quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Pedidos de desculpas

Das tarefas que mais prazer – e trabalho – me davam quando, durante vários anos (alternados) da minha vida profissional, desempenhei a função de presidente da direcção da “minha” escola/agrupamento era receber os alunos no gabinete e tratar com eles os problemas – fossem disciplinares, pessoais, familiares, relacionais ou outros.

Quando apareciam dois ou mais deles, ou delas, que se tinham envolvido em lutas físicas, de palavras ou de comportamentos, e o ofendedor me dizia muito aliviado e descansadinho «já pedi desculpa!» como se a ofensa tivesse deixado de existir, ficava possessa e passava-lhe um “sabonete” daqueles!

Infelizmente não acontece apenas com os alunos, pequenos adolescentes de personalidade e educação pessoal ainda não completamente formadas. Grassa por entre este povo uma cultura de desculpabilização, de desresponsabilização depois dos pedidos de desculpa apresentadas que brada aos céus. Irónica como sou, dizia aos alunos uma daquelas minhas máximas: «Ah, desculpe se o matei!»

Agora essa hipocrisia que precede e esse lavar de mãos que procede o “pedido de desculpas”, chegou ao grupo que se pretenderia mais elevado da nação: o “governo”.

Ontem, depois de mais de duas semanas de verdadeiro caos nos tribunais à conta da irresponsável pseudo reforma judiciária que a senhora ministra da Justiça quis implementar a toda a brida sem sequer ouvir quem sabe e acautelar todo o aparelho nomeadamente o programa informático, a loira senhora veio à televisão declarar: “Não há paragem, nem qualquer caos. Houve transtorno e problemas, e por eles peço desculpa.”

Hoje, foi a vez do patético ministro da Educação – o tal da implosão do ministério – que, depois de negar os erros na colocação dos professores e querer atirar as culpas da duplicação nas colocações para os directores das escolas, veio, em plena Assembleia da República e da forma mais teatral, assumir as culpas do erro matemático – matemático, imagine-se!! – do programa informático e “pedir desculpa aos pais, aos professores e ao país”… Entretanto, e porque, com aquelas falinhas mansas, ele de simples nada tem, foi chamando a atenção de todos e foi-se gabando de que era a primeira vez na História que um ministro chegava ao Parlamento, assumia a responsabilidade de um erro e disso pedia desculpas ao país. Ridículo!!

Tal como dizia aos miúdos lá na “minha” escola, desde que se peça desculpa, o erro, a ofensa, a agressão deixam de existir, não? «Desculpe se o matei!»


Em qualquer país de forte senso de cidadania implantado, qualquer destes ministros (ou espécie de ministros) teria de imediato pedido a demissão do cargo. Aqui em Portugal  porém, pedem desculpa, aceitam as demissões dos directores-gerias ou dos chefes de gabinete e continuam no seu lugarzinho – que tantos lhes custou a granjear – para, numa próxima oportunidade voltarem a «prevaricar» e voltarem a …  pedir desculpas…




10 comentários:

  1. há gente para que o outro vale muito pouco...

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  2. Quando era miúdo
    era regra de uso
    dar calduço
    ao mesmo tempo que dizíamos
    "desculpa"
    (mas a canelada
    era reprovada)

    Pois é agora o que impera
    dão caneladas
    e calinadas

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  3. Quem havia de dizer que o ministro matemático tinha um algoritmo errado?

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  4. Se eu pisar o pé de alguém, inadvertidamente, é natural e manda a boa educação que peça desculpa!:)
    Errar, sistematicamente, ou tomar atitudes que envolvam prejuízos a terceiros por parte de quem tem por obrigação pensar no bem comum, é indesculpável!
    Como sempre me disseram e eu repassei o ensinamento, as desculpas não de devem pedir, mas sim, evitar. Também sabemos que errar é humano, embora isso não sirva de 'desculpa' para tudo.

    Gostei muito da tua linha de raciocínio e da forma clara como a expuseste, Graça.
    Há verdades que devem ser ditas, ainda que de uma maneira núa e crua!

    Beijinhos.

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  5. O George Carlin brincava com isso, Graça - terribly sorry! (e dava um tiro ao outro fulano) :)))
    Beijinhos e votos de bfds

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  6. Deviam sentir vergonha da figura ridícula que fazem.
    M.A.A.

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  7. sempre se ouviu dizer que as desculpas não se pedem, evitam-se. nós evitávamos era de ter tal incompetência a comandar a vida de tantas pessoas, pois quanto ao caos instalado, só quem passa por isto é que sabe dar valor.

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  8. É bem verdade, desabafoemrodape!!!Só quem passa por isso...

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  9. Vá lá... hoje não dei por nenhum ministro pedir desculpa...Ainda pensei que era moda a pegar.

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