Não, hoje não venho falar no
desastre total que tem sido e continua a ser o processo de colocação de
professores contratados no presente ano letivo. Nem venho falar nas demissões já
ocorridas no ME que continuam a deixar o ministro a assobiar para o lado
enquanto o pm segue tecendo-lhe os mais rasgados elogios. Ainda menos venho
falar do corte de 700 milhões na Educação previsto no Orçamento de Estado para
o próximo ano que isso é uma coisinha de nada.
Venho falar de como o ministro –
que tanto agradou aos professores quando foi nomeado e que agora dizem
sentir-se enganados (não me canso de dizer isto!) – em nome da “bendita”
autonomia das escolas – que nada, mas absolutamente nada tem a ver com aquela
autonomia que o excelente ministro Roberto Carneiro e a sua equipa de
académicos decretou – descarta para cima das escolas e respectivas direcções o trabalho,
a responsabilidade e o ónus de procederem à contratação de professores para
horários incompletos e dos técnicos especializados sem definir critérios sérios
e objetivos que, de alguma forma, garantissem um mínimo de equidade no
processo. Em vez disso, dá “autonomia” às direcções (muitas das quais não têm a
mínima noção do como o fazerem) para definirem critérios, muitos deles feridos
das ilegalidades e inconstitucionalidades mais espantosas. De facto, as escolas
não dispõem de advogados que as aconselhem nesta e noutras situações e, quando
recorrem aos serviços intermédios de apoio do ME (antigas DRE), praticamente
desativados, recebem respostas evasivas, por defesa e/ou por incompetência, do
estilo “sim, não, talvez, pelo contrário” como as dadas pelo dr. Apolinário da DREC
“que deus tem”.
Para além deste desnorte, 35% da pontuação da
grelha de avaliação para o processo de contratação é reservada para uma entrevista
aos candidatos para a qual também não são dadas quaisquer orientações
superiores que promovam uma certa igualdade entre as escolas de norte a sul e
que permite que se façam as escolhas que muito bem apeteçam às escolas,
independentemente da experiência, do tempo de serviço, das habilitações até.
Muitas escolas optam, e bem, pelo professor ou pelo técnico especializado já
conhecido e para isso têm, muitas vezes, de recorrer a estratagemas mais ou
menos obscuros para os manterem quando uma simples recondução por parte da direcção
evitava esses constrangimentos e muito trabalho.
Para que este sistema de “autonomia”
funcionasse, seria necessário termos a seriedade e a noção de justeza e de
verticalidade que têm os suecos ou os dinamarqueses… Mas infelizmente assim não
acontece e assistimos a dislates como os narrados no DN de ontem. O que não é o
pior!
O pior mesmo é o stress e o terror
em que os candidatos andam. Primeiro porque têm de correr de escola para
escola, umas bem longe das outras, para uma espécie de entrevistas em que não
fazem a mínima ideia do que lhes vai ser perguntado. Depois porque, como já
disse acima não somos suecos nem dinamarqueses e (peço desde já desculpa se vou
chocar alguém com esta minha opinião construída em 40 anos de magistério) a
prepotência é uma das formas de atuação de muitos professores alcandorados ao
poder e ainda por cima com a recente denominação de «directores».
Considerem a situação de A, moradora
em Coimbra, que obteve uma colocação numa escola a 30 Km da sua residência.
Duas semanas depois, dentro do período legal de rescisão do contrato, granjeou
colocação em Coimbra e, naturalmente, optou pela segunda. O director da escola
preterida destratou-a e, aos berros, garantiu-lhe que nunca mais voltaria a ser aceite naquela escola.
Considere-se a situação de B que
granjeou contrato durante três anos consecutivos na escola X. Ao fim desse
tempo, para experimentar outra realidade, concorreu a outra escola e foi
contratada. Quando a vaga deixou de existir na segunda escola, não voltou mais
a ser aceite, de castigo, na escola X apesar de ter muito mais tempo de serviço
e de experiência que os restantes candidatos.
Veja-se a situação e C que, tendo
sido alvo de graves irregularidades do seu processo de contratação, recorreu –
de acordo com as normas legais – para o ministério e para a inspecção-geral de
onde recebeu resposta muito tardia dizendo que «a direcção do agrupamento
garantiu-nos que fez tudo de acordo com a lei». (Aprenderam esta resposta com o
senhor presidente da República…)
Mérito? Qualidade de trabalho?
Bom desempenho? Tretas!! É preciso é saber “lamber as botas” ao senhor director…
Abstenho-me de comentar o conteúdo do teu post, por não me sentir habilitado a pronunciar-me, mas não quero deixar de fazer uam eferência ao facto do Crato ter pedido o acordo do PS. Em todas as áreas é sempre a mesma coisa. O governo faz asneiras e, como não sabe desatar o nó, apela ao consenso com o PS
ResponderEliminarÉ o costume! Para depois se vitimizarem e armarem-se em Calimero de trazer por casa culpando o PS de não querer entrar em acordos.... Vão para o raio que os parta!!
ResponderEliminar~
ResponderEliminar~ ~ Um retrocesso jamais inimaginável.
~ ~ Eu sinto-a como um ambiente corrupto e funesto que me deixa profundamente contristada.
~ ~ ~ ~ Beijinho. ~ ~ ~ ~
Roberto Carneiro, que foi professor da minha mulher no Mestrado dela, que foi presidente da Fundação Escola Portuguesa de Macau, é de outro campeonato, Graça.
ResponderEliminarNão o misture com esta gente.
Beijinhos
Nunca o faria!! São os opostos!!
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EliminarAquilo que nasce torto,tarde ou nunca se endireita, diz o povo.
ResponderEliminarDepois de desmantelarem toda a organização deste ministério nunca mais será possível fazer a formação das turmas e colocação de professores correctamente e em tempo oportuno.
Depois se verá...E andamos nisto... Pelo menos é isto que vou vendo todos os dias e a todos os níveis.
A cegueira de racionalizar custos não antecipou a programação correcta da máquina administrativa.
Esta situação vai afectar todos os serviços. A internet faz muito, mas não faz tudo.
Dá vontade de aplicar aquilo que eu dizia há muitos anos mas agora sem qualquer vontade de rir e de fazer rir e com as adaptações ao contexto:
ResponderEliminar"Das colocações do Ministério, às colocações de escola - que futuro?"
Abraço
Rosa dos Ventos
Um futuro muito comprometido, podes crer!
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarHoje é notícia:
ResponderEliminar- Professor colocado em 75 escolas primeiramente, agora e após "emenda" foram-lhe atribuídos 95 horários???????????
Vai de mal a pior.
O Sr. Primeiro Ministro acha que a Educação está muito bem entregue, disse-o ontem! E que o Ministro é para ficar por ser muito competente e responsável, os cortes diabólicos no OGE, no ME segundo a corja não vão afetar a Educação, gostava de saber como não?
Crato é um asco, sem dúvida!!!
ResponderEliminarBeijinhos e bom dia
Conseguiram destruir toda a dignidade de uma profissão. Infelizmente amiga Graça neste país em qualquer profissão , ninguém é escolhido por mérito, nem por qualidade de trabalho, nem por bom desempenho.
ResponderEliminarPor isso é que estamos onde estamos.
beijinho
Fê
Não tenhas dúvidas, Fê!! Uma vergonha!
EliminarAinda estou para ver como é que isso da autonomia irá funcionar.
ResponderEliminarSe no ministério, com tanto técnico especializado, a barraca é como vemos… em centenas ou milhares de escolas espalhadas pelo país há gente que saiba interpretar e aplicar a Lei? Estaremos ainda num estado de direito? A não ser que o propósito seja utilizar gestão de merceeiro, em que cada diretor tem poder discricionário para resolver conforme lhe aprouver. Tive conhecimento, talvez há meia dúzia de anos, de um senhor presidente do conselho diretivo de uma escola (não tenho a certeza que seja esta a designação) numa reunião de esclarecimento no ministério inquiriu a mesa sobre um assunto que "ainda não teria acolhimento legislativo". Responderam-lhe que tinha sido publicada legislação HÁ QUATRO ANOS que respondia ao assunto. Na escola dele ninguém tinha dado por nada.