Passados trinta anos sobre o seu
desaparecimento, continua vivo na nossa lembrança, nas nossas canções, no nosso
imaginário.
«Torrencial, apaixonado, firme,
exuberante, truculento, corajoso. Qualquer destes adjectivos cabe em José Carlos
Ary dos Santos, mas nenhum deles chega para qualificar plenamente o homem, o
poeta, o militante. Em Ary, o todo é sempre mais do que a soma das partes e estas
nunca são estanques entre si: Ary foi o poeta que foi por ser o militante que
era, e não poderia ser uma diferente sem trair tudo aquilo que constituía a sua
própria razão de ser.» (…) «Fumava, bebia muito e era visto como truculento,
imprevisível e arrebatado. (…)» - dizem no jornal de hoje.
Fernando Dacosta em «O Botequim
da Liberdade» sobre o Bar das tertúlias de Natália Correia, fala assim sobre o
poeta Ary:
«Para Natália (…) Ary era o «Arycoffee
português» (pela sua dependência da bebida). Ele retribuía-lhe com idêntico
empenho: (…) chamava-lhe «jibóia bufona».
A certa altura «Ary difamou-me,
dizendo que eu era da PIDE, mas Álvaro Cunhal, um verdadeiro príncipe, veio
logo a público defender-me e desmenti-lo, criticando-o por essa infâmia!»
revelou-me a visada [Natália].
Ary era useiro em comportamentos
destes. Além de Natália, traiu (a seguir à revolução) Amália e Fernanda de
Castro, três mulheres a quem, até aí, tratava por «tias do meu coração» (…)
passando a referi-las por «velhas gaiteiras».
Num encontro literário no Solar
do Vinho do Porto, Ary e Dórdio (ainda solteiro) entornaram-se ruidosamente
rebolando, gordinhos, aos sopapos, aos insultos, ante o gáudio (mal)
dissimulado dos presentes e o gozo de Natália – causadora de tão pífio duelo
entre álcoois marados.
Os comportamentos pitorescos de Ary faziam-se, entretanto,
cardápio de gozos no Botequim – e na cidade.
Numa madrugada cruza-se, no
Rossio, com um jovem a quem convida para o acompanhar. Entrados em casa,
rés-do-chão junto à Sé, o desconhecido tira da carteira um cartão: inspector da
Judiciária.
Num ápice, Ary escancara as
janelas e, carregando no vozeirão, grita: «Socorro, tenho aqui um polícia que é
bicha, acudam. Socorro!»
Ao visado só restou fugir a sete
pés, ante o acordar da vizinhança, que saiu para a rua em defesa do seu poeta.
(…)
Ramalho Eanes, Presidente da
República, conseguirá mais tarde que Natália aceite (com indisfarçáveis reservas)
as desculpas de Ary. (…)
Justa, Natália Correia destacará,
sempre que se proporciona, o talento poético, a ousadia social de Ary.(…)»
(pág. 51 – 53)
Deixo aqui duas das muitas canções
com poemas seus das que eu considero mais bonitas: «Cavalo à solta» e «Estrela
da Tarde»
O Ary, ele mesmo o dizia: "serei tudo o que quiserem..." tinha uma estranha forma de estar na vida, mas até agora ninguém mais escreveu poemas tão bonitos e fortes para cantar. Faz-nos falta a "voz" dele.
ResponderEliminarUm beijo.
Excelente trabalho, admirável. Gosto.
ResponderEliminarQuando um poema é construído assim ganha adeptos, pela força que imana. Por isso dedicou tantos anos da sua vida como letrista, sendo um grande poeta.
Um grande abraço
Bom poeta, mas uma pessoa extremamente complicada.
ResponderEliminarGostei de ouvir o Tordo, que anunciou ir embora de Portugal em breve ...isto já depois de Maria João Pires (que anda zangada desde belgais9 afirmar ir renunciar à nacionalidade portuguesa.
Comprendo-lhes as razões, mas lamento que em vez lutarem usando a notoriedade que têm, partam.
Bons sonhos
Com uma personalidade muito bizarra, deixou-nos alguns belos e inesquecíveis poemas, num estilo emocionante e muito peculiar.
ResponderEliminarVivendo mais um Inverno; para hoje, um dia feliz.
Estrela da Tarde - muito lindo - total boêmia amorosa!
ResponderEliminarAbraço.
Interessante compilação. É sempre bom recordar.
ResponderEliminarEu gosto muito do Ary Poeta. O outro eu nunca conheci.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
O homem podia ser isso tudo e muito mais, mas o poeta, esse, é imortal! :)
ResponderEliminarBeijocas
ResponderEliminarIrreverência q.b. para tanto talento!...
Um beijo
"Tricas" à parte, resta a poesia. Genial!
ResponderEliminarNem eu disse outra coisa! A poesia é genial. O(s) poeta(s) como o comum dos mortais tem pés de barro!
ResponderEliminar«É da torre mais alta do meu pranto/
que eu canto este meu sangue este meu povo./
Dessa torre maior em que apenas sou grande/
por me cantar de novo.»
Escolheste duas musicas perfeitas e lindas para o tema desta tua postagem,super adorei e me encantei.
ResponderEliminarAry dos Santos foi um poeta genial.Tem poema que são verdadeiramente inspiradores e únicos. Gosto do jeito torrencial e sanguíneo que o caracteriza. Só os grandes, são capazes de escrever músicas tão belas e intemporais como aquelas que escolheu aqui para o lembrar... Faltam-nos hoje Arys dos Santos, capazes de com as suas palavras plantarem as sementes capazes de germinar em revolução - de mentalidades, de crenças..., de gente capaz de reinventar para reclamar o seu país.
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