Foi com grande espanto e alguma consternação que ontem recebi a notícia do
desaparecimento do grande jornalista, cronista e também escritor
Baptista-Bastos.
Sabe, quem generosamente frequenta este meu espaço, que para aqui transcrevi
muitas das suas crónicas que ele escreveu enquanto não foi ignominiosamente
despedido do Diário de Notícias.
Como gostava da sua forma elegantemente escancarada com que ele desferia as
suas setas certeiras contra quem, durante os últimos anos, comprimiu e quase quis
açaimar este nosso país, este nosso povo ainda e sempre tão necessitado de quem
lhe mostre o caminho.
Fazia-o de forma desassombrada mas algo pedagógica, usando o seu estilo fluente
mas preciso, chamando as referências históricas, literárias e políticas mais
penetrantes e mais esclarecidas, num vocabulário rico, elaborado mas bem truculento,
e com a sintaxe de quem estudou (ou não) latim.
Que era assaz duro e que tinha mau feitio. Se calhar assim era. Mas defeitos
todos temos, desenganem-se aqueles que assim não se julgam.
Sobre si próprio (e de mais um punhado de outros jornalistas dessa era que
fundaram o semanário O Ponto) escreve BB que se tratava de «um singelo sonho de liberdade acalentado
por um grupo de jornalistas que de seu só possuía a honra jamais hipotecada e a
ingénua convicção de que as palavras (sempre de recusa, sempre de protesto,
sempre exaltantes) poderiam ser integradas na grande voz colectiva e aceites
pelas minorias sem voz.» E acrescenta que a escrita, a sua e a de
outros jornalistas como ele, «é um tributo ao sonho e à esperança. Sonho e
esperança de que o homem está sempre em questão, é sempre questionável, deve
ser questionado, e que legitima, devido às suas constantes dúvidas, todas as
questões. E também porque o homem em questão coloca como ponto prévio, antes de
tudo e se necessário contra todos, a questão da liberdade.» (in “Um Homem em Ponto – Entrevistas por
Baptista-Bastos, 1984)
É assim que eu penso. E (também) por isso, lamento tanto a perda.
Nunca será esquecudo!!! Bj
ResponderEliminarAbri o computador e dei com esta triste notícia aqui.
ResponderEliminarTambém lhe quero prestar homenagem no "ematejoca azul", embora neste momento ainda esteja sem palavras.
Um homem íntegro, sem papas na língua.
ResponderEliminarAlém da obra, deixa-nos uma enorme dose de valores.
Que descanse em paz.
Recordo-o sempre pronto para a briga, quer fosse à estalada (a própria), quer fosse na escrita, quer oralmente, defendendo sempre as suas convicções.
ResponderEliminarMorreu (mais) um homem livre.
Nunca incompreendido, (porque ele explicou-se sempre muito bem); incómodo sim, porque dizia o que pensava e (quase) sempre com razão.
E, como sabemos, quem com razão sabe do que fala raramente é "apreciado".
Morreu, mas só fisicamente.
As tuas ideias, as tuas lutas, as tuas revoltas, não morreram contigo.
Era um homem que incomodava por ser vertical e de esquerda. O seu modo peculiar despertava a inveja dos confirmados.
ResponderEliminarBj.
Frontal, ético, de fibra.
ResponderEliminarQuem o leu, jamais o esquece.
~~~ Beijinhos ~~~
homem de fibra
ResponderEliminarantes quebrar que torcer...
que sabia o valor das palavras e, por isso, as respeitava.
beijo
Vai fazer falta a sua frontalidade e verticalidade.
ResponderEliminarQue descanse em paz!
Um beijinho amiga Graça
O Toque do coração
:(((
ResponderEliminarPartiu um cultor da Língua Portuguesa.
ResponderEliminarQue repouse em paz.
Beijinhos
BB - O homem de esquerda de quem até alguns de direita gostavam!... Paz à sua alma!
ResponderEliminarEstas perdas custam-nos sempre muito a aceitar, mas o que fazer ?...
ResponderEliminarE à medida que os anos vão passando estas situações ir-se-hão repetindo cada vez em maior número !
Contra isso, não poderemos fazer nada. É inevitável ! :(
Obrigada, amigos, pelas vossas palavras elogiosas para quem as mereceu e merece.
ResponderEliminarBem-hajam!
Perdi o meu Mestre, o Amigo e o Camarada. Nunca esquecerei o tempo que trabalhei com ele no "Ponto".
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