domingo, 12 de janeiro de 2014

Futebóis

Tenho-me abstido de comentar o «caso Eusébio» por vários motivos: primeiro porque pouco ou nada me diz; depois porque não sou fã de futebol (e muito menos de “futebóis”); depois porque achei excessivo, desmedido, exagerado todo o bruaá (para não dizer “folclore”) que as televisões fizeram em torno da morte do jogador, por muito querido que fosse das pessoas em geral e dos lisboetas em particular; isto para não falar nas discussões provincianas e estéreis sobre a ida ou não ida do mesmo para o Panteão Nacional o qual, tenho a certeza, nunca fora tão falado por toda a gente!

Mas… hélas! há sempre um mas em toda a discussão! Eis que abro a internet aqui no meu computador e com que notícia me deparo em grandes parangonas?!

«O FC Porto não resistiu aos 11 Eusébios que estiveram em campo.»

Por amor de Deus! Que lamechice! Que saloiada! Quem disse ao jornalista responsável por este lamentável título que tem de «fazer poesia»?! Não há quem lhe diga que não é poeta quem quer?!

Não está em causa – para mim – o valor que o jogador Eusébio teve ou não teve, nem qualquer tipo de desrespeito pela sua memória ou pelos seus adoradores; muito menos quero com isto defender o clube A ou atacar o clube B, não obstante achar insuportável a arrogância e a sobranceria de muitos adeptos e do treinador de um e as baboseiras que os presidentes quer de um, quer de outro, lançam inopinadamente pelas bocas fora cada vez que lhes apetece. Em causa está apenas a lamechice requentada que semelhante palavreado (pretendendo ser imagem) transmite. E depois admiramo-nos que o outro senhor nos apode de «piegas»…

De facto, o estudo das Humanidades está completamente esquecido no nosso sistema educativo – leia-se na revista QI de ontem, subordinada ao tema A literatura contra a ditadura do banal, a entrevista a dois professores da Faculdade de Letras de Lisboa comissários da Conferência “A Urgência da Literatura” que se realizou neste fim-de-semana no CCB.


Trata-se disso mesmo: a ditadura do banal. É que lêem-se apenas revistas cor-de-rosa e livros tipo Margarida Rebelo Pinto e Paulo Coelho que nada mais veiculam senão banalidades bege; as criancinhas lêem muito mais do que liam há pouco anos, é certo, mas poucas são as que ultrapassam a leitura dos livrinhos ocos com ilustrações lindíssimas; os manuais de Língua Portuguesa de toda a escolaridade básica usam textos cada vez mais infantilizados e mais facilitados; e depois? Depois aparecem frases (texto até!) banais – para não dizer parolas – como aquela que me saltou aos olhos quando liguei a internet…




22 comentários:

  1. Não sei se adianta negar uma realidade... só porque não gostamos dela...

    mas estou do seu lado, por isso escrevo e digo

    "O futebol é a coisa mais importante de entre as coisas pouco importantes com que nos devemos preocupar"

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  2. Bom o futebol não é o meu desporto favorito, mas já tenho visto desafios e claro que tenho uma predileção por um clube. Respeito a memória do Eusébio que considerava um senhor pela sua simplicidade e naturalidade. Não sei se ele pudesse opinar se gostaria de ir para o Panteão, mas não me choca que vá. Apesar disso acho que o aproveitamento que fazem da sua morte é vergonhoso.
    Outra coisa, é realmente a literatura e a Língua Portuguesa, na qual muitas vezes dou pontapés por ignorância. Mas exatamente porque tenho consciência disso, eu que nunca estudei, entrei este ano para a Universidade da terceira idade, e entre as muitas disciplinas escolhi literatura Portuguesa. A propósito, estou a ler "O memorial do convento" por imposição dessa disciplina.
    Um abraço e uma boa semana

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  3. Gosto de futebol como jogo, porque implica trabalho de equipa, entre outras coisas.

    Tu não dizes, mas disse e escrevi : Eus´bio não merecia este folclore de dois dias inteiros com locutores já esparvoados a dizerem que não seria "fácil fazer recuar a multidão para trás" e ainda a missa do sétimo dia.

    Além disso, com o país na tragédia em que está e com uma urgência totalmente inusitada em Portugal, a Assembleia da República não teve nada mais importante do que discutir a ida ou não ida do jogador para o Panteão....quando nunca se preocupou , por exemplo, se Aristides de Sousa Mendes não deveria já lá estar!

    Enfim... por algum motivo os fascistas jovens do CDS querem menos escolaridade!

    Boa semana

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  4. A temperatura da Cultura em Portugal

    -Para que serve o Panteão Nacional?
    -Para guardar os heróis.
    -Antigamente punham-se os santos num altar. É isso?
    -É necessário para glória da Nação.
    -Mas já não há heróis nem santos. O último foi D. Nuno Álvares Pereira.
    -E está a apanhar chuva na Batalha, a cavalo num cavalo.

    -A escolaridade obrigatória passa a ser o 9.º ano.
    -Pois. A gente precisa é de trolhas e picheleiros.
    -Isto de obrigar a rapaziada a andar na escola não é democracia, é ditadura.
    -Literatura? Mas para quê? Posso gabar-me que nunca gastei um centavo em livros e nenhum doutor ou engenheiro me passou a perna.
    -Apoiado! a mim basta-me, quando vou à bica, espraiar as vistas no Correio da Manhã - até traz a brasa do Ronaldo - e no Record para saber da bola.

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  5. Escrever uma coisa dessas, que se pretendia elogiosa, é um desrespeito à memória do Eusébio.
    Não esteve em campo Eusébio nenhum.
    Porque só houve um.
    Boa semana!!

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  6. Note-se que o Pedro Coimbra é portista.

    É certo que houve exageros, mas o futebol é um desporto popular, pelo que merece-nos toda a tolerância. Haja serenidade!

    Estranho os comentários exagerados desta página, é substituir disparate por disparate.
    Carpindo Eusébio, os portugueses aliviam as suas enormes mágoas.

    Futebóis e literatura...

    Pois a banalidade tanbém pode ser ótima, por isso houve um grupinho que adorou ouvir Elvis Presley...
    Há banalidades ótimas entre amigos.
    Todos apreciam trocar impressões, relatos e narrativas, sem pretensões literárias.

    Um exemplo de banalidade: não gosto de gatos, mas já me afeiçoei ao seu gatinho virtual que me faz muita companhia quando a comento. Vou brincar, de vez em quando, com ele para o ouvir fazer "rom-rom" e "miauuu".

    Concordo com a crítica à banalidade de conteúdos dos escritores citados. Mas mais grave, parece-me a banalidade formal de muitos dos recentes ditos e registados escritores; desta era do computador.

    Como se chama o gatinho?

    Uma boa semana. Beijinho.

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  7. INFELIZMENTE, o meu querido FCP perdeu, mas que

    «O FC Porto não resistiu aos 11 Eusébios que estiveram em campo.»

    é o cúmulo da parvoíce!!!

    EUSÉBIO foi o rei do futebol português e esses 11 são uns bananas.

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  8. Continuo a pensar que o exagero do comentário anterior que insulta quem está isento de culpa, é substituir disparate por disparate.

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  9. Muito se tem falado do Eusébio. Certamente há exageros, como sempre acontece em casos idênticos. Mas há uma coisa que me chocou: A rapidez com que os partidos políticos se aproveitaram, estando presentes nos primeiros momentos, quais abutres no seu melhor...

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  10. Eu portista ferrenha, considero de bananas os jogadores do Benfica, mesmo sem a comparação com o grande Eusébio.

    O fanatismo no futebol é permitido, não é verdade, Majo?!

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  11. É natural que no primeiro jogo depois da morte de Eusébio as emoções estivessem à flor da pele por parte dos benfiquistas!
    Quanto ao resto já sabes como os portugueses em geral e os amantes do futebol em particular são hiperbólicos!

    Abraço

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  12. Quero pedir desculpa ao Pedro Coimbra porque quando me referi a ele, pensei que se tratava de uma frase irónica de um jornalista do FCP.

    Queria homenagear o seu elevado espírito desportista e acabei por fazer o contrário. Perdão.

    Só sou adepta fervorosa e incondicional de um "team", a Seleção Nacional, por isso, honrro e defendo todos os jogadores portugueses.

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  13. Amiga Graça estou totalmente de acordo contigo.
    Vivemos numa cultura de futilidades e facilidades.
    O tempo que se desperdiça com polémicas é útil para quem nos está a tramar.

    beijinho

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  14. Que feliz estou com todos estes comentários mais ou menos acalorados destes meus amigos! Se eu soubesse que ia ser assim, já teria escrito um texto destes há mais tempo... Mas calma, amigos! «O povo é serenos!» - dizia o Almirante há anos...

    Mas, já agora, vou mandar mais uma acha para a fogueira: se o saudoso Eusébio não fosse do Benfica, será que haveria todo este exagero em redor da sua morte?! Ai se tivesse sido do Sporting... Coitado!

    Beijinhos azuis, verdes, encarnados...

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  15. Elvira, minha querida, que bom que estás finalmente a estudar a nossa rica e belíssima Literatura! se precisares de alguma ajuda para o Memorial (e não só) diz!

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  16. Anónimo, tem toda a razão! E o que mais me chocou foi ter sido o PS a levar a dianteira! Até parece que não há mais nada de urgente a tratar no país!

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  17. Boa análise do estado cultural deste povo, Agostinho!!

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  18. Graça, o gatinho não tem nome?
    Ou será que esta banalidade de gatos, não lhe merece a mínima atenção?!

    Percebe-se que não entende nada de futebol, caso contrário, teria percebido que a morte de Eusébio uniu adeptos de todos os clubes, pois era respeitado por todos os homens de bem, como poude ou pode verificar na homenagem que lhe fez Pedro Coimbra do FCPorto e Ricardo Santos do SportingLB.

    Também conseguiu unanimidade entre os diferentes partidos politicos, que devem estar junto do povo, nas suas grandes causas e não apenas a pregar teorias populistas,
    democracia retórica, a recordar os cânticos do estimado Zeca Afonso e a vociferar vitupérios, sem nada contribuir para esclarecer ou procurar sugestões alternativas.

    Sou muito sincera quando afirmo que me afeiçoei ao seu bichano virtual.

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  19. Da esquerda à direita todos se quiseram colocar ao lado dele... palavras para quê?

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  20. Não gosto de futebol, muito menos de fanatismo.
    Mas o Eusébio será sempre recordado como um grande homem e jogador.
    No entanto enquanto as atenções se concentram nestas coisas existe alguém lá pelo S. Bento que se preparam para tramar o pessoal, enquanto entretido.

    beijinho e uma flor

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  21. Majo, por acaso o gatinho não tem nome não! É apenas virtual e engraçado.

    Posso não perceber nada das regras de futebol, mas percebo um bom bocado de relações humanas pelo que entendo perfeitamente toda a movimentação que a morte de Eusébio causou. Não precisava era de todo o exagero que os media promoveram.

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  22. Concordo consigo no que diz respeito a um possível exagero da comunicação social, mas são manifestações que apaixonaram quase 99% do androceu lusitano e grande parte do gineceu; uma emoção transversal a todas as classes sociais.

    A Graça mandou algumas achas para a fogueira e eu procurei saltar o fogo.

    Foi uma boa e saudável troca de impressões.

    Se não se importa que eu seja a madrinha do gatinho, ponho-lhe o nome de "Rom Rom"

    Beijinho.

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