Não sei falar da obra de Eduardo
Lourenço, o pensador que sabe e tem escrito (quase) tudo acerca da nossa
cultura. Uma vez que falei nisso à minha saudosa amiga Amélia Pais, ela
aconselhou-me a ler “Fernando, o rei da nossa Baviera”, que era o livro de
Eduardo Lourenço de que ela mais gostava. Fiquei a entender o valor, a qualidade,
a profundidade de pensamento e de conhecimentos que jorram dos seus textos. É
por isso que não perco um texto, um comentário, um ponto de vista seu que
apareça num jornal, numa revista.
Ouvi-o uma vez apenas e foi na apresentação
que José Sócrates fez do seu livro na Biblioteca Nacional na primavera de 2014 e
fiquei encantada com a sua eloquência fácil, a singela exposição dos factos e
acontecimentos históricos e sociais que, desde a Antiguidade, têm influenciado toda
a nossa vida ocidental, toda a nossa razão de ser. Ouvi-lo é como se todas as
peças de um imenso puzzle rapidamente se integram umas nas outras fazendo com
que tudo tenha um sentido.
E tudo isto por um senhor que já
conta 92 anos de vida e de intenso estudo. É espantoso! Por isso gostei de
saber que foi distinguido por mais um prémio, a primeira edição do Prémio Vasco
Graça Moura (que teria feito ontem 74 anos), depois de ter recebido o Prémio Camões
(1995) e o Prémio Pessoa (2008) entre muitos outros nacionais e internacionais.
O Diário de Notícias noticia isso
de forma quase poética: «Eduardo Lourenço junta Graça Moura a Camões e a Pessoa»
e relata a forma simples e algo humilde como o grande estudioso e pensador fala
daquilo que faz: «Quando lhe perguntamos
como corre o seu trabalho nos dias de hoje, responde: "Tenho sempre muita
dificuldade em chamar trabalho àquilo que eu fiz. Acho que era o Mastroianni
que dizia que não percebia como é que lhe chamavam trabalho quando, afinal de
contas, ele só tinha prazer naquilo que fazia. Eu não sou o Mastroianni, mas é
a mesma coisa. Não me posso considerar um trabalhador, é ofender os
trabalhadores verdadeiros." Conta que continua "a ler bastante"
e "a escrever", mas di-lo como quem é obrigado a comentar uma rotina
matinal.»
Mas melhor do que tudo o que eu
possa dizer, será passar a palavra a Guilherme de Oliveira Martins, outro
grande senhor da cultura portuguesa e presidente do júri que atribuiu o Prémio
Graça Moura, que diz: «Eduardo Lourenço
segue os passos da Geração de 70 demarcando-se da religiosidade tradicional, e
de um sentimento universal, notados em Fradique Mendes e depois na galáxia
Fernando Pessoa e no modernismo. Nesta ligação, o ensaísta assume grande
originalidade ao articular (como antes ninguém fizera) as Conferências
Democráticas e o Orpheu. "A história e o destino de Portugal nunca foram
trágicos fora da tragédia adiada que a vida é. Também não o são agora. Pela
primeira vez, o nosso país vive-se a si mesmo e começa até a ser visto pelos
outros, como um povo insolentemente feliz." Lourenço falou, por isso, de
"maravilhosa imperfeição", como marca indelével de Portugal. Nem
contentamento nem desconcerto, do que se trata é de procura de um sentido
emancipador. Perante as nuvens negras da crise, o seu tema é o da vontade, que
supere uma ciclotimia antiga. O tema de Portugal como Destino está de pé. Longe
dos mitos da glorificação ou do pessimismo são urgentes a liberdade e a
vontade! Afinal os mitos obrigam a ter deles uma leitura exigente e crítica.»
Depois de ter lido a tua bem alicerçada crónica/homenagem ao ensaísta Eduardo Lourenço, fui espreitar o que dele referiu o DN.
ResponderEliminarAcho que aos 92 anos este grande senhor tem um sentido de humor refinado que sabe usar de modo muito peculiar, à mistura com uma boa dose de humildade e muita naturalidade.
Adorei esta sua resposta à pergunta que lhe foi colocada sobre o seu trabalho actualmente.
"Tenho sempre muita dificuldade em chamar trabalho àquilo que eu fiz. Acho que era o Mastroianni que dizia que não percebia como é que lhe chamavam trabalho quando, afinal de contas, ele só tinha prazer naquilo que fazia. Eu não sou o Mastroianni, mas é a mesma coisa. Não me posso considerar um trabalhador, é ofender os trabalhadores verdadeiros."
Desculpa, Graça, mas achei esta forma de expressão deliciosa e peço -te que não leves a mal eu incluí-la no meu comentário, apesar de já haveres feito referência a esta citação.
Parabéns Graça, por enalteceres e dares destaque aos grandes vultos da nossa Cultura!
Beijinhos
Nada de desculpas, Janita!! Tudo o que seja para completar os meus texto´s é sempre muito bom!!
EliminarTambém gostei muito da sua resposta que para aqui transcreveste, mas não podia «copiar» tudo...
Beijinhos.
Ouvi a notícia de atribuição do prémio ontem.
ResponderEliminarMas confesso que sou um néscio no que respeita à obra de Eduardo Lourenço.
Beijinhos
Também me sinto assim face à sua imensa obra, Pedro!
Eliminar~~~
ResponderEliminarUm dos nossos inteletuais
mais simpáticos e respeitáveis; simples como todos os
verdadeiros doutos; com aptidões culturais reconhecidas
internacionalmente, profícuo e, pela sua idade, um vero
exemplo de energia criadora, visando fazer-se entender.
Uma homenagem sucinta - adequada a este tipo de publicação
- porém, precisa e perfeita.
~~~~ Beijinhos, Graça. ~~~~
És sempre uma querida, Majo!! Obrigada pelas tuas simpáticas palavras.
EliminarBeijinhos.
Vi-o também uma vez ao vivo e a experiência foi o oposto, porque prolongou demasiado a intervenção algo confusa .
ResponderEliminarPorém penso que teve a ver com o seu estado de saúde, porque Adriano Moreira acabou por pedir que toda a gente saísse da sala, porque Eduardo Lourenço se sentia mal.
Beijinhos e bom 2016 !
Tiveste azar, São.... Eu tive sorte. :)
EliminarBeijinhos
Um Homem. Um Homem que conhece a nossa natureza... Gostei que lhe tivessem atribuído o prémio.
ResponderEliminarUm beijo, Graça
Tem muito nível, muita classe. E sabe imeeeeeeeenso!
EliminarParabéns amiga Graça por enalteceres aqui um Homem que nos orgulha.
ResponderEliminarUm prémio muito merecido.
Um beijinho e BOM ANO!
Fê
Bom Ano, amiga Fê!
EliminarGracinhamiga
ResponderEliminarJunto-me à multidão ou seja os admiradores de Eduardo Lourenço que, além do mais, faz o favor de ser meu Amigo. Para mim há dois Homens que me marcaram, marcam e marcarão a minha vida: Agostinho da Silva e Eduardo Lourenço. Ponto final.
Bjs da Raquel e qjs do Leãozão (Biba o Lopestepegui, biba!!! Oxalá fique muitos no FêCêPê...)
Dois «monstros» da cultura portuguesa, Henriquamigo!
EliminarQuanto ao Lopestegui..... SPOOOOOOOOORTING!!!!! Ai, não, enganei-me: Biba o Lopestegui!.....
:)))))
Nunca li nada dele, mas não me parece que ele escreva ficção. Ou será que também escreve? :)
ResponderEliminarBeijocas e Bom Ano!
É impressionante a forma como Eduardo Lourenço discorre sobre qualquer assunto. Tive esta percepção ao ouvi-lo em entrevista na Antena 2 há umas duas semanas, julgo. Consegue encadear o discurso interpondo parêntesis explicativos sem nunca perder o fio do pensamento. Assombroso, tanto mais, como a Graça refere no seu texto, trata-se de um "jovem" de 92 anos. Daí a minha conclusão: a densidade de EL é > à unidade pois a massa do seu conhecimento supera grandemente o volume da sua idade.
ResponderEliminarBom trabalho.
BFS.
Não consigo apreciar este peralvilho afrancesado que não conseguiu ensinar aos filhos a língua de Camões. Mas vai arrecadando uns €uros que deve meter no Crédit-Lyonnais para lhes deixar em legítima. Aprecio mais o emigrante analfabeto que envia os filhos para a escola ensinando-os o português ou falando-o em casa. Tudo o mais são sedas, rendas e cenários!
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