quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Bucolismos

O único bucolismo a que fui permeável, ou melhor, muito permeável, foi ao encantador e delicado texto da morte do rouxinol da novela Menina e Moça de Bernardim Ribeiro.

«(...)Não tardou muito que, estando eu assi cuidando, sobre um verde ramo que por cima da ágoa se estendia se veo apousentar um roussinol, e começou tão docemente cantar que de todo me levou após si o meu sentido de ouvir. E ele cada vez crecia mais em seus queixumes, cada hora parecia que como cansado queria acabar, senão quando tornava como que começava então. A triste da avezinha que, estando‑se assi queixando, não sei como, caio morta sobre a ágoa, e caindo por entre as ramas, muitas folhas caíram também com ela! pareçeo aquilo sinal de pesar àquele arvoredo seu caso tão desestrado. Levava‑a após si a ágoa e as folhas após ela. Quisera‑a eu tomar, mas por a corrente que ali fazia grande, e por o mato que dali para baixo acerca do rio logo estava, prestesmente se me alongou da vista. Mas o coração me doeu tanto então em ver tão asinha morto quem antes, tão pouco havia, que vira estar cantando, que não pude ter as lágrimas.(...)»


Não posso, porém, deixar de pôr aqui a imagem do borreguinho meu vizinho ali das traseiras que, nascido apenas no domingo, já na segunda-feira andava atrás da mãe que, pachorrenta, tasquinhava os ramos da minha roseira brava e de outros arbustos que foi preciso podar.







Não é uma doçura?

26 comentários:

  1. Gostei muito desse livro...e gosto também muito do borreguinho!

    Bucólicos sonhos :)

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  2. Quando ainda era garoto os meus pais levaram lá para casa um cabritinho do tamanho deste borreguinho.
    Alimentava-o a biberão.
    E decretei que não podia ter o destino que lhe estava reservado - a panela.
    Foi esse o destino que acabou por ter.
    Hoje, muitos anos depois, ainda não como cabrito.
    Beijinhos

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    1. Acredito!! A minha filha mais nova nunca mais comeu coelho desde que teve uma coelhinha anã de estimação...

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    1. T'arrengo! Saramago! Pé-de-cabra!! Nisso não concordamos!!

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  4. Quanto mais vivo e vejo , mais gosto da ternura dos animais.
    M.A.A.

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  5. Não podemos nos deserdar de nossos "bucolismos"! Alimentam-nos sempre!
    Belo momento, Graça, obrigada!
    Abraço.

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    1. É bem verdade, Célia! De vez em quando, há que voltar a Alberto Caeiro...

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  6. Menina e Moça de Bernardim Ribeiro é um dos livros da minha vida.

    E o borreguinho do teu vizinho é uma doçura!!!

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  7. O Bernardim Ribeiro era dado a conhecer "aos rapazes do meu tempo", no liceu.
    A natureza proporciona-nos momentos de perfeição, se a eles estivermos rece(p)tivos.
    O milagre da perpetuação das espécies é um desses momentos. Cordeirinho meeeé!
    Bom casamento, Graça.

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  8. Bucolismo por bucolismo, gostei mais do fotográfico... :)

    Beijocas

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  9. Saber que esse cordeirinho nasceu no domingo e já se encontra com essa desenvoltura, é um bucolismo que dá que pensar... É a natureza no seu melhor!

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  10. A última foto lembrou-me isto:

    INSTANTE

    A cena é muda e breve:
    Num lameiro,
    Um cordeiro
    A pastar ao de leve;

    Embevecida,
    A mãe ovelha deixa de remoer;
    E a vida
    Pára também, a ver.

    Miguel Torga

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  11. ~ A ternura de Bernardim e da fotógrafa, citadina militante, eterna apaixonada de Lisboa, que se diz insensível a cenas bucólicas...

    ~ O cordeirinho veio ao mundo bem agasalhado - a sabedoria da mãe Natureza!

    ~ ~ ~ Bom fim de semana, ó impermeável! ~ ~ ~
    .

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  12. Doçuras para quem vive no campo, já na cidade ...

    beijinho e bom fim de semana amiga Graça

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