quarta-feira, 14 de março de 2012

«O Prefácio»


Não resisti - desculpem-me! - mas a crónica de Baptista-Bastos de hoje no DN está tão, mas tão espantosamente profunda e completa  que não consigo deixar de a transcrever para aqui. (Com a vaga de "censura" que se tem feito sentir por aí - desde a mudança de direção do jornal i até à demissão "forçada" do secretário de estado da Energia - e da forma amplamente crítica com que o BB escreve, até receio que venha a ser inibido de escrever estas crónicas às 4ªs feiras.) Mas vamos aproveitar enquanto há!

O Prefácio

 «Anda por aí um desassossego de frases agrestes que envolvem um autor e o prefácio a um livro de discursos. O autor é o inexcedível dr. Cavaco. O prefácio é um texto levemente tonto e claramente escrito com a fatal tendência para a quezília e o conflito gramatical. Nada de importante. Impelido pela minha malvada curiosidade, decidi-me a ler o texto, sabendo, de antemão, que tamanho exercício mental ser-me-ia extremamente fatigante. 

Espanto dos espantos!, ao contrário do que se diz, o teor não passa de modesta redacção, das que as professoras primárias nos exigiam na antiga terceira classe. Não se vislumbra nenhum ajuste de contas, apenas a expressão mal cerzida da birra de um homem amuado porque um outro o desprezou quando o não devia desprezar. A tal "deslealdade institucional" pode ser criticável, com base numa certa alínea da Constituição, a que o autor se apoia, mas é caso de pouca monta, tendo em aviso o que ele faz a outros, com displicente sobranceria. E as coisas não foram bem assim, a crer nas contraversões seguintes.

Sócrates, que tem sido o bombo da festa, com pancadaria de criar bicho nos lombos e na alma, serve de pretexto, neste parolar copiosamente vesgo, para o autor nos fornecer o estofo do homem e o estilo do estadista. Atordoado com a quantidade e o teor das críticas que recebeu, decidiu remeter os inadvertidos para o "sítio" que alimenta na rede. Disse, grave e soturno: ali está o que, na verdade, escrevi. E alertou para eventuais manipulações de conteúdo, praticadas, como doloso objectivo, pela imprensa.

Precipitei-me, arquejante, para o "sítio", na ânsia de descortinar o que os jornais haviam omitido. Nada de novo, nem de diferente. A mesma peripécia atabalhoada: umas tacadas num homem tombado e cheio de nódoas negras. O pouco edificante relambório não possui uma ideia, não defende uma tese, não pleiteia uma doutrina - e, pior do que tudo, não convence ninguém. 

O autor pretendeu, talvez, fazer história e atirar para o limbo um opositor que o ofendera gravemente, além, com perdão da palavra, de amolgar, dolorosamente, um artigo da Constituição. Não é preciso ser muito rigoroso para se verificar o que o prefácio intenta. Mas o autor é tão desajeitado, na forma como no recheio, que o tiro sai pela culatra. Antagonistas e apoiantes, encavacados pelo facto de o prefaciador negligenciar as funções a que devia dar lustre, não param de o desacreditar. O mais tenaz dos críticos, será, acaso, o Marcelo Rebelo de Sousa, que desfez a sustentação institucional feita, em apressada defesa própria, pelo autor. 

Este segundo mandato repete, agravando-os, os dislates do primeiro. E alguém, dos círculos íntimos do senhor, devia ajudá-lo a rematar, com dignidade e piedosa lástima, o tempo que lhe resta para sair de Belém.»

Ah! E a propósito, deixo aqui o vídeo do Manifesto Anti-Cavaco magistralmente dito pelo extraordinário e saudoso diseur Mário Viegas.



10 comentários:

  1. Baptista Bastos e Mário Viegas
    dando provas
    de porque eu os gosto tanto

    (há gente que não morre, quando sua actualidade é assim)

    ResponderEliminar
  2. foi um prazer rever o grande Mário Viegas.

    abraço Graça

    ResponderEliminar
  3. E morreu!
    E o outro, isto é, Cavaco ainda politicamente vivo!!

    BB é sempre igual a si mesmo!

    Bons sonhos.

    ResponderEliminar
  4. BB nunca nos desilude nas suas crónicas ao colocar o dedo na ferida!
    Mário Viegas também nunca deixou de chamar os bois pelos nomes, assim como Almada Negreiros!
    Pim!
    Este Cavaco que nos arranjaram para PR é de um mau carácter aflitivo!
    Falta-lhe "berço"!
    Pim!

    Abraço

    ResponderEliminar
  5. "Birra de um homem amuado" que negligenciou "as funções a que devia dar lustre", "desajeitado, na forma como no recheio" é o resumo de um dos últimos dislates de Cavaco. Que ultimamente têm sido mais que muitos, que há quem pense que já é a senilidade a falar por ele. Não concordo: o homem sempre foi assim, mesquinho armado em moralista, dono de um grande umbigo e com a frontalidade de um cobarde, que ataca um adversário já caído no chão!

    Na mira de arranjar apoiantes anti-sócrates, certamente, mas 9 meses depois do outro ter saído do governo e perdido as eleições? Só tem o sabor de vingança tardia, que já não é fria, mas sim ultra-congelada! Que vergonha devia ter, se ali existisse um mínimo de dignidade...

    Beijocas!

    ResponderEliminar
  6. Mário Viegas só me recorda como Cavaco... dura... dura... até consegue ganhar ao detergente ;)

    Bjos

    ResponderEliminar
  7. Estimada Amiga Graça Sampaio,
    Felizmente que estou longe de todas essas políticas que se vão passando no meu amado país e triste fico ao saber que mais um mete mais uma brasa na fogueira.
    Mas infelizmente a política e os critícos portugueses continua a não acertar no alvo.
    Abraço amigo

    ResponderEliminar
  8. Carol minha querida
    Foi excelente rever Mário Viegas, apenas isso!
    Falando do dito cujo PR não falo, fico mal disposta.

    Beijinho e desculpa de continuar a chamar-te Carol, mas gosto mais.

    ResponderEliminar
  9. Mas que dupla, neste caso tripla.
    :)
    Pim!

    ResponderEliminar