O único bucolismo a que fui permeável, ou melhor, muito permeável, foi ao encantador e delicado texto da morte do rouxinol da novela Menina e Moça de Bernardim Ribeiro.
«(...)Não tardou muito que, estando eu assi cuidando, sobre
um verde ramo que por cima da ágoa se estendia se veo apousentar um roussinol,
e começou tão docemente cantar que de todo me levou após si o meu sentido de
ouvir. E ele cada vez crecia mais em seus queixumes, cada hora parecia que como
cansado queria acabar, senão quando tornava como que começava então. A triste
da avezinha que, estando‑se assi queixando, não sei como, caio morta sobre a ágoa,
e caindo por entre as ramas, muitas folhas caíram
também com ela! pareçeo aquilo sinal de pesar
àquele arvoredo seu caso tão desestrado. Levava‑a após
si a ágoa e as folhas após
ela. Quisera‑a eu tomar, mas por a corrente que ali fazia grande, e
por o mato que dali para baixo acerca do rio logo estava, prestesmente se me
alongou da vista. Mas o coração me doeu tanto então em ver tão asinha morto
quem antes, tão pouco havia, que vira estar cantando, que não pude ter as
lágrimas.(...)»
Não posso, porém, deixar de pôr aqui a imagem do borreguinho
meu vizinho ali das traseiras que, nascido apenas no domingo, já na
segunda-feira andava atrás da mãe que, pachorrenta, tasquinhava os ramos da
minha roseira brava e de outros arbustos que foi preciso podar.
Não é uma doçura?
Uau, adorei estes "bucolismos"!
ResponderEliminarBjs
Gostei muito desse livro...e gosto também muito do borreguinho!
ResponderEliminarBucólicos sonhos :)
Quando ainda era garoto os meus pais levaram lá para casa um cabritinho do tamanho deste borreguinho.
ResponderEliminarAlimentava-o a biberão.
E decretei que não podia ter o destino que lhe estava reservado - a panela.
Foi esse o destino que acabou por ter.
Hoje, muitos anos depois, ainda não como cabrito.
Beijinhos
Acredito!! A minha filha mais nova nunca mais comeu coelho desde que teve uma coelhinha anã de estimação...
EliminarNão há vida como a do campo!
ResponderEliminarT'arrengo! Saramago! Pé-de-cabra!! Nisso não concordamos!!
EliminarQuanto mais vivo e vejo , mais gosto da ternura dos animais.
ResponderEliminarM.A.A.
Não podemos nos deserdar de nossos "bucolismos"! Alimentam-nos sempre!
ResponderEliminarBelo momento, Graça, obrigada!
Abraço.
É bem verdade, Célia! De vez em quando, há que voltar a Alberto Caeiro...
EliminarMenina e Moça de Bernardim Ribeiro é um dos livros da minha vida.
ResponderEliminarE o borreguinho do teu vizinho é uma doçura!!!
Tanto temos em comum, ematejoca!!
EliminarBeijinhos portugueses...
O Bernardim Ribeiro era dado a conhecer "aos rapazes do meu tempo", no liceu.
ResponderEliminarA natureza proporciona-nos momentos de perfeição, se a eles estivermos rece(p)tivos.
O milagre da perpetuação das espécies é um desses momentos. Cordeirinho meeeé!
Bom casamento, Graça.
Obrigada, Agostinho, por ter vindo à boda...
EliminarBucolismo por bucolismo, gostei mais do fotográfico... :)
ResponderEliminarBeijocas
Que é uma ternurinha...
EliminarSaber que esse cordeirinho nasceu no domingo e já se encontra com essa desenvoltura, é um bucolismo que dá que pensar... É a natureza no seu melhor!
ResponderEliminarTão diferentes de nós, humanos, não são?! Maravilha!
EliminarÉ, sim :)
ResponderEliminarA última foto lembrou-me isto:
ResponderEliminarINSTANTE
A cena é muda e breve:
Num lameiro,
Um cordeiro
A pastar ao de leve;
Embevecida,
A mãe ovelha deixa de remoer;
E a vida
Pára também, a ver.
Miguel Torga
Sempre belo, sempre sensível, o "nosso" Miguel Torga!
EliminarUma ternura!
ResponderEliminar~ A ternura de Bernardim e da fotógrafa, citadina militante, eterna apaixonada de Lisboa, que se diz insensível a cenas bucólicas...
ResponderEliminar~ O cordeirinho veio ao mundo bem agasalhado - a sabedoria da mãe Natureza!
~ ~ ~ Bom fim de semana, ó impermeável! ~ ~ ~
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Topas-me bem, Majo!... eheheheh....
EliminarBeijinhos citadinos...
Doçuras para quem vive no campo, já na cidade ...
ResponderEliminarbeijinho e bom fim de semana amiga Graça
Fê
... e eu que prefiro a cidade....
EliminarQue fofinho!
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