sábado, 15 de maio de 2010

Contradições


Fui deixando, ao longo dos tempos, livros para ler, DVD de filmes para ver, CD de música para ouvir, até bordados para fazer quando tivesse o tempo todo livre para me dar à fruição desses pequenos grandes prazeres. Para quando me reformasse!

E agora que estou fora do trabalho há já dois meses, não me apetece fazer nada disso! Parece que ainda não deu para esgotar a noção de falta de tempo que me consumiu durante especialmente os últimos cinco ou seis anos. Por outro lado, sinto que me estou a trair porque não “produzo”. Tudo ao contrário!

Só me lembro dos versos da canção do António Variações, sabem, “Estou além” que eu deixo aqui para recordarem. Era um inconstante aquele António Variações – como eu – mas que viveu antes do seu tempo.


Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra não chegar tarde

Não sei de que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão


Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só:
Quero quem, quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi

Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder

Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar

Vou continuar a procurar
A minha forma
O meu lugar
Porque até aqui eu só:
Estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou
Estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem...


10 comentários:

  1. Amiga recente, Carol

    A inconstância é própria do "Homem".
    Nem sempre sabemos o que queremos e por vezes queremos o que não temos. Quando finalmente temos o que tanto desejámos temos saudades do que ficou para trás.

    O que nos vale é saber sonhar e continuar a fazê-lo pois, como dizia o nosso velho Professor - sempre que um homem sonha o mundo pula e avança.

    Bom FdS

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  2. Dá cá a mão, minha amiga!
    Agora percebes os meus "cómicos" lamentos sobre o tempo a mais e a "produção" a menos...
    Como é que durante 38 anos consegui levantar-me, bem cedo, lesta e prazenteira, ser das primeiras a chegar à escola embora a 23 kms de distância e "sem subsídio de deslocação"! :-))

    Abraço

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  3. É este o mistério insondável da vida. A insatisfação constante, o desejo de se fazer o que temos em sonho, o que sabemos não virmos a conseguir fazer, algo de que sentimos falta ou saudade e nem sequer conseguimos imaginar a não ser numa ideia ou imaginário difuso, imperceptível mas que se vislumbra além...onde?!...

    Bj Carol
    António

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  4. Bem... assim sinto-me mais acompanhada... Obrigada pela companhia!
    Bj a todos.

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  5. Inconstante? Pelo que li neste seu blogue considero-a uma pessoa firme persistente e bastante produtora.

    “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
    Muda-se o ser muda-se a confiança;
    Todo o mundo é composto de mudança,
    Tomando sempre novas qualidades…”

    Reformada apenas há dois meses… nesta matéria comparado consigo sou uma autoridade. Dê tempo ao tempo e verá.
    Desejo-lhe sinceramente as maiores felicidades neste seu “novo emprego”.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Peço desculpa, mas o meu comentário anterior saiu truncado. Deveria dizer:"Obrigada, Rui Pascoal, mas a questão é que eu sou do Carneiro e essa gente é esquisita e pensa assim: "Quero! Então quero já!"

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  8. Bem professora Graça.... ao ler este seu comentário revi-me completamente nele... Realmente os carneiros são elementos do fogo, da guerra, da raça, da vontade, da perseverança...e de frases tão típicas como aquela que colocou no seu comentário: "Quero! Então quero já!". É uma força interior que temos e que não sabemos muito bem explicar, mas é uma força que nos leva a agir, a guerrear sempre com o propósito firme de conseguir os nossos intentos... Somos assim nós os Carneiros.....!

    Bjs
    António Filipe

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  9. Amiga,
    A primeira coisa que fiz, assim que me aposentei, foi pôr todos os relógios de minha casa a marcar horas diferentes (tenho relógios em todas as divisões) dez, quinze ou vinte minutos uns a mais outros a menos mas, nenhum igual. Achei que, tendo passado toda a vida a correr à frente das horas, para cumprir obrigações tinha o direito de passar a ver as horas a correr atrás de mim. Confesso que fiz o mesmo com os relógios de pulso. Foi um encantamento! O tempo passou a ser o meu tempo. Acho que nem foi uma ideia tão peregrina com à primeira vista possa parecer. Se Kant define espaço e tempo como conceitos, porque obrigar-me às convenções dos outros desprezando as minhas? Dei-me muito bem... no 1.º ano! Depois comecei a sentir a falta dos alunos, não das aulas dos exercícios, das aprendizagens mas a falta de renovação. Senti falta da lufada de ar fresco que cada nova geração de alunos nos traz, daquela sensação de eterna juventude que proporciona o saírem os mais velhos e entrarem outros mais novos, que nos obrigam a acompanhar "as modas", para que o diálogo seja possível. Em consequência meti-me em tanta coisa que, por vezes dou comigo a pensar "nem sei como já tive tempo para exercer uma profissão"
    Sugiro que quebres as rotinas. Os livros que não leste devem ficar por ler, compra outros mais recentes que te apeteçam. Os trabalhos que não fizeste devem ficar por fazer. Faz como eu que tenho programado, para fazer no céu, cerca de dois terço de uma colcha a duas agulhas.
    A música já é outra, arruma os CDs velhos
    Vive um dia de cada vez!
    Marca um dia semanal para te encontrares com as amigas e falar de tudo menos de escola e quando estiveres aborrecida apita que vamos as duas tomar o chá que a tia Elisabete nos negou em Londres.
    Bj
    da Zabel

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