segunda-feira, 21 de abril de 2014

Ermida da Memória



«De D. Fuas Roupinho apenas se sabe que morreu em 1184 numa batalha naval com os Mouros. Quanto ao resto, uns dizem ter sido irmão bastardo de D. Afonso Henriques, outros aio de D. Pedro Afonso, este sim, bastardo do conde D. Henrique e grande amigo do fundador.

Pois guerreava D. Fuas os Mouros em Porto de Mós, de cuja vila era alcaide, em meados de 1180, o príncipe D. Sancho combatia outras forças mouras no Alentejo e D. Afonso Henriques, em Coimbra, aguardava notícias de ambos. Por fim chegou D. Fuas com prisioneiros mouros, entre eles o rei Gamir, de Mérida e a filha, bem como os tesouros tomados. Abraçaram-se e D. Afonso Henriques escuta do mouro palavras de louvor pelo seu poder. Desesperado, o mouro desfalece, amparando-o a filha. O rei português manda que lhe retirem as grilhetas e os tratem bem. D. Fuas levou pai e filha para o seu Castelo de Porto de Mós, onde o amigo rei o mandara recolher para que repousasse.

Ali chegados, ante a curiosidade da princesa moura, D. Fuas foi mostrar-lhe a gruta onde uns pastores haviam encontrado a imagem de Nossa Senhora da Nazaré. A jovem ficou encantada e desejosa de converter-se.

Enquanto ela ficava admirando-a, o alcaide foi dar um passeio a cavalo. De repente, junto de si levantou-se um veado e ele logo decide dar-lhe caça. Foi uma perseguição tremenda, até que o cavaleiro sentiu que nada tinha diante de si. Nada, a não ser um precipício sem fim, com o mar ao fundo. O cavalo fincara as patas na pedra e D. Fuas murmurou:

- Valha-me Nossa Senhora da Nazaré! – Uma eternidade pareceu a D. Fuas Roupinho o tempo em que a sua montada teve as patas dianteiras procurando apoio no vazio. Os olhos de D. Fuas cravaram-se nas duas marcas da ferradura do seu cavalo na pedra onde estivera. (…)



D. Fuas cavalgou depois até à gruta onde deixara a princesa e viu-a chorosa:

- Quando vos aquele veado negro à vossa frente, senhor, tive tanto medo! Parecia a representação do mal!

- Era o próprio demónio, minha filha! – D. Fuas foi ajoelhar-se diante da imagem de Nossa Senhora da Nazaré, agradecendo-lhe o milagre que lhe salvara a vida. Depois mandou fazer a capelinha da invocação da santa junto ao sítio, hoje chamado Ermida da Memória, onde se dera o milagre e meter lá a imagem, onde é venerada por milhares de pessoas.


Conta a lenda que a referida imagem foi esculpida por São José na presença da própria Virgem e que um monge grego, Ciríaco de seu nome, a terá levado para o Mosteiro de Cauliniana, em Mérida. Dali, o rei Rodrigo e um tal Frei Romano, após a derrota dos cristãos em Guadalete, foram parar, correndo novembro de 714, ao monte de São Bartolomeu, perto da atual Nazaré. E aí a esconderam numa gruta. O resto já sabem.»

(João Viale Moutinho, in «Portugal Lendário», Círculo de Leitores, 2013)


Interior da capelinha chamada de Ermida da Memória, toda forrada a azulejo.











Imagem de Nossa Senhora da Nazaré.




Representações da lenda de D. Fuas.










Baixo relevo em pedra calcária dos séculos XII - XIII (Ermida da Memória)



Vale a pena (re)visitar!

8 comentários:

  1. O Rui (Coisas da Fonte) já tinha formulado este convite.
    Boa semana!

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  2. Uma lenda de encantar que até mete mouros e uma capelinha de onde se espreita o mar...lá em baixo!
    A Senhora de Fátima roubou o protagonismo à da Nazaré cujos festejos são a 8 de Setembro!

    Abraço

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  3. Também vale a pena ir visitar o castelo de Porto de Mós, parece pertencer a um conto de fadas...

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  4. Estimada Amiga Graça Sampaio,
    Desconhecia essa parte da história bem como esses belos locais cujas fotos são maravilhosas.
    Fiquei nais rico culturalmente lendo seu belo e informativo post.
    Abraço amigo

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  5. A ermida é muito bela. A história de Dom Fuas não nos cansamos de ler ou ouvir... Obrigada.
    Beijo.

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  6. as nossas lendas são lindas, embora não caibam no mundo real...

    abraço Graça

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  7. Estive lá em Setembro e, como sempre que lá passo, lembrei-me daquela historieta que contávamos na escola:
    " Na praia da Nazaré/ Vai um grande burburinho/ As mulheres estão de roupão/ E o D. Fuas de Roupinho"
    Criancices...

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  8. Gosto deste sitio e desta forma de narrar coisas da nossa Terra.
    Talvez por isso se chame "SITIO". Vem de longe, lá pela escola primaria, quando li esta historia, feitos dos grandes do nosso Portugal.
    Excelente documentação gráfica.
    Um grande abraço

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