Hoje de manhã ouvi na rádio esta cançãozinha que não ouvia
há que tempo!
A minha neta, que estava connosco
e que tem muito bom ouvido para a música, delirou com a toada e pôs-se logo a
trauteá-la juntamente comigo que ia matraqueando a letra. «Ó avó, gostas muito
desta canção, não gostas?» «Avó, o que é que quer dizer “descendente”?» E lá
continuava ela a cantarolar o «tiririri..» com que o José Afonso conseguiu dar
o tom de brincadeira ao poemeto de Pessoa que também é catalogado como poema
para crianças.
Só que de folguedo tem muito
pouco quer da parte de quem escreveu os versos quer de quem o musicou. Com as
palavras sempre simples que usava um, e com as notas próximas de um folclore genuíno
que sempre usava o outro, aí está uma bela pintura do que é este nosso povo adormecido, alheado e indiferente,que se deixa levar em grande reinação, «levados, levados, sim…» num qualquer
comboio descendente – ou decadente – sabe-se lá para onde e por onde.
No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada.
Uns por verem rir os outros
E outros sem ser por nada
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...
No comboio descendente
Vinham todos à janela
Uns calados para os outros
E outros a dar-lhes trela
No comboio descendente
De Cruz Quebrada a Palmela...
No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E outros nem sim nem não
No comboio descendente
De Palmela a Portimão.
muito actual a canção...
ResponderEliminar(contigo como "mestra", menina um dia compreenderá todo o sentido da canção". estou certo)
beijo
Podes crer, heretico...
ResponderEliminarBela crónica!
ResponderEliminarFez-me lembrar tempos da outra senhora. Esta era uma das que cantávamos.
O Zeca é um dos nossos. Soube ser popular sem ser popularucho. Foi e é um popular invulgar. Ainda bem que não se lembraram dele para o Panteão. Viva o Zeca Afonso! Ponham-no na rádio e na televisão: "O que faz falta...".
Volto para perguntar quem vai no comboio? Hoje.
ResponderEliminarSerão os mesmos que o poeta observou?
Há tanto que não ouvia isto...
ResponderEliminarEngraçado que não conhecia esta canção do Zeca, mas valeu a pena... :)
ResponderEliminarBeijocas e bom fim de semana!
Não é das minhas preferidas, mas concordo contigo: é bem o retrato de um país caindo para o abismo.
ResponderEliminarBons sonhos
Aqui , já estamos no abismo...nem combóio temos , desde que sua excelência , o alfarroba, foi PM.
ResponderEliminarM.A.A.
Digo muitas vezes os primeiros este poema a meias com uma cunhada! :)
ResponderEliminarÉ tão descendente que já chegou ao fundo! :(
Abraço
No comboio descendente de Queluz a Cruz Quebrada e de Palmela a Portimão, parece que só eu é que vejo conotações monárquicas do nosso genial mestre, tão infeliz por não ter assumido a sua paixão por uma datilógrafa.
ResponderEliminarUm picarecso poema que refere sucessivos locais de atração para veraneio que, na sua opinião, representa uma descida de classe.
Não tem nada de democrático e não me parece adequado para ser cantado por quem enalteceu os "Índios da Meia Praia".
Muito bem cantado, mas mal interpretado, na minha opinião.
Bom fim de semana. Beijinhos.
"de folguedo tem muito pouco..." - grande verdade, minha amiga!
ResponderEliminarGRANDE Zeca Afonso, que tão cedo se foi.
Obrigada pelos votos de feliz 2014, que retribuo
Beijinhos
Mariazita
(Link para o meu blog principal)
Pinceladas, ou melhor... versos... de uma trágica realidade!
ResponderEliminarAbraços.
Amiga Graça, há tanto tempo que não ouvia esta canção e fez-me pensar que ando assim ...
ResponderEliminarnem sim nem não.
beijinho
Fê
"Lá vamos cantando e rindo
ResponderEliminarLevados, levados, sim!..."
Julgava isto enterrado e afinal... Lá vamos!
Bom fim de semana.
Peço desculpa pelo lapso, deveria constar ""picaresco poema"".
ResponderEliminarE sublinho.
Um poema do nosso mestre monárquico.
Se não se refere ao que já expus, este comboio decendente só pode ser um arremedo à república.
Continua a ser uma posição antidemocrática.
Uma boa noite. Beijinhos.
Concordo com o que diz, Majo. Mas a(s) leitura(s) de um texto são múltiplas e podem não coincidir com a intenção do poeta, do autor.
ResponderEliminarMuito obrigada pelas suas intervenções sempre inteligentes e sabedoras.
Bom fim de semana.