terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O centenário da Revolução Russa

(in esquerda.net)

Não foi em Outubro. Em Fevereiro de 1917, um movimento revolucionário derrubava o czar Nicolau II e instituía um governo provisório, maioritariamente menchevique (movimento de oposição ao czar de orientação mais burguesa, ao contrário do movimento bolchevique liderado por Lenine, que considerava que o governo devia ser entregue às classes trabalhadoras).

Foi a primeira fase da revolução russa que, não conseguindo dar resposta aos graves problemas do país, provocou várias insurreições e culminou com a chegada dos bolcheviques ao poder em Outubro.

Um historiador contemporâneo – Orlando Figes – diz que a Revolução de Fevereiro de 1917 começou pelo pão, ou pela falta dele e pela consequente revolta. As derrotas nos campos de batalha da I Guerra Mundial engrossaram as queixas do povo. Faltava pão, faltava açúcar, faltava tudo e anunciavam-se mais catástrofes. Tudo isto no frio extremo do inverno russo. No dia 23 de Fevereiro, dezenas de milhares de operários e de mulheres vieram para as ruas para pedir pão e a gritar “abaixo o Czar”. A insurreição não foi dominada pelas forças dominadoras e as manifestações e as greves continuaram até que, no dia 26 a polícia e os militares abriram fogo sobre os manifestantes. Aos poucos os soldados começaram a juntar-se ao povo e atacaram o Arsenal apoderando-se das armas, assaltaram as prisões e libertaram os presos.

O Czar abdicou em Março e o Governo Provisório foi constituído por liberais e socialistas em volta da figura de Alexander Kerensky. Mantiveram-se na Guerra ao lado dos Aliados; não foram capazes de constituir um governo forte e coeso com uma linha governação determinada; as grandes desigualdades sociais mantinham-se; os sovietes, os conselhos operários, tornavam-se cada vez mais reivindicativos. Os democratas não conseguiram responder aos dois grandes problemas da Rússia: a guerra e a profundas desigualdades económico-sociais, acabando por dar o poder aos bolcheviques que tinham os seus chefes em Lenine, Trotsky e Estaline.

A Revolução de Fevereiro teve, porém, os seus aspetos positivos e determinantes: primeiro pôs fim ao czarismo e a um sistema de governação fortemente centralizada, autoritária e repressiva que dominara a Rússia durante séculos; foi uma revolução de caráter reformista; e criou as condições para uma segunda revolução mais profunda socialmente.


(texto baseado nos textos apresentados sobre o assunto pelo Jornal de Letras de 1 a 14 de Fevereiro)

8 comentários:

  1. Somos a memória que temos

    Uma jovem professora teve uma iniciativa, contactar o PCP para que destacasse alguém do Partido que fosse falar da Revolução de Outubro e que tal se inseria num conjunto de outros convites. Anunciado quem e combinada a data, tudo se aprontara. Dias depois, a jovem professora desmarcaria, desculpando-se, sentida, desse acto... porque alguém pretende que se apague a memória e se reescreva a história...

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  2. Estive a ouvir os Radicais Livres (Jaime Nogueira Pinto e Rúben Carvalho) acerca deste tema.
    Sempre um deleite ouvi-los.
    Beijinhos

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    1. Parte do meu texto foi também baseado num texto de J. Nogueira Pinto. Muito bom!

      Beijinho.

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  3. ensina-se nas escolas?
    pergunto, inocentemente...

    beijo

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  4. Um tema velho mas que ainda é tratado de forma cautelosa não vá contagiar as mentes "puras". Tivemos um longo período durante o qual ser comunista era ser sacrílego, mas é tempo de ser considerado apenas Homem. Livre.
    Como diz a canção "não há machado que corte a raiz ao pensamento".
    Bj.

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    1. Somos tão preconceituosos!!! Tão salazaristas ainda!

      Shame!!

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