sábado, 12 de abril de 2014

Crime e castigo

Dia de compras no Continente. Muita gente nas caixas para pagar. E, atrás de mim, a querer muito passar-me à frente, uma senhora bem mais velha do que eu, olhava aflita para o relógio. Estava quase a dar-lhe passagem à minha frente, quando chega outra senhora que a aconselha a ter calma, ainda falta meia hora para o autocarro, eu vou no mesmo e ainda há tempo. E daí começaram a falar disto e mais daquilo.

Falam de como as pessoas trabalham muito, muitas horas e cada vez ganham menos e cada vez mais lhes cortam os apoios e os subsídios; aí a senhora que tinha resposta para tudo para a senhora mais velha, sai-se com aquela máxima paroquialmente doentia «andaram a dar-nos de mais e agora temos de pagar!» Crime e castigo!

Virei-me para a frente para abstrair e não me meter onde não era chamada e tratei de pôr as minhas compras no tapete da caixa. Esqueci a conversa das minhas vizinhas de trás e tratei de pagar. «Vai querer o número de contribuinte na fatura?» pergunta a senhora da caixa. «Não!» respondi rindo, que não é por aí que vamos lá… E responde a empregada com aquele ar assustado de português que foi apanhado a fazer asneira: «andaram a dar-nos a mais e agora temos de pagar!»

Duas vezes em parcos minutos, não!! «Minha querida, - disse chegando-me perto - não andaram nada a dar-nos de mais! Andaram foi a roubar de mais! E agora somos todos nós que temos de pagar!» Farta de que nos acusem de termos andado a gastar de mais!! Farta de que nos digam que andámos a viver acima das nossas possibilidades! Houve foi quem andasse a roubar acima das suas possibilidades! (infelizmente, essa nossa veia de rapina já vem do tempo das descobertas).

Farta de que inculquem nas mentes mais indefesas, mais desvalidas que andámos, de facto, a gastar acima das nossas possibilidades para que aceitemos de cabeça baixa como castigo todos os desmandos que queiram desferir sobre nós! Castigo sem crime!




9 comentários:

  1. Uma mentira mil vezes repetida...
    É uma tristeza. Já o senhor professor doutor, presidente do conselho, Oliveira Salazar foi venerado pelos abnegados sacrifícios a bem da nação à força de ser propagandeado durante anos como alma bondosa.

    ResponderEliminar
  2. Essa ainda não ouvi, felizmente!
    Nada como não frequentar locais com grandes ajuntamentos! :)

    Abraço

    ResponderEliminar
  3. ~
    ~ ~ Muito bem dito, Graça.

    ~ ~ Quem está a lucrar com esta crise?
    ~ ~ Os agiotas que fazem o favor de nos emprestar o dinheiro,
    com juros que não são fixos, dependem da "confiança" dos
    mercados, se não me engano.

    ps
    ~ ~ O Belmiro de Azevedo é um péssimo patrão,
    trata os seus empregados sem nenhuma consideração.

    ResponderEliminar
  4. Estimada Amiga Graça,
    Por Macau as pessoas reformadas, na sua maioria de origem chinesa) e a receber (obrigatoriamente pela CGA) assim não falam, mas queixam-se que estão sendo roubados e desprezados pelo governo português, que lhes vendeu gato por lebre...
    Abraço amigo.

    ResponderEliminar
  5. uma mentira mil vezes repetida (ou subtilmente insinuada) transforma-se em verdade absoluta, já se sabia...

    não há maior cego do que aquele que não quer ver, infelizmente.

    beijo

    ResponderEliminar
  6. Fujo de grandes superfícies , tenho quem faça compras por mim , mas já ouvi muitas vezes essa " andámos a gastar acima das nossas posses "...Como sempre fui equilibrada , não me cabe a carapuça. Agora, que andou muita gente a roubar demais , houve e parece que há muita gente que ainda não viu , ouviu , leu etc.
    M.A.A.

    ResponderEliminar


  7. “O que impede de saber não são nem o tempo nem a inteligência, mas somente a falta de curiosidade.”

    Agostinho da Silva

    Um beijo

    ResponderEliminar
  8. E a falta de curiosidade vem da ignorância e da cegueira...

    Beijinho, Lídia.

    ResponderEliminar
  9. Não discordo quando oiço dizer que andamos a consumir acima das nossas possibilidades, mas lembro sempre que, se isso aconteceu, foi porque nos incitaram a endividar-nos e nos fizeram crer que esse era o caminho certo. Bancos e governos foram culpados e deviam ser eles a pagar a crise, não nós.
    Ah, é verdade.... peço sempre factura. Mas não por causa do Audi e sim porque é hábito antigo.

    ResponderEliminar