terça-feira, 11 de maio de 2010

Sobre uma crónica de Baptista-Bastos




Leio sempre com muita atenção e com muita consideração as crónicas que o escritor Baptista-Bastos escreve semanalmente no Diário de Notícias. Primeiro porque aprecio a forma como domina a língua escrita (não há muitos jornalistas com este jeito natural e este cuidado com a escrita) e depois porque tem uma perspectiva das coisas da república e do mundo muito nítida, muito realista e que muito me agrada. Para além, já se vê, do seu referencial cultural que é vastíssimo!

Pois a crónica da semana passada, que tinha o título de “A nossa fúria e a nossa revolta” e que é particularmente pessimista, suscitou em mim dois pensamentos paralelos e, infelizmente recorrentes, que me deixaram deveras preocupada para não dizer mesmo infeliz.

O primeiro – que veio logo com a frase inicial da crónica: “Não me recordo de termos sido felizes” – é que temos sido, ao longo dos séculos (quase passámos da Inquisição para a ditadura fascista) um povo triste, amarfanhado, amedrontado pelo poder, sufocado pela dominação dos chefes políticos, religiosos e sociais que nos embotou o espírito enquanto nos negou a educação e a instrução. “Acordamos e deitamo-nos sob a pressão da catástrofe iminente” diz BB. Levamos cem anos de atraso em relação aos povos do norte da Europa, sofremos este “jet-lag” que pretendemos ignorar. Temos, porém, dado passos de gigante em termos socio-político-educacionais desde 74 para cá ( que quase não são reconhecidos) desnecessários nos outros países mas que, mesmo assim, nos deixam tristemente atrás dos outros.

O outro meu pensamento/receio não menos cinzento que o atrás exposto é que, perante as crescentes crises financeiras, laborais e sociais que as democracias ocidentais têm vindo a sofrer, estas vão enfraquecendo, vão estiolando e deixem de se entender e de ter capacidade de resposta para os problemas e para as crises supervenientes  tal como aconteceu no início do século XX e vão abrindo caminho para o (re)aparecimento das ditaduras.


3 comentários:

  1. Também leio com prazer as crónicas de BB...
    Esta que referes é um sério alerta porque os vampiros continuam por aí, à solta!
    Eles é que comem tudo e quem se lixa é o mexilhão! :-((

    Abraço

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  2. Truz, truz!

    Posso entrar?

    A amiga Rosa dos Ventos fez publicidade a este blog e eu não resisti a cuscar.
    Pois é, não tem muito aparato, como diz a Carol lá na casinha da Rosa mas tem muito conteúdo.

    Também eu gosto do BB e do modo como se expõe e expõe as suas ideias. Porém, ao manifestar preocupação pelo futuro dos nossos filhos e netos, num blogue que também sigo, o SEMPRE JOVENS, um dos seus autores acalmava-me dizendo que a História está cheia de crises e soluções para as mesmas. Quando tudo parece negro, logo surgem uns iluminados que dão volta ao texto e a Vida lá segue em frente.
    Nós já passámos por algumas e contribuímos para as suas soluções.
    Cabe agora aos nossos filhos ou netos encontrarem os seus rumos.
    Fiquei tão tranquila porque... SIM!
    Quero ser positiva no tempo que me resta e como já vou fazer 64 anos... estás a ver o trocadilho???

    Para já prometo que te vou seguir se não te importares, claro!

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  3. Fico sempre muito honrada com as visitas ao meu blog e com os comentários às minhas opiniões. Obrigada, Tite! E obrigada também pelo optimismo. Concordo! E eu também sou uma optimista. Felizmente.

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