Tenho o prazer de, uma vez mais, anunciar aqui a exposição de quadros Regeneração que será inaugurada no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, no próximo dia 17, às 18.00 horas.
A propósito desta exposição a comentadora Lurdes Féria escreveu o seguinte:
"Nesta maré de guerras, de terrorismos, da espiral de violência a que estamos a assistir, Clotilde Fava sentiu a necessidade de pintar flores. Talvez na intenção de exorcizar a vertigem programada dos tempos. Hibiscos, orquídeas, antúrios, jarros e outras espécies não identificáveis surgem na superfície plástica numa explosão de cor.
Flores a que os livros de botânica atribuem nomes esquisitos, difíceis de pronunciar.
Mas, para mim, estas flores são uma metáfora do corpo, contido nos seus limites e desejos, desafiando a íntima substância do sexo que gera vida. A eterna fusão do masculino e do feminino, o yin e o yang em que assentam os fundamentos da dinâmica criativa da natureza. Para contrapor à noite escura, para sinalizar que a esperança nunca morre. Procurar a claridade é insistir no gesto artístico como pertença a um património humano que se partilha. É insurgir-se contra o alastrar das trevas.
Por vezes as simbologias e as mensagens são traiçoeiras, nem sempre traduzem o que se queria dizer. Um hibisco nos cabelos negros das mulheres havaianas é uma imagem turística que remete para praias fantásticas, promessas de felicidade, conjecturas de amor. A orquídea selvagem, associada a uma ideia da mais pura sofisticação, tem uma vida breve tal como a flor de um vermelho intenso que um jornalista de prosa lírica disse ter colhido num campo da Ramala, entre destroços. Era exemplar único e chamava-se, na terminologia científica, Adónis aestivalis. Mas nem todas as flores são inofensivas. Convém não esquecer as flores devoradoramente carnívoras. Há também flores venenosas, cruelmente vazias e simultaneamente sedutoras, emanando um perfume inebriante e que se assumem como as flores do mal.
Os jardineiros do amor, que sabem escutar a rodopiante sinfonia do universo, não se importam de esperar meses, anos ou séculos, para ver desabrochar a beleza de uma flor que se extingue em poucos dias. Aguardam, com paciência, o ouro alquímico que existe no coração da terra. O fenómeno da regeneração que ninguém pode impedir.
Nesta ambivalência, entre motivações e perplexidades, vivem as telas de Clotilde Fava que, depois de um percurso figurativo com claras ressonâncias do real, enveredou por um caminho mais abstractizante. O seu discurso vem carregado de uma certa melancolia. Mas é no sexo sugerido que o olhar incide e se prende."
As suas cores fortes atraem, depois prendem, impossível ficar-se indiferente.
ResponderEliminarGostei da expressão metafórica "rodopiante sinfonia do universo" para justificar a expectativa que se sente ante os prenúncios do desabrochar duma flor, quantas vezes todos os anos a mesma, no mesmo local. E o tempo passa. E nós mantemo-nos atentos ao seu ritmo cósmico. E sentimos que fazemos parte desse mesmo "Tudo e Nada".
ResponderEliminarBem gostaria de ver essa exposição. Há várias por esse país fora. Mas esta acabou de me ser apresentada. Só tenho de a ver com os meus próprios olhos.
Um abraço, Graça
António
Foi uma das coisas boas que Santana Lopes fez na Figueira - O Centro de Artes e Espectáculos.
ResponderEliminarA exposição da Clotilde vai ser muito visitada e com todo o mérito!
Abraço
É darem um saltinho até à Figueira para verem a exposição e apanhar um Sol numa daquelas esplanadas viradas para o mar.
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