terça-feira, 20 de julho de 2010

Da degradação humana


Entristece-me a degradação humana. Mais do que entristecer-me, põe-me um peso sobre o coração, um nó na garganta, uma coisa que não sei definir.

Um dia destes na fila (palavra socialmente correcta para a palavra ‘bicha’ que utilizo sempre sem qualquer problema) para a caixa do supermercado, estava um homem desalinhado, visivelmente curtido pelo sol e pelas bebedeiras com uma lata de cerveja na mão, desafiando todos com os seus brados mais ou mais abafados: “Vou pagá-la! Não é roubada!” e frases do género.

Como demorava a chegar a sua vez de ser atendido, largou a correr e saiu porta fora com a lata de cerveja na mão. Acto contínuo, de uma porta dos interiores do supermercado saiu um homem alto, no auge da idade adulta, que correndo atrás do vagabundo, lhe sacou a lata da mão.

É horrível dizer, mas senti uma pena do pobre homem! Senti como perante cães abandonados. E desprezo por mim, pelo vigilante do supermercado, pela rapariga da caixa, pelos clientes, por todos nós, enfim!

Que fazemos nós  por estas pessoas “caídas”? E não me venham com os moralismos que nos servem de muralhas de defesa – "Ah! Não querem trabalhar! Ah! Não têm juízo! Ah! Não aproveitaram isto e aquilo!" etc. etc.

O que leva algumas (muitas) pessoas ao mais alto grau de degradação? Quem está por detrás daquelas pessoas que parecem já nem ter sentimentos? O que lhes terá acontecido? E é isso tudo que me entristece e me põe de coração devastado.

É que são aquelas pessoas. Mas podia ser eu. Ou alguém muito próximo de mim.

3 comentários:

  1. Já me senti também assim impotente, triste, com vontade de ajudar, revoltado, questionando: -Que país é este?
    -Porque é que estas pessoas não estão onde devem estar?
    Com cuidados de saúde, não andarem por aí ao abandono, sem saber o que estão a fazer, molestando-se a eles outras vezes terceiros.
    No tempo do "botas" se estes indivíduos fossem caçados iam para o Júlio de Matos, ou para a Mitra, dependia do grau de demência, porque vadiar, não era permitido. Agora os sem abrigo nascem como cogumelos, porque pode ser um atentado à liberdade, cada um tem direito a viver como quiser. Então deixa-se chegar as pessoas até ao limite da degradação. Se houvesse uma casa ou casas para recolher essa gente, recupera-la para a sociedade, dar-lhes de comer, roupa, banho, um tecto e sobretudo uma ocupação, outro galo cantaria. Não estou a fazer a apologia nem do "botas" nem das instituições da época que eram degradantes, mas algo adequado aos nossos dias, que funcionasse. Mas qual quê eles querem lá coisas que dêem despesa, os presos vão para casa, o apoio social é para cortar o mais possível, os bandidos apanhados em flagrante, como ontem aí no Algarve, vão para casa com termo de identidade e residência. Resumindo,poucos querem saber dos problemas dos outros, poucos fazem algo pelo próximo, mas ainda há quem o faça felizmente.

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  2. É um desconcerto! A nossa justiça é de bradar aos céus!

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  3. Deixas-me brincar para desanuviar?
    Não podias ser tu porque não gostas de cerveja!:))
    Claro que subscrevo o que dizes...

    Abraço

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