quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Só à noitinha

Contava-me a minha mãe que, era eu bebezinha, lá em Algés, teve uma criada (desculpe-se-me a palavra. Nesse tempo "não havia" empregadas domésticas e, muito menos, colaboradoras como agora. Além de que eu não tenho qualquer medo das palavras ...) que tinha tido um grande desgosto de amor. (Tal como a fadista que aqui trago hoje, aliás.)

Nesse tempo - e estou a falar nos finais de 40/iniciozinhos de 50 - ouvia-se rádio a todas as horas porque não havia mais nada e a música que passava era essencialmente (para não dizer «apenas») música portuguesa e a música portuguesa era fado - a canção do regime. 

Ora a dita criada, que ao que a minha mãe dizia tratava muito bem de mim, de cada vez que na rádio passava este fado «Só à noitinha», largava-se num pranto sem fim, além de que, no final da tarde, àquela hora crepuscular que mais nostalgia nos traz, retirava-se para o seu quarto para chorar.

(Assim quase estou eu, mesmo sem o tal desgosto de amor... (muito dada a episódios depressivos, enfim!!)


Vale a pena ouvir este fado de 1945 quanto mais não seja para apreciar a voz ainda tão límpida de Amália Rodrigues.





25 comentários:

  1. Pois então, Graça, vai ser mesmo ao som deste Fado nostálgico, que te vou contar um episódio da minha infância distante.
    É bem verdade que é ao crepúsculo, que a nostalgia mais nos atinge, a nós, os dados a essas coisas, e a mim, já desde pequena tenho essa predisposição.
    Havia lá no quintal da minha casa, no Alentejo, casa essa, pertença do meu Avô materno, duas romãzeiras. Lembro-me, que no período, após o seu falecimento, eu trepava para cima de uma delas e lá bem no alto, escondida dos olhares da minha família, possuída por uma estranha e profunda nostalgia, chorava copiosamente. Eu teria pouco mais de onze anos...
    Tal como tu, não preciso de desgostos de amor, para chorar à noitinha; basta que me chegue a saudade...Ainda sem saber de quê!!

    Beijinhos, com laivos de alegria. É melhor!

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    1. Oh Janita, eu era (e sou) igualzinha! Despedidas, sejam de que natureza forem, são o pior que me pode acontecer. Choro sem parar - uma vergonha! Enfim!Uma sentimental é o que eu sou...

      Beijinhos sentimentais...

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  2. Dizem que os desgostos de amor, são eternos. Graças a Deus que é "doença" de que nunca sofri.
    Gostei de ouvir a Amália, não gostei de sabê-la triste. Espero que não seja por causa da saúde.
    Abraço

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    1. Obrigada, querida Elvira, pelas suas palavras doces. A saúde cá vai andando, mas às vezes, uma pessoa vai-se a baixo...

      Beijinhos.

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  3. Não conhecia este fado na voz, ainda cristalina, de Amália.
    Que histórias se guardam na memória, por tanto tempo!
    Boa noite, Graça.

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    1. Não sei se por bem ou por mal, tenho uma memória que nunca mais acaba...

      Beijinho.

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  4. Tive dificuldade em perceber o que proferia...
    Não há dúvida que foi Alain Oulman que elevou o fado do patamar de desgraçadinho para um patamar mais erudito, de tristeza sem autocompaixão.
    Detestava este tipo de fado ''marceneiro''...
    Quando comecei a apreciar música de rádio já havia muitas canções francesas, brasileiras e de expressão espanhola que incluía os tangos de Jardel...
    ~~~ Beijinhos cantarolados ~~~

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    1. Esqueci dizer-te que o que tu precisas é agendar umas evasões periódicas...
      Com uns banhos de Lisboa, passam-te esses achaques...
      Vai enquanto puderes e não guardes para depois...
      ~~~ Terno abracinho ~~~

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    2. É isso mesmo, Majo! Banhos de Lisboa. Banhos de Sintra e assim... mas como tomá-los? Parece fácil, mas não é.

      Obrigada pelo conselho. Beijinhos

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  5. Acompanhei a letra; pobre da empregada, como sofreu! Fogo!!
    Talvez por não estar habituada a ouvir a Amália tão nova, prefiro a voz dela quando era mais velha. : ))

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    1. É de facto bem diferente a voz dela. Esta gravação é dos inícios da sua carreira. (Aqui para nós, que ninguém nos ouve, eu nunca gostei de a ouvir. Nem no início nem no meio nem no fim da carreira. Considero, porém, que tinha uma voz poderosa.)

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  6. A canção despertava nela memórias dolorosas??
    Provavelmente...
    Beijinhos, bfds

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    1. Acho que sim: tinha sido deixada pelo seu amor - tal como acontecera com a fadista. Dizia a minha mãe que a conhecia lá de Algés, quando era a menina dos limões.

      Bom fim de semana, Pedro.

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  7. Acho que é esse estado de espírito é culpa do tempo amiga Graça ;)
    Um desgosto de amor dá sempre um belo fado um bom poema mas uma tremenda dor de cabeça :)

    Um beijinho

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    1. De facto, os prenúncios da Primavera que aparecem por Fevereiro, dão cabo de mim...

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  8. Dias cinzentos e frios pedem mesmo picos de triste :(
    Melhores dias virão.
    Bom fim de semana de preferência mais alegre do que estás hoje.
    bjss

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    1. Obrigada, papoila. Eu sou cheia de altos e baixos e Fevereiro dá cabo de mim...

      Beijinhos

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  9. O fado emociona e os desgostos de amor...também!!!
    Belo som...bj

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  10. que saudades do "venil"!...
    foi bom ouvir ! aqui, que bem criada foste...

    beijo

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  11. Sinceramente, tenho que ser franco e dizer que não gosto de "clichês" ! ... Acontecia com o Fado, acontecia com Fátima, acontecia com o Futebol e até ainda, com o Cinema português dos anos 50 /60 .
    A verdade é que ainda hoje, o Futebol está no seu auge, Fátima, é o que se vê, ainda há muitíssima gente que adora o fado e quem não adora, "HOJE" o cinema português daquela época, em que se teimava em marginalizá-lo e depreciá-lo ?! ...

    Neste caso, deste fado de Amália, não era realmente da época em que eu mais a apreciei. Essa, mais nos anos 60 ! Não naquela fase inicial, ainda demasiado jovem e também não da fase em que já custava ouvi-la, comparando-a com o que tinha sido há 10 a 15 anos antes !

    Beijinhos, Graça :)

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    1. Infelizmente os três F(s) de outros tempos ainda fazem furor. Só que naquele tempo estávamos enclausurados nas verdades do regime, ao passo que agora podemos respirar por outras janelas. Quanto ao cinema português foi bom nos anos 30, no tempo do Vasco Santana e do António Silva; depois nem tanto...

      Quanto à fadista, pessoalmente nunca gostei muito de a ouvir. Sou muito anos 60 e tal...

      Beijinhos; Rui!

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