domingo, 21 de novembro de 2010

Tenho uma grande constipação!

(imagem retirada de net)

Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor!
0 que fui outrora foi um desejo; partiu-se.


Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando,
Não estarei bem se não me deitar na cama
Nunca estive bem senão deitando me no universo.


Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e de aspirina.

(Álvaro de Campos)

(É que tenho mesmo uma grande constipação! E lembro-me sempre do meu bem querido Álvaro de Campos que diz sempre tão bem as coisas que eu por vezes sinto. Nem queiram saber o meu encantamento quando li pela primeira vez a expressão "fazem-nos espirrar até à metafísica"! Como é possível alguém lembrar-se de misturar duas noções tão diferentes: os espirros e a metafísica!

E diz ele que é um poeta menor... )

6 comentários:

  1. As melhoras físicas e nada de metafísicas até ficares completamente boa! :-))

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  2. O tempo que corre é propício a essas manifestações metafísicas(?!). E claro, os atcimmmms são fatais como o destino. Quer dizer, não serão propriamente fatais, mas são inevitáveis, quer dizer, se são inevitáveis serão fatais...como o destino?

    Mas que fatalidade, Carol, ter um comentador como eu!
    Em tempo de constipação ainda por cima, com a paciência nos limites, imagino eu!

    Bjinho António

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  3. Não sei se esta mezinha surte algum efeito nas senhoras, fica a intenção e os votos de rápidas melhoras.


    Poema aos homens constipados - Lobo Antunes!


    Pachos na testa, terço na mão,
    Uma botija, chá de limão,
    Zaragatoas, vinho com mel,
    Três aspirinas, creme na pele
    Grito de medo, chamo a mulher.
    Ai Lurdes que vou morrer.
    Mede-me a febre, olha-me a goela,
    Cala os miúdos, fecha a janela,
    Não quero canja, nem a salada,
    Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
    Se tu sonhasses como me sinto,
    Já vejo a morte nunca te minto,
    Já vejo o inferno, chamas, diabos,
    Anjos estranhos, cornos e rabos,
    Vejo demónios nas suas danças
    Tigres sem listras, bodes sem tranças
    Choros de coruja, risos de grilo
    Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
    Não é o pingo de uma torneira,
    Põe-me a Santinha à cabeceira,
    Compõe-me a colcha,
    Fala ao prior,
    Pousa o Jesus no cobertor.
    Chama o Doutor, passa a chamada,
    Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
    Faz-me tisana e pão de ló,
    Não te levantes que fico só,
    Aqui sozinho a apodrecer,
    Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

    António Lobo Antunes - (Sátira aos HOMENS quando estão com gripe

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  4. Como Lobo Antunes retrata bem a constipação dos homens! :-))
    Já conhecia mas é sempre divertido lê-lo!
    Homens, resguardai-vos! Nem todos tendes Lurdinhas... :-))

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  5. Que disparate, António! Fatalidade, nada. Pelo contrário! É um prazer! Apareça sempre.
    Quanto ao poema do Lobo Antunes é sempre uma graça. Só que, infelizmente, as mulheres não têm "um Lurdinhos" para tomar conta delas....
    Obrigada. Beijinhos (de longe, não vá pegar-vos a maleita...)

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