segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Livros e autores

(daqui)


Tanto livro bom a sair e não conseguir ler tudo! [faz lembrar o louco verso de Campos «Quero sentir tudo de todas as maneiras»]. Não se trata de falta de tempo. É que, mesmo que conseguisse passar todo o tempo a ler – o que não seria possível e ainda bem – não daria para ler tudo o que eu acho que deveria ler!

Nas livrarias – em algumas – há livros que parece que se me agarram às mãos, mas não há tempo, nem espaço, nem dinheiro para tanto material de leitura. E depois há os jornais e as revistas de livros e leituras que não param de nos informar, de nos dizer o que há mais para ler. Tanta poesia boa. Tanto romance de grandes autores nossos a serem reeditados e que ainda não foram lidos. Tantos estudos literários interessantes para conhecer!

Na rubrica Maisartes do DN de sábado o jornalista João Céu Silva dá notícia do Livro Viagem a Itália 1786-1788 de Goethe com prefácio e tradução de João Barrento, nome que, de alguma forma me é próximo e não apenas pelo lançamento da obra da misteriosa Maria Gabriela Llansol ou pela fundação do Espaço Llansol em Sintra, mas muito especialmente porque foi meu professor na Faculdade. Mau professor, diga-se, porque pouco ou nada consegui aprender com as suas aulas de literatura norte-americana. Conhecendo o seu trajeto de estudos literários, percebi que se dedicou mais profundamente à literatura alemã, pelo que acredito que ter dado aulas de literatura norte-americana nos primórdios da sua carreira possa ter sido uma necessidade mais do que um gosto ou um prazer.

O curso de Germânicas, nos idos de 60, numa época em que o centro do conhecimento ainda era a cultura francesa, não era o mais bem lecionado ou o mais conseguido da Faculdade de Letras de Lisboa, se bem que fosse já o mais concorrido, o mais procurado pelos alunos. Os professores catedráticos de grande nível pertenciam ao Departamento de Românicas, enquanto o Departamento de Germânicas tinha apenas um professor catedrático que… enfim… Valia-nos o facto de termos algumas cadeiras comuns em que podíamos usufruir de algum bom ensino, de algum encantamento.

De facto, a nossa passagem pela Faculdade, pelo menos naquele tempo, tinha mais de encantamento do que propriamente de absorção de conhecimentos. Pelo menos para mim foi. Vinda de um Liceu opressor como eram os Liceus de Lisboa naquela época, a passagem pela Faculdade foi uma libertação, uma aprendizagem social e pessoal, uma abertura de vistas apesar da situação fascizante e o ambiente pidesco que se vivia: no ano da crise académica de 1969 estava eu a terminar o 3º ano.

Mas aquele foi o tempo em que eu tive o contacto possível com a «transcendência» … É que tive professores como Vitorino Nemésio, Lindley Cintra, Monteiro Grilo, ou seja, o poeta Tomaz Kim, o Padre Manuel Antunes; tive assistentes como António Machado Pires, Ivette Centeno e Teolinda Gersão, todos em início de carreira; cruzei-me nos corredores com o grande (e super vaidoso…) David Mourão-Ferreira, com os Prado Coelho pai e filho, com José Barata Moura, além de que tive colegas como Nuno Júdice e Luís Miguel Cintra. Foi ou não foi um encantamento?


26 comentários:

  1. Completamente, Graça! Um grande e verdadeiro encantamento, que eu já não tive a felicidade de conhecer.
    Não sendo tu uma pessoa saudosista, sente-se uma notória nostalgia neste teu belo texto.

    Um beijinho.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Foi um dos melhores tempos da minha vida, Janita, aquele que passei na Faculdade! Sem saudosismos. Foi uma aprendizagem, uma sorte!

      Beijinho.

      Eliminar
  2. ~~~
    Percebemos que foi um encantamento,
    pois recordas amiúde, com muita saudade...

    Porém, até a literatura evolui e é bom estar atualizado,
    ainda que minimamente, já que é impossível ser de outro modo.

    ~~~ Beijinho, Graça. ~~~

    ResponderEliminar
  3. Um privilégio, Graça, acima de tudo um privilégio.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  4. Foi mais do que encantamento, foi um presente dos deuses!

    beijinhos

    ResponderEliminar
  5. O facto de se ser um escritor famoso, não significa que se seja um bom professor... ;)

    Beijocas

    ResponderEliminar
  6. Há Homens e Mulheres que não deixamos morrer

    ResponderEliminar
  7. Há Homens e Mulheres que não deixamos morrer

    ResponderEliminar
  8. Encantamento que pareces sentir carinho!

    Um beijinho Graça.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Foi uma época muito especial, Flor! Obrigada pelo teu carinho.

      Beijinhos.

      Eliminar
  9. Sem dúvida. Os nomes que citou ainda hoje se mantêm por aí nas livrarias e temos todos que o manter no "activo" para que o seu legado não se perca nos arquivos mortos da memória. Como diz bem o Mar Arável (EF) "há homens e mulheres que não deixamos morrer".
    Boa noite.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O mais amoroso de todos foi mesmo Vitorino Nemésio. Um querido. Um doce. E um poço de sabedoria.

      Beijinho.

      Eliminar
    2. A Rtp Memória de vez em quando tem programas giros e convém estar atenta pois o Vitorino Nemésio é um dos que já vi e pode vir a ser repetido. Era mesmo um encantador.
      bjs

      Eliminar
  10. Graça, Essa lista é melhor que um Curriculum :)))
    bjs

    ResponderEliminar
  11. Tanto livro que gostaríamos de ler. Tanta revista com informação interessante e depois ainda há a TV, o FB, o radio. Realmente, Graça não temos tempo para por tudo em ordem. Há que fazer uma seleção. Um abraço.

    ResponderEliminar