sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A estupidez à solta

Normalmente não gosto das crónicas que Vasco Pulido Valente escreve no Público nas quais, altivamente, ele dispara em todas as direcções zurzindo, à esquerda e à direita, os seus odiozinhos de estimação que, de uma maneira geral, não correspondem aos meus…  Desta vez, porém, diz na sua crónica de hoje exactamente aquilo que eu penso e defendo e fá-lo de forma tão “assertiva” dentro daquele seu estilo contundente e feroz (que tantas vezes me irrita…) que não resisto a citá-lo aqui.

Diz ele:


«Dezenas de analfabetos que gostam de se dar ares fizeram um escândalo com o aparente excesso de erros de ortografia, pontuação e sintaxe dos 2490 professores que se apresentaram à “Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades” (PACC). Deus lhes dê juízo.

Para começar, não há em Portugal uma ortografia estabelecida pelo uso ou pela autoridade. Antes do acordo com o Brasil – um inqualificável gesto de servilismo e de ganância –, já era tudo uma confusão. Hoje, mesmo nos jornais, muita gente se sente obrigada a declarar que espécie de ortografia escolheu. Pior ainda, as regras de pontuação e de sintaxe variam de tal maneira que se tornaram largamente arbitrárias. Já para não falar na redundância e na impropriedade da língua pública que por aí se usa, nas legendas da televisão, que transformaram o português numa caricatura de si próprio; ou na importação sistemática de anglicismos, derivados do “baixo” inglês da economia e de Bruxelas.

De qualquer maneira, a pergunta da PACC em que os professores mais falharam acabou por ser a seguinte: “O seleccionador nacional convocou 17 jogadores para o próximo jogo de futebol (para que seria?). Destes 17 jogadores, 6 ficarão no banco como suplentes. Supondo que o seleccionador pode escolher os seis suplentes sem qualquer critério que restrinja a sua escolha, poderemos afirmar que o número de grupos diferentes de jogadores suplentes (é inferior, superior ou igual) ao número de grupos diferentes de jogadores efectivos.” Excepto se a palavra “grupo” designar um conceito matemático universalmente conhecido, a pergunta não faz sentido. Grupos de quê? De jogadores de ataque, de médios, de defesas? Grupos dos que jogam no estrangeiro e dos que, por acaso, jogam aqui? Não se sabe e não existe maneira de descobrir ou de responder. O dr. Crato perdeu a cabeça.

Na terceira pergunta em que os professores mais falharam, o dr. Crato agarrou nas considerações tristemente acéfalas de um cavalheiro americano sobre “impressão e fabrico” de livros. Esse cavalheiro pensa que há “livros em que a beleza é um desiderato” (ou seja, a beleza do objecto) e outros “em que o encanto não é factor de importância material” (em inglês, “material” não significa o que o autor da PACC manifestamente julga). E o homenzinho acrescenta pressurosamente: “Quando tentamos uma classificação, a distinção parece assentar entre uma obra útil e uma obra de arte literária”. A obra de arte pede beleza ao tipógrafo (ao tipógrafo?), a obra útil só pede “legibilidade e comodidade de consulta”. Perante este extraordinário cretinismo, a PACC exige que os professores digam se o “excerto” “ilustra” os dois termos de uma comparação, o primeiro, o segundo ou nenhum deles. 

Uma pessoa pasma como indivíduos com tão pouca educação e tão pouca inteligência se atrevem a “avaliar” alguém.»

(sublinhados meus)

15 comentários:

  1. Só não concordo que o Crato tenha perdido a cabeça. Ele nunca a teve.
    Bom FDS

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  2. Tem cabeça? Tem!
    E até funciona bem!
    Está quase a conseguir aquilo a que se propôs
    Rebentar com a escola pública de qualquer maneira
    Vá, agora chame lá nomes ao Nogueira

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    1. E chamo! Sempre! Por que razão não põe os professores todos contra o (C)rato como fez em 2008?! Identificar-se-á mais com as políticas do PSD? De facto, votaram ao seu lado para enterrar o governo PS! Porque terá sido?

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  3. ~ O PV, desta vez, até esteve algo espirituoso na sua irónica crítica ao feio ministro.

    ~ Se existem erros e falhas, que se promova o esclarecimento, não a exclusão que os condena à miséria e ao exílio.

    ~ Este teste não teve o objectivo de alertar as ESE ou providenciar acções de formação, mas sim, eliminar sumária e friamente profissionais das listas.

    ~ ~ Um agradável fim de semana, Graça. ~ ~
    .

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  4. Será que não é possível haver avaliação aos ministros para saber se têm condições de governar.

    Beijinho Graça e um bom fim de semana.

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  5. A prova concordo com ela. Não compreendo é a forma como ela é feita, Os conteúdos são muito duvidosos. Nos casos conhecidos são mesmo uma autêntica charada.

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    1. E para que serve a dita prova? Sempre me opus a isso desde que a anterior ministra a introduziu na legislação. Aliás aquele D. Lei 75/2008 foi a pior decisão de todo o seu mandato!

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  6. Às vezes Vasco Pulido Valente diz coisas certas. Quem devia ser avaliado era o Dr. Crato...
    Beijo, Graça

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    1. Isso, Graça! Com aquelas rasteiras e charadas todas duvido que se safasse...

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  7. E assim o Dr. Crato enterra a educação!
    Bjs

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  8. Vasco até a si critica ferozmente : já assisti a isso!

    Quanto a Crato, pois tem razão .

    Para quando avaliação à criatura ?

    beijinho

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