terça-feira, 28 de outubro de 2014

Não há machado que corte...

Depois de ter sido mandado calar no DN, Baptista-Bastos escreveu na semana passada, no Jornal de Negócios, a crónica que aqui transcrevo hoje e que devemos ler com atenção.



A voracidade destrutiva do grupo de Passos Coelho é a maior tragédia que tombou em todos nós, os que trabalham, desde o 25 de Abril.

A sociedade portuguesa está cada vez mais pesada e trágica. A entender o que diz, ou sussurra, ou omite o Orçamento do Estado, a miséria vai aumentar para os mais desprotegidos, e a reposição de 20% dos cortes aos funcionários não passa de uma decisão ultrajante. O Governo está a cair aos pedaços fétidos e não pára de ferir fundo aqueles de nós, como eu, com perdão da palavra, que têm de continuar a trabalhar ou a biscatar para sobreviver.

A voracidade destrutiva do grupo de Passos Coelho é a maior tragédia que tombou em todos nós, os que trabalham, desde o 25 de Abril. Temos de repetir esta evidência até que a voz nos doa. Agora, alguns dos patrões que enriqueceram com as benesses e as facilidades propiciadas por este Executivo, já começam a recalcitrar. A própria direita, corporizada em Paulo Portas, percebe que o chão lhe está a fugir, mas metem nojo, por exemplo, as declarações de Lobo Xavier, um dos homens de mão do Belmiro de Azevedo, ou as patetices de Nuno Melo (parece ser assim o nome do desenvolto) quando proclama a melhoria de vida dos portugueses. O Governo está em estilhaços, as malfeitorias que pratica não cessam, e o Orçamento do Estado constitui um ultraje ignominioso, a crer nos economistas e em toda a oposição. O próprio António Saraiva, patrão dos patrões, começa a não poder esconder o mal-estar que se lhe apossou, independentemente de estar visivelmente doente.

Mas a questão central continua a mesma: e depois de Passos, que decisões tomará o novo Governo, ante este caos económico, moral, social e cultural?

Às vezes, muitas vezes, penso quais serão as conversas que o primeiro-ministro terá em família? E a família ficará infensa à gritaria, aos protestos, ao caudal de desemprego, de fome de miséria que se estende pelo País?

Claro que o futuro de Passos estará sempre garantido, e o espectro do desemprego não tocará nunca no batente da sua porta. Deixa, atrás de si, um país que destruiu, e cujos escombros são a trágica afirmação de uma prática governamental pautada pela mais atroz incompetência. Os seus amigos serão a senhora Merkel, o senhor Juncker e o sinistro dono das finanças alemão, cujo nome me causa engulhos, e que foi o grande patrocinador desta macabra experiência político-económica. O ministro Gaspar já está arranjadinho, e só não passa à história como biltre porque os portugueses são esquecidos, fazem-nos esquecer ou negligenciam a sua pessoal sobrevivência.

A preguiça mental e social e a cobardia nascida da indiferença são as causas gerais da nossa decadência. Há restos de dignidade e de decência, como a que corresponde a atitude de Maria Teresa Horta, grande poetisa e grande carácter, que recusou receber, das mãos de Pedro Passos Coelho, o prémio da Casa de Mateus, enquanto um "escritor" inexistente, arfante de alegria, foi medalhado pelo dr. Cavaco, com esfuziante entusiasmo e pouca-vergonha a condizer, servindo de berloque à direita mais sórdida.

António Costa, presumível primeiro-ministro, vai estar em terreno armadilhado. Só o apoio das forças de esquerda poderá impedir o que se prevê. A imprensa está a mudar de donos, e criaturas estipendiadas são colocadas em lugares-chave da comunicação social, perante a impávida disposição das Redacções.

Apesar deste caos moral e social, e das minhas apreensões ante o panorama, continuo a acreditar que possuímos forças suficientes para enfrentar a avalanche. Não podemos é desistir. Desistir, nunca, e em circunstância alguma.



NOTA A TEMPO - Aproveito para agradecer aos leitores que se interessaram pela minha saúde, na semana passada. E, também, a todos aqueles, às centenas, indignados com um percalço de que fui protagonista. A saúde foi um transtorno passageiro. No outro caso, recorro a Carlos de Oliveira: "Não há machado que corte / a raiz ao pensamento."




19 comentários:

  1. Temo pelo meu país quando "estes velhos" se calarem...

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  2. Na "NOTA A TEMPO" dei porque andei despistado
    Estou desculpado?

    Quanto ao resto
    tudo certo, mesmo o incerto

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    1. O Rogerito está sempre desculpado. Mas... a "Nota a tempo" diz respeito ao BB.

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    2. Ao BB?
      Julgava que falava
      de você

      NOTA A TEMPO (minha): Nunca mais comprei o DN

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  3. O que Baptista-Bastos se esqueceu de referir, logo no início, é que a voracidade do PM, que ele refere, não atingiu apenas os que trabalham desde sempre e não desde o 25 de Abril ( a não ser que se referisse à classe jornalística), mas essencialmente àqueles que já trabalharam, e não foi pouco: Os reformados ou pensionistas, como eles gostam de dizer.

    Graça, acho que o Rogério pensou que a NOTA A TEMPO, já não pertencia à Crónica de BB.

    Um abraço!

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  4. ~ ~ Excelente "post", Graça. ~

    ~ ~ ~ ~ ~ Beijinhos. ~ ~ ~ ~ ~

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  5. Com a diversidade de meios de comunicação que hoje existe (ou não estivéssemos no espaço livre que é a blogosfera) tentar calar uma voz incómoda é ainda mais estúpido que antes, Graça.
    Olhe o exemplo perfeito dessa realidade.
    Beijinhos

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  6. No meio de uma terra onde residem " os verdadeiros grunhos lusitanos ", observem-se os resultados eleitorais , pela parte que me toca ,dou o meu contributo à causa.
    Até já me mandaram mudar de povo...quando não se entende que tem que se mudar de mente ou pelo menos abrir os olhos e deixar de ser egoísta.
    M.A.A.

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  7. Felizmente que haverá sempre "alguém que resiste", "alguém que diz não"!

    Abraço

    Rosa dos Ventos

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  8. Aquele que a seguir a felizmente não me soa muito bem!
    Devia ter construído a frase de forma diferente! :)

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  9. Uma crónica que se impõe pela lucidez, coisa rara nos dias que correm.

    "Às vezes, muitas vezes, penso quais serão as conversas que o primeiro-ministro terá em família? E a família ficará infensa à gritaria, aos protestos, ao caudal de desemprego, de fome de miséria que se estende pelo País?"

    Há pessoas que dormem bem para qualquer lado.

    Beijo

    Espero que esteja tudo bem, agora!

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  10. Desistir? Jamais!

    Mas que temos uma tarefa hercúlea pela frente temos, porque este vendaval de destruição e empobrecimento levado a efeito por Passos, Portas ,Cavaco e apaniguados vai deixar marcas profundas e um país destroçado!

    Gostei de ouvir Freire, obrigada.

    Beijinhos

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  11. É verdade. O que vale é que há sempre alguém que resiste, e segundo li já há outro jornal para publicar as crónicas do Baptista Bastos.
    Um abraço

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  12. http://www.cmjornal.xl.pt/tv_media/detalhe/baptista_bastos_e_novo_colunista_cm.html
    Podemos continuar com ele no CM

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    1. Também já sei! Mas comprar o Correio da Manhã.....

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    2. Pois! Pena ter optado pelo CM. Também não gosto das suas notícias...

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  13. Não podia estar mais de acordo co m o meu amigo BB
    Em relação à sua saúde, só agora fiquei ao corrente, pois ausentei-me do país durante uns dias. Espero que já esteja tudo bem consigo.
    Quanto ao outro aspecto de que fala, vou continuara a ler os posts, para ver se percebo a que se refere

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  14. Ontem tentei, por duas vezes, deixar aqui umas palavras, mas, quando estava a terminar, arderam.
    Parece-me que o CM, coisa tipo tremoços em arraial popular, servido com o café em tudo o que é sítio, anda a arregimentar cronistas estranhos ao baile para engordar a legião de leitores. Fiquei espantado ver nomes como o da Joana Amaral Dias, residente com coluna a preceito (versão soft), no meio daquele bazar de facadas, meninas de calções e gráficos de quem ganha mais (vencimentos e pensões).
    “Quer-se dizer” que o Batista Bastos é o senhor que se segue? Pagam bem? Há esperança do jornal se tornar uma coisa mais respeitável? E de meter um certo bichinho na grande maioria dos seus leitores?

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