Das tarefas que mais prazer – e trabalho
– me davam quando, durante vários anos (alternados) da minha vida profissional,
desempenhei a função de presidente da direcção da “minha” escola/agrupamento
era receber os alunos no gabinete e tratar com eles os problemas – fossem disciplinares,
pessoais, familiares, relacionais ou outros.
Quando apareciam dois ou mais
deles, ou delas, que se tinham envolvido em lutas físicas, de palavras ou de
comportamentos, e o ofendedor me dizia muito aliviado e descansadinho «já pedi desculpa!» como se a ofensa
tivesse deixado de existir, ficava possessa e passava-lhe um “sabonete”
daqueles!
Infelizmente não acontece apenas
com os alunos, pequenos adolescentes de personalidade e educação pessoal ainda
não completamente formadas. Grassa por entre este povo uma cultura de
desculpabilização, de desresponsabilização depois dos pedidos de desculpa
apresentadas que brada aos céus. Irónica como sou, dizia aos alunos uma
daquelas minhas máximas: «Ah, desculpe se o matei!»
Agora essa hipocrisia que precede
e esse lavar de mãos que procede o “pedido de desculpas”, chegou ao grupo que
se pretenderia mais elevado da nação: o “governo”.
Ontem, depois de mais de duas
semanas de verdadeiro caos nos tribunais à conta da irresponsável pseudo reforma
judiciária que a senhora ministra da Justiça quis implementar a toda a brida sem
sequer ouvir quem sabe e acautelar todo o aparelho nomeadamente o programa
informático, a loira senhora veio à televisão declarar: “Não há paragem, nem qualquer caos. Houve transtorno e problemas, e por eles peço desculpa.”
Hoje, foi a vez do patético
ministro da Educação – o tal da implosão do ministério – que, depois de negar
os erros na colocação dos professores e querer atirar as culpas da duplicação nas
colocações para os directores das escolas, veio, em plena Assembleia da República
e da forma mais teatral, assumir as culpas do erro matemático – matemático,
imagine-se!! – do programa informático e “pedir
desculpa aos pais, aos professores e ao país”… Entretanto, e porque, com
aquelas falinhas mansas, ele de simples nada tem, foi chamando a atenção de todos e foi-se gabando de que era a primeira vez na História que um ministro chegava
ao Parlamento, assumia a responsabilidade de um erro e disso pedia desculpas ao
país. Ridículo!!
Tal como dizia aos miúdos lá na “minha”
escola, desde que se peça desculpa, o erro, a ofensa, a agressão deixam de
existir, não? «Desculpe se o matei!»
Em qualquer país de forte senso
de cidadania implantado, qualquer destes ministros (ou espécie de ministros)
teria de imediato pedido a demissão do cargo. Aqui em Portugal porém, pedem desculpa, aceitam as demissões
dos directores-gerias ou dos chefes de gabinete e continuam no seu lugarzinho –
que tantos lhes custou a granjear – para, numa próxima oportunidade voltarem a «prevaricar»
e voltarem a … pedir desculpas…
há gente para que o outro vale muito pouco...
ResponderEliminarQuando era miúdo
ResponderEliminarera regra de uso
dar calduço
ao mesmo tempo que dizíamos
"desculpa"
(mas a canelada
era reprovada)
Pois é agora o que impera
dão caneladas
e calinadas
Quem havia de dizer que o ministro matemático tinha um algoritmo errado?
ResponderEliminarSe eu pisar o pé de alguém, inadvertidamente, é natural e manda a boa educação que peça desculpa!:)
ResponderEliminarErrar, sistematicamente, ou tomar atitudes que envolvam prejuízos a terceiros por parte de quem tem por obrigação pensar no bem comum, é indesculpável!
Como sempre me disseram e eu repassei o ensinamento, as desculpas não de devem pedir, mas sim, evitar. Também sabemos que errar é humano, embora isso não sirva de 'desculpa' para tudo.
Gostei muito da tua linha de raciocínio e da forma clara como a expuseste, Graça.
Há verdades que devem ser ditas, ainda que de uma maneira núa e crua!
Beijinhos.
O George Carlin brincava com isso, Graça - terribly sorry! (e dava um tiro ao outro fulano) :)))
ResponderEliminarBeijinhos e votos de bfds
Deviam sentir vergonha da figura ridícula que fazem.
ResponderEliminarM.A.A.
sempre se ouviu dizer que as desculpas não se pedem, evitam-se. nós evitávamos era de ter tal incompetência a comandar a vida de tantas pessoas, pois quanto ao caos instalado, só quem passa por isto é que sabe dar valor.
ResponderEliminarÉ bem verdade, desabafoemrodape!!!Só quem passa por isso...
ResponderEliminarObrigada, Janita!
ResponderEliminarBeijinho.
Vá lá... hoje não dei por nenhum ministro pedir desculpa...Ainda pensei que era moda a pegar.
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