terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Exame ou não-exame: that is the question...

No nosso país há dois temas que toda a gente se acha no direito de comentar (ou mandar uns bitaites…): o futebol e a educação.

Os jornais e os noticiários desdobram-se em artigos, comentários e opiniões sobre a educação, mas, ao contrário do que acontece com a economia – em que vão buscar especialistas nem que seja à China (?!) – raramente se fazem valer de (verdadeiros) especialistas em educação.

Ontem, espantei-me com uma entrevista feita ao Professor Joaquim Azevedo que o DN promoveu e publicou. O título, só por si, (não me dando embora grande novidade) é francamente inspirador: “O nosso modelo escolar é do séc. XVIII e não está adaptado à realidade”. Depois de dizer muito simplesmente que o modelo está esgotado e que há mais de vinte anos que se sabe que está esgotado, afirma que o problema da educação - que se centra na desatenção e no desinteresse dos alunos pelas matérias escolares que provocam desmotivação e indisciplina - não passa, nem de perto nem de longe, pela realização ou não de exames. A propósito desta «guerra» dos exames e da avaliação formativa, diz que, no seu trabalho pelas escolas, vê que os professores só sabem é classificar (não avaliar…)

Sobre isto menciona o novo modelo de educação implementado na Finlândia e nos colégios jesuítas da Catalunha que rompe completamente com toda a organização letiva passando a estruturar o processo de ensino-aprendizagem a partir de temas que interessem aos alunos. Porém, todo este processo está a ser preparado na Finlândia há trinta anos tendo-se começado a investir nos professores, mudando a formação inicial e as regras de funcionamento da profissão docente. Adaptando esta questão ao nosso país, expõe a forma como se poderia começar a preparar por cá a implementação deste modelo. E, para isso, propõe que a nota mínima de acesso à profissão docente deveria ser 16. Exigir ao nível do que se exige para a Medicina.

Mas a entrevistadora – Ana Sousa Dias – insiste na questão dos exames ou não-exames que muitos dizem que tem a ver com a permissividade e a indisciplina. Ao que o Professor contrapõe: «Isso é uma conversa estafada. Essas tensões existem mas o problema não é esse. É uma mistificação, porque um sistema com exames pode ser altamente permissivo. Ficam bem os que ficam bem no exame. E os outros? Em Portugal, aumentou imenso, nos últimos anos, a retenção no 2.º ano. Porquê? Pelo efeito do exame. Mas aprende-se melhor? Temos de ir um bocadinho mais atrás, mais longe. Esse tipo de discussão cansa-me, não conduz a nada. Vivemos num mundo de faz de conta: faz de conta que escola funciona bem; faz de conta que os exames são bons para os alunos aprenderem; faz de conta que os professores ensinam bem; faz de conta que a legislação que o ministério põe cá fora é eficaz e que os professores e as escolas a seguem, faz de conta que existe avaliação formativa.»

A questão que eu ponho é a seguinte: sendo o Professor Joaquim de Azevedo um homem da área político-partidária mais próxima do PSD, e com os conhecimentos profundos que «ganhou» com os seus estudos e experiência no âmbito das Ciências da Educação, porque não conseguiu pôr algum juízo na cabeça no ministro (C)rato?

O que se tinha evitado!!

18 comentários:

  1. São ideias que ficam caras, Graça!
    O que conseguiram foi fazer dos professores uma classe na qual todos "batem" e que se sente abatida.

    Beijos :)

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    1. É bem verdade, Maria! toda a gente «bate» nos professores...

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  2. Graça,

    Começo pelo fim, nunca será possível meter juízo na cabeça a quem há muito a não tem!

    Depois, se o homem é próximo do PSD ninguém percebe porquê, pois eu penso mais ou menos o mesmo...

    Por fim, vou ao principio: como não falo (quase nunca) de futebol, aprimorei-me a dar bitaites sobre educação!

    Tem visto? Não?

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  3. Futebol, até discuto (percebo uma coisas).
    Política educativa deixo para quem entende.
    Beijinhos

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  4. Pois é! Todos sabem de Educação, mas poucos sabem encontrar soluções credíveis para uma Escola mais eficaz. Será porque ela é, sem mais nem menos, o espelho da Sociedade onde se insere, das disfunções, aturdimentos e desconsertos dos tempos que vão correndo?

    Bj.

    Lídia

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    1. «Pescadinha de rabo na boca», Lídia. Uma é espelho da outra e assim vamos...

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  5. O ministro Crato é um caso incurável

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  6. Pois é amiga, falar de educação deve ser para quem
    verdadeiramente saiba do assunto, mas que as mexidas
    constantes não me parecem muito bem, mas...
    cada governo/cada Ministro.
    Veremos se este fará algo de positivo se lá estiver
    tempo suficiente para tal.
    Bjs. e o desejo que se encontre bem.
    Irene Alves

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    1. Vamos ver o que vai ser o nosso futuro próximo, Irene. Receio o pior...

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  7. ~~~
    Um comentário excelente, assim como a pertinente pergunta.

    ~~~ Beijinhos, Graça. ~~~

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  8. Por aqui (Portugal) impera a cultura do bitaite, Graça !
    "Treinadores de bancada" é coisa que não falta em nenhum dos campos, desde o futebol, passando pela economia e acabando na política !
    Não há Presidente nem Governo que se mantenha bem visto e isso vai ser demonstrado em poucos meses !
    Todos são (somos) "especialistas" do bitaite, do que não conhecemos .
    O problema põe-se é ao fim de algum tempo, em que a partir de certas situações reais, afinal as coisas não são bem assim como pareciam à primeira vista ! ... e isso é uma pena e torna o país ingovernável a curto prazo ! Ninguém gosta de ver cada macaco no seu galho !
    Oposição sim, é o que dá ! Mais cómodo não pode haver ! ...
    É tãããoo fácil !!!

    Abraço, Graça !

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    1. Ai, ai, Rui! Este país não tem emenda!!

      Mais cómodo ainda é «absterem-se» do voto e de tudo... É a cultura do «deixa andar». Um sufoco!

      Beijinhos

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  9. A Educação vai mal? O que é que vai bem neste País?
    O problema é não há ideia nenhuma na cabecinha dos nossos maiores. O melhor que se arranja são copy paste mal amanhados ou o regresso ao passado. Veja-se o que o ministro Crato fez: exames e facilitação da privatização da educação.
    E eu não percebo nada do assunto mas há coisas que se vêem à distância.

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