segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ó tia, dá bolinho?



(in pitoreska.blogspot.com)

Só quando vim viver para Leiria (no ano 74 do século passado) ouvi falar no Dia do Bolinho. Em Lisboa, no dia 1 de Novembro, vivia-se (pouco) o Pão-por-Deus. Grupinhos de crianças iam de prédio em prédio, subindo e descendo escadas, a pedir o pão por Deus. E as pessoas enchiam-lhes os saquitos com castanhas, nozes, romãs, chupa-chupas, rebuçados.

A (enorme) novidade para mim, quando vim para cá, foi o bolinho propriamente: essas maravilhosas broas de batata ou de batata doce que as donas de casa coziam recheadas de deliciosos frutos secos e a saberem a erva-doce e a que chamavam merendeiras. Hummm! Uma delícia, mesmo!

O pior, porém, era mesmo o dia 1 de Novembro, quando logo pelas sete da manhã, hordas de garotos começavam a tocar incessantemente às campainhas das portas das casas, logo dando murros nas portas e gritando, alguns, selvaticamente, “Ó tia, dá bolinho! Se não leva no focinho!”

Nunca fui muito apreciadora destes costumes a que alguns chamam de “manter a tradição” – não sou grande seguidora da tradição! – e muito menos nestes termos, de modo que nunca dei a devida resposta a estes pedidos de bolinho indiscriminados.

Actualmente, aqui pela zona onde vivo pelo menos, já poucas crianças se metem nessas andanças, o que a mim me parece muito bem.

Aprecio e muito, porém, o trabalho das Educadoras e das Professoras dos mais pequenitos que, nas escolas, trabalham com eles estes costumes, desenhando, descrevendo, cosendo saquinhos de pano, procedendo ao levantamento de receitas e cozendo, até, com eles as ditas broinhas para oferecerem lá em casa aos familiares.

Não resisto a deixar aqui uma das muitas receitas das ditas “merendeiras” de que eu tanto gosto!

Ingredientes:

1kg de farinha de trigo
1kg de batata
750g de açúcar louro
5 ovos
1 colher de sopa de manteiga
1 colher de sobremesa de fermento royal
frutos secos
erva-doce q.b.
raspa de limão.

Preparação:

Cozer as batatas com sal e transformá-las em puré, juntar a manteiga e misturar bem. Depois juntar o açúcar e, de seguida, a erva-doce. Juntar os ovos inteiros e mexer bem, colocar a farinha e fermento e amassar bem. Finalmente, juntar os frutos secos. Depois fazer bolinhas de massa e levá-las ao forno a cozer.



5 comentários:

  1. Amiga,
    O esforço é bom e a tua receita de broas ainda melhor. Contudo as broinhas de batata são modernices... que de tradição têm o nome e os frutos secos. As verdadeiras broas dos Santos são feitas com farinha de milho que se escalda (e as mãos também) com abóbora cozida antes de se adicionar o dobro da farinha de trigo. Depois de tudo amassado e levedo junta-se o resto dos ingredientes. Era então,que em tempos idos, se ia em fila ao Sr. Duarte e na padaria,as cozíamos no forno depois de tendidas em tigelas de loiça e produziam-se grandes quantidades. Quando deixámos de peregrinar à padaria, por aí se ter deixado de cozer pão, as pessoas passaram a organizar-se em grupos de amigos. A minha mãe costumava fazer as broas em casa da D. Julieta Xavier,que, na vivenda onde morava mandara construir um forno para o efeito, depois em casa da D. Cipriana, onde eu próprias e as minhas amigas seguimos a tradição.Já todos morreram! Hoje, destruídas as barreiras do espaço e do tempo, graças à facilidade de transporte de produtos (comunicação) e conservação dos produtos alimentares e até à própria invenção de novas receitas, como é o caso das broas de batata, não há tradição que aguente.Imaginas as pessoas com os horários que hoje têm que cumprir irem tender as broínhas para a padaria, mesmo com a ajuda dos padeiros, como então acontecia? Garanto-te que era divertido. Ainda me lembro das guerras de farinha que travei com o Clementinho tendo como música de fundo o sermão a três vozes entoado pelos pais dele e pela minha mãe.

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  2. Não sei qual das receitas a melhor... só mesmo fazendo a prova dos nove :)

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  3. Por aqui não levam batata!
    Talvez ainda tenha algumas para o dia 17!
    Sabes que isto de se ter nascido numa aldeia deixa marcas nos usos e costumes! :-))

    Abraço

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  4. Obrigada, Belita, pela tua receita e pelas tuas memórias - ainda por cima com pessoas que conheci! Coitado do Clementinho...
    Ainda hei-de falar da casa da D. Julieta que, para grande tristeza minha, está em ruínas.
    O amigo Rui é que pode muito bem experimentar fazer ambas as receitas e dar-nos a provar...

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  5. Então aqui fica a "minha" receita:
    1kg de farinha de trigo;
    0,5 kg de farinha de milho (peneirada);
    azeite q.b.
    raspa de limão q.b.
    mel q.b.
    erva-doce q.b.
    canela 50 gr;
    1,5 de açucar,
    abóbora cozida q.b.
    fermento de padeiro q.b.
    sal q.b.
    nozes (muitas);
    passas de uva;
    pinhões;
    passas de figo aos bocadinhos


    Escalda-se a farinha de milho com a abóbora quente e bem cozida (e não triturada - esmaga-se com as mãos) e junta-se a farinha de trigo e o fermento de padeiro que se desfez previamente em alguma água de cozer a abóbora e o sal.
    Deixa-se a massa bastante dura e deixa-se descansar.Mede-se em altura uma mão travessa e marca-se esse ponto no alguidar, quando a massa atingir essa marca, está leveda. Antes, manda a tradição que se faça uma cruz na massa dizendo "Deus te acrescente para dares de comer a muita gente". Tapa-se então com um pano branco e depois com algo quente, por exemplo, um cobertor. Manda ainda a tradição,que por cima disso tudo se ponha umas calças de homem... (lol) (garanto que dantes era assim, não estou a inventar nada, porquê, nem faço ideia....)
    Só depois da massa leveda é que se junta o acuçar e os restantes ingredientes.

    Se a massa ficar rala, junta-se mais farinha de trigo.
    Tendem-se as broas dispõem-se em tabuleiros e cozem-se em forno de lenha à temperatura ideal (que eu nunca soube qual era - isso era matéria de só para entendidos: Sr. Duarte, Emília - a empregada da D. Julieta e o Sr. Alberto).
    Bom apetite.
    PS. Isto é metade da receita que então se fazia e acredita que já dá broas para dar e vender.

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