É como do dia da mãe e o dia do pai e da tia e do sobrinho – nesses dias
são palavras bonitas, flores, bolos e chocolates; são poemas, fotos antigas,
lágrimas de amor e de saudade e outras hipocrisias (eu avisei que ia ser pouco
correto!)
Os livros e as
leituras e a poesia e ler em geral são também conceitos e artefactos que apenas
são heroicizados nos dias de. Depois … oblivion!
A Livraria Arquivo (que eu não me canso de aqui mencionar) bem como a
Biblioteca Municipal fazem de tudo para trazerem à cidade escritores de nome e
de renome. Desde Mário de Carvalho até Eduardo Lourenço, de Maria Teresa Horta
até Mega Ferreira e a Teolinda Gersão, de Lobo Antunes a Mário Cláudio e a
Teresa Rita Lopes e outros muitos. Os últimos que fui ouvir foram mesmo Pedro
Mexia e, ontem, Gonçalo M. Tavares. As salas, quer da Arquivo, quer da
Biblioteca são de mediana dimensão e, mais ou menos, enchem. Os que vamos
assistir – e eu não sou por de mais assídua! – somos quase sempre os mesmos: já
nos conhecemos, ou já nos conhecíamos, sei lá!
Mas, o que mais me espanta e dói é ver que, de três grandes escolas
secundárias e mais quatro grandes EB2/3 que agregam uma miríade de escolas do
1º ciclo e do pré-escolar – isto sem falar nos colégios religiosos que são dois
e grandes – não se encontra um professor(a)! Os que lá vão estão já aposentados
e somos quase sempre os mesmos. Nem imaginam como lamento! E não me venham com
a desculpa da falta de tempo, dos muitos trabalhos burocráticos e outros porque
eu sei do que falo. Preguiça? Indiferença? Arrogância ou simplesmente medo?
Os professores – e que me desculpem as exceções, que as há e boas, mas
poucas – sentem-se muito senhores da sua sabedoria; fizeram o seu cursinho,
entraram na(s) sua(s) escolinha(s) e pronto! não precisam de mais nada! Nem de
ler (mais), nem de estudar (mais), nem de se informar (mais), nem de ir ouvir
quem sabe mais do que eles! Pequeninos na sua pretensa grandeza. Naquela grandeza
que lhes vem dos manuais com as perguntas todas, com as respostas todas, com as
planificações todas das quais não arredam pé nem por decreto! Por isso
recusaram ser avaliados.
Hoje, assisti a mais um espetáculo deplorável. Numa destas efemérides de
Março/Abril centradas no livro, a Livraria Arquivo homenageou largamente a
escritora de literatura juvenil Ana Pessoa, especialmente pela sua última obra Mary John, e convidou-a a vir a Leiria.
Ora a jovem escritora mora e trabalha como tradutora em Bruxelas pelo que teve
de pôr férias para cá vir e calhou ser hoje o dia da sua presença por cá.
A apresentação e entrevista estiveram a cargo de uma professora
bibliotecária de um dos Agrupamentos de Escolas da cidade que se fez acompanhar
de quatro alunos de uma turma do 9º ano, curiosamente três rapazes e apenas uma
rapariga, que leram e exploraram o livro e prepararam uma excelente entrevista.
Tudo bem, não vos parece?
Pois pasmem, meus amigos! Dos pais dos alunos, apenas os de um estiveram
presentes. Para se deslocarem à livraria que está situada no centro da cidade,
vivendo eles nos arredores, teve a professora bibliotecária de os ir buscar e
levar. Dos professores dos alunos, apenas a professora da opção esteve presente;
nem a Diretora de Turma, nem mais nenhum dos professores da turma. Da direção
da escola, ninguém. Do Departamento de Línguas – ai as leituras, ai os livros,
ai os alunos não leem! – ninguém! Das outras escolas todas, ainda menos. Não é
verdadeiramente arrepiante?
Ah, porque era domingo! Porque estava um dia de verão! Porque havia a Feira
de Maio! Ah, porque veio a TVI e transmitiu em direto! Ah! Que bons somos em
desculpas!!
Por isso não vamos votar, por isso não intervimos, por isso embiocamos em
nós próprios … porque estava a chover, porque havia o Sporting-Benfica, porque
era dia de praia, porque os políticos são todos iguais, porque, porque, porque…
Li com muito interesse o que escreveste, concordo em absoluto.
ResponderEliminarNão sei se é preguiça, desinteresse, ou ainda pior: não é por nada...
Muitas pessoas não se apercebem da quantidade de coisas boas estão à sua disposição e perdem oportunidades que podem não voltar a ter.
Gosto muito deste ditado que repito sem me cansar:
"Sorri enquanto tens dentes" :))
bjs
Gosto desse ditado!!! Vou passar a utilizar também... :)))
EliminarEu, incorretamente falando/escrevendo, não poderia estar mais de acordo, Graça! É lamentável. Quando fui a duas apresentações de livros de escritores portugueses de fama em Portugal (e não só) aqui em Toronto – Mia Couto e José Rodrigo dos Santos – os presentes eram os mesmos de sempre, aqueles que vão às exposições e às celebrações do Dia de Portugal no Consulado. Aqueles que eu via há muitos anos nos simpósios da Associação Democrática que creio já não existe. Mas estamos a falar de uma comunidade, relativamente pequena... Quando Donna Leon aqui veio a sala da Biblioteca na baixa de Toronto encheu – 400 pessoas. Claro que não podemos comparar.
ResponderEliminarOs professores (a maioria) percebem do seu “ofício”, mas, de uma maneira geral não são detentores de grandes conhecimentos para além da sua área de trabalho (os que conheço). Recordo-me de referir-me ao Principezinho a um professor do quarto ano (Grade 4, como aqui chamamos). Ele nunca tinha ouvido falar no livro ou no autor. Este não é um caso isolado. Outros exemplos me levaram à mesma conclusão no decorrer dos anos.
Os pais portugueses imigrantes – tb de uma maneira geral - reagem da mesma forma onde quer que vivam. Is it part of their DNA? : )) Não tenho a intenção de me distanciar deste grupo de pais!! Não tenho a mania... : ))
Claro que não, Catarina! Temos de aceitar as pessoas como são e, se possível, passar-lhes algumas ideias, alguns modos...
EliminarTambém não tenho a mania. Por quem me haveria de tomar?!
Ah, Graça, nunca li um texto tão 'politicamente correcto', como este teu! Constatar e denunciar esta indiferença quase colectiva sobre os acontecimentos culturais, mormente aqueles onde os próprios filhos participam, não é incorrecto, pelo contrário, é um direito e um dever que te assiste.
ResponderEliminarA autora do livro veio de Bruxelas e os pais do menino interveniente, que vivem em Leiria foi preciso irem buscar a casa? Aberrante, simplesmente, aberrante e deveras lamentável!
Não te cales, Graça, quem cala consente!! :))
Beijinhos, boa semana.
Eu cá sou como a Manuel Alegre: «Cá a mim ninguém me cala!»
EliminarObrigada pelas tuas palavras, Janita.
Graça vais desculpar-me mas o domingo é o dia reservado a família. Os professores têm a semana toda para estar com alunos deixen o domingo para levar os filhos à praia, ao Sporting- Benfica ou somente estar em casa sem fazer nada. Deixem o domingo para descansar...
ResponderEliminarEu tb não iria.
Kis :=}
Nem que fosse apenas por 50 minutos para apoiares os teus alunos?!
EliminarSomos assim. E quando vamos assistir a uma apresentação de poesia por exemplo, e as pessoas que assistem conversam e riem sem respeito por que está no palco e por quem quer ouvir?
ResponderEliminarUm abraço
Ou então estão a ver o facebook e a mandar mensagens... uma tristeza!
EliminarIncorrecto? Nem pouco mais ou menos. A verdade é para se dizer.
ResponderEliminarPor acaso também acho...
EliminarFelizmente aqui em Macau, pelo menos nas escolas que as minhas filhas frequentaram (a Mariana ainda frequenta) é o oposto.
ResponderEliminarTemo os contactos dos professores, somos constantemente contactados para tudo e mais alguma coisa, estão sempre disponíveis para nós.
Pagamos muito mas vale a pena.
Beijinhos, boa semana
Aqui, mesmo sem terem de pagar, os pais também são sempre bem recebidos e contactados para tudo. A minha mágoa é não darem mais para além do seu trabalhinho previsto...
EliminarBoa semana!
Não tenho a mania que sou mais ou melhor que os outros, mas uma boa parte da gente do meu país, envergonha-me. Quando aparecem é para serem notados e para mastigar o croquete da ordem.
ResponderEliminarE ainda sentia mais isso na cidade onde cresci, Caldas da Rainha, que nesta onde vivo, Almada...
abraço Graça
Não tem comparação a "mentalidade" que já alcançaram os almadenses e os caldenses...
EliminarA tua introdução é, no mínimo, ''mazinha'', o que não tem nada a haver com política...
ResponderEliminarCada um tem o direito de celebrar os ''Dias'', de acordo com a sua sensibilidade - como é hábito fazeres no teu blogue - sem que isso implique qualquer resquício de hipocrisia, ou mereça qualquer tipo de ironia ou censura.
Também é muito fácil criticares os professores no ativo, quando tu, depois de uma vida de diretoria, esqueceste a vida de docente assoberbada de trabalho de preparação, planificação e avaliação de aulas; além da vida privada que os professores não devem, absolutamente, descurar.
Tenho amigas - mesmo a nível blogosférico - que se vão lamentando de sentirem a vida passar sem darem por isso, completamente devotadas à formação dos seus educandos.
Por vezes, estão meses sem publicar...
Tens bons sentimentos, mas há dias que acordas ''levada da breca''...
Desculpa se fui ''politicamente incorreta''
Beijo
~~~
Como estás enganada, Majo!! Fui presidente do conselho muitos anos mas fui sempre alternando com horários só de aulas. E mesmo quando era presidente, minha querida, escolhi, enquanto me deixaram, ter uma turma. Para mim é fácil criticar alguns/muitos professores até porque há e sempre houve muitos na família e porque, na escola, ao longo dos meus 40 anos de serviço, servi em todas as frentes e conheci centenas de colegas - bons e maus! Desculpa, mas sobre professores e escola deves ter pouco para me ensinar. (desculpe-se-me a "soberba")
EliminarQuanto à minha introdução, volto a assumir a hipocrisia e o consumismo que se apoderam de muitos dos dias de. Agora se as pessoas querem celebrá-los - ou até eu própria - nada contra! Considero-me uma pessoa aberta e tolerante. E algumas/muitas vezes "mazinha" ou politicamente incorreta.
Beijinhos (in)corretos...
Não pretendi ensinar-te nada Graça, mas sei bem a diferença que há em ter uma ou algumas turmas e um horário completo de turmas enormes, como as de agora...
EliminarAinda há pouco tempo lamentaste em ter que estudar para ensinar pormenores que foram alterados em sistematização e nomenclatura... Mais do que nunca as aulas exigem uma preparação muito cuidada, além de planificada.
Beijinhos corretíssimos.
Quando fui professora em belas iniciativas e projetos senti isso mesmo ... ausência de pais e até de professores!!!
ResponderEliminarDe lamentar claro mas estiveram os interessados e isso é o que importa!!!bj
Pois, mas ficou um bocado aquém e foi uma pena.
EliminarPolitica ou não politicamente, é um texto correctíssimo, na minha opinião! Creio que já não há geração como a nossa: comprometida, curiosa, desejosa de aprender, humilde!
ResponderEliminarGostei muito de te ler, Graça
De facto MJ, os professores antigamente não tinham tantas obrigações burocráticas e mais tempo para o seu desenvolvimento social e cultural, o que era ótimo, porém os factos citados referem-se à atualidade...
EliminarObrigada, Justine. Sei que há muita gente que compreendeu o que escrevi.
EliminarE lembrou-se de avisar?
ResponderEliminarPodia tê-lo feito
Anunciar o que vai acontecer
dá noticia
e dinamiza
Quando vou, digo que vou
E muita gente vai (ou manda abraço)
Para a próxima, faça como eu faço
Boa?
Avisou e divulgou.
EliminarCom os profs é diferente.. oh! Oh!