A Majo é que disse que faltava um sambinha. E ela tem razão: não há Carnaval sem samba. Mas como escolher se há tantos e tão bonitos?! Vou começar pela belíssima Aquarela do Brasil, de 39, do compositor Ary Barroso, de que há sei lá quantas versões, mas de que escolhi esta mais antiga.
E o Samba da Minha Terra que deixa a gente louca?
Oiçam só!
E a loucura do Tico-Tico de Fubá? Escolhi a excelente versão de Paco de Lucia, em homenagem.
E o Samba de uma nota só já vestido de bossa nova?
E o Desafinado? E a Banda? E o Samba do Avião? E o Samba de Janeiro? E a camisa Amarela? E tantos tantos tão belos, tão melodiosos, tão ritmados?
Mas quem pode ignorar a encantadora Manhã de Carnaval na voz doce do malogrado Agostinho dos Santos?
Ao longo dos anos o Carnaval aparece-me sempre envolto numa nuvem de nostalgia. É que, ao contrário do que é o padrão das pessoas em meu redor, especialmente as mulheres, eu sempre gostei do Carnaval. Mesmo no tempo da minha solitária infância quando pelo Carnaval a minha avó me levava à matinée ao cinema Restelo e a criançada atirava serpentinas pelo ar e esfregava montes de papelinhos nas bocas uns dos outros e atirava saquinhos cheios de serradura às cabeças uns dos outros, mesmo assim eu gostava do Carnaval. Depois foi a moderada loucura dos bailes
de Carnaval da adolescência, da juventude, do princípio da idade adulta. Depois
a vida abafa-nos com responsabilidades, com trabalho e contrariedades e o tempo
vai-se esvaindo, os hábitos vão-se anquilosando, a gente vai fingindo que se
esquece, que se adapta, mas continuo a recordar e a acalentar os meus gostos
antigos pelas festas de Carnaval.
E é essa nostalgia que eu sinto
neste belíssimo samba-canção cantado pelo meu mais que preferido Agostinho dos Santos.
Esta canção faz parte da banda
sonora do filme Orfeu Negro de 1959. Se tiverem curiosidade em dar uma
espreitadela ao filme poderão fazê-lo aqui. A apresentação do filme traz outro
belíssimo samba-canção de Jobim e Vinicius – Felicidade – que diz:
«A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do Carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
e tudo se acabar na quarta-feira.»