a manápula lá dentro e a remexer tudo e sacar lá do fundo uma caixa que lhe deve ter trazido alguma desconfiança. Tirou-a cá para fora um pouco impante e… deu-se com uma caixa de tampax. Em segundos voltou e metê-la no saco e depois de nos dar mais uns “puxões de orelhas”, lá nos deixou seguir em paz…
 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O ministério do desnorte

Lembram-se do ministro que queria fazer implodir o ministério da Educação? Pois era! Ainda não lhe passava pela cabeça que daí a meses iria ser o responsável por aquele ministério, o extraordinário professor Nuno (C)rato afirmou que O Ministério da Educação deveria quase que ser implodido, devia desaparecer, devia-se criar uma coisa muito mais simples, que não tivesse a Educação como pertença mas tivesse a Educação como missão, uma missão reguladora muito genérica e que sobretudo promovesse a avaliação do que se está a passar”. (entrevista à Agência Ecclesia, em Fevereiro de 2011)




 
Pois passado ano e meio da sua tomada de posse e a dita implosão ainda não se deu no ministério, estando a dar-se aos poucos (paradoxo! uma implosão não se dá aos poucos; dura alguns minutos) nas escolas já para não falar na cabeça de grande parte dos professores.

No tempo em que o ministério era “uma coisa complicada e uma pesada máquina burocrática e tinha a Educação como pertença” – como disse o senhor professor naquela entrevista acima referida, as escolas tinham os professores das necessidades transitórias colocados em três ou quatro dias e, quando havia que fazer uma contratação de escola para docentes ou técnicos, os procedimentos e os critérios (mensuráveis e outros) eram definidos a nível nacional para que, de algum modo, ficasse salvaguardada a equidade (onde é que eu ouvi esta palavra ultimamente?!...) a igualdade de tratamento nas contratações. E, nestes casos, se os Conselhos Executivos fossem atentos e dinâmicos, os técnicos e/ou professores a contratar estariam em funções no espaço máximo de uma semana após o encerramento do concurso de escola.

Atualmente que o ministério da Educação já não é “uma coisa complicada e uma pesada máquina burocrática e já tem a Educação como missão reguladora genérica” – signifique isto o que significar… será que o senhor ministro também foi vítima do “eduquês”? – e em nome de uma  “autonomia de escola” que não está definida em sítio nenhum, cada agrupamento de escolas decide sobre os critérios que muito bem entende e  tem de fazer uma entrevista a cada candidato que tem o peso de 30% no processo de recrutamento do candidato. 

Como é fácil de ver, esta invenção da entrevista dá para tudo! Para manter o candidato do(s) ano(s) anterior(es) ou mandá-lo fora conforme ele/ela foi ou não foi do agrado. Para contratar o filho daquele amigo que meteu um empenho do tamanho do castelo. Para tudo! E se há aqueles diretores escrupulosos, sabedores e honestos que fazem tudo dentro da legalidade e da transparência tendo em conta todos os pontos do Código de Procedimento Administrativo porque o conhecem bem e o seguem de perto, também há aqueles que dão conhecimento das entrevistas aos candidatos convocando-os por mail das 10 da manhã para as duas e meia da tarde excluindo-os se eles não aparecem mesmo alegando desconhecimento ou falta de tempo para chegarem à escola; há aqueles que realizam as entrevistas sem qualquer organização, sem qualquer guião, por vezes num tête-à-tête que não dura mais de cinco minutos; há os que contam metade da pontuação de um determinado critério se o candidato não tiver aquele curso ou aquele grau académico completo (tipo Relvas…); há os que exigem que os candidato tenham a residência no local do agrupamento, etc. etc.

 Um regabofe por esse país fora! E os candidatos – coitados – acossados de toda a forma não se propõem a denunciar estas situações porque, primeiro precisam do emprego; depois não têm a quem se queixar porque as DRE, que também vão ser implodidas, não funcionam; queixar-se ao ministério nem pensar porque nem os atendem nem lhes respondem; e recorrer aos tribunais, enfim … 

Não se trata da implosão da escola nem do ministério. É a implosão do país aquilo a que estamos a assistir!