quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Ai, a língua portuguesa!

Ouvi ontem o bolorento banqueiro Ulrich a dizer no telejornal: «Houveram bancos que…» quando se sabe que o verbo haver é um verbo impessoal que se usa apenas na 3ª pessoa do singular.

Outro dia atrás, na primeira página do meu jornal diário, vinha escarrapachado o título «Por   que o Brasil castiga as empresas portuguesas», quando deveria ser usada a forma «porque» tem um nexo causal. A forma separada «por que» usa-se em frases como «a razão por que …».

Algumas páginas à frente, numa entrevista a um ex-ministro, a primeira pergunta do jornalista começa assim: «Agrada-o que o Manifesto dos 74 (…) tenha chegado à Assembleia da República (…)?» Agrada-o? Agrada-o?! Então um profissional da língua não sabe quando há-de usar um complemento direto (o) ou um complemento indirecto (lhe)?

Noutro jornal daqui da cidade minha hospedeira pude ler outra pérola da língua que foi: «serviriam-lhes». É incrível a ignorância que envolve a pronominalização das formas verbais do futuro do indicativo e do condicional quer nos jornais, nas legendas e, no registo oral então, nem vale a pena falar!

Pior ainda é a importação de estruturas frásicas da língua inglesa e imediata colagem à nossa língua como é o caso do «É suposto» que é a tradução direta da passiva idiomática inglesa que não existe em português; e, mais irritante, a utilização do pronome «tu» em substituição da apassivante «se» que implica um maior esforço gramatical para o falante pouco conhecedor do funcionamento da língua. Por exemplo, para descrever um determinado procedimento, em vez de dizer «pegue-se em seis ovos, separem-se as gemas das claras, misture-se o açúcar com a farinha, utilize-se uma caçarola, etc…», o que implica a utilização do modo conjuntivo (que é uma dor de cabeça para muitos dos falantes) a pessoa – que se acha super-moderna – dirá: «tu pegas em seis ovos, separas as gemas das claras, misturas … etc, etc.»

E depois de todos estes atentados à nossa língua (e muitos, muitos outros) ainda há uma boa parte de pessoas, algumas das quais de elevado saber, que andam muito raladas com um «c» ou um «p» a mais ou a menos na ortografia de algumas palavras…





22 comentários:

  1. Esse gato tem cara de quem arranha umas coisas.
    :)

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  2. Também ouvi "Houveram" com ironia até fiz comentários sobre isso.
    É normal o ser humano se enganar, mas assisto a cada pontapé na ferradura de grandes figuras.

    Beijinho e uma flor

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  3. ~
    ~ ~ Boa malha, Graça.

    ~ ~ Mas também já assisti a tremendos desastres no uso do AO, nomeadamente, no uso dos hífenes.

    ~ ~ ~ Beijinhos. ~ ~ ~

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  4. Não pude deixar de rir!!
    Tenho que começar a ter mais cuidado, não vá dar umas calinadas na gramática imperdoáveis.
    O “tu” é muito usado como tradução do “you”, até por adultos. : ) Mas um garoto de 7 anos (eu sei que não se deve começar uma frase por “mas”) recém-chegado – e já com sinais de vir a ser um grande galanteador – disse-me ontem: Senhora, tu estás muito bonita outra vez!
    Tens razão, Graça, eu própria noto uma grande diferença na forma como se escreve atualmente e como os jornalistas, por exemplo, escreviam há vinte e mais anos.
    Mais uma coisa: podes corrigir-me sempre que eu cometer um erro. : ) Eu agradeço!

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    1. Nem me atreveria, Catarina, Senhora muito bonita.... Só me enervam os erros dos jornais e outros que tais....

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  5. Adorei o gato...

    Do resto , enfim...se queres que te diga, por vezes já nem sei se é erro ou se faz parte do Acordo .

    Já me aconteceu ir ver ver ao dicionário uma palavra para confirmar , pois a vi repetidamente mal escrita!

    A páginas tantas , já não sabia se era eu que estava errada, embora nunca tivesse dado um único erro.

    Bons sonhos, Gracinha

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  6. É com cada chuto na gramática!!!
    Beijinhos e votos de bfds

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  7. A língua é viva, evolui, mexe-se, mas que tem dores... Ai, isso tem!

    O gato!... Espetacular! (sem ou com c?) :)

    Um beijo

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  8. Há erros e erros...alguns decorrem da ignorância de quem escreve ou fala outros de quem repassa o texto.
    Claro que os erros dados oralmente não há volta a dar-lhes como aquele que o tal banqueiro deu e que também ouvi! :)

    Abraço

    Rosa dos Ventos

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    1. É fácil darmos calinadas oralmente, mas por escrito e quando se trata de profissionais da palavra é imperdoável.

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  9. Sabe , já estou por tudo , mas mesmo tudo . Agora esse gato , que coisa linda .
    M.A.A.

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  10. Como é sabido,
    uso vernáculo antigo
    e, quanto ao bom português,
    avanço sempre que se trata
    de pôr pês e cês e mais pês

    :))

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  11. Estou a ver que os meus amigos gostaram foi do gato!!! E têm bom-gosto, sim senhor!

    Bom fim-de-semana para todos.

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  12. O grandessíssimo imperativo do bloger lixou-me, agora mesmo, a escrita que tinha acabado de alinhar. Provavelmente por ter dado alguma calinada. Prefiro que seja a Graça a fazer a correção. Agora vou guardar no Word antes de publicar.

    Tinha escrito mais ou menos assim: compreendo que o simples mortal, por natural preguiça, evite conjuntivos, futuros, condicionais, sobretudo no modo reflexo; o mesmo não digo em relação à comunicação social e aos profissionais da mesma.

    Também fica mal que pessoas com exposição pública utilizem na música, sempre e só, o tom de Dó maior (acorde Dó, Mi, Sol) havendo tantas tonalidades ao dispor. Principalmente os senhores da conjuntura que são poupadinhos. Usam tom indicativo, minguado, com três notas: presente, pretérito imperfeito e pretérito perfeito. Já assim o fazia Leon Bell o queijeiro de La Vache qui rit, do eterno três a desfazer-se na boca. Vá lá, vá lá, para nos alegrarmos ainda temos o "façaremos"! Será por isso que as vacas, açorianas, se riem? Sorriem? Sorriam!

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  13. Grassinhamiga

    Eu não çei porque te enchofras com coizas mal ditas, as malditas, mal escrevidas, é tudo portugês da mais fina floure. A jente fazemos o que pudemos e haverão melhores dias. Fica çabemdo que quem dá o que póde não póde, não malembro mas penço que qualqer coiza açim. E prontes, xegei ao fim.Pmço que na prossima façarei melhor.

    Qjs

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  14. Fico arrepiada com todos os erros e atentados que constantemente são feitos à nossa língua por pessoas que tinham obrigação de a falar correctamente.
    (quanto ao AO, não é só um c ou um p a mais ou a menos na ortografia...e tu sabe-lo!)

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    1. Mas há que andar para a frente com a ortografia, Justine...

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