Dia de compras no Continente. Muita
gente nas caixas para pagar. E, atrás de mim, a querer muito passar-me à
frente, uma senhora bem mais velha do que eu, olhava aflita para o relógio. Estava
quase a dar-lhe passagem à minha frente, quando chega outra senhora que a
aconselha a ter calma, ainda falta meia hora para o autocarro, eu vou no mesmo
e ainda há tempo. E daí começaram a falar disto e mais daquilo.
Falam de como as pessoas
trabalham muito, muitas horas e cada vez ganham menos e cada vez mais lhes cortam
os apoios e os subsídios; aí a senhora que tinha resposta para tudo para a
senhora mais velha, sai-se com aquela máxima paroquialmente doentia «andaram a dar-nos de mais e agora temos de
pagar!» Crime e castigo!
Virei-me para a frente para
abstrair e não me meter onde não era chamada e tratei de pôr as minhas compras
no tapete da caixa. Esqueci a conversa das minhas vizinhas de trás e tratei de
pagar. «Vai querer o número de contribuinte
na fatura?» pergunta a senhora da caixa. «Não!» respondi rindo, que não é por aí que vamos lá… E responde a
empregada com aquele ar assustado de português que foi apanhado a fazer
asneira: «andaram a dar-nos a mais e
agora temos de pagar!»
Duas vezes em parcos minutos,
não!! «Minha querida, - disse
chegando-me perto - não andaram nada a
dar-nos de mais! Andaram foi a roubar de mais! E agora somos todos nós que
temos de pagar!» Farta de que nos acusem de termos andado a gastar de
mais!! Farta de que nos digam que andámos a viver acima das nossas
possibilidades! Houve foi quem andasse a roubar acima das suas possibilidades!
(infelizmente, essa nossa veia de rapina já vem do tempo das descobertas).
Farta de que inculquem nas mentes
mais indefesas, mais desvalidas que andámos, de facto, a gastar acima das nossas
possibilidades para que aceitemos de cabeça baixa como castigo todos os
desmandos que queiram desferir sobre nós! Castigo sem crime!
Uma mentira mil vezes repetida...
ResponderEliminarÉ uma tristeza. Já o senhor professor doutor, presidente do conselho, Oliveira Salazar foi venerado pelos abnegados sacrifícios a bem da nação à força de ser propagandeado durante anos como alma bondosa.
Essa ainda não ouvi, felizmente!
ResponderEliminarNada como não frequentar locais com grandes ajuntamentos! :)
Abraço
~
ResponderEliminar~ ~ Muito bem dito, Graça.
~ ~ Quem está a lucrar com esta crise?
~ ~ Os agiotas que fazem o favor de nos emprestar o dinheiro,
com juros que não são fixos, dependem da "confiança" dos
mercados, se não me engano.
ps
~ ~ O Belmiro de Azevedo é um péssimo patrão,
trata os seus empregados sem nenhuma consideração.
Estimada Amiga Graça,
ResponderEliminarPor Macau as pessoas reformadas, na sua maioria de origem chinesa) e a receber (obrigatoriamente pela CGA) assim não falam, mas queixam-se que estão sendo roubados e desprezados pelo governo português, que lhes vendeu gato por lebre...
Abraço amigo.
uma mentira mil vezes repetida (ou subtilmente insinuada) transforma-se em verdade absoluta, já se sabia...
ResponderEliminarnão há maior cego do que aquele que não quer ver, infelizmente.
beijo
Fujo de grandes superfícies , tenho quem faça compras por mim , mas já ouvi muitas vezes essa " andámos a gastar acima das nossas posses "...Como sempre fui equilibrada , não me cabe a carapuça. Agora, que andou muita gente a roubar demais , houve e parece que há muita gente que ainda não viu , ouviu , leu etc.
ResponderEliminarM.A.A.
ResponderEliminar“O que impede de saber não são nem o tempo nem a inteligência, mas somente a falta de curiosidade.”
Agostinho da Silva
Um beijo
E a falta de curiosidade vem da ignorância e da cegueira...
ResponderEliminarBeijinho, Lídia.
Não discordo quando oiço dizer que andamos a consumir acima das nossas possibilidades, mas lembro sempre que, se isso aconteceu, foi porque nos incitaram a endividar-nos e nos fizeram crer que esse era o caminho certo. Bancos e governos foram culpados e deviam ser eles a pagar a crise, não nós.
ResponderEliminarAh, é verdade.... peço sempre factura. Mas não por causa do Audi e sim porque é hábito antigo.