(imagem retirada de net)
Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor!
0 que fui outrora foi um desejo; partiu-se.
Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando,
Não estarei bem se não me deitar na cama
Nunca estive bem senão deitando me no universo.
Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e de aspirina.
(Álvaro de Campos)
(É que tenho mesmo uma grande constipação! E lembro-me sempre do meu bem querido Álvaro de Campos que diz sempre tão bem as coisas que eu por vezes sinto. Nem queiram saber o meu encantamento quando li pela primeira vez a expressão "fazem-nos espirrar até à metafísica"! Como é possível alguém lembrar-se de misturar duas noções tão diferentes: os espirros e a metafísica!
E diz ele que é um poeta menor... )
As melhoras físicas e nada de metafísicas até ficares completamente boa! :-))
ResponderEliminarObrigada, Rosinha! Atcimmmmm!
ResponderEliminarO tempo que corre é propício a essas manifestações metafísicas(?!). E claro, os atcimmmms são fatais como o destino. Quer dizer, não serão propriamente fatais, mas são inevitáveis, quer dizer, se são inevitáveis serão fatais...como o destino?
ResponderEliminarMas que fatalidade, Carol, ter um comentador como eu!
Em tempo de constipação ainda por cima, com a paciência nos limites, imagino eu!
Bjinho António
Não sei se esta mezinha surte algum efeito nas senhoras, fica a intenção e os votos de rápidas melhoras.
ResponderEliminarPoema aos homens constipados - Lobo Antunes!
Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.
António Lobo Antunes - (Sátira aos HOMENS quando estão com gripe
Como Lobo Antunes retrata bem a constipação dos homens! :-))
ResponderEliminarJá conhecia mas é sempre divertido lê-lo!
Homens, resguardai-vos! Nem todos tendes Lurdinhas... :-))
Que disparate, António! Fatalidade, nada. Pelo contrário! É um prazer! Apareça sempre.
ResponderEliminarQuanto ao poema do Lobo Antunes é sempre uma graça. Só que, infelizmente, as mulheres não têm "um Lurdinhos" para tomar conta delas....
Obrigada. Beijinhos (de longe, não vá pegar-vos a maleita...)