Pertenço àquela minoria que não
liga muito, para não dizer nada, aos Jogos Olímpicos. Como não ligo a outras competições sejam
mundiais, europeias ou nacionais. Sou assim, que se há-de fazer? Nunca gostei
de jogos, nem de desporto, suponho que porque não entendo nem aceito a
competição.
Esta minha estranha forma de ser no
que toca a estas coisas do desporto e dos jogos torna-se ainda mais
estapafúrdia se disser que o meu núcleo familiar – marido e filhas – bem como
toda a minha família próxima – mas nunca o meu pai – foi sempre e desde sempre praticante
e defensora das mais variadas atividades desportivas, que eu não nego,
naturalmente!
Para mim, programas intermináveis
à procura de um “eleito”, seja individual, seja por equipas são sempre uma enorme
“seca”. Que é o caso dos mundiais ou europeus de futebol – bah! – ou seja de
que modalidade for! E isto inclui campeonatos de dança, de música, já para não
falar dos impossíveis programas tipo ídolos – portugueses ou não!
Por isso também nunca me
entusiasmei demasiado com os emblemáticos, mediáticos e porque não dizer mesmo
ostensivos, excessivos, exibicionistas espetáculos de abertura dos Jogos
Olímpicos. Lembro-me vagamente da sessão de abertura dos jogos de Moscovo em
1980 que pôs o público nas bancadas a representar o ursinho Misha a deitar uma
lágrima, o que à época foi uma coisa maravilhosa e da dos Jogos de Los Angeles
em 1984 por ter tido como pano de fundo a história da maravilhosa música
americana anos 30/40/50 que eu adoro (e o feito quase épico do nosso Carlos
Lopes) e pouco mais.

Os últimos, que se realizaram em
Pequim, em nada me atraíram, aliás como outros realizados em países orientais –
que me desculpe o amigo Cambeta – com toda aquela perfeição conseguida sabe-se
lá a que custo! As atuais culturas orientais, atuais, repito, parece quererem
provar ao ocidente a sua superioridade e tentam fazê-lo e fazem-no a todo o
custo pretendendo atingir a perfeição, pretendendo encantar-nos com o
espetáculo dessa perfeição que eles inventaram.
Daí ter, de facto, gostado da
sessão de abertura a que assistimos ontem. Sou suspeita, muito suspeita mesmo, dado
o gosto que mantenho desde sempre pela cultura inglesa, pela sua história, pela
sua poesia, pela sua música, mas especialmente pela sua força, traço visceral
de um povo. São arrogantes? São, sim senhor! São “conceited”? São, sim senhor! Pensam-se acima e diferentes de todos
os outros? Pensam-se, sim senhor! Mas são capazes de se superar de houver
necessidade disso. Só pela força do trabalho, do muito trabalho conseguiram largar
os campos e vir para as cidades fazendo uma revolução industrial como nenhum
outro país antes fizera, não deixando de lado a revolução agrícola, a revolução
social, a revolução cultural. E foi essa força que eles tiram sempre dos seus
músculos e dos seus cérebros, sempre suportada pelos seus mitos e pelos seus
heróis que nunca abandonam que vimos ontem na sessão de abertura destes 30ºs
Jogos da era moderna. A força com que batiam nos tambores foi a força com que
no século XIX bateram o ferro e o transformaram em aço pelo fogo – sinais
sempre presentes no espetáculo; mas uma força temperada pelo toque de classe e
o bom gosto do seu humor, da sua literatura, da sua música, da sua história –
que veneram.
O ponto forte do espetáculo –
para mim, claro! – foi mesmo a breve, mas excelente e humorada representação da
Rainha, finíssima e austera como sempre, acompanhada pelo seu grande protetor
Mr Bond, o eterno agente britânico ao serviço de Sua Majestade e com licença
para matar. E a seriedade e a finura esse quadro com que foi feito.
Inglaterra no seu melhor!
(Poderão, se assim o entenderem, ter
uma outra perspetiva da sessão de abertura dos Jogos de Londres, quiçá bem mais estapafúrdia,
aqui.)